quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

297 - ESPÍRITOS PAUPÉRRIMOS ..............................


A agência espacial americana NASA sabe muito bem o que quer, sabe não somente o que quer como sabe para onde vai, terraformar Marte, colonizar Marte, e toda a gente conhece o desígnio e se mobiliza em seu torno. São milhares de empresas e milhões de empregos. Em Portugal ninguém sabe nada, há décadas que ninguém sabe nada de nada, sabemos apenas estarmos algemados pela irresponsabilidade e pela incompetência, sabemos que quanto mais grunho mais burro e oportunista mais longe irá na vida, sabemos que tivemos e temos ao leme um marinheiro que nunca viu uma carta de marear e que entre os tripulantes todos eles foram arregimentados à saída das tascas, tasquinhas, tasqueiros e chiqueiros, lugares de eleição para arrebanhar tripulações para esta nau.  

À parte os mais loucos e as piores tabernas, e as algemas que nos peiam como grilhetas, estamos condicionados pelo voluntarismo de tanta IPSS, animados pelo carisma das Jonets e embalados pelo iluminismo de milhares que festejam diária semanal ou mensalmente a solidariedade caseira, as dádivas, as sobras, as sopinhas dos pobres, as roupitas usaditas, as esmolinhas anunciadas. Muitos municípios, que deviam no meio do caos ser o ponto de referência, a âncora, entregaram-se de corpo e alma a distribuir cabazes de natal aos pobrezinhos, e estafam o dinheirinho em livrinhos e caderninhos para os mais necessitadinhos, que nunca se acabam nem acabarão mau grado tanta ajudinha, tanto voluntarismo, tanto iluminismo, tanto carismático guiando-lhes os passinhos de passarinhos, incapazes de se assumirem como os culpados do despovoamento, do desemprego, da miséria e da pobreza que espalham ou da dignidade que coarctam, sem ao menos uma ideia em que invistam e os tire do marasmo e resgate ao eterno ciclo de empobrecimento. Atender só os amigos e apaniguados foi no que deu, agora não hã pão para nenhuns. 

É uma dor de alma ver tanto miserabilismo de ideias e ideais, de espírito, de práticas, de visões. O máximo que tanta gente bem-intencionada conseguiu fazer por este país foi nada, nada de nada, está à vista o resultado da soma de tantas boas intenções, nada mais que grandes barrigas e maiores fortunas, no que parece estar encontrado e concentrado o desígnio do país, um desígnio há muito repudiado por outras nações mas que faz o pleno e o gáudio do Portugal dos pequeninos. Estamos entregues aos bichos. Decididamente Portugal está sucumbindo àquilo que se entendeu designar-se por “superiores interesses do país“. 

Quanto tempo irá durar ainda a cowboyada ninguém saberá, com todos fingindo que nada se passa e, a barlavento um cata-vento preparando-se para substituir o boca de favas, um marialva que cursou economia sem nunca ter lido Adam Smith e se entreteve lendo as pagelas da Virgem Maria. Quanto tempo ainda até que os trinta anos que nos separavam do “purgesso” se transformem em quarenta, cinquenta, sessenta, enfim numa muralha da China mas já sem ninguém cá dentro ? Ou, como em 1926, rezamos por um advento ? Ou rezamos para que alguém tenha uma epifania ? Não riam, pois o momento assim parece, a história repete-se, a história repete o momento, a democracia em cacos, arrastada p’las ruas, os democratas gordos e os burocratas sólidos nos seus postos e nas suas certezas tanto mais quanto mais incapazes de resgatarem da lama para que a atiraram esta democracia de papel. Duvidas ? Pergunta ao desgraçado que depois de três dias à espera morreu em S. José... Por cá a vida ainda não é um direito adquirido...


Uma democracia de papel onde a vacuidade impera, a incompetência governa, a irresponsabilidade subindo, escalando, pisando, mandando, quanto tempo mais até que alguém dê um murro na mesa e ponha fim aos debates estéreis de um parlamento vendido ? Para quando um novo esclarecido tomando conta disto, conduzindo isto, não para Marte nem Saturno ou Plutão mas na senda do bom senso, da rectidão, devolvendo este cantinho à beira mar plantado à originalidade, ao virtuosismo, à criação, à criatividade, à imaginação, para que, como em Maio de 68, nos surpreendamos com “la plage en dessous de la chaussée” (a praia por baixo da calçada). Irmãos, 68 – 2016, já acumulámos quase cinquenta anos de atraso, o mundo gira, o mundo é lá fora e nós, cá dentro, de lamento em lamento, confundimos o dia com a noite, a sombra com a luz, o avançar e o recuar, tanto que nem sabemos ou nos esquecemos de exigir um homem novo, um homem probo, um homem do povo e não um marciano ou um selenita como os que nos têm calhado em cada rifita.

É urgente que a gente aguente e, antes que todos ou tudo se vá pela Ryanair ou pela EasyJet, se descubra quem de entre os dementes tenha tomates para agarrar a trela do trenó desgovernado que nos atropela, cilindra e trucida, numa gesta infinda em que quem faz o mal faz a caramunha e se acha normal a desfaçatez que a história regista e acumula.

Como diz o poeta* em relação a tanta miséria,

Venha a miséria maior que todas
secar o último restolho de moral que em mim resta;
e eu fique rude como o deserto
e agreste como o recorte das altas serras;
Venha a ânsia do peito para os braços !

e  a lucidez me guie neste mar de sargaços, neste país em pedaços, neste atoleiro de faceiros que transformou em bode expiatório* quem, em tempos o tirou do lameiro. Que esse ser maquiavélico*, esse ser infernal esse mal sem igual volte a conduzir-nos, a meter-nos nos eixos, a encarreirar-nos de novo na linha porque, meus amigos, é de todos sabido que sem um pé no pescoço jamais entenderemos o que faz bem ou faz mal, o que fazer ou pensar, o que dizer ou jurar. A inconstância em nós é como a incontinência num velho, e desse velho astuto*, sempre de má-fé, oportunista, pérfido, ardiloso e velhaco disseram cobras e lagartos, e muito mais que por pudor eu calo, nele desfizeram, sobre ele tripudiaram, sem jamais o conseguir igualar, sequer aparentar, ou no mínimo imitar.

Ele* foi bera, foi fera, foi ruim, pois sim, mas tendo sido tal, é demais afinal que não se consiga fazer ao menos igual, ou melhor que esse animal, é imperdoável, é vergonhoso que o invejoso diga do tinhoso não ter ele igual.

Por isso o que eu espero neste Natal e no próximo, é que algum animal de bota marcial e tacão pesado agarre nesta merda e nos ponha a pensar que caminho afinal temos andado a trilhar. Não merecemos mais.

 Isto assim não pode ser, é muita gente a roubar e mui poucos a pagar, é muita gente a mandar e bem poucos a obedecer, nunca como hoje se sentiu a falta de uma ordem corporativista, ou estalinista, escolhei vós, uma ordem nova que separe o trigo do joio e de uma vez por todas encoste alguns à parede para que os poucos que restam e inda não se piraram possam respirar em paz e aspirar a serem algo, ou alguém que não Zé Ninguém, sem vintém, como o miserabilismo vigente elege diária e intensamente, e que em vez dessa gentinha que no parlamento e à vez exibe estupidez e vaidade, codilhando-nos o porvir, se abra de vez o caminho a alguém sapiente, inteligente. 
Exija-se um ditador que por amor nos proteja de tanta democracia e de nós mesmos, que nos salve de tanto democrata de intenção vazia, de tanta besta quadrada que por aí circula enfeitada e desta vã liberdade por tanta gente apregoada que aos poucos nos vai matando de vera morte matada.

Só mesmo quem ande dormindo poderá não admitir que esta democracia ingrata aos poucos nos mata, pois mate-se ela num instante e, no seguinte, se aceite alguém bem pensante e com tomates para agir no tanto que está por fazer ao fim de quarenta anos, em que brincámos às criancinhas e regredimos umas coisinhas, nas nossas tão caras liberdadezinhas. 

Acabe-se de uma vez por todas com as Jonets e coiso e tal, com as sopinhas no Natal e a caridadezinha a pataco, eleja-se a dignidade, a humildade e o mérito e, se preciso for a tiro, não queiramos assim viver nem aceitemos o pretérito. Então, se assim não for direi que;

Virá a miséria maior que todas
secar o último restolho de moral que em mim resta;
e eu ficarei rude como o deserto
e agreste como o recorte das altas serras:
E virá a ânsia do peito para os braços !

Eu lutarei…..
  
             BOM NATAL

*  António de Oliveira Salazar
** Manuel da Fonseca – Poema “Domingo”