terça-feira, 12 de julho de 2022

ÉVORA, CIDADE A METRO, 1 IDEIA DE CIDADE

 


771 - CIDADE A METRO, UMA IDEIA DE CIDADE    ( 7 )

ATENÇÃO, crónica já publicada no Diário do Sul em 4 de Setembro do ano 2000.

 


Alguns problemas são ocultados enquanto outros, de menor dimensão, são objecto de debates animados”  *

 

Sendo a cidade um lugar por excelência de concentração de população e o lugar privilegiado de relações sociais, a verdade é que devido às características da própria cidade intramuros, o crescimento da mesma se tem feito para os subúrbios.

 

Esta expansão, que diariamente origina fluxos pendulares de pessoas e viaturas, com as consequentes perdas de tempo e o congestionamento da cidade (engarrafamentos diários) deve-se ao facto, entre outros, de não ter ainda sido concretizado um eficaz sistema de transportes colectivos, e a não ter havido lugar a uma desconcentração ou descentralização de muitos dos serviços estatais e privados que de forma míope continuam a apostar no centro histórico, contribuindo para agravar os problemas conhecidos.


 Alguns factores essenciais contribuíriam para esse descongestionamento, a descentralização de serviços, a criação de bolsas estacionamento, arborizadas, (foi-me dito então - estão já previstas mais, pois as que foram criadas não eram suficientes) a mais que reconhecida necessidade de completar as vias circulares envolventes, (nunca terminadas até hoje) e uma solução, não encontrada ainda, para os transportes colectivos.

 

 Com o novo Plano de Urbanização estamos (estávamos então) em condições de definir objectivos, coordenar eficazmente a vida económica e social, calendarizar acções e projectos, mobilizar meios, promover a optimização do espaço e dos recursos, melhorar a qualidade de vida.

 

É necessário compreender que o Planeamento deve ser entendido como um processo dinâmico, um meio para atingir fins, nunca como um fim em si mesmo.

 

Não deverá constituir unicamente uma bandeira a agitar por quem merecidamente o conseguiu, mas sim para evitar improvisos, medidas de curto prazo, ou remendos, tendo pelo contrário em mente a projecção do nosso desenvolvimento a médio e longo prazo, e não só o planeamento em termos físicos, mas também em termos económicos, sociais e culturais.

 

A taxa de urbanização em Portugal é somente metade da verificada na CEE, com incidência em Lisboa-Porto e litoral. Contudo Évora registou entre 1981 e 1991 altas taxas de crescimento urbano. Évora surge (surgia na época) vocacionada como a área Metropolitana do Alentejo, por razões naturais mas também devido ao fraco crescimento das outras cidades alentejanas.

 

Voltando ao início desta crónica, verificamos que ao longo dos anos se tem discutido muitas vezes o sexo dos anjos, ou o óbvio, em detrimento das Grandes Opções que muitas vezes são ocultadas ao cidadão, vindo este a confrontar-se à posteriori com factos consumados

 

Os grandes problemas que Évora acusa são o subdesenvolvimento, os transportes, a falta de indústrias, de locais de lazer e encontro, e coíbo-me de mencionar outros porque estão em “projecto”, em “carteira”, estão em “incubação” … (tal e qual, foi assim que me responderam então).

 

Na realidade, se queremos pensar o futuro, não devemos esquecer uma cintura verde, que permita à cidade beneficiar de um pulmão, aos eborenses lugares de recreio, e que em simultâneo proporcione a partir dele nova realização / reorganização da cidade, em especial dos antigos bairros clandestinos forçosamente integrados na malha morfológica urbana, não sem dano para a fisionomia correcta que por esse motivo não pudemos criar.

 

Évora acusa a justaposição de três planos distintos, correspondente a três diferentes épocas, a antiga, do velho burgo, a moderna, que inclui os clandestinos, melhor ou pior assimilados, e a contemporânea, ou seja aquela em que temos que apostar vivamente, e cuja harmonização com os planos anteriores deve permitir uma interacção aceitável, já que o óptimo é no caso impossível.

 

Mas, acautelando o futuro, e porque há que prevenir para não termos que remediar, sugeria que fosse pensada a instalação de um Metro de Superfície, que circundasse a cidade, com interfaces nos bairros periféricos, nas piscinas, (a precisarem urgentemente de uma vasta área de estacionamento, necessidade que continua a manifestar-se actualmente sem que lhe tenha sido dada resposta) no Kartódromo, no Aeródromo, nos hipermercados, nos complexos desportivos, nos terminais rodo e ferroviários, e com possíveis incursões a pontos nevrálgicos da cidade e a bolsas de estacionamento. Um desses pontos seria o rossio de São Brás, futura praça grande e de onde poderia irradiar a rede, para a zona e o Parque Industriais, o MARÉ, a futura feira. Um percurso acautelado hoje evitaria demolições no futuro. O Metro é um meio de transporte rápido e eficaz, seguro barato, não poluente, desconheço somente se a sua instalação seria muito onerosa ou não. (poderiam ter sido aproveitados troços de linhas de caminho de ferro que foram arrancados).

 

Mirandela tem um destes sistemas de transporte urbano e ao que consta com elevados índices de satisfação da população. E por ter falado na nova Feira de São João, com os seus futuros pavilhões de exposições, que nível lhe vai ser dado ? Local ? Regional ? Nacional e internacional ? Não duvido que a sua implementação atrairá a Évora muitas empresas que a actual feira deixa de fora. Muitas delas pretenderão certamente vir a instalar-se em Évora aproveitando a dinâmica proporcionada pelo parque, estão criadas ou pensam criar-se  estruturas para as receber ? (pergunta retórica pois entretanto essa dinâmica morreu).

 

Sabe-se que o PROSIURB financia a fundo perdido infra-estruturas e equipamento de apoio à actividade produtiva, equipamentos de utilização colectiva ou a sua reabilitação. Já foi accionado este programa ? Já se concorreu a ele ? (nunca ninguém deu qualquer resposta a estas perguntas, nem na AME, é portanto importante que o MCE queira muito justamente acompanhar os trabalhos da câmara municipal, ajudando, lembrando, alertando, certamente de modo construtivo, lamento que essa intenção do MCE tenha sido lapidarmente derrotada e negada por todos os outros partidos na reunião da AME que decorreu em S. Miguel de Machede).

 

E não será altura para pensar em novo parque de piscinas ? Em trinta anos a cidade de cresceu e parece que o complexo actual não satisfaz já as exigências em termos de população. (trinta na altura, agora cinquenta).

 

E a criação de uma pista de desportos motorizados a exemplo de outras cidades do país, e até de Arraiolos, seria de difícil concretização ?  Uma parceria com a secção de motorismo do LGC não seria possível ? E ficaria assim tão cara uma pista por exemplo de autocross/motocross ? Em que é suficiente um caminho aberto por um buldózer em terrenos incultos, e pouco mais ? Não esqueçamos que Portugal é campeão do mundo de moto Enduro, sagrado este ano (ano 2000) na pessoa do português Hélder Rodrigues, que nas ruas da sua terra e após o atropelamento de muitos cães e gatos, canalizou para o Enduro as proezas que a polícia o dissuadiu de praticar na vila. (Portimão não construiu um autodromo/motodromo de sucesso ?).

 

Tal dinamizaria outro tipo de desportos, atrairia gente e competições, satisfaria necessidades de muitos aceleras que nas ruas da cidade sublimam a sua vocação de campeões, colocando tudo e todos em perigo constante. Não deveriam desta forma ser positivamente canalisados esses impulsos pela velocidade e exibicionismo para locais adequados e com maior proveito para todos ?  (em especial o turismo). 

 

* Lacaze, Jean-Paul, A Cidade e o Urbanismo, Ed. Instituto Piaget.

 

Sétima cónica de um conjunto temático de doze, publicada no Diário do Sul, Coluna Radicais Livres, em 4 de Setembro do ano 2000. (Em itálico explicações minhas e actuais, para melhor compreensão do texto, as quais naturalmente não constam no original).