quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

QUIS OFERECER-TE UM RAMO DE CAMÉLIAS*

Pintura de Fátima Magalhães

Eu quis oferecer-te uma flor amor, uma flor que cantasse um anseio, um receio de te perder, uma flor que encerrasse intimidades, lembranças de ti, que te levasse puras e quentes, palavras ardentes.

Eu queria viver sempre em melodia, eu queria que não tivesse fim o dia, eu queria estar contigo agora e sempre, quero ser teu confidente, eu sou alegria, gente. E não esqueço esses teus olhos, o sorriso, o peito ufano, porque te amo. Cobicei há muito teu ventre materno, que venero. Ser mãe é sortilégio, foi dádiva dos deuses, mais te quero.

Eu quis oferecer-te um ramo de camélias e corri doido por floristas, campos e revistas, sem que em parte alguma o alcançasse, por isso te abracei e te beijei. Talvez pensasse que pétalas pudessem florir de meus braços e cobrir-te, que o seu aroma preenchesse espaços, fazendo-te sorrir. Ver-te sorrir apesar desse teu cabelo em desalinho que a tentação me leva a querer domar só porque não quero que esconda um rosto lindo, cujo sorriso sempre me fez sentir bem vindo e ao pé de ti ficar.

Sou aquele que mente, pensavas tu, mas era já crescido, gente, em que vivia e vive um coração que sente, alma temente, sonho persistente, atrevido e consciente, que o tempo ensinou a ser sincero, porque te queria e quero.

Voo por cima dos meus pensamentos, sonho acordado, monto o cavalinho, parto à desfilada delirante, e só tu acalmas meu caminho errante, me tornas à terra de mansinho. Queria saber-te a meu lado a vida inteira e que ela fosse festa, bebedeira, ter-te sempre comigo p’ra me consolar, para conspirar, guiar na cegueira, sossegar em mim esta canseira.

Canseira de incertezas e temores, de não poder sonhar-te eternamente, receios e pesadelos de perder-te, medo de procurar-te em vão e não te achar, olhar, não te ver e te chorar. Vivo inquieto, E recordando-te tudo me parece um sonho lindo, céus multicores, cheirinhos a mil flores, e irrequieto temo o sonhar findo. Febril, em alvoroço me ergo do sono desvairado, procuro-te a meu lado, sento-me à beira da cama angustiado, a noite profanada novamente me enleia no seu seio deixando uma lágrima, um esboço. Um esboço que sonhei e se sumiu, que horrorizado vi fugir do meu alcance, que temi perder, ficar distante e foi essa saudade que aquela lágrima traiu.

Não te esqueço, não te abandono, não quero ficar sozinho neste mundo, foste tanto para mim, meu doce amor, não deixes que estoire no meu peito um grito agudo, porque para mim tu és vida, tu foste sempre tudo !

   * versão 2

Foto roubada a Luísa Castro