segunda-feira, 20 de julho de 2015

256 - ARRANJA-SE EMPREGO * Parte 3 ……......…


Parte 3
Ainda a loja não abriu e já começaram a chover criticas, que sou arrogante, que sou convencido, que armo aos cágados, que intimido, que não me despacho com o assunto. O pessoal pode ser do piorinho, nunca comentam em público, fazem-no pelas costas, pela calada, ora se se tratasse de engates e negócios de cama eu ainda perceberia o secretismo, até o recomendaria, mas não sendo o caso só entendo a coisa como cobardia, cobardia de fazerem como eu faço, exponho-me, e qual o problema ? Meia dúzia de ignorantes chamarem-me convencido ? Ok ta bem, eu aguento, com isso eu posso, com isso e com muito mais !

Mas voltemos à vaca fria que esta malta do secretismo é como aqueles tais que toda a gente conhece, empata fodas, nem fodem nem deixam foder… Antes desta polémica estava eu meditando ter aprendido tarde ser a vida curta. Não fosse já ter ultrapassados os cinquenta, daqui a meia dúzia de anos serão já sessenta, enveredaria por esta carreira sem a menor dúvida ou hesitação. Agora é tarde, uma fístula num joelho não me deixa correr, e uma hérnia inguinal obriga-me a usar funda p’ra segurar um tomate, ou andaria sempre pendente, a badalar, a incomodar, a atrapalhar. Sinceramente não me estou vendo um profissional de sucesso e elevado potencial com os tomates pendurados, o que seria pior que pendurado pelos ditos. 

               A formação e carreira que recomendo destina-se inequivocamente a malta nova, coisa que aposto já toda a gente terá percebido. Quando muito transmitir-lhes-ei a minha experiência de cinquentenário bastante vivido, mas isso é coisa à parte, não será pága e nem consta no curriculo.

Tenho que me concentrar no que interessa porra, hoje estou a afastar-me demasiado, tudo por causa daquela gaja maluca que está sempre a recalcitrar, sempre do contra, tomara que o marido a emprenhe outra vez, ou o marido ou alguém com tomates já que estávamos falando disso, com três filhos restar-lhe-á decerto muito pouco tempo para me azucrinar a cabeça, ou ainda me verei a participar dela às autoridades por assédio moral, ou moralista.

Claro que as conversas são como as cerejas que se comem umas atrás das outras, falou-se em autoridade, autoridade leis, leis códigos, e claro enquadramentos legais, mecanismos legais, formalismos legais, acusação, defesa, prova, contraprova, contraditório, todo um mundo onde quem não se saiba mover ou que o não entenda sairá sempre a perder. Também constitui preocupação minha a cobertura legal da tua actividade. Estudarás alguns elementos do nosso Código Penal, Cível e Criminal, o que só te dará mais bagagem, mais conhecimentos, mais à vontade, mais auto controle, mais segurança, mais confiança e sobretudo tolerância, paciência e sangue frio no exercício da profissão, outros códigos, como o Comercial, por exemplo, não interessam de todo nesta formação.

Esta minha preocupação prende-se com o facto singular de te querer preparado para reagir a toda e qualquer situação, se fores apanhado (a) numa situação inesperada como vais reagir ? Debaixo da razão ou da emoção ? E vais disparar, como fez o cabo Hugo Ernano contra um bandido desarmado ? (a quem por infelicidade matou o filho). Também tu puxarás de uma carabina contra uma mosca ? Também tu irás arranjar-te problemas a ti mesmo (a) desnecessariamente ? E optarás por andar armado (a) ou desarmado (a) ? Há todo um conjunto de normas, regulamentos, leis e medidas que estipulam quem, como e quando, ou em que casos é lícito usar uma arma, e como foi ela usada ? Como defesa ? Como meio de ataque ? O portador tinha licença de uso e porte de arma ou não ? De múltiplos factores dependerá a condenação e a pena, geralmente nestes casos pesa muitíssimo em desfavor a nossa ignorância. Bem, a ignorância pesa sempre, mas nalguns casos pode fazer a diferença entre pena nenhuma, pena suspensa, liberdade condicional ou uma pena dura. Giro não é ? O cabo Hugo Ernano que o diga que não deve achar agora graça nenhuma ao facto de ter infringido levianamente o regulamento de uso e porte de arma por um militar, no caso paramilitar… Eu diria que foi vitima de uma má formação, talvez até péssima, e, é notório que a cabeça também não o ajudou.

Aposto que irás achar graça ao eclectismo das matérias a abordar, aposto que aos poucos te sentirás mais completo (a), mais seguro (a) de ti, mais informado sobre e acerca do mundo em que te movias, moves e moverás. Aposto que passarás a ver com outros olhos muitas coisas que não te suscitavam o menor interesse, e outras que pura e simplesmente nem entenderias e das quais por isso te alhearias, na vida somos como as policias, que só sabem o que lhes contam, a frase não deve ser entendida literalmente mas tem muito de verdade, sendo um aspecto sobre o qual na formação nos debruçaremos detalhadamente, pois quem, ou o que poderá contar imensas coisas à policia abrange um vasto leque de situações, atitudes e comportamentos, já para não falar em provas materiais, as quais, submetidas a uma qualquer perícia, falam pelos cotovelos, contam coisas, e podem ser determinantes no resultado de uma investigação. 

A vida não é como a vês nos filmes, os filmes que vês é que são como a vida, é preciso não confundir as coisas, e sobretudo estar atento. O sucesso ou insucesso de quaisquer acções pode ser decidido por uma beata deixada no local, uma mijadela dada ou uma escarreta atirada com desdém. Uma pegada, uma dedada num copo ou numa garrafa, numa maçaneta de porta, numa torneira, num vidro, são coisas que contam e falam muito. As coisas são como são, e quem procura acha, tal como quem espera sempre alcança. As coisas não são aleatórias, aleatório pode ser sim o pensamento que te passa pela cabeça, e uma cabeça distraída, ou ignorante, ou mal formada, terá razão de queixa de tudo e tenderá a afirmar que tudo e todos estão contra ela, quando na generalidade dos casos, somente de si se poderá queixar.

Prevenir, precaver, terá que, a par do seguimento das normas de higiene e segurança no trabalho, ser uma constante a transformar em modo de ser e de agir. Capice ? Espero que aos poucos te estejas embrenhando no espirito da coisa, porque a coisa não se articula bem com paternalismos ou moralismos serôdios, antes pelo contrário, exigirá de ti uma atitude fundamental, sólida, estruturada, atrever-me-ia a dizer que eticamente irrepreensível. Tudo se resume a uma questão moral, e terás que estar preparado (a) para quando necessário te substituíres neste capitulo ao próprio Estado, que fala, fala, fala, mas não faz nada, não cumpre. Basta olhar em redor e observar como o Estado redistribui a pouca riqueza que o país produz.

Deixo essa avaliação e apreciação a cada um de vocês. A cada um e até àqueles que nunca tiveram trabalho nem nunca terão, nem tiveram RSI nem nunca terão, que já tenham tido, ou não tido subsidio de desemprego mas que nem isso voltarão a ter, e àqueles que nunca conheceram outra situação que não o desemprego, os contractos a prazo de quinhentos euros ou a precaridade. Deixo esse julgamento aos jovens, às mães e pais que nunca o serão e que jamais constituirão família, ou um lar, a menos que fujam daqui …

Deixo isso a vomecês que eu detesto imiscuir-me na política, hoje é domingo, a cerveja ta da cor do sol e o sol queima como estes grelhados que já fumegam na brasa, venha mais uma dúzia para a mesa, loirinhas, fresquinhas, e a espumar c’a malta já se está a babar….

(continuará num próximo texto)  

P.S. – E para a tal personagem recalcitrante de que vos falei ao principio, saia um balde de merda bem, provido, e com gelo !