quarta-feira, 13 de abril de 2022

766 - ISTO É GOZAR COM QUEM TRABALHA

 



ISTO É GOZAR COM QUEM TRABALHA

  

Amiúde vou fazer uma outra compra no MERCADORA perto de minha casa, ali à rua João Luís Vieira da Silva (será em homenagem à tal famíglia?) na zona da Cartuxa.

 

Pouco me demoro, estacionando onde calha e onde posso, esse problema não me aflige, mas constrange-me ver e aperceber-me das dificuldades criadas a quem trabalha e pretenda descarregar mercadorias para repor o stock do dito minimercado.

 

O lugar destinado ao estacionamento para cargas e descargas é exíguo, muito bom para acomodar um Fiat Panda ou um carrito ainda menor. Está localizado logo a seguir aos ecopontos ou vidrões o que dificulta imenso as manobras e o estacionamento de cargas e descargas de caminhões e furgões, em especial dos equipados com elevador monta-cargas, os quais por isso incomodam toda a gente, estacionando “travando” todos quantos já estejam estacionados e queiram sair, ou tapando entradas livres a quem queira estacionar.

 

Em boa verdade esses motoristas fazem depois das tripas coração para levarem a carga até ao destino.

 

Uma tourada.

 

Como se todas estas dificuldades não bastassem, o lugar que ali existe destinado à logística enforma de alguns males crónicos mas que podiam e deviam ter sido identificados e evitados;

 

  Primeiro - indelicadamente há sempre quem se aproveite e estacione onde não deve nem pode já que até lá há um sinal para que ninguém vá ao engano, “só cargas e descargas”.

 

Segundo - para descarregar, embora dificilmente entrando no espaço destinado a essa operação, seja um pequeno furgão ou uma ainda menor carrinha, fá-lo logicamente em marcha atrás, do que resultam outros dois inconvenientes, ou bate com a traseira no sinal, colocado demasiado perto do lancil desse passeio, ou pura e simplesmente o dito sinal não lhe permite abrir as portas, abram elas para cima ou para os lados. O local escolhido para cargas e descargas além de mal concebido e mal escolhido devido ao sinal e aos ecopontos vê acentuada a sua exiguidade devido a uma linda árvore ali existente.

 

A todos estes problemas de que padece o tal local destinado a cargas e descargas acresce ainda o facto do espaço sofrer os efeitos nefastos dum lindo Plátano que embeleza local. O mal não é o plátano naturalmente, mas o local, o espaço, que antes deveria ter sido destinado a deficientes, pois esses não foram lembrados, já que pura e simplesmente não têm direito a um espaço.

 

Para cargas e descargas deveria ter sido, e deve ser escolhido um outro lugar, o mais amplo possível, sem entraves, e perto da porta de armazenamento e não da porta de entrada de clientes no estabelecimento.

 

A Câmara Municipal de Évora terá certamente alguém que perceba destas coisas melhor que eu, ou se não tem pode sempre em outsorcing dar o trabalho a quem perceba da poda.

 

Assim é que não. Digam-me lá se isto não é gozar com quem trabalha ?

 

Boa Páscoa para toda a gente.




765 - DR. JOSÉ CARMELO, MUITO OBRIGADO ...



Andava há bem mais de 20 anos para lhe agradecer, tantos anos quanto o tempo passado sobre as minhas dúvidas e interrogações de então. A elas consegui dar satisfação primeiro, a ele somente há dias consegui pagar-lhe a dívida.


 Vivia-se ano 2000, mais coisa menos coisa, eu interrogava-me, questionava e contestava diariamente a nossa democracia e os nossos democratas, todos os dias assistia a coisas que de todo não me pareciam sérias, nem elas nem eles, que as diziame faziam.

 

Foi, pois, neste contexto de dúvidas democráticas que me caiu do céu o doutor José Carmelo, distinto académico e físico da nossa universidade e posteriormente da Universidade do Minho, o qual segundo os mentideros teria sido ostracizado, chutado e “expulso” da academia eborense devido ás suas ideias pouco ortodoxas.


O bom Doutor José Carmelo situar-se-ia politicamente à esquerda da esquerda e, essa esquerda extremista e marxista não lhe terá perdoado. É de resto conhecida a tolerância zero que as esquerdas dedicam a quem não pense como elas, cada uma detentora da sua exclusiva e dogmática verdade absoluta.

  

Distinto físico, com conferências proferidas um pouco por todo o mundo, desconheço se ao nível de Einstein, o tal da bombona, nem sei se deu à luz alguma bombinha ou se se limitou a tratar da vidinha (como aliás a maioria dos académicos, e eu sou um zero a Física), o bom Doutor José Carmelo * arranjou emprego lá para cima para o norte, Minho, Braga ou Guimarães, não sei bem, pelo que urgia fazer a mudança e livrar-se dos tarecos que não quisesse ou não pudesse levar consigo. Eu vivia então na Praceta Dom João I, onde ele, se não vivia tinha pelo menos uma garagem.  

  

Não recordo já os pormenores, sei que me convidou para a garagem, tendo colocado á minha disposição todo o recheio da dita pois era sabedor de quanto eu adorava os livros e a leitura. Centenas ou milhares de livros de política que agradeci e dos quais após uma cuidadosa olhadela escolhi uma dezena ou dúzia e meia, mais para ser simpático e me mostrar agradecido que outra coisa, aquilo era só lixo, lixo tóxico.


Com tempo e vagar lá fui digerindo e ruminando Mao Tsé-Tung, Carl Marx, Enver Hoxha, Pol Pot o ditador do Camboja, Ho Chi Minh, Josip Broz Tito, Viatcheslav Molotov, Léon Trotsky, Vladimir Lenine e outros que tais, os quais se outras serventias não tiveram, tiveram contudo o condão de me tirar as dúvidas metódicas que alimentava e me afligiam a consciência, dando início à minha inclinação e posterior viragem à direita.


 Parecendo que não, conhecer profundamente aquelas personalidades, as suas dogmáticas doutrinas e inconfessáveis feitos convenceu-me que o caminho certo não era por ali, e a verdade é que se olharmos para o mundo de hoje, como o de então, foi caminho que poucos países trilharam, com pouca sorte e ainda menos ou nenhum proveito.

  

Foi portanto por volta de 2000, mais coisa menos coisa, por volta do início do novo milénio que mudei de rumo e posso garantir que após aquelas tão tendenciosas leituras elas me ajudaram a ver melhor as coisas pois andava muito distraído e confesso-vos, era demasiado confiante.


 Penso ter sido essa distração, esse excesso de confiança que levaram os portugueses a votar como votaram ao longo destas quase cinco décadas e a colocar o país no impasse (para não dizer pior) em que ele se embrulhou, tendo sido precisamente a esquerda quem nos aldrabou.

 

Já lobrigara por duas ou três vezes antes o amigo e Dr. José Carmelo, mas nunca em lugar e tempo próprios para lhe agradecer quanto involuntariamente fez por mim. Esbarrei com ele naquele domingo na esplanada do jardim público e claro, não pude deixar passar a oportunidade de efusivamente o obsequiar, e de o lembrar, como e quanto lhe devia e agradecia.


 Fora ele a alma que me colocara no caminho certo, qual ovelha perdida do redil. Se hoje sou um convicto democrata liberal de direita a ele também devo, e foi isso mesmo que lhe disse.

  

Não me pareceu ter ficado muito entusiasmado, pareceu-me até abatido, imagem que igualmente colhera dele das vezes anteriores em que o vira e não tivera oportunidade de o abordar. Será que as coisas lhe correram mal lá para o Minho ? ou no norte por onde andou nos últimos vinte anos ? Será que alimenta agora as mesmíssimas apreensões que eu alimentava quando me brindou com Molotov e todos os outros quadrilheiros que acabei por deitar no lixo ? Será que lera aqueles milhares de livros, opúsculos e folhetos que enchiam a garagem ? se leu aquilo só lhe pode ser feito mal, muito mal, e talvez esteja agora a sofrer os seus efeitos, a ruminar as suas dúvidas.

  

Tarde para as tirar não ? tarde para recuperar caminho não ? Ou será desgosto pela traição dos amigos que atiraram com ele lá para cima ? para o norte ?

 Para a próxima perguntar-lhe-ei.

 Tão bom homem.

Não me consolo com o ar triste que carrega.

 

* https://jornaleconomico.pt/noticias/cientistas-da-uminho-abrem-portas-a-eletronica-do-futuro-206896