Gostar de ler
não é muito diferente de gostar de futebol, ciclismo ou qualquer outra ocupação
de algum do nosso tempo livre. Evidentemente é necessário conhecermos algumas
regras básicas essenciais para nos apercebermos do que estiver em jogo. Uma
primeira experiência frustrada pode ser negativa para a opção que vier a ser feita
por uma ou outra ocupação dos nossos tempos de lazer.
Tive a
felicidade ou a sorte de quando jovem me ter deparado com leituras que fixaram
o gosto ainda mantido pela leitura, mas esse feliz acaso não sucede lamentavelmente
com todos nós. Existe quem conheça e bem, todas as regras deste ou daquele
desporto, desta ou daquela ocupação, com os livros passa-se o mesmo. Há que
conhecer os jogadores / desportistas, ou escritores, os seus melhores lances ou
livros, o desporto que abraçaram ou o género, como convém conhecer as suas
melhores performances ou obras, os troféus arrecadados, vulgo prémios
literários, pelo que quando menos damos por isso estamos a discuti-los na praça
pública com os amigos, defendendo ou atacando atitudes, comportamentos, a
justiça ou a beleza do que vão dando à estampa, resumindo, criticando,
analisando, (e aprendendo com isso) os valores, sentimentos e conhecimentos que
as suas obras nos transmitem ou ensinam.
Como sucede
com qualquer desporto ou ocupação de tempos livres tiramos da leitura prazer,
porventura acrescido, já que pela nossa mente perpassam cenários e personagens não
igualados ainda pelas mais refinadas tecnologias do cinema. Gosto de relembrar
séries de obras e escritores, não totalmente escolhidos ao acaso, antes fruto
da minha disposição ou de alguma circunstancia momentânea e eu entenda serem
ideais para que, se seguirdes os meus conselhos de leitura, não vos sentirdes
defraudadas (os) com as expectativas criadas para que podeis gozar de tempos
prazenteiros, quiçá até cativadas (os) para hábitos de leitura nunca tidos,
devido ao simples desconhecimento de quanto pode ser boa a leitura.
Hoje
falaremos de uma escritora mexicana, durante muito tempo considerada autora de
uma obra só, mas que viria entretanto a publicar uma segunda (quanto a mim mero
aproveitamento literário do êxito estonteante conseguido com o primeiro livro,
fenómeno que se vai tornando habitual e contra o qual temos que estar atentos),
e de quem sei ter sido lançada uma terceira obra, cujo título não lembro agora.
Trata-se de Laura Esquível, autora do celebérrimo romance “Como Água Para
Chocolate” e posteriormente de “ A Lei do Amor”, de que não gostei, ambos
editados pela ASA. Nascida em 1950, foi professora, escritora de obras teatrais
dedicadas à infância e aos trinta e cinco anos enveredou pela difícil arte da
escrita de guiões para o cinema.
“Como Água
Para Chocolate” o seu primeiro romance, deu-lhe fama internacional, pois foi
traduzido em mais de trinta línguas e publicado em cerca de oitenta países,
tendo vendido mais de quatro milhões de exemplares em todo o mundo. Fama e
fortuna, pois permitiu- lhe em 1994, ganhar o ABBY ( American Booksellers Book
of de Year), prémio pela primeira vez atribuído a um escritor estrangeiro. Já
anteriormente Laura Esquível havia arrebatado o Prémio ARIEL, uma nomeação da
Academia de Ciências e Artes Cinematográficas do México, pela escrita do guião
do filme “ Chido Guán, El Tacos de Oro”, tendo o filme produzido a partir do
seu primeiro romance sido igualmente premiado no Festival de Huelva, aqui ao
lado na vizinha Espanha.
A propósito
da “Lei do Amor”, o tal de que não gostei, um dos mais famosos críticos
mundiais afirmou ter a obra sido; “Um dos textos mais sugestivos, mais
brilhantemente escritos, mais inteligentes e mais arrebatadores dos últimos
tempos”, o que nos deve servir para colocar de atalaia quanto a toda e qualquer
crítica ou crítico… e quanto a mim claro…
No
concernente à primeira obra, a que lhe deu fama e fortuna, “Como Água Para
Chocolate”, cuja trama roda à volta da cozinha, cada capítulo abre com uma
receita culinária, de tudo o que menos conta e interessa no livro, debruça-se essencialmente
sobre pensamentos e comentários tidos e ditos à volta dessa mesa de cozinha,
divisão que na época retratada pela obra ocupava o espaço social por excelência,
espaço que hoje atribuímos às salas de estar.
São os
pensamentos e comentários dos comensais quem dá corpo ao livro, nos prendem com
as histórias dos amores e desamores, seus risos, prantos, paixões e ódios. Celebrando
o triunfo da alegria e da vida, sobra a tristeza e a morte, a leitura desta
obra é um prazer para os sentidos e um hino à liberdade criativa da “mulher”.
Não deixem de ler, é gostoso como chocolate !!!!!