segunda-feira, 24 de julho de 2017

447 - BEM PREGA FREI TOMAZ * .............................



Bem prega frei Tomaz, faz o que ele diz, não faças como ele faz.

Não tenham a menor duvida, o segredo da coisa está no lançamento, um bom lançamento é o alfa e o ómega, o resto são peanuts, depois de lançada a coisa aguenta-se, a coisa ou o coiso por que o que há a vencer é a inércia inicial, como Newton bem sabia. Há dois mil e duzentos e tal anos já Arquimedes de Siracusa, mais modesto, afirmara que sendo-lhe dada uma alavanca e um ponto de apoio mudaria o mundo, esclareço aqui ser a alavanca uma das seis máquinas simples da mecânica, máquinas a partir das quais derivam todas as outras por mui complexas que sejam. Ressalvo que talvez Arquimedes tenha dito deslocaria, e não mudaria, pretendo evitar confusões e eventualmente más traduções já que alavanca, fulcro e força eram tudo o necessário para deslocar ou mover o mundo, cousa bem diferente da ideia do meu amigo Tomaz que só quer mudar o mundo ou mudar-nos a nós a seu jeito e desejo, mas por nossa conta e ónus.

Há mais de setenta anos Wernher von Braun sabia tudo depender do impulso inicial, desde que houvesse um bom impulso inicial qualquer coisa subiria e se manteria lá em cima, o impulso era tudo, era tanto que ainda hoje o empuxo ou força dos motores dos jactos ou dos foguetões, dos Atlas, dos Titans, dos Saturnos, dos Arianes, dos Soyus e tutti quanti são medidos em impulsos, libras, já os dos automóveis, máquinas mais modestas, são ainda medidos em cavalos por deferência para com os ditos e a engenharia das máquinas a vapor e dos cavalos vapor, os designados Horse Power.

A cantilena de hoje vem a propósito de um choque tido e havido com o meu amigo Tomaz, chamemo-lo assim, tendo eu dito duvidar estar ele em órbita sem o impulso inicial que levou. Ele não é parvo de todo, e é inteligente, o que não lhe tolerei foi vir armado em anjinho pregar resignação aos peixinhos, coisa que nem Stº António se atrevera a fazer. O que sucedeu foi que numa qualquer publicação na Net desenvolveu o amigo Tomaz uma teoria do sociólogo Richard Sennett que a Terramar publicara em 2001 “A Corrosão do Carácter” um influente ensaio sobre as consequências pessoais do trabalho em cada individuo e que segundo parece permanece perfeitamente actual, segundo o qual “já ninguém espera trabalhar na mesma organização a vida inteira, embora a empresa para a qual se trabalha seja um grupo social importante ao qual pertencemos e que define parte da nossa identidade”.

Esta teoria, que nem me dei ao trabalho de ver até que ponto plagiou, o Tomaz escreve bem e nem precisaria disso, nem foi isso que esteve em causa, em causa esteve o facto de vir consolar-nos, de nos induzir à resignação quando o país está como está graças em grande parte ao partido em que debutou, ao partido que o impulsionou, ao partido que não fez pelo país o que devia ter sido feito, e já agora deixem-me perguntar que partido fez alguma coisa de jeito nos últimos quarenta anos ? Se assim tivesse sido certamente não estaríamos como estamos e pior havemos de estar.

Pois este meu amigo, que como disse é inteligente e tem um curriculum extraordinário, só não tem inteligência para saber quando deve ficar calado ou que assuntos escolher, ele que orbita onde orbita e tudo deve ao impulso inicial que, como de inicio vimos mete lá em cima qualquer merda que posteriormente e com facilidade por lá se aguentará. Ora sucede ter o dito cujo Tomaz ter sido nem mais nem menos que bafejado pela oligarquia que aqui na terra põe e dispõe de lançadores, lançamentos, órbitas e tudo quanto lhes convenha, num impulso que me envergonharia mas que ele subtilmente escamoteia no vero e lustroso curriculum que publicamente apresenta, será caso para dizer que com a verdade nos engana.

No fundo o que nos opõe e eu lamento é que iguais oportunidades não sejam dadas a todos, que se vêem obrigados a emigrar à falta de amigos impulsionadores… Fica mal a quem foi colocado lá em cima pela mão dos seus perguntar aos outros por que não sobem, ou pior, consolá-los por ficarem cá em baixo, e que se fodam, que se resignem que isto da democracia não é para todos mas somente para alguns eleitos. Desgraçadamente até no exemplo que foi buscar para ilustrar o seu escrito foi infeliz, sacar da PT como exemplo é coisa que nem lembraria ao diabo, a PT enquanto empresa pública foi um modelo de péssima gestão a tal ponto que meteu 3700 colaboradores, funcionários ou trabalhadores em casa sem fazerem nada e a pagar-lhes, aliás fomos nós quem lhes pagou e paga ao pagar as comunicações mais caras da Europa... esquecendo ter sido José Sócrates enquanto PM e A. Costa enquanto seu Ministro da Justiça ou da Administração Interna quem fez a cama ao engenheiro Belmiro de Azevedo e à sua OPA, dando desonestamente início ao estrondoso rebentamento da PT ...  Agora é aguentar, é pregar resignação, é consolar os trabalhadores de quem fizeram gato-sapato, é obrigar a Altice a adoptar os hábitos estatais de gestão, é espremer todos quantos ainda cá estão e não debandaram deste paraíso, interrogando-me eu se isto é que é um verdadeiro democrata, dividindo a sua vasta sabedoria com o povinho mas esquecendo-se que é por estas e por outras tais que em Portugal as empresas morrem ou nem chegam a nascer e do Alentejo até fogem...

Para se pregar moral tem que se ter autoridade (moral) para o fazer... Se o meu amigo Tomaz não viu essa relação lamento, quanto ao texto, certamente vero e oportuno, nada tenho a opor, aliás o texto encontra-se noutras plataformas, sérias, onde Richard Sennett e “A Corrosão do Carácter” são abordados porventura com menos copy cola que aqui e muito mais meditação e avaliação crítica quanto ao cerne da questão envolvida... Não basta atamancar qualquer opinião para a tornar valiosa, sobretudo mal fundamentada como foi o caso, ao abordar o caso nestas páginas limito-me a expor outra opinião, uma outra perspectiva, e não a apresentar um mero juízo de valor ou preconceito, para que os leitores ajuízem da ética tortuosa e dos passos dados por quem nos prega sermões. Falar é fácil dar conselhos é fácil, o país está pejado de sábios e de conselheiros porém não temos nada, quarenta anos depois de Abril não temos nada, temos mais emigração, porém mais qualificada, e mais desemprego, temos isso sim mais oportunidades para boys e amigalhaços, em contrapartida temos mais saídas fechadas para todos, temos menos oportunidades, menos riqueza. É isto que temos depois de tanto sábio, tanto democrata e tanta democracia.

Esta minha página, este blogue está bem reconhecível e acessível. Não costumo atirar as pedras e esconder a mão, nem tentar parecer melhor ou mais limpo do que sou, ao contrário de muito boa gente não tenho necessidade disso. O curriculum apresentado pelo meu amigo Tomaz devia citar as ajudas e empurrões que a oligarquia socialista de Évora lhe concedeu, a ele, mas que não concede a todos, quero dizer o PS não criou um país nem uma democracia onde todos tenham iguais oportunidades, aliás é um partido à deriva e que em quarenta anos não encontrou a sua identidade nem o seu lugar nem os seus eleitores. Prova disso foi ter perdido vergonhosamente as eleições depois de quatro anos de asneirada grossa da direita (a quem continua a dever o sucesso actual) e ter-se agarrado à bóia de salvação que foi para ele o BE e o PCP, partidos que à primeira oportunidade lhe farão o que foi feito ao ingénuo Alexander Kerensky, um menchevique que aliás não merecia outra coisa, como A. Costa um político apagado, untuoso e xico-esperto merece e com quem jamais iremos longe ou acharemos a salvação.

Resumindo, ter padrinhos e um bom emprego, e estribado nisso vir pregar aos peixinhos é para mim coisa que só concebo aos santos ou a gente sem vergonha na cara.


* NOTA: Se não coloco aqui o link referente ao assunto abordado é tão só por não desejar fazer do assunto uma questão pessoal, a luta politica ou a exegética é uma coisa, a polemologia é de âmbito pessoal, completamente diferente e por onde não desejo seguir. Entretei-vos com “A Corrosão do Carácter” - Richard Sennett  - Terramar – 2001. O meu amigo Tomaz fez parte das estruturas locais do PS/Évora. A partir de 2000 desempenhou, por duas vezes, funções públicas. Primeiro, entre 1996 e 2001, nos gabinetes do Secretário de Estado da Juventude, do Primeiro-ministro e, finalmente, do Ministro da Presidência e das Finanças, do qual foi chefe de gabinete. Entre 2006 e 2009, foi coordenador adjunto do Plano Tecnológico. É membro da direcção do Centro Nacional de Cultura e co-autor do livro “Terror ao Pequeno-Almoço – A Gestão Que Preferia Não Conhecer”.