terça-feira, 4 de setembro de 2018

530 - REBÉUBÉU PARDAIS AO NINHO …...............


É fácil cair-se no ridículo, custa-me vê-la cair no ridículo, literalmente devido a uns miolos de pão, isso mesmo umas migalhas de pão, uma insignificância, mas é a realidade, daí que me custe.

Jornais e revistas, Tvs e rádios, não se cansam de alertar, o plástico está a matar-nos, são milhões de toneladas todos os anos desaguando nos mares e oceanos, infestando praias anteriormente paradisíacas, matando a fauna e a flora continental e marítima. Um saco pode demorar quinhentos anos a degradar-se, uma palhinha uns mil e entretanto matar quatro ou cinco baleias, vinte ou trinta tartarugas, umas dezenas de gaivotas, um cento de roazes, uns recifes de corais, orcas, tubarões, pinguins, manatins, atuns e tu, ou tu e eu, ou todos, toda a humanidade está ameaçada.

Mas não com umas migalhas de pão, comestíveis, biodegradáveis, não ameaçando nem incomodando ninguém que não os meus vizinhos da rua, uns comichosos que acham triste o espectáculo de duas ou três fatias de pão atiradas ao acaso para o passeio ou para o meio da rua. Nunca os vira tão incomodados na vida. Nem quando da morte do Papa.

Não se incomodam com os carros velhos por ali abandonados, nem com os copos de plástico que aos fins-de-semana por ali medram, espalhados juntamente com as embalagens vazias e em esferovite, onde comensais tardios trazem o lanche para comer dentro dos carros antes ou depois de … Nada contra, eu sei quão o amor abre apetites, mas não venham espalhar para a minha, nossa rua os restos do McDonalds, as garrafas vazias, os preservativos cheios, os guardanapos de papel com folha dupla, os pensos que incomodam e estorvam na hora H, tudo atirado pela janela dos carros onde comem e se comem.

Nada disso, o que incomoda a vizinhança é a merda das migalhas de pão que eu atiro pela janela da cozinha aos pardais e outros bichos tais. E eu moita carrasco, merda para uma vizinhança destas, cambada de ignorantes nem sabendo quão a passarada lhe é útil ao pé da porta, comendo os insectos, em especial os mosquitos que poderiam trazer os vírus Zika ou Ébola, cada um deles com as suas taras e manias, mas aposto que unânimes em me enforcarem a mim por causa duns miolos de pão, vida ingrata, vizinhos dum cabrão. 

Por isso me custa, não me basta vê-la negar-me a sua solidariedade, vai para além disso, ao negar-me a solidariedade a mim tacitamente está a dar-lha a eles, àquela cambada, ora isso custa-me, isso é ver que ela, ao invés de se preocupar consigo mesma se empenha nesta guerra de alecrim e manjerona, tornando-se também ela ridícula ao cair no ridículo da situação, uma guerra por uns miolos de pão.

É para mim um alegre despertar, levantar-me, dar uma mijadela sentado que é mais cómodo e mais asseado, suspirar, libertar pressões acumuladas e gases, a cagada é mais tarde, depois de tomado o pequeno almoço e impreterivelmente antes de sair de casa, pelo que depois do primeiro asseio me entretenho a preparar a mesa para abancarmos, fazer ou aquecer o chá, chá preto para não ficarem para aí em pulgas com a curiosidade espicaçada, manteiga dos Açores, queijo do Cachopas e Terra Nostra, e compota de abóbora, ficou-me o gosto e o vicio desde a prova dos frasquinhos da Ana Sofia Dordio, abóbora salpicada de pedacitos de nozes. E pão, o pão da véspera claro, não iremos comer mais que três ou quatro fatias, torradas ou barradas, pelo que algumas das restantes são por mim atiradas ao acaso pela janela da cozinha pondo em alvoroço a passarada que parece já esperar-me e, em tumulto se entretém depenicando-as, começando do centro para a periferia, até não restar mais que uma argola, um circulo composto pela côdea da fatia, que o tempo desfará, certamente alimentando essa argola uma miríade de bicharada que não consigo lobrigar da janela mas fará parte da cadeia biológica e com tanto direito à vida quanto eu e tu e vegans, carnívoros, omnívoros e todos menos a cambada de vizinhos de que vos venho falando, gente sem sensibilidade nem conhecimento e que anda cá só para nos fazer a vida negra, e cara, roubar os lugares de estacionamento em especial os que se situam debaixo das poucas árvores da avenida, roubar um ou outro emprego, ajudando a sumir o orçamento da reforma à Seg. Social, e respirando o mesmo ar, o que me provoca uma ansiedade tal e causa de muitos vómitos.

A outras janelas ou por detrás delas e jurando-me pela pele estará a cáfila da vizinhança, gente proba e certamente disposta a matar por menos de dá cá aquela palha, para quem não tenho olhos nem ouvidos a não ser quando alguma presença nova me aguça a curiosidade pela elegância do perfil, a graciosidade do porte, os requebros do andar ou um peito cheio e abanando a cada passo ou saltinho de pardal. Como podem ver isto anda tudo ligado, pardais, pássaros, passarinhos, passarinhas, e os tais cabrões dos passarões e das melras inconformadas e, aposto, mal tratadas e mal fodidas.

Depois é comigo que embirram… 

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