terça-feira, 31 de julho de 2018

522 - SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO * 3 .........



Recapitulando, … “A arrastada e vergonhosa saga do Brexit e os populismos insurgentes e emergentes um pouco por todo o espaço da União Europeia atestam quanto a sua ineficácia e incompetência nos foi a todos extremamente penosa e prejudicial “ ...

5 - Prejudicial porque era suposto a Comunidade Europeia combater e colmatar os deficits nos países da União que os apresentassem, penalizando-os e forçando-os a corrigir a situação, mas também os ajudando, amparando-os, como ?

Com o excesso, com o superavit de outros, sendo aqui que surge o busílis, com a egoísta Alemanha à cabeça, acumulando superavit atrás de superavit sem a mínima contemplação pelos parceiros de união e sem que Bruxelas tenha tomates para a penalizar, como aliás está previsto. Bruxelas tão ligeira se mostra na penalização dos incumpridores que apresentem deficits quanto fecha os olhos à insensibilidade alemã.

Fique claro que ninguém pretende tirar ou retirar nada à Alemanha, nem mérito pelos seus superavits, nem dinheiro nem admiração ou consideração, tudo o que a Alemanha consegue ´fruto do esforço e inteligência do seu povo e dos seus políticos, só lhe queria poder tirar a cegueira e a soberba.

O dinheiro do superavit alemão (está suposto nos tratados) seria utilizado/aplicado em países com deficit através de investimento alemão, o qual daí retiraria dividendos. Só teria a ganhar e nada a perder, os países pobres ficariam menos pobres e a Alemanha rica, rica continuaria. Talvez até comprassem mais produtos à Alemanha, todos pobres ou alguns pobres é que nem é remédio nem solução, mas foi o que aconteceu e continua acontecendo. Esta Europa não me serve, não nos serve, não serve a demasiada agente, daí os reveses que a política europeia tem encontrado pela frente nos últimos tempos. França, Polónia, Hungria, Áustria e Itália e Grécia, para não mencionar o caso mais paradigmático do Brexit são pedras no sapato da União.

Tudo leva a crer que a desgraça não ficará por aqui, populismos estão em confronto directo com esta União, o futuro dirá quem teve mais bom senso, se é possível algum bom senso na política europeia ou no populismo, razões e justificações que expliquem este último há, estão vistas e revistas, identificadas, mas a burrice é coisa forte, doença asinina.

6 – É neste cenário multifacetado que nos movemos. Por culpa nossa, asneiras nossas, não temos fundos para investir, nem o estado tem um tostão nem os privados nadam em dinheiro, para além de serem confrontados com uma burocracia e asfixia fiscal que os desmotiva. Há quase cinquenta anos que o investimento público e privado não apresentava valores tão baixos. O maravilhoso Simplex não é ainda suficiente, não mexeu com mentalidades e o fisco arrebanha todos os tostões, que vai gastar improdutivamente na manutenção de classes e direitos questionáveis numa caça ao voto que já se tornou obscena. Deste modo nos empenha a todos sem glória nem proveito. O país atravessa a fase do salve-se quem puder ao invés do “um por todos, todos por um”.

Voltemos à vitela, Euro sim ou Euro não ?  

Independentemente do caos ou do tsunami que a saída do Euro nos faria cair em cima, e o exemplo do Brexit é testemunho disso embora no nosso caso, sem dinheiro para mandar cantar um cego, tudo se complicasse e piorasse a nossa posição negocial na hora da saída. Esqueçamos portanto esse triste pensamento ou devaneio.

Que ficaria então ? Novamente o Escudo, e que Escudo ? Com que valor monetário ? Com que valor face às outras moedas ou divisas ? Há quem aponte no caso uma quebra entre 30 e 50% face ao valor actual, (200,482 PTE = 1 lembram-se?) Eu que sou optimista e já vi muita coisa, adianto convicto de que se assistiria sim a uma depreciação imediata da nossa moeda entre 50 e 100%, senão mais, e a médio e longo prazo muito mais ainda, mas como disse sou optimista recuso-me a entrar nos caminhos do pessimismo e da especulação.

Significaria tal depreciação monetária que passaríamos a comprar tudo que venha da estranja, mais caro na mesma proporção ou percentagem, e quase tudo ou tudo que tem importância vem da estranja. Então com que dinheiro iríamos importar o que importa, agora que teríamos menos, ou o mesmo mas com menor valor, depreciado, o que significaria termos que entregar mais carcanhol em troca do que adquiríssemos ao estrangeiro.

Para além deste nada pequeno inconveniente aconteceria paralelamente termos que continuar pedindo dinheiro emprestado, agora a que taxa de juro ? E a que prazos ? E a divida ? E o deficit ? E a nossa credibilidade nos mercados ? É que estas merdas são como os vasos comunicantes, não és capaz de mexer ou dominar cada uma delas isoladamente, há sempre reflexos noutra, ou nas outras, é como o palhaço malabarista no circo ao ter que jogar e equilibrar em simultâneo meia dúzia de bolas ou de pinos sem deixar cair nenhum no chão. Digamos que o problema do palhaço é muito menos candente que o do Escudo.

Sem a facilidade da moeda única, do euro, válido e aceite por todo o mundo, seja durante um segundo, um minuto, uma hora, um dia, uma semana, um mês, ou um ano a quantidade de transacções financeiras efectuadas, de troca de moeda, o acto de cambiar moeda, seria colossal, e em cada uma dessas operações o câmbio, o custo da conversão havia de somar milhões em nosso prejuízo. Férias nunca mais faríamos sem uma carteira onde guardássemos pesetas, libras, marcos, francos, liras and so on… E sobraria sempre uma irritante mão cheia de moedinhas as quais ficariam anos e anos pelas gavetas e gavetinhas esperando um dia ser reutilizadas. Um suplicio, é ou não é assim ó Simplício ? Era e será.

Sem o respaldo da EU e do Euro toda a gente se aproveitaria da nossa debilidade, sozinhos somos uma merda, no meio dos vinte e oito sempre podemos encher o peito e cagar de alto, fazer frente a este ou àquele. Estão vendo o filme não estão ? Ou não estão mesmo ? Há uns anos, no tempo do Escudo, os bancos não cambiavam a cada casal, ou por passaporte, ou por pessoa, não me lembro bem mas não importa para o caso, uma importância superior ao valor X, isto é, terias que limitar as férias, fazê-las poupadinhas, ou não as fazer na estranja sendo precisamente a isso que o banco/ governo te queria obrigar. Como sempre à rasca e sem divisas, o país sem dinheiro inventou um slogan turístico e lançou a campanha publicitária do “Faça Férias Cá Dentro”

Em Sing Sing também era assim, era ou não era ó Quim ?

Então ? Sair do Euro ou não ? Os carrinhos, uma coisa de que o tuga tanto gosta, sejam Fiats ou Mercedes, passariam repentinamente para o dobro ou triplo do preço, as motas idem, e tudo que viesse de fora, com as alcavalas de impostos destinadas a manter este estado gordo, cada vez mais gordo e naturalmente para te desmotivar a comprar fora, motivar ao consumo interno, travar a saída de divisas, obrigar à poupança, ao comedimento, nada de viveres acima das tuas possibilidades e sobretudo elaborar e lançar campanhas para o parvo do tuga na diáspora continuar a mandar a bagalhoça, apelar-lhe ao sentido pátrio, ao sentimento, ao coração, fazê-lo esquecer que muitos ficaram sem o pé de meia de uma vida no turbilhão do BES e dos outros bancos. Mas parvos haverá sempre, por aí não virá perigo nenhum, quanto mais se aldraba por cá mais crescem as remessas dos emigrantes. São parvos ou não são ? São, e são sobretudo patriotas, o Marcelo que os abrace e condecore, já.

Como se isto, este panorama não bastasse, vamos ver o que aconteceria com a importação de matérias primas, maquinaria e bens de equipamento…  

          ……………………  continua …………………….



* “Sonho de uma Noite de Verão” no original: A Midsummer Night's Dream,  peça teatral de William Shakespeare, uma comédia escrita em meados da década de 1590.