quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

306 - AI ALPALHÃO, ALPALHÃO.............................


É quarta feira, está um sol maravilhoso e a esplanada desde cedo regista uma inusual animação o que, tendo em conta a debandada que os dias frios tinham provocado é um regresso de louvar.

Ontem deitara-me tarde, ficara vendo o debate na Tv com todos os candidatos, e depois deste terminado, brigando com a Luisinha sobre as virtudes e virtualidade, ou a falta delas em cada proposta presente. Sim, recordo que Maria de Belém não estava, mas nada se perdeu, era já sabido que assinara o pagamento das subvenções e que se furtara de modo matreiro à interpelação de um jornalista sobre as ditas cujas, a senhora já mostrara igualmente de véspera não entender o país em que se move nem o partido em que milita, exigira mesmo ser a candidata oficial do seu partido, que lhe fez orelhas moucas e uma vez mais se ficou pelo habitual e costumeiro NIM, nim Belém nim Nóvoa, o povo que escolha. Invocar a morte de Almeida Santos para se furtar a uma campanha que lhe estava a ser penosa também não achei bem, até por o falecido ser, sem sombra de dúvida, um dos grandes portugueses a quem devemos o Portugal próspero e moderno que temos.

Aquele partido é mesmo assim, sempre assim foi, em casos decisivos tolhe a liberdade de voto, em assuntos de lana caprina concede-a, estou a lembrar-me dos referendos sobre o Aborto e sobre a Regionalização, e com o mais que nem me ocorre agora, lembro os mais candentes, aliás foi assim, por estas e por outras, que Cavaco e Silva lhes ficou agradecendo duas presidências.

Nóvoa desfez, e bem, as dúvidas que se tinham gerado em torno da sua licenciatura em artes do teatro, e uma coisa lhe concedo, ele tem efectivamente sido escrutinado ao longo da vida, mas devia desde o inicio das dúvidas ter-nos informado que aquela formação teatral não era a sua licenciatura principal, porque à data que foi feita nem concedia tal grau. A sua licenciatura principal e única é em Ciências da Educação, ou seja, na prática, em nada... Foi conseguida em dois anos, na Suiça, inclusivé através de entrevistas avaliadoras, (segundo o método Relvas) admitiu o próprio ao CM.(a) Em países como Portugal tais licenciaturas dão p'ra fazer curriculum e subir na carreira e na vida, mais nada...

Contudo todavia mas porém o que muitos portugueses não sabem é que nem só as formações nas artes do teatro foram, muitos anos mais tarde, consideradas licenciaturas, existem dezenas e dezenas de áreas, para não arriscar centenas, em que formações do mais variado teor, algumas bem  mexerucas, ou de base bastante rasca, a par de outras de notável valia, foram consideradas por decreto e a partir de uma determinada data, equivalentes a licenciaturas. Uma questão de fraquezas governativas, conivências sindicais e direitos adquiridos.

Isto passou-se naquelas áreas, artes do espectáculo ou teatrais, mas também nas áreas de enfermagem, áreas técnicas ligadas à saúde, e no ensino, onde existem mesmo casos caricatos como o dos antigos mestres de oficinas, carpinteiros, serralheiros, electricistas, a quem algumas universidades “ofereceram” de acordo com decretos ministeriais e exigências sindicais, ofereceram dizia eu, cadeiras avulsas que haviam de habilitar esses mestres oficinais com o grau de licenciatura, alguns nem sabendo assinar o seu nome. Todavia logo a seguir ao 25 de Abril o novel ensino de massas exigia professores como pão para a boca, e desta forma se forjaram situações provisórias que, como é habitual neste país se tornaram definitivas e atiraram para o desemprego licenciados de verdade para proteger os “licenciados à força” pois que estes últimos estavam sindicalizados…

As nossas estatísticas sobre os graus de habilitações literárias da população estão todas elas aldrabadas, não só pelo facilitismo das novas oportunidades, ou pelos diplomas dados com passagens administrativas ou sem avaliações no ensino básico e no secundário, pois essas mesmas estatísticas não reflectem o analfabetismo funcional, nem a iliteracia, nem o número de professores cuja ignorância comove, que não lêem, que não compram um livro, que fogem a todas as discussões e assuntos que não a gastronomia, o futebol, a doçaria, conventual ou não, as novelas, o Paris-Dakar, as motas, as bonecas, o ciclismo, as modas, incapazes de analisar uma situação, perspectivar um problema ou formular uma solução, uma grande maioria carrega uma ignorância confrangedora e constrangedora, quantas vezes, muitas vezes, demasiadas vezes na sua própria área de especialização entendem ? Por isso não falam, calam-se a tudo...

E depois ? E depois, por exemplo, quando me vêem, mudam de passeio, evitam os cafés e as mesas que frequento, evitam-me nas redes sociais, afobam-se e afogam-se nas suas banalidades, o que até agradeço pois restringe e selecciona automaticamente as minhas relações, filtrando somente os bons, os melhores, o que contudo não deixa de ter a sua piada. Enfim, uma cambada de ursos e ursas a quem o saber não comcita mas assusta… Não há-de o país ser o que é...

Quem não achou nenhuma piada a estes decretos reguladores regularizadores e promotores da cultura nacional foi o meu, o nosso amigo Alpalhão que há três a quatro anos atrás entrou em depressão, deixou de frequentar a nossa tertúlia, mas se curou com um salto para o Brasil, e os favores de uma brasileira que era criada de servir em sua casa e do qual tivemos noticias há bem poucos dias. Está em Angola, já refeito, já curado, desta vez pelo feitiço de uma preta que, diz quem nos contou e afiançou, o pôs em pé e na perfeição.

Mas quem é e a que propósito meto aqui a história do Alpalhão ? O meu amigo Alpalhão, nosso amigo, era um engenheiro muito conceituado e respeitado na cidade e na sua rua mas a quem a crise e o último governo não deixaram a vida correr de feição.

Num repente soube-se que afinal o Alpalhão não era engenheiro, era somente agente técnico de engenharia, qualquer coisa assim como se fosse bacharel, e como nenhum decreto o salvou, como acontecera com os carpinteiros, serralheiros e electricistas, e nem o amigo Alpalhão completara os dois ou três anos que lhe faltavam no curriculum para ser engenheiro a valer, acontece que foi ultrapassado pelas normas da União Europeia, viu gaiatolas passarem-lhe à frente no serviço estatal onde se refugiara havia mais de trinta anos, passou a cumprir ordens ao invés de dá-las, viu o vencimento estagnar e o horário alongar, de um dia para o outro viu-se impedido de entrar às nove e sair às nove e meia para ir para casa fazer projectos por sua conta em regime de private travel, e como se todo este azar não bastasse, na rua onde morava passaram a ignorá-lo, a esconder-se quando ele surgia, a não lhe falar primeiro e a desrespeitá-lo depois, até em casa as coisas passaram a andar tremidas, o caldo sempre entornado e, cereja no topo do bolo, quando o bom do Alpalhão foi chutado para o quadro de excedentários e os serviços encerrados ele não aguentou a pressão entrando em depressão profunda da qual só sairia com ajuda da empregada doméstica que tinha em casa a qual estivera por um triz para despedir, uma mulher dedicada que por ele manteve um exemplar desvelo até, já em Campinas, para onde o levou, ter descoberto que o Alpalhão não tinha diploma com equivalência no Brasil e não lhe serviria para nada, pelo que na última consulta o deixou no posto médico com a indicação de:

- Agora faça por você mêu menino pois você já me enganou que chegue, e nem pense se aproximar de mim nem de minha porta ou te meto meus primos no encalço e te partem essa carinha de parvo…

Aqui a história do Alpalhão regista um enorme hiato pois só voltamos a saber dele em Luanda, apaixonado por uma preta, imagine-se, ele que por cá tratava os pretos a pontapé nas obras que dirigiu enquanto o supuseram engenheiro.

A vida tem destas coisas, amigos comuns que se piraram de Cabinda por causa da crise do petróleo trouxeram-nos noticias dele, é chefe de oficinas no importador dos camiões Volvo para Angola, tem dois lindos rebentos mestiços, a Mingas e o Zulu, crianças adoráveis que ora o tratam por paizinho ora por avozinho, refez a vida e, ele que sempre apreciou bumbuns (levaram-no ao Brasil, lembram-se?), é amigado em segundas núpcias com uma preta lindíssima, lindérrima jura o Barrenho, que já a viu, que afiança ter peito e rabo de descaroçoar qualquer um por isso a malta o sabe curado e feliz, cagando para o país e para as eleições e candidatos, se calhar se cá estivesse votaria no Tino de Rans que também não tem diploma

Quanto ao resto do debate eu recomendo a quem votar Nóvoa que comece uma petição para lhe oferecer um smartphone, o homem é um indeciso e um coninhas que vai precisar de telefonar a toda a hora ao Costa dos comandos, Costa assino ? Costa veto ? Costa apoio ? Costa promulgo ? Por mim torci por Henrique Neto, socialista e meu candidato, porque em cada três afirmações que faz acerta em quatro e a Luisinha torceu por quem de direito e, mesmo discordando, e zangados, opinámos e concordámos que o Marcelo tem uma pedalada e um savoir faire que dá para os embrulhar a todos e se dúvidas havia deixou de haver, vai ganhar à primeira volta.


(a) Ver Correio da Manhã de 21- 01-2016