domingo, 30 de agosto de 2015

271 - JARDIM ERA PÚBLICO, NÃO DA CELESTE


JARDIM ERA PÚBLICO, E NÃO DA CELESTE

Estava rebentando de passarinhos e gentes
De árvores frondosas, cadelas no cio e Guys apaixonados
À entrada transeuntes, fotógrafos e indigentes
Foi aqui que escolhi sentar-me, pedir cafés gelados

O dia solarengo estava, os cisnes grasnando
A vontade imperando e, na esplanada quási deserta
Umas costas nuas em aberto vestido se estampando
A pele alva, os altos da coluna,  a sede que desperta

Nessa mesa ao lado, sentada, essa mulher liberta,
Liberta feromonas que o vento p’lo jardim dispersa
Perfume que nas redondezas todos os cães alerta
E aos poucos se vai formando matilha, que a cerca

Um oferece primoroso licor, um outro linda flor
O terceiro, chá de limão, um quarto seu próprio coração
A senhorita sorri, e de tão cortejada se diz e desdiz, por amor
Mas tanto ladrar incomoda, e se vai embora, dizendo a todos não

Jardim fica logo ali triste, o dia todo ele como breu
Metade do pessoal, como pardais, levantou, e debandou
E nós agora ? Disse entreolhando-se amigo meu
Embora também, dia ficou judeu e linda flor flor murchou

Montei no motão e engrenei mudança
Rumei à Billette, sempre ensolarada
Mandei vir mais café e bolo de abastança
Reclinei ao sol, meti pés na mesa, manhã acabada

Depois o almoço, e a sesta mexicana
O glúten ruminado, o colesterol guardado
Sacarose absorvida, energia armazenada
Amanhã a nova semana me apanhará preparado

Humberto Baião – Évora, 30 de Agosto de 2015


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

270 - PARLAPIÊ, A DESGRAÇA NUNCA VEM SÓ


             Dia a dia as coisas tendem a problematizar-se, digo antes complicar-se, não vá companhia minha pegar no problematizar e subverter totalmente, isto é alterar completamente o sentido das minhas palavras. Há gente complicada, cada vez há mais. Ou complicam e excedem, ou nem sequer alcançam o que é ainda pior. Vai-se tornando cada vez mais difícil falar com a generalidade das pessoas, falar, trocar impressões, cara a cara, pessoalmente, porque por mensagens virtuais a coisa chia mais fino, as abreviaturas, a chamada escrita inteligente e os emoticons arrasam-me.

Desde os tempos em que Cavaco confundiu Thomas Moore com Thomas Mann as coisas têm acelerado vertiginosamente em direcção ao abismo, hoje raramente se encontrará quem saiba quem foi um, ou o outro, quanto mais quem os confunda, Cavaco estaria portanto nitidamente à frente para o seu tempo. Diariamente pasmamos de ouvir esta malta falar ou escrever coisas como; “essa frase não passa de uma aspersão corrente”, ou “a agricultura e o novo milagre da rega por expressão”. Destas com tempo citar-vos-ia centenas, das outras, daquelas que o novo A.O. branqueou seriam aos milhares, e por este andar, dentro de uma dúzia de anos regressaremos às cavernas, aos monossílabos, à arte rupestre e a agarrá-las pelos cabelos e a tê-las à força ou pela força. Bem, limito-me à força porque pelos cabelos já a gente as puxa. Eu pelo menos adoro, em especial se tiverem rabo-de-cavalo.

Mas, fora estes apartes, a coisa ta mesmo má, não vai havendo quem saiba quem foi Sexta-Feira, ou Robinson Crusoé, ou quem em troca saiba outras coisas, pois, mas não sabem, nem a Genoveva, que foi professora de francês muitos anos e faz roda na nossa mesa há uns meses. O que ela não aprendeu já ! Ela que quase só falava de Grammaire française: orthographe, syntaxe, participe passé, accord du verbe, ponctuation, conjugaison, e cujas conversas se resumiam a França, não se cansando de repetir; “La France est belle”, ou “La France est très belle”, o que vai dar na mesma coisa, e agora exulta pois os jornais citam metodicamente a necessidade de falantes de francês p’ra dar vazão aos milhares de turistas gauleses que nos procuram.

Gauleses ? Quem são esses ? Pergunta o Gerónimo lembrando os bonecos do Astérix e, por encadeamento, Tim-Tim e o capitão Haddock, os gémeos Dupont e Dupond, e, se não o calarmos, ficará ali como uma grafonola e todos sabemos que quando chegar ao capitão Nemo e ao Nautilus ninguém conseguirá calá-lo.

Esta mesa qualquer dia parecer-se-á com a de um lar de terceira idade, não fossem os arrebites ou arrepios de uns e de outros de vez em quando.

- Mourinho ? Chelsea ? Pois pois, digo eu, quer dizer, condescendo eu em responder, porque também há aqueles que só percebem de futebol e se não fosse isso de nada mais entenderiam. 

Por vezes dou comigo pensando se não seria uma felicidade Parkinson e Alzheimer tomarem mais cedo conta de certa gente. É cada vez mais difícil e mais raro encontrarmos alguém com quem possamos conversar, e que, por motivos sabe Deus quantas vezes inexplicáveis se mostram incapazes de captar o cerne da questão, da conversa, perdendo-se em divagações ou enveredando por caminhos colaterais de bradar aos céus. 

Um dia destes o Teles gabava as virtudes de um barco pneumático que comprou para a pesca e que experimentou levar para Monte Gordo. Bem, o barquito, concebido para o rio e uma lotação de quatro pessoas sucumbiu às ondas e atirou a dúzia e meia com que o tinham carregado à água. E pronto, foi o suficiente para que o Gerónimo agarrasse o assunto e ficasse a perorar sobre o Mediterrâneo, os barcos de imigrantes, os naufrágios, a politica vergonhosa da EU, o crime do século, a Merkel, essa nazi, nem sei como mas a conversa derivou para as putas, e como já passava do meio dia e meia fomo-nos levantando para ir almoçar… Isto foi há dois ou três dias mas aposto que se lá formos ainda o Gerónimo não terminou a prelecção.

Desde que encerrou a empresa e se “reformou” que aparece diariamente, invariavelmente em fato de treino, inda que nunca tenha feito dez minutos de exercício na vida, e tenha suado, isso sim, com um AVC que não o quebrou, e que  superou ! É curiosa a história do Gerónimo que com a crise entrou em perda, queria despedir uma dúzia ou duas de funcionários para salvar a empresa e equilibrar as contas mas não podia, e a quem depois veio a ASAE exigir caixas frigorificas e ar condicionado em todas as carrinhas fazendo-o levantar no ar braços e mãos em simultãneo;

- Porque caralho estes gajos me vêm com estas merdas se toda a vida distribui os queijos sem mordomia e nenhum se constipou !

O Gerónimo tinha, com esforço sorte e alguma habilidade construído, ao longo dos anos, uma rede de distribuição assente em perto de duzentas carrinhas fechadas, que escoavam a produção de centenas de pequenos produtores de queijos de todo o Alentejo e levava para Lisboa, p’ró Algarve, p’ra Sintra, Cascais, Ericeira, até Leiria, empregando mais de quatrocentas pessoas. Adaptar quase duzentas carrinhas às exigências (segundo ele parvas) da bela ASAE representaria um encargo / custo / investimento que ele se mostrava incapaz de enfrentar e ao qual os bancos, uma vez rebentada a crise, torciam o nariz, pois o Gerónimo sempre fugira aos impostos e apresentava invariavelmente balanços rasando o prejuízo permanente. Ora o crédito, baseado agora sobretudo em algoritmos e não no conhecimento e confiança estre as partes, codilhou-o, negou-se-lhe. o Gerónimo levou as mãos à cabeça, fulminado, e só acordou na unidade de AVC’s do hospital, todo cagado e mijado por falta de pessoal auxiliar, babado e nem dizendo coisa com coisa, de tal modo que quando retornou a casa temeram que baqueasse de vez com a gritaria do pessoal, os ordenados atrasados, os veículos parados por falta de combustível, o espectro do desemprego e da fome pairando nas bandeiras negras que funcionários mais afoitos haviam hasteado nos telhados do escritório, dos armazéns e dos barracões.

No meio de toda esta desgraça valeu-lhe o amigo Valério, a quem a Dolores por outros motivos, que não virão agora ao caso estará ternamente agradecida, perdão, eternamente agradecida. O Valério é sindicalista, numa noite de refrega tudo aquilo lhe deu volta ao coração e numa hora de fraqueza sussurrou à Dolita :

- Deixa lá filha que tudo se há-de resolver em breve, não se pode despedir um mas podem-se despedir-se todos, a lei está feita assim, não tem um buraco mas tem um buracão, e depois o IEFP tratará deles e o medo da fome ficará afastado, pelo menos por uns tempos, ao menos calá-los-á e tira-tos aqui do quintal que tu também precisas de descansar amor e nem pareces a mesma na cama.

E foi remédio santo, a Dolores falou com o Dr. Miguel, advogado da firma há muitos anos, tratou de tudo discretamente, a maralha desandou para outras paragens, deixaram de lhe mijar e cagar no quintal e na piscina, as bandeiras foram arriadas, a respeitabilidade voltou, até o Gerónimo melhorou, já come sozinho, já se ri, voltou a juntar-se com os amigos no café, abandonou o Mercedes descapotável por ter dificuldade em entrar e sair dele, comprou um BMW azul mentalizado que tem espaço para as canadianas e nem exige ginástica contorcionista. Ele precisa de refrescar a cabeça agora que a canalha o deixou em paz entretida que anda com cursos de formação de Excel, de controlador aéreo, de navegação marítima, de informática de Cad/Cam e outras coisas que nem entendem, nem eu, a Dolita anda feliz, tem o seu homem em casa, sabe sempre onde ele está e tem agora as costas menos vigiadas, o Valério continua a encabeçar as manifs da UGT, continua o mesmo homem dedicado a causas e escrupuloso, tão escrupuloso que nem aceitou à Dolita nem o pedido p'ra casarem logo que ela pudesse tratar da saúde ao Gerónimo nem o Mercedes usado que era dele, estava novo, novíssimo, se não fosse pela matricula ninguém diria que o carro tinha quase dois anos, e ela nem compreendeu nem aceitou as negas do Valério pois dantes o que ele mais ambicionara fora sempre o melhor que o Gerónimo tivesse.

Como as pessoas mudam, já nem há homens de palavra como dantes, nem de palavra nem com tomates que isso estava ela prontinha a jurar.

A vida retomou a normalidade, descontando umas ou outras equipas que se desfazem no meio do clamor da batalha pela eficiência que o país trava. Nota-se que tudo vai melhor, no interior centenas de pequenos produtores que não conhecem uma letra abarrotam de armazéns cheios de coisas a mirrar, a definhar a secar, e sonham com o Valério que lhes escoava o produto, que os enganava com um sorriso franco na cara, agora agricultura e pecuária param porque a produção não tem compradores, alguns juram nem saber nem ter alguma vez visto esse Valério, se era secretário ou subsecretario de estado nunca tinham ouvido falar.

Metade dos homens que trabalhavam para o Valério emigraram para onde puderam apesar de alguns terem regressado de mãos a abanar jurando;

- Não sirvas a quem serviu, nem peças a quem pediu, vida de merda que me fez preto dos pretos só por ninguém ter acudido ao patrão Gerónimo.

O Valério vai no próximo mês encabeçar a Presidência do Conselho de Concertação Social e Económica depois de anos de tarimba trabalhando no duro, o Dr. Miguel sempre comprou aquela quinta que em tempos fora da família Fidalgo, dizem as más-línguas não ter sido ele a paga-la mas o Gerónimo, seja como for sabemos que continuam amigos e é vê-los felizes & contentes no restaurante da Tia Annette, ele beberricando cervejas por uma palhinha e o Dr. Miguel debicando queijos e as melhores linguiças assadas da região.  

A Dolita agora tem página no Facebook e anda maluca com tanta modernice e tantos amigos que lhe aparecem todos os dias, a “francesa” (a Genoveva) é agora sua amiga e são só segredinhos, risotas e risinhos entre ambas as duas…

O Gerónimo anda todo contente da vida, tem uma colecção de palhinhas coloridas e não pára de, por tudo e por nada;

- Cá se fazem cá se pagam, alimentem-nos vocês agora seus parasitas de merda, seus vampiros filhos de puta.

Numa clara alusão e vingança aos tempos em que o faziam perder manhãs e tardes inteiras de boné na mão, numa atitude subserviente perante a gandulagem a quem afinal era ele que dava de comer, salas e salas cheias de gente a coçar os tomates ou a pachacha como ele dizia, sem bulirem um corno e saindo aos magotes para o lanche da manhã ou da tarde e ele ali especado esperando que alguém se dignasse recebê-lo p'ra no fim não lhe resolverem o problema e eram só multas e só pagar, agora é que os queria ver, e para ser verdadeiro queria era vê-los mesmo a gemer no olho da rua que era p'ra saberem quanto custa e aprenderem a amar a Deus.

Quanto a mim ando há três semanas tentando encontrar com quem debater a influência dos "Aforismos para a sabedoria de vida" na obra e vida do filósofo Arthur Schopenhauer, em especial na sua famosa edição de "Parerga e Paralipomena" mas todos olham pra mim como se eu fosse um marciano…  
  






sexta-feira, 21 de agosto de 2015

269 - OBRIGADO PASSOS COELHO ….......….....….

 

Antes que possais ser induzidos em erro pelo título do texto deixai-me esclarecer-vos que sim, estou agradecendo a Passos Coelho, e não a qualquer outro, o que tem sido feito pelo país. Continuará sendo graças a ele que tudo que no futuro for feito por Portugal será pensado, ponderado e orçamentado. Tudo levará a sua marca, ele constituirá a marca do antes e do depois.

Mas igualmente vos direi ser pessoa de quem não gosto*, com quem nem simpatizo minimamente e que, a serem verdadeiras as sondagens, me surpreende pela empatia que, contudo, logra adquirir. "Se alguém duvida que daqui a trinta anos PPC será tido e julgado como um PM que cheio de coragem que arregaçou as mangas e colocou ordem neste país que ponha as barbas de molho porque estará rotundamente enganado. Os anais da história só lembrarão o nosso actual primeiro ministro." *

Há quarenta anos que o país era submetido a mentiras constantes e mal governado, com ele passámos a viver uma mentira permanente e igualmente mal governados. Miragens, lucubrações, visões, más formações, loucura e idiotice atingiram com ele os limites aceitáveis ou suportáveis, o paroxismo. Porém esta dose cavalar teve a virtude de acordar finalmente os portugueses da letargia em que viviam, podendo dizer-se que hoje tudo escrutinam meticulosamente. Porque pensam vocês que o Costinha não sobe nas sondagens quando dantes seriam favas contadas ?

Um animal feroz primeiro e um arlequim louco depois foi demais para a maralha… Ao intuírem que os social-democratas poderão não os levar a lado nenhum os portugueses finalmente acordaram e deduziram o modo arrevesado como os socialistas os tinham trazido até aqui. E enquanto esses dois partidos do arco da desgovernação (os restantes só têm empatado) andarem de braço dado quando os portugueses estão já fartos e cansados do seu triste fado, tudo será duplamente escrutinado, avaliado e ponderado.

Deram-nos alguma coisa de extraordinário os social-democratas ? Deixaram-nos algo por aí além os socialistas ? Mentiras e divida foi o que sobrou depois de quarenta anos de desvario, incompetência, irresponsabilidade, desresponsabilização e oportunismo.

Um problema de cultura diria eu, quero dizer, da falta dela, um problema de tecnicismo a mais e humanismo a menos, um problema de excesso de Excel e ignorância de Heródoto, um problema de ambição desmedida de gente sem estofo, sem tarimba, sem classe, sem garra. De quarenta em quarenta anos aparece um deputado de louvar, morreu Sá Carneiro, temos agora a Mariana Mortágua para compensar, entre um e outra a banalidade, o servilismo à disciplina partidária, o vampirismo de partidos organizados em função do poder, da avidez, da fortuna fácil, do politicamente correcto como desígnio e resposta a nada, e o ar balofo de Amorim & Cª para descompensar…

Abro o Diário Económico de hoje, 21 de Agosto, e leio esta pérola, «…A Camargo Corrêa, empresa brasileira que controla a Cimpor desde Junho de 2012, está a estudar a venda de activos, o encerramento de algumas unidades industriais menos produtivas e rescisões de pessoal… na Cimpor prossegue com a apreciação do seu ‘portefólio' de activos não operacionais, não excluindo hipóteses pontuais de alienação”…»  Uma empresa portuguesa nacionalizada sem qualquer pensamento estratégico (como todas as outras) está em vias de lançar todos no desemprego, e deixando de pagar impostos, obedecendo à lei cega do lucro fácil e rápido, sem custos, pois fechada renderá mais. A falta de cimento nos mercados fará subir os preços e rentabilizar em 300 ou 400% o investimento do grupo nela. Seguir-se-ão a Secil ? (1) E uma  e outra empresa e muitas outras empresas até que emigremos todos e o país encerre de vez ?

Que devemos aos socialistas que não quarenta anos de fingimento, que é como quem diz, de NINS ? Mesmo assim, nem sim nem não, ou aos social-democratas que não a morte das pescas, da industria, da agricultura às mãos de Cavaco, ou este liberalismo suicidário ? Depois de Salazar e Caetano ninguém soube governar este país. Sentaram-se, estiveram, desfrutaram da cadeira do poder sem sequer imaginarem o que isso implicaria.  Todavia a culpa não é só de quem governa, quarenta anos de Salazar e mais quarenta desta democracia de merda devem-se a este povo de grunhos, este povo é uma besta quadrada, e não sei se não merecerá que todos lhe caguem em cima.

Acordou finalmente, ensonado este povinho, tacteando a parede em busca do papel higiénico, ignorante de tudo e por isso ainda mais desconfiado de todos. Por inacção ou omissão todos somos culpados e essa é a verdadeira questão. Mas afinal em quem poderemos confiar ?

Por que razão nunca se responsabilizaram os concelhos pelas suas taxas de desemprego ? É fácil e cómodo atirar as culpas para cima do IEFP. Por que nunca se responsabilizaram os concelhos pelas taxas de PIB alcançadas por eles mesmos ? É mais fácil culpar os sucessivos governos… Por que nunca se estabeleceram metas e exigiram resultados aos responsáveis, em cada município, pelos departamentos de desenvolvimento económico ? Que pariram esses departamentos ao longo de quarenta anos a não ser bons empregos públicos ? E o interesse público ? O interesse dos eleitores ? O interesse dos munícipes ? Alguém conheceu a esses departamentos de “desenvolvimento” os planos de actividade ?  Alguém lhes conheceu os resultados ? Alguém viu alguma vez os seus mapas de execução ? Alguém foi corrido ? Mudado ? Substituído ? Não culpemos somente os governantes, nem os presidentes, ou os vereadores, há por aí muito director e deputado municipal a precisar ser guilhotinado.

Há poucos dias ia matando uma criança com a mota, e nem ia a mais de vinte à hora, para a evitar quase esbarrei com um carro que se apresentava em sentido contrário, felizmente com a brusquidão da travagem a mota derrapou e atirou-me ao chão antes de colidir com ele. Esfolei o joelho, a mão, o cotovelo, desloquei um ombro, mas não toquei no cabrão do gaiato, que ficou mais branco que a cal da parede. Saíra repentinamente pela porta traseira esquerda do carro da mamã que parara no meio da via, por culpa da inconsciência, mas também do planeamento da via junto à escola, nova,  e da incompetência de quem desenhou os acessos e da irresponsabilidade de quem os aprovou. Um outro dia abordarei esta questão, por hoje já desabafei. Como se pode ser um bom presidente, ou um bom vereador, com subordinados ou colaboradores deste jaez ? Para já fica a questão ou a pergunta no ar…

Portugal carece de reformas há quarenta anos, imensas e profundas, a minha crítica a Passos Coelho deve-se ao facto de ter tido uma oportunidade de ouro para as fazer e não as ter feito. Sim, porque somar meia dúzia de freguesias não pode confundir-se com uma reforma da administração local, ou o corte de pensões com uma reforma da Segurança Social. Reformou por encomenda de quem nem o país conhecia e até já admitiu ter errado, sim o FMI, e Victor Gaspar antes, admitiram ter errado a solução preconizada para o ajustamento do país. António Borges antes de falecer também admitira o erro da nossa integração e causa parcial do desastre económico que se lhe seguiu.

A ignorância larvar, e o desconhecimento do seu próprio país conduziram Passos Coelho a um beco sem saída que agora nos quer vender (o comissionista não era o 44?) como se fosse o paraíso, por isso as mentiras não param claro, agora é encadeá-las umas nas outras para que pareçam verdade*.

Os portugueses toparam-no logo, e responderam-lhe com os pés, emigrando em massa, mas também sabem que nem todas as culpas lhe cabem, Passos Coelho recebeu um país moribundo e ficou com ele na mãos sem saber o que fazer-lhe*, e como é um trapalhão, atrapalhou-se e trapaceou o melhor que soube*.

Eu pelo menos, e julgo que mais portugueses, agradeço-lhe, agradecemos-lhe. O país nunca mais será o mesmo, nem a oposição, que mudará forçosamente, não mudou ainda o suficiente, nunca mudará o suficiente, mas o país tem mais gente, e mais gente significa mais opções e mais respostas, mais alternativas.

No que eu não creio mesmo é que quem nos trouxe até aqui daqui nos tire, porque para essa gente, “a oeste nada de novo”, continuam pensando como pensavam, imaginando continuar a servir-se de nós como serviram.

É hora de dizer basta.
Abre os olhos besta…………………………





quarta-feira, 19 de agosto de 2015

268 - GRANDE E BESTIAL !!!!! ..................................

               
       
“ Bom dia, é tudo verdade, mas podias ser mais humilde, assim pareces uma besta … tu és sempre embirrante  “ Em 16-08-2015 8:09…

- Mas eu sou uma besta, respondi, e bem embirrante.

Foi exactamente nestes termos que uma das minhas amizades (pela idade podia ser minha filha) tentou sensibilizar-me a que abandone o ar algo prosaico e coloquial com que me dirijo a vós. Este é um exemplo de muitos, e ela um exemplo das e dos que o fazem pela calada. Esta ao menos conheço-a pessoalmente. A algumas amizades nem isso, a essas sou mais lesto a ripostar, tal como fiz desta, a esta, apesar de se tratar de uma senhora e a quem elegantemente mandei à merda, tendo ouvido de resposta fazer eu tudo, ou parecer tudo fazer para ser embirrante. 

Ora eu não quero parecer embirrante a essa gente, eu quero mesmo ser embirrante, faço gala em sê-lo pois há gente que não merece outro qualquer lado meu, ou perspectiva minha. E por falar nisso lembrei uma amiga que tive que não se cansava de me mostrar o que ela designava como o seu melhor ângulo, mas isso são coisas de rapazes, ela já faleceu há uns anos, quero respeitar a sua memória e relembrá-la com saudade.

A outras dou com o pau e depois mostro a cenoura (outras amizades), para que reconheçam não ser eu mau tipo de todo, ou, como no caso da esquerdista acima, gabar-lhe a vivacidade mas lamentar-me não ter já fôlego para ela que entrou na ternura dos quarenta enquanto eu, daqui a meia dúzia de anos estarei com sessenta, e não vou aguentando já com uma gata pelo rabo, quanto mais aguentar tudo que cobiço, há coisas que para mim vão ficando verdes, não prestam, e os dentes, apesar de pagos, não trincam já tudo o que me faz salivar.

Mas não nos desviemos da questão, e essa era o facto de eu ser comummente apodado de besta e de embirrante, escuso-me evidentemente a citar epítetos piores, somente por não pensar ou ajuizar de modo formatado, esquecendo essa gentalha insignificante ser na espontaneidade, na originalidade e na franqueza que reside toda a minha genuinidade. (não confundir com ingenuidade).

Ser genuíno não é para todos, é para quem pode, para quem não teme sobretudo para quem não esteja condicionado por chefes ou patrões, ou controleiros de partidos (há-os em todos e em muito maior número que no tempo da execrável PIDE). A única condicionante que me limita é o respeito que todos (as) vós me mereceis, inclusive as e os merdosos que permanentemente me azucrinam a cabeça, dos quais nem daria conta se não os ignorasse. Com o tempo cansam-se, e com alguns até acabei por fazer amizade. Algumas dessas amizades nasceram assim e consolidaram-se, daí que até quando calha mandá-las à merda o faça com elegância, diplomacia, gentileza e respeito.

Não haveria problema algum não se desse o caso de, nestas justas (para os mais lé-lés da cuca, justas=lutas), verdade e ignorância primarem pela ausência, mas não, a primeira acaba sendo regularmente torpedeada e a segunda pairando ostensivamente sobre tudo e todos.

Há uns meses estive vai-não-vai para, com uma cotovelada, meter os dentes para dentro ao meu amigo Desidério quando, à mesa do café, atribui- a ao acaso, ao destino, à sorte e à sina, a desdita de dois operários que, empoleirados num bem alto cesto da gávea, de uma grua telescópica enquanto podavam umas árvores a dez metros de altura num pátio de jogos da universidade, terem tombado com ela, grua, falecendo um de imediato, ficando outro ferido com gravidade e um terceiro com ligeiras escoriações.   

Eu admito a maledicência ainda que não a pratique, sei que existe e é uma realidade, melhor contar com ela… admito até uma conduta aviltante, mas que se falte à verdade e defenda, apregoe e pratique a ignorância deixa-me fora de mim.

Safou-se o Desidério da cotovelada porque é amputado, ainda anda pagando os dentes, e é maricas, não batendo eu em senhoras, nunca bati. Porém no dia seguinte gastei quatro euros mas preguei-lhe uma partida, despejei uma bisnaga de Cyanolit no sapato da prótese e nesse dia teve que ir descalço para casa, enquanto a malta toda ria a bandeiras despregadas e eu me defendia aludindo a qualquer pastilha elástica que lhe grudara o sapato ao empedrado.

Tudo porque na TV a reitora da Universidade, parecendo nada mais importante ter que fazer, perorava sobre o acidente, alegando estarem sendo cumpridas todas as normas de segurança, «…Na primeira reacção ao acidente, a reitora da Universidade de Évora rejeita que a segurança no local não estivesse acautelada… "Teoricamente tínhamos um serviço de poda normal, cuja área estava concessionada com uma máquina que é alugada" disse, “as autoridades ainda não sabem o que se passou”. A mesma responsável frisou que a instituição tinha requisitado um serviço de poda normal, numa área que está concessionada. “Não há nada falhas de segurança no que diz respeito ao equipamento com que eles estavam a funcionar. A máquina caiu e vamos, agora, apurar a razão disto ter acontecido” evidenciou que “a polícia não sabe, a Autoridade de Segurança do Trabalho, que também esteve no local, não sabe"...»

O habitual, ninguém sabia nada de nada, e tudo isto enquanto a câmara de Tv mostrava a grua, que laborara num plano inclinado na descida para esse dito pátio, apoiando o rasto num murete baixo (que cedeu ao peso da máquina), numa situação periclitante, arriscada, desequilibrada, instável, desaconselhada, e que terá estado na origem do acidente, contrariando a imagem tudo quanto a senhora dizia. Ignorância ? Má fé ? Parvoíce ? Falta de senso ? Só não foi mostrado ao telespectador o testemunho de um qualquer responsável pela “Higiene e Segurança no Trabalho” elemento que quer a universidade quer a empresa que aceitara a missão teriam que ter nos seus quadros e na obra.

Como teria reagido a seguradora ? Haveria seguros ? A seguradora terá pago as indemnizações apesar de tanto atropelo à segurança com que o trabalho se realizou ? Tudo o que interessava saber o telespectador ficou sem saber, nem na hora nem meses mais tarde apesar de tantos inquéritos que todas as entidades envolvidas prometeram e despoletaram. Numa primeira fase quer parecer-me que a reitoria só tinha uma preocupação, sacudir a água do capote… “área concessionada, máquina alugada“ como se o pátio e os funcionários envolvidos não pertencessem à UE, logo a responsabilidade também não. «fonte da academia alentejana precisou que o acidente aconteceu num espaço da instituição que está concessionado a uma empresa desportiva para a prática de padel (modalidade desportiva de raquete).»

Mas os meios de comunicação social de nada adiantaram, limitaram-se a papaguear, e mal, as impressões colhidas sem que as tivessem colocado em causa, sem indagarem, sem fazerem perguntas, meras caixas de ressonância da Lusa… De tal modo que pelo menos em três coisas acertaram todos, a hora do acidente, o número de envolvidos e as consequências sofridas, e o local, no restante apresentaram contradições de bradar aos céus…

As entidades envolvidas no caso idem, «…O subcomissário da PSP, afirmou que “tudo aponta para que tenha sido um acidente de trabalho, pois os homens estavam a fazer a limpeza das árvores em cima de uma grua telescópica, a máquina tombou e os funcionários caíram”. “tudo indica que tenha sido uma cedência do muro, onde a máquina estava apoiada”, declinando a hipótese de falha humana. Mas referiu que será feita ainda uma investigação ao acidente...» Portanto falhou a máquina, ou o destino, esclarecedor este comissário que também ninguém colocou em causa … «"Estavam a decorrer operações de poda das árvores quando a grua telescópica tombou", explicou a mesma fonte.»

Quando sabemos que ali em Marrocos qualquer operador de máquinas tem que ter formação, e cuidada, e os reitores sabem o que é a física, o centro de gravidade, alavancas e fulcros, deslocações de massa, inércia, etc etc etc … Cada entidade só procurou marcar presença e tirar o cu de fora, e estiveram envolvidos a PSP, os Bombeiros, Protecção Civil, o INEM, os Sindicatos, o Hospital, acho que helicópteros não, as ambulâncias, carros e mais carros, gente e mais gente, só faltou mesmo foi a previdência…  a caixa de previdência…

É preciso coerência, é preciso que não haja contradições entre as nossas palavras e os nossos actos, até eu levo isso a sério neste blogue onde, por princípio brinco, mas com respeito, respeitando-vos (até quando mando alguém à merda), o respeito acima de tudo. Não é a mim que devem fazer exigências.

Ri-me a bom rir uma vez mais um destes dias, ri-me sozinho mas ri-me, quer dizer, sorri, sorri-me. Vou-vos contar para que também se riam, se riam e vejam até que ponto estamos necessitados de coerência, os que a devem praticar e os que a devem exigir, porque ambos parecem ter esquecido o seu papel, o papel de cada um.

Existe neste reino da Dinamarca um velho jornal, antigo como o papel, o pergaminho, o papiro, tudo ali é velho e respeitável menos uma certa desfaçatez. Um jornal deve respeitar o público leitor a que se destina, e albergar gente respeitável. Mas não senhor, um dia destes dei com esta pérola, um dos subdirectores ou vice-directores, é, em simultâneo e sem que isso o incomode minimamente, vogal de uma instituição privada, propriedade de figura pública cuja filiação partidária é sobejamente conhecida de todos e que, comummente surge reportada (por tudo e por nada) nas páginas do dito diário.

 Que tal desrespeito não incomode os leitores é que me incomoda a mim, a mim que sou uma besta, até embirrante, isto para não vos dar conta de ápodos piores. São 16:25h de quarta-feira 19 de Agosto, acabei de confirmar a pagina pessoal deste amigo “jornalista” onde ainda persiste uma alusão à entidade a que o liguei e à qual por dever de isenção e de oficio nunca se devia ter submetido, que dirá acerca disto a lei de imprensa que tanto gosta o tal jornal de invocar ? Coerência e integridade precisam-se…. Coloquem anúncio… Já no que concerne à tal entidade, não percam tempo, nem um nome lá aparece apesar daquilo tudo tresandar a transparência…

Vou contar-vos o destino desta crónica, fazer espumar de raiva umas quantas pessoas na cidade, e a mim perder alguns amigos mais. Na universidade será fotocopiada às centenas a fim de denegrir a “fitotécnica”, que fora cooptada não por ser a melhor opção mas para evitar que este ou aquela fossem reitores… Isto até que um atrevido qualquer, ressabiado por ter perdido as eleições para a reitoria, dê uma a ler à senhora reitora que, claro, de igual modo exclamará:

                - Mas que grande besta este Baião, quem é este tipo ? … 

               E lá cai por terra a minha veleidade e o grande sonho que tinha de a tornar uma mulher mais inteligente. 

Há gente que nasceu com o cu virado para a lua, e há gente cuja ignorância não tem limites. Agora chamem-me lá nomes, já estou habituado, os meus amigos costumam dizer-me que por cada razão que eu apresente perco um amigo algures, talvez sim, talvez não, 

                                              olhem, pelo sim pelo não ide-vos todos foder.

Nota: Regularmente eu visitava a página social do nosso amigo e referido "jornalista", pois bem na visita de hoje, 8 de Setembro, as alusões à sua ligação à tal instituição tinham sido retiradas, contudo, uma análise à secção "sobre" deixa ainda ver essa alusão, agora referida como uma ligação "anterior". Para que saibam que eu não minto, nem tão pouco brinco em serviço. 





domingo, 16 de agosto de 2015

267 - PAF ! TRUZ CATRAPUZ !! * ...........................


PAF !  TRUZ  CATRAPUZ  !!

Oh ! como é linda aqui a vida para qualquer janota
ou idiota…
facilitaram-te as coisas não foi meu zelota  ?

Grande idiota, sem chumbos, sem notas
que só cresceram em ti como no feijoeiro
o tal, o da história de pirlimpimpim
uma ignorância sem fim numa lembrança sem memórias

Agora  cresceste meu artolas e são outras as histórias
histórias escritas por quem  sabe contar, por quem vence e pode
mas que sabes tu disso agora ?
agora que nem sabes o que não sabes?
que nem sabes metade do que devias saber

Depois queixas-te e dizes ser enguiço
ou nervosismo dos últimos minutos
porque o teu clube perdeu aos penaltis
e tu já nada tens  a perder, aliás já não tens nada

Nem nunca tiveste, nem neurónios nem axónios
tens um lombo para a canga
calejado desde o primário, fortalecido no secundário
ao consolidares o caracter, a personalidade
aí começaras descurando as matérias

Apontaste então a vida às asneiras
a traçar uma carreira, de contratado
de precário, de desempregado
de parvo, de parvalhão, eu sou Baião, e tu ?
meu morcão, meu sabichão
sabichão das dúzias
só desconheces como não levar na fúcias
nas trombas

Só não sabes como sacudir o jugo,
a canga que aguentas de cara alegre
de pateta alegre
podia ser Porto Alegre, ou Portalegre
não, para aí não, é lugar sem poesia
e a emenda pior que o soneto sairia
pena não  bazares sei lá pra onde…
nem saberes quando nem quem nem onde
nem  onde fica a Quinta do Conde, ou Vila do Conde

Foi aí que começaste, mas abre os olhos mula
interioriza, relativiza, radicaliza,
aqui não tens futuro nem salvação
nem pão, nem paz, nem habitação,
porque aqui jaz, jazz & bombo
sempre em festa, aqui e em S. Mamede de Infesta
onde também não presta a ementa, o menu
nem tu, mesmo que leves no cu
tu, primo exemplar do homem analógico digital
ou transexual

Sim, nesta democracia podes ser tudo e coiso e tal
mas preferem-te menos lógico meu animal

* Humberto Baião , Évora, 15 de Agosto de 2015 (num guardanapo de café)

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

266 - O QUE DISSE MOLERO *.................................

              

             
Todo o mistério se resumia a um pequeno raminho de hortelã encontrado sobre o banco traseiro da W Kombi dos biscates. A história tem destas peculiaridades, tão aparentemente insignificantes quanto inofensivas ou desinteressantes, contudo todavia mas porém, são elas muitas vezes a ponta do fio que se enrola ou desenrola como um novelo por toda a meada.

À excepção de um insuspeito, ou suspeito raminho de hortelã entalado entre as costas e o banco corrido da W Kombi e que Molero não sabia justificar, nada mais havia a acrescentar, assim terminava o relatório.

Tinha sido arquivado claro, determinara-se após cuidada averiguação, conforme consta nos autos, que o arguido não passava de um pobre diabo, um gato-pingado, eu seria mais preciso e afirmaria tratar-se dum fura-vidas. Concluíra-se dessas mesmas averiguações ser pacífico que o arguido comummente vociferara contra o Estado, todavia menorizaram-se essas ilicitudes criminais em virtude (eu teria antes apelado à falta dela), da ausência de amor-próprio e patriotismo, já que contudo o sujeito em questão nos autos de averiguação;

Um; não possuía cadastro, cousa decididamente abonatória em seu favor e muito valorizada na sociedade corporativa em construção

Dois; vociferava por hábito e permanentemente contra tudo e contra todos, pior que aquilo só mascando tacaco

Três; sobrevivia de pequenos trabalhos ou ganchos, vulgo biscates, que a vizinhança com condescendência lhe atribuía, sendo que o café onde a atitude anómala se verificara e assinalado na denúncia era a única morada que se lhe conhecia, de resto incerta, constituindo aquele lugar poiso certo conhecido, tendo alguns dos indivíduos que lhe entregaram trabalhos a realizar confirmado terem pago os mesmos com notas de vinte escudos, não ficando todavia determinado se novas se usadas dado ter passado já algum tempo sobre o assalto ao Banco de Portugal e também sobre o dito e referido pagamento ao sujeito nomeado Molero, cuidando-se ser essa a razão pela qual pagaria diariamente as bicas com um nota de vinte escudos, inusual, concedemos, contudo em flagrante contraste com as afirmações constantes nas denúncias anónimas e que relacionam o individuo em questão com os acontecimentos ocorridos na agência do B.P. na Figueira da Foz em 17 - 5- 67.

Quatro; na completíssima inspecção e analise à citada camioneta dos biscates, veiculo registado na DGV sob o nº de matricula CE-56-02, de marca Volkswagen, modelo Type II flatbed, nada foi encontrado que permita intuir ou estabelecer qualquer ligação com base em prova legal, e juridicamente aceite , ou quaisquer outras razões que permitam ligar os factos ocorridos e que culminaram na sua apreensão,  como tal foi o dito e citado veiculo devolvido ao seu legal e comprovado proprietário, já que em momento algum era passível estabelecer-se uma relação de causa efeito entre o dito cujo raminho de hortelã e a discrepância de factos verificada. O veiculo estivera parado ou saíra no dia do assalto á dependência do banco de Portugal na Figueira da Foz ?

Esse era o busílis da questão, e os inspectores detestavam ser comidos por parvos, que é como quem diz, que lhes comessem as papas na cabeça. O citado Molero puxando de notas de vinte escudos todos os dias quando até ali mendigava a bica dia sim dia não e protelava o pagamento da mesma para depois do almoço ou logo ao jantar ? Ali havia gato. Que o deixassem ir mas mantivessem sorrateiramente aquele fura-vidas debaixo de olho, tanto mais que o facto de ele ter deixado de apresentar as vintenas para pagar as bicas desde que os interrogatórios destinados aos autos de averiguações tinham tido início, era a prova provada de que ele era culpado.

O inspector Bonifácio, inspector de terceira classe há quinze e chefe de brigada perfazendo vinte e dois anos no activo franziu o senho e ordenou:

- Dêem-lhe tempo, tempo e espaço, mas não lhe tirem os olhos de cima, esse bardamerda anda a gozar connosco e eu gozar só na cama e com mulheres mais novas que ele, a esperteza desse merdas vai ser a morte dele, pela boca morre o peixe. Há-de falar, ou eu não me chame Bonifácio.

Todavia, contudo, fiquem porém registadas as afirmações do que disse o arguido Molero quando mui exactamente afirmou não ter sido usado o referido veiculo na última semana, o que é contraditado pela prova nº 1, o tal raminho de hortelã, fresco, viçoso, isto é colhido há menos de um dia, que foi por nós encontrado (e citado atrás nos autos) entre as costas e os bancos corridos da viatura, o que contraria as alegações do suspeito, inda que não passe de uma prova circunstancial e como tal passível de ser rebatida por qualquer advogado de meia tigela ou até mesmo ignorada por qualquer douto e excelentíssimo juiz em quaisquer tribunais, portanto esta inspecção limitou-se a registar a prova, a qual no futuro poderá ou não vir a tornar-se importante e necessariamente utilizada, o que será consensual, quer como acusação quer como prova.

Nada mais havendo por agora, sublinho por agora, a acrescentar, aos dezassete de Junho do ano da graça de mil novecentos e sessenta e sete, pelas 22:30h é encerrada esta averiguação e inspecção e delas passados estes autos que vão superiormente assinados por mim, chefe de brigada da PIDE e inspector de terceira classe.

A marosca montada em segredo e em redor de Molero nem demorou duas semanas que não surtisse efeito. Um sujeito engomadinho, moreno, porte atlético, cabelo curto à escovinha, à rufia, e cujos modos diga-se de passagem contradiziam o fato e gravata esmerados, apareceu um dia no café, segredou qualquer coisa ao ouvido do Molero e este, sem largar um pio, passou-lhe as chaves da Kombi para as mãos. Evidentemente o nosso engravatadinho engomadinho não mais deixou de ser seguido.

Vimo-lo entrar e abalar aos solavancos de embraiagem debaixo do telheiro de onde o Molero afirmara a carripana nunca sair, parou demasiado tempo na bomba de gasolina e no café anexo à mesma, pelo que mal partiu um de nós foi averiguar enquanto os outros se lhe mantinham no encalço sem o perder de vista.

Metera dez litros de gasolina, (refira-se que de acordo com os catálogos do modelo Volkswagen, Type II flatbed teriam ficado com autonomia pra muito mais de cem quilómetros mesmo em circulação urbana) e fizera um telefonema (um nosso homem ficou encarregado de posterior visita aos CTT afim de averiguar o nº marcado e o destinatário, bem como a localização deste último), e tomara uma bica, totalizando a despesa vinte e dois escudos e cinquenta centavos, importância que quitara com uma nota de quinhentos escudos, pois o balconista lembra-se bem da dificuldade para lhe arranjar troco, UMA NOTA DE QUINHENTOS ESCUDOS ????????? Mas esta investigação só lida com notas demasiado grandes e demasiado novas para as despesas que pagam ?

O Asdrúbal ligou para a central, para o inspector de terceira classe e seu chefe de brigada a dar conta dessa estranha e peculiar ocorrência tendo ouvido de resposta:

- Eu sabia ! Eu tinha razão ! Não os percam de vista a esses dois ! Ali há gato ! Eu não me chame Bonifácio caralho !

O quê ? Que diz você Asdrúbal ? Repita lá isso homem !

- É como lhe disse senhor inspector, achei estranho apenas, o nosso homem levar colocado sobre a orelha direita, quero dizer entalado na aba da orelha um raminho de hortelã, ao principio ainda julguei que fosse manjerico embora não seja o tempo deles mas… A gente habitua-se a ver de tudo não é senhor inspector ? Depois quando me aproximei dele p’ra ver se bispava o nº que discara (ele tapou-se com as costas) cheirou-me a hortelã, olhei bem e lá estava um raminho fresquinho todo catita por cima da orelha do bicho, quero dizer do dito cujo sujeito engomadinho.

- Siga-o sem que ele dê por si Asdrúbal !

Chefe, eu fiquei a pé no café para lhe telefonar, quem o seguiu foi o agente novo, o Camilo, aquele agente novo do norte, acho que de Mortágua, ele e o Resende a dirigir as operações.

- Ah ! O Resende está com ele ? Está bem, temi que a sua juventude e inexperiência pudessem trair todo o trabalho que temos tido. Ok, vou já mandar alguém buscá-lo aí, onde é que você disse que estava ? Café Frango Assado  ? Samouco ? Ok vai já alguém, espere e tome qualquer coisa, hoje pago eu.

O engomadinho foi seguido, parou à saída de Alcochete pra deixar entrar uma engomadeira com barraca montada no mercado do Montijo, dirigiu-se à reserva natural do estuário do Tejo, como quem se mete a caminho de Samora Correia tendo a meio caminho metido pelo silvedo, o que fizeram exactamente às 18:37h, e onde permaneceram exactamente até às 19:42h.

O regresso executaram-no pelo inverso da ida. O nosso carro marcava exactamente 87 quilómetros percorridos, ida e volta, passando agora à enumeração de vários factores a assinalar neste relatório e de supino interesse para a investigação em curso.

Um; Ao observarmos a carrinha depois de novamente arrumada no telhal jazia sobre o tablier um viçoso e aromático raminho de hortelã.

Dois; Foram encontrados debaixo do banco traseiro vários lenços de papel e bocados de papel higiénico, recente e com resquícios de sémen, bem como um preservativo usado (bem cheio) de marca Durex, tamanho grande (juntámos a carteirinha prateada do dito às provas), e alguns outros marca Control,  já ressequidos indubitavelmente de encontros anteriores, provas que recolhemos num saco higienizado e foram entregues nos serviços de laboratório desta polícia, com o nº do processo apenso para posterior analise averiguação e identificação.

Três; A dita senhora, que mantém banca de engomadeira no Mercado do Montijo é a D. Clarinda Veiga Pires, Terá à volta de 45 a 50 anos, e vive maritalmente há mais de vinte com o senhor Herminio Palma Inácio, aproximadamente da mesma idade e com talho na rua de Cima, no Cacém.

Quatro; Conforme instruções recebidas nenhum dos intervenientes neste relatório foi detido ou travado nas suas actividades diárias.

Cinco; Toda a equipa está ciente que, quando da sua detenção para interrogatório deve ser evitado todo e qualquer contacto entre eles e enclausurados em celas separadas. Para além dos já nomeados foram detidos igualmente; Emídio Guerreiro, Camilo Mortágua, José Augusto Seabra, António Barracosa e Luís Benvindo, todos suspeitos de ligação e pertença à LUAR, Liga de Unidade e Acção Revolucionária.

Passaram-se alguns dias, triangulações, observações, após os quais as detenções permitiram em pouquissímo tempo esclarecer os factos, recuperar as quase trinta mil mocas e deter todos os intervenientes a fim de serem alvo de acusação, posterior julgamento e prisão.

 Esta brigada orgulha-se do seu laborioso sucesso em prol da Nação, eu, pessoalmente, dirigi todas as diligências que culminaram em mais um espectacular sucesso da PIDE. “ Tudo pela Nação, nada contra a Nação” !

Chiado, 16 de Agosto de 1967
Bonifácio António Maria Cardoso
Inspector, Chefe de Brigada

* todos os factos e nomes são veridicos e podem ser confirmados, existem actas, relatórios, processos, e, sendo mais cómodo o Google, introduza os factos, ou os nomes e dentro do contexto, confirme-os. Obrigado.