terça-feira, 18 de janeiro de 2022

749 - SONHO SONHADO VIVIDO OU VÍVIDO ...

              



            Tristes e breves são as nossas vidas.

Senti na noite que se finava um estranho pressentimento e, no ar a aura de uma força singular, uma extrema diferença na percepção do espaço e do tempo que me pareceu então momentânea e maravilhosamente em suspensão.

Divisei cândido sorriso vogando em sonho metendo nuvens, rios, arbustos e flores e, tão doce tão doce que, docemente me deixei levar, permitindo a essa celestial impressão vogar, deixando-me lembrar e esquecer, recordar.

Janela do quarto aberta, o encanto da madrugada orvalhada arrefecendo-me o corpo suado e, sobre mim, a bênção da Lua reflectindo-se igualmente nas pedras que o beijo da noite humedecera.

O cheiro da lareira apagada, o reflexo das estrelas, a realidade longe da vista e da consciência, mente e corpo à deriva clamando imperiosamente por guarida.

E sonhando me deixei ficar, levar pela emoção dessa deliciosa sensação que me chamava, por um inconsciente e profano argumento que sub-repticiamente me seduzia.

Fiquei quieto, e inquieto perante estranho e divinal fulgor banhando-me, por uma misteriosa e maravilhosa luz cegando-me.

Sonho e realidade confundiam-se-me no espírito, divisei vela dourada ardendo e senti o odor forte de fragrâncias inolvidáveis.

Num momento terno e eterno, forço o seu prolongamento, enrolo-me no doce calor do amor pressentido e nesse cheiro que se evola e me põe em suspensão.

Pressinto no ar memórias e desejos, uns lábios selando este segredo maravilhoso que encolhido e receoso guardo e alimento.

Ignoro o onde e o quando, apenas me sinto embalado em ternura, chega-te a mim, abraça-me com violência, dedilha os cabelos do meu peito, eu quero-te no meu caminho, agora e sempre, quero que me mudes o destino.

Por ti meu coração expia amor, não me abandones, que morro, antes me olvides, porque com lágrimas ternamente te lembrarei sempre amor, que por ti expio paixão e amor sinceros.

Cinge-me com força, por Deus, rende-te aos meus braços, olvida em mim uma vida em sofrimento, sei que voz estou escutando, a tua, ciciando quanto me queres, e eu quero-te, testemunho com minhas lágrimas quanto te amo, e quero-te com compulsão e virtude, entusiasmo e pujança, causa, motivo, necessidade e intensidade, mas, acima de tudo quero amar-te. 

Teu semblante indecifrável surgiu na minha mente, nem sei se era loucura ou violência o que marcou um lençol e um sudário, sei que foi sensação que durou e, quanto durou nem sei, sei que dentro de mim se demorou, nem quanto tempo passei sem saber o que sei hoje, em que, feliz, já nem lembro o que sonhei.

Apenas esta doce e suave sensação, esta meiga lembrança, recordação e saudade.

Delícia.

Sonho.

…………… 

PARA LER TUDO CLICA NA IMAGEM,

DEPOIS DE LERES E SE APRECIASTE O TEXTO

PARTILHA-O PELAS TUAS AMIZADES…

 OBRIGADO, E UM ABRAÇO !

748 - "UM REPÓRTER INCONVENIENTE" - CARTA ABERTA AO JORNALISTA AURÉLIO CUNHA .........



Caro amigo Aurélio

 

Em primeiro lugar agradeço-lhe que me permita tratá-lo assim.

 

Em segundo lugar aproveitar o ensejo para abordar o livro que escreveu "Um Repórter Inconveniente", e que, lamentavelmente em lugar algum nos deixa um espaço para uma apreciação critica positiva.

 

Li-o de uma ponta à outra, com atenção, tal qual faço com todos os outros.

 

Lamento que o modo como o escreveu o iniba de se tornar um manual de jornalismo, um bestseller. Os cursos e os estudantes do secundário dariam apreço a um tal manual. Todavia o excessivo apelo à primeira pessoa do singular (EU) inviabilizam e desaconselham completamente o que poderia ter sido um bom e excelso manual para o ensino secundário, ensino aliás carente dele, manual.

 

Certamente o meu amigo estará exausto de tanto elogio à obra, contudo também a mesma terá aspectos negativos, já que, para além de um verdadeiro laudatório às suas andanças e estratégias, que bons louvores merecem, cai o livro porém no pecado original de o gabar a si mesmo. Fica mal a toda a gente o juízo em causa própria e o meu amigo não teve força para evitar sucumbir aos seus próprios elogios, à sua própria vaidade.

 

Reconheço muitas verdades no que conta e no que diz, mas essa vaidade estragou-lhe a obra. Devia ter pensado mais no jornalismo e na reportagem enquanto géneros do que em si mesmo.

 

 Em cada página lhe reconheci uma desmedida ambição ou necessidade de reconhecimento, lamentavelmente tal confissão aniquila a empatia ou a simpatia que o leitor comum poderia sentir ao lê-lo. E de tão repetida essa faceta levou-me mesmo a pensar quanta necessidade haverá em si de consultar um psicólogo ou um psiquiatra.

 

O livro acaba por não nos parecer mais que um álbum de recortes, duvido que tenha tido facilidade em editá-lo, e está caríssimo para a bagagem e a qualidade do que nos transmite. Não o lamento, comprar livros que não valem o que custam é o risco de qualquer leitor.

 

Pena que, antes da publicação, o não tenha dado a ler a meia dúzia de pessoas que entendessem da coisa, teria evitado os aspectos negativos que o livro comporta.

 

Apesar disso, e para que não tivesse eu perdido tudo, fiz hoje uma boa acção e entreguei como doação a sua obra na Biblioteca Pública de Évora, dentro de algum tempo estará catalogado, classificado, e à disposição de quem o deseje ler.

 

Não se terá perdido tudo.


Évora, ‎18‎ de ‎maio‎ de ‎2015

 

Um abraço.

 

Humberto Baião

 

https://www.youtube.com/watch?v=1y_OMKzGwww

 


747 - COISAS QUE AS MULHERES NÃO SABEM ...

 



Voltei a encontrá-la passados muitos anos. Tantos que eu era outro e não o mesmo que então claudicara perante o seu ar de jovial ingenuidade, extrema e irradiante simpatia, que difundia a partir de um rosto espelhando meiguice em catadupas tais que me submergiram e em simultâneo calaram.

 

Revi-a agora, passados todos esses anos, e em mim voltei a calar, apesar da mesma ingenuidade, da mesma simpatia e meiguice, o que calei então. Não que me sinta outro, apesar de o ser, nem que me sinta o mesmo, que o não sou, todavia os anos ensinaram-me a cultivar uma humildade que nessa época nem era uma marca minha nem estava perto de alcançar. Contudo, agora, a mesma contenção de outrora, porque o cavalheirismo, a educação, o civismo, mas sobretudo as convenções ou conveniências assim o exigiam e exigem. Calei ontem como hoje o que tive vontade de gritar, mau grado a dor, mau grado a vontade e o desejo, mau grado o ensejo.

 

Revi-a agora, e como então, a lembrança da sua passagem, imagem e odor que não olvido, a graça do andar, a altivez honesta do porte, a simplicidade da presença, o sorriso, o mesmo sorriso, simples, sincero, leal, franco, autêntico e afectuoso que julgo ostentará sempre, porque há coisas que não mudam com a beleza, ou com a idade, mas sobretudo porque há coisas que algumas mulheres não sabem, como a vitalidade e capacidade inata de nos transmitirem, mesmo que o não sintam, mesmo que o não saibam, o poder de conquistar o mundo por elas e para elas, se souberem como o fazer. .

 

Lembrem D. Pedro e Inês de Castro, Napoleão e Josefina, César e Cleópatra, Heloísa e Abelardo, Romeu e Julieta, Hitler e Eva Braun, para que vejam a força construtiva ou destrutiva que a influência de uma mulher poderá ter na vida de um homem, pois como disse há coisas que algumas mulheres não sabem, como seja a vitalidade e capacidade inata de nos transmitirem, mesmo que o não sintam, mesmo que o não saibam, o poder de conquistar o mundo por elas e para elas, inda que somente para aquelas que saibam como fazer de nós "super-homens" . . .

 

Por isso voltei a calar, o que calei então.

 

Compreender-me-ão, o mundo não me perdoaria o avanço, ou a sinceridade, a mágoa ou o amor.

 

Perdoar-me-ia ela?

Mereceria eu esse perdão?

 

Melhor calar de novo o que então calei, melhor conformar-me agora como então me conformei.

 

E é isto a vida, é esta complexidade que em nosso redor criamos, é nesta complexidade que soçobramos, incapazes por vezes, todos ou alguns, de libertar o que nos vai na alma mas capazes de infligir a nós mesmos e aos outros, a imposição e continuidade, pela força do desígnio, das convenções que nos tolhem e agrilhoam, como se a vida não fosse uma só, não fosse nossa, e acredito que não seja, por isso digo para mim e a toda a gente que, embora tarde, descobri da pior forma como a vida é curta.

 

E como será ela agora ? Agora que a jovialidade se foi, ainda que a ingenuidade se mantenha? Agora que a rotina dos dias sempre iguais lhe terão desfeito os sonhos dos dias felizes que a agnosia nos permite ? Calará, como todos fazemos, os sonhos que em segredo vamos acalentando mas aos quais, para mal dos nossos pecados, jamais daremos corpo ? Por certo calará, como eu calo, o que a alma grita, e, como eu, talvez um dia, demasiado tarde, descubra, como descobri, e diga de si para si que apesar dos dias longos e rotineiros, a vida é curta, tão curta, demasiado curta.

 

                  E agora, quando ela passa, como então, tenho a certeza do turbilhão calado e contido que provoca, sem que se dê conta, como com tantas mulheres acontece, elas como nós, gizando um mundo tão distante da realidade quanto da ficção em que vivemos, porque a tal nos condenamos, porque para tal contribuímos, e, calados, calamos o que nos vai na alma, o que só não fez uma única mulher que eu saiba, Isabel Allende, ao escrever “Inês da Minha Alma” ou Gabriel Garcia Marquez com “O Amor em Tempo de Cólera”.

 

Quem porventura tenha lido estas obras compreender-me-á melhor que ninguém.

 

Quem não leu só terá a ganhar se o fizer. 

PARA LER TUDO CLICA NA IMAGEM,

DEPOIS DE LERES E SE APRECIASTE O TEXTO

PARTILHA-O PELAS TUAS AMIZADES…

 OBRIGADO, E UM ABRAÇO !




746 - BAIXINHA, MULHER, FILET MIGNON ..........



Ainda lembro esse dia de júbilo em que estalaram foguetes festivos, petardos, embora tenha sido a queda ocasional mas simultânea de estrelas cadentes que me fizeram pressentir, através do instinto, no momento em que a conheci, a iminência do destino impondo ao meu fado outros rumos, imprevisíveis, pois foi como se alguém tivesse acendido lustres no caminho que para casa piso, ou como se festejando estivesse toda a vila em que vivia.


Tão intrigado fiquei quando ela se me revelou, pois de imediato duvidei duma linha nunca antes vista na palma da minha mão e, tantas vezes mesmo em sonhos ou através de uma simples imagem a contemplei sem coragem para algo lhe pedir que, se me acabaram nesse instante os dias de apodrecida felicidade mas, ao ver as borboletas acusadas de provocar com um bater de asas furacões no outro lado do mundo senti-me como que invadido no meu ser, no meu intimo, tendo sido como entrar numa outra dimensão e ter ficado outro, fiquei outro.

 

Repetidamente e com prazer revivo esse momento único, contemplo de quando em vez o céu e acodem-me essas lembranças dela, em tantas das quais fui levado a pensar se não estaria perante uma visão de espanto, em que não mais o meu coração até aí aturdido e adormecido teve um instante de sossego, porque passei a cumprir um destino exclusivamente ditado pelo capricho da rosa-dos-ventos, diariamente dedicado à exaltação da sua glória e em que o silêncio passou a incomodar-me mais que o alvoroço em que dantes vivia.

 

Quantas vezes tropeço nas minhas próprias palavras, habitualmente tão ordeiras, e agora me enleiam ou fizeram que a realidade se enredasse em mim, de tal modo que ouço gaitas trinando como celebrando esta minha alegria incessante, não havendo dia sem que tempestades de flores me ensopem da cabeça aos pés, a mim, desde aí encantado e ouvindo as rosas abrindo silenciosamente pela manhã e vendo meninas virgens fazendo renda nas soleiras das portas quando marcho pelas mesmas ruas às quais dantes nem um minuto de atenção me prendia e agora te lembro, formosa como sempre, num hábito de noviça do mais puro linho, tu oferecendo-te numa inimaginável cama cuidadosamente decorada para os desaforos do amor e, em gesto no qual curiosamente jamais deixas de te persignar antes de para ela subires, razão pela qual deixei de suportar a nostalgia dos tempos passados, visto durante eles ter morrido em mim a razão última da minha ansiedade e hoje estar pronto a jurar e garantir quanto te quero, e morreria por ti.

 

Será caso para dizer andar-me o pensamento flutuando na luz cristalina da esperança e me perguntar se não será pequeno o mundo ?

 

É não é ?

 

Ignoro se sempre assim foi, mas sei ser assim agora, assim o vejo neste instante e no meu constante fluir, tão manso quanto o pode ser um rio.

 

Compreenderão o facto de sentir em mim ter-se o tempo todo ele transmutado se até o ar sinto menos pesado em virtude dessa mulher, baixinha sim, mas por mim decretada a mais bela do mundo fazendo arrastar comigo desde aí um historial de orações de um momento para o outro transtornando-me, ao invés de me aclararem o discernimento, coisa que de todo pareço não dispensar nem precisar, tal a lucidez vogando-me na alma, alma agora de instinto aguçado e premonitório, fazendo que nem deitado, abanando-me e abandonando-me debaixo das acácias durma, eu um amante das sestas, seu defensor e praticante, pasmo, pois já nem pensando entre os roseirais e os loureiros me deixa de seduzir a lembrança dessa mulher, a mais doce, carinhosa e meiga da terra, como sempre a vejo, como uma imagem, um sonho, uma visão deslumbrante da mais bela do universo e, em simultâneo, Cupidos soltando balões coloridos como se com a presença dela cada dia, todos os dias, fossem dias de festa.

 

Então, eu que nunca fora crente nem agnóstico, penduro ao peito fiadas de escapulários e sortilégios, temendo que de um momento para o outro se vá este encantamento no qual vivo e me dá vida, perguntando-me a toda a hora se viveremos em mundos separados ou dimensões diferentes somente ligadas por estreito e baixíssimo portal, mas sobretudo por que razão e por que raios só agora te encontrei e por que andaste tantos anos perdida de mim ?


PARA LER TUDO CLICA NA IMAGEM,

DEPOIS DE LERES E SE APRECIASTE O TEXTO

PARTILHA-O PELAS TUAS AMIZADES…

 OBRIGADO, E UM ABRAÇO !