terça-feira, 30 de outubro de 2018

540 - MEU AMIGO DURÃO by Maria Luísa Baião*…



           Logo que, vai para três ou quatro semanas atrás, cheguei de férias, procurei saber novas do meu amigo Durão. Não que outras situações não fossem para mim preocupantes, simplesmente o mundo hoje coloca-nos tanta complexidade em simultâneo que nos obriga a andar numa autêntica roda-viva. Isto quando não nos atira com enormes problemas para cima, que nos submergem completamente, e tão inacreditáveis que nos fazem perder a fé em tudo e todos. Ao Durão, bom rapaz, um pouco tímido até, aconteceu-lhe há pouco algo que não esperava, para o que não se encontrava preparado e que o deixou muito mal.

Não consegui chegar à fala com ele, mas informaram-me estar a aceitar menos mal o seu destino e a recompor-se do choque que essa brusca mudança na sua vida lhe provocou. Adiantaram-me estar confiante, gente próxima mo afirmou; “que o rumo que está a percorrer é o certo”, fiquei contente, assim ele saiba encontrar depressa o seu caminho, nada de mais sincero posso desejar-lhe.  Foi difícil encontrar alguém que dele me desse novas, todos parecem estar em férias, com nada se preocupando, outros não sabem nem querem saber do que quer que seja, o mal é uma pessoa ver-se numa situação daquelas para conhecer ingratidão e esquecimento.

Nesta busca de novas do meu amigo Durão contactei velhas amigas e amigos, falámos disto e daquilo, tendo ficado a saber, entre outras novidades, ter havido um ilustre académico, aliás ouvido por uma “ Comissão para a Reforma do Sistema Político”, que teve a lucidez de afirmar; “...ter de haver coragem para aumentar os políticos, de entre eles os deputados”. Estou plenamente de acordo, até porque em tempo de vacas magras, se os deputados não forem aumentados mais ninguém o é.

Eu iria até mais longe, seria mais ousada, indexaria ordenado mínimo e pensões de reforma ao vencimento dos deputados e, de cada vez que estes fossem aumentados, quer o ordenado mínimo quer as pensões subiriam automaticamente, não seria justo ?
 
Até por ser tudo uma questão de produtividade, questão para a qual parece só termos acordado agora, é que por este andar qualquer dia ninguém quer ir para deputado, trabalhar a valer. Vejamos, com as reformas que alcançam, as imunidades de que gozam, as incompatibilidades a que são obrigados, e tendo que viver quase exclusivamente do seu parco vencimento, quem quererá um dia trabalhar nestas condições? coitados dos políticos.

Se queremos o que não temos, eficiência, responsabilização, clarividência, produtividade, competência, se queremos melhor saúde, justiça, educação e fiscalidade, é limpinho que teremos que aumentar os deputados! já deveria até ter sido feito há bem vinte anos atrás, talvez os problemas de hoje não existissem! agora assim? assim não iremos lá, temos que pagar a quem trabalhe, e quem trabalhe decerto o merecerá!

Mais conversa para aqui e para ali, contra-ataquei a minha amiga; que o nosso mal está no modelo de desenvolvimento económico e social, que o país está sem rumo, sem estratégia, sem investimento estrangeiro! Sim, sim, respondeu-me ela, na verdade o país não tem controle, cada português que arranja um estratagema para melhorar a vidinha é logo alvo de invejas, é ver o caso dos portageiros da Brisa, dos gestores de falências no norte, da Moderna! não pode ser! Isto como está a ficar não deixa que ninguém se governe! lá está! os deputados têm que ser aumentados! por arrastamento o povinho terá a sua parte e prescindirá destes arranjinhos com que vai endireitando a vida! doutro modo não é possível ! temos que nos preparar! vem aí o alargamento a leste e o fim dos fundos comunitários, isto não pode governar-se só com a fuga e a fraude fiscais !

Bom, chega de conversa disse eu a dado ponto, folguei em saber o Durão mais arrebitado, andava muito tristonho. Vocês conhecem o Durão ? um moço na casa dos quarenta, técnico na edilidade, está em franca recuperação e ainda bem, é bom rapaz, dos meus tempos de escola, meu amigo e amigo dos meus.

Liguei de seguida a uma outra amiga que, malandreca, me atirou logo com esta; ouve lá ó cronista! porque foi que o governo anterior, nos seus piores momentos, não teve nunca sondagens tão baixas como este novo governo agora? Ao que eu respondi que;

- não sei querida!  já não percebo nada ! vou deixar de me meter em política !
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* Escrito por Maria Luísa Baião, domingo, ‎15‎ de ‎Setembro‎ de ‎2002, ‏‎pelas 19:57h e em homenagem a este seu amigo de infância e que sofrera um grave acidente.