Porque
havia sol e a manhã estava clara e luminosa como não se via há muito tempo,
depois da bica dei corda aos sapatos e rumei ao Alto de S. Bento. Depressa me
arrependi e a boa disposição que levava levou sumiço num instante.
Na cidade resolvem os problemas de estacionamento colocando pilotes às centenas passeios fora e desfeando-a, ali bastou um sinal, "proibido avançar, só para residentes"... Portanto esquece que o Alto de S. Bento existe e pira-te, vai chatear outro, agora só criancinhas para verem o moinho a trabalhar, a farinha no ar, um museuzinho de brincar, ervas, arbustos, rochas, pedras, mato, e as célebres antenas supremo símbolo e ícone da nossa revolução tecnológica e do progresso de que Évora se arvora.
Aquela mais grossa, maior, mais parecendo uma árvore de Natal vermelha e branca, está lá há mais de 60 anos. Era eu gaiato e subi-a, eu e mais uns quantos, quantos por ali deambulávamos antes de ser solenemente inaugurada. Há registo da ocorrência, uma patrulha da GNR fez questão de nos identificar a todos não fossem surgir no ferro do esqueleto inesperados prejuízos de monta, ficando assim a saber-se desse modo a quem os imputar.
Imputar, Input output, décadas mais tarde esse esqueleto haveria de alojar também e para além das que já tinha em cima as antenas parabólicas e outras que permitiriam os sinais da G1 da primeira geração, já vamos na G5 não é ? Pois fiquem sabendo que do varandil que essa antena tem em cima já eu caguei, eu, o Abel, o Bento, o Barnabé e não sei quem mais, já lá vão muitos anos, eu deveria andar pelos meus 14 ou 15 já nem sei, só sei que a panorâmica alcançada lá do cimo é lindíssima e uma cagada feita a partir do céu é divinal !
Foi por estarmos tão alto que vimos, sem ser vistos, a Ana C. e uma meia dúzia deles atrás dela mata acima mais parecendo cães atrás de uma cadela aluada, depois foi encontrar a moita certa e aquilo foi à vez, mas isso a patrulha da GNR não viu. Não viu mas a coisa deu brado e um deles acabou por casar com ela, o primeiro ? O que ela apontou ? Não sei nem imagino, mas sei que nunca foi um casamento feliz, não houve filhos, ela acabou por suicidar-se sendo então que eu me meti a pensar quanto de todo aquele amor livre ou amor desregrado, ou dado ao desbarato terá sido culpado pelo fim ou desenlace de tão triste história. É bem verdade que muitas vezes o barato nos sai caro …
Quando esbarrei no sinal vermelho de trânsito proibido já me tinha confrontado metros atrás com um outro sinal, azulado e sinalizando um parque de estacionamento, um sinal todo queimado do sol, a cair, esgarçado como quem o pensou, como mal pensado foi esse parque de estacionamento, natural, nascido ali há milhões de anos, agora aproveitado para desenrascar, mal esgalhado, sem piso corrigido, nem marcado, nem tão pouco cuidado, tal qual o cuidado que os visitantes merecem por parte do nosso município.
Tudo
ali é mato, tudo é como uma mata porém e apesar disso alguns carros
estacionados lá em cima, em transgressão claro, na ambição de um fugaz e proibido momento
de fruição da paisagem, paisagem misturada com contentores de lixo, uma
tabuleta apelando ao museu ali atrás, museu também ele conspurcado pelo
ambiente que o rodeia, um ambiente pejado de antenas ao Deus dará, plantadas
sem o mínimo respeito pelo cuidado com o salutar ou impoluto ambiente
que querem enfiar à força na cabeça das criancinhas, para além desse
espectáculo um céu truncado de fios e mais fios oferecendo-nos uma visão digna das
favelas brasileiras. Saibam que é por estas e por outras que me estou cagando
para separar o lixo, se os engenheiros e os políticos decisores e as
autoridades competentes não se preocupam com o ambiente por que caralho me
hei-de preocupar eu ?
Dou mais uns passos e esbarro com mais uma tabuleta, desta vez gritando-me “ Bem vindo ao Alto de S. Bento, hoje serás um protector da natureza” ! Serei sim, mas só se for da natureza selvagem do lugar, um lugar com tantas contradições como a cabeça de quem imagina estas coisas. Em qualquer outro país civilizado do mundo, qualquer edilidade teria aproveitado as vantagens do terreno, isto é as vantagens naturais oferecidas de bandeja pela natureza para as fruir ao máximo, contentando e conciliando natureza e cidadãos, criando parques de merendas, postos de apoio a caminhantes e escoteiros, varandas e restaurantes panorâmicos, parques de estacionamento exemplares, estradas como tapetes, dinamizando o lugar, desenvolvendo a economia local, criando postos de trabalho, gerando riqueza, satisfação e bem-estar, mas não, disso o último exemplo que temos tem mais de 50 anos, o “Parque Municipal de Piscinas Eng.º Arantes e Oliveira” a quem desrespeitosamente tiraram o nome da parede do complexo. O que os encanita é que em 50 anos de democracia ainda não foram capazes de fazer um décimo do que foi feito durante o (menor) período do Estado Novo.
E sabem por quê ? Porque esta gente não tem somente falta de inteligência, tem sobretudo falta de mundo, falta de visão, e tem um acentuado deficit de imaginação. E quando falo desta gente quero ser claro, refiro-me a presidentes e técnicos, sobretudo técnicos, classe arregimentada, engajada ao podre poder que nos governa e de onde poucos, muitíssimo poucos se podem gabar de ter escapado ou de não estar com esse poder comprometidos ou a esse poder vendidos.
É
esse o mal de Évora, falta de inteligência, de visão, de mundividência e
imaginação, mas há salvação, querendo e sendo capazes, havendo coragem, marquem
uma entrevista comigo, uma bica, dois dedos de conversa e sairão outros dessa
experiência...
Bom
Natal e reformem-se, não nos fodam mais… Na sua maioria são demasiado caros
para a merda de serviço que prestam à cidade.
ADITAMENTO: Com mais
delicadeza ou menos, com mais paixão ou revolta, com mais comedimento ou
atrevimento, com mais ou menos educação e modos, passadas que são 11 horas
sobre a publicação desta postagem tenho recebido de vários quadrantes diversas
criticas (por mensagem privada ou telefonema pois há nas pessoas mais medo de
se pronunciarem em público agora que no tempo da outra senhora) diversos apoios
e as mais diversas opiniões, às quais, com o bom modo que me caracteriza vou
responder: - Sim, depois do 25 de Abril nenhuma obra municipal de vulto foi
erguida tendo o parque das piscinas municipais Arantes e Oliveira sido a última
delas, inauguradas a 5 de Setembro de 1964.
Quer o terminal rodoviário, quer a pista de atletismo junto da Vila Lusitano (à qual falta uma pista pra ali poderem ser homologados records ou ter lugar provas de nível internacional) quer a estação da CP alvo de melhorias significativas são obras de cariz NÃO municipal, tal qual algumas circulares externas do domínio da empresa Infraestruturas de Portugal EP.
Na realidade existe um mão cheia de entidades quer públicas quer privadas cuja função é prover à melhoria do nosso bem-estar e nível de vida que parecem não funcionar quando deviam era articular-se de modo rápido e eficiente para responderem às nossas necessidades. Ao invés disso vivem cada uma para si, de costas voltadas e o mexilhão que se foda e espere e desespere. São o Caso da CCDRA da CME do CIMAC Do Instituto do Desporto, da CP, das Infraestruturas de Portugal EP, da EDP, das Águas do Alentejo ou de Portugal, das empresas de telecomunicações, um exemplo dessa demora e falta de articulação parecem-me ser as actuais obras da circular externa do Continente à antiga Siemens e que tantos engarrafamentos e aborrecimentos têm provocado por toda a cidade….
O pomo da discórdia assenta no facto da cidade não ter lugares aprazíveis, não ser alvo de melhoramentos e de embelezamentos pragmáticos, ter estagnado no tempo, não ser gerida com rasgo, risco e ousadia, e o facto, grave, de não haver um plano conhecido que para tal aponte. Em 50 anos nações e cidades têm-se erguido do nada para hoje serem estrelas em vários campos.
Évora, cidade da cultura, pratica isso sim uma cultura cega, passadista, vendendo a turistas e nacionais um mundo monumental com 2 mil ou poucos menos anos, nada tendo de novo de que se possa gabar, tem vindo a regredir, a qualidade de vida dos seus cidadãos está pela hora da amargura, ou da morte. Se há 2 ou 3 anos disse a uma eleitora que mandasse fazer á sua medida e nas Caldas da Rainha um candidato à presidência da CME hoje digo sem rebuço que muito eleitor e eleitora eborense deveriam mandar fazer um boneco das caldas no Redondo ou em S. Pedro do Corval e o pusessem num altar perante o qual orassem. Talvez assim a cidade finalmente se livrasse das cataratas que muita gente tem nos olhos. Bom Natal.