quinta-feira, 9 de julho de 2020

651 - PAINÉIS, PERSPECTIVA E OBJECTIVA ...


Quando no recuado ano de 1851 Wagner compôs a sua célebre Cavalgada das Valquírias, ou em 1964 The Animals lançaram um celebérrimo álbum contendo a popular canção The House Of Rising Sun, ou ainda quando em 1969 os CCR Creedence Clearwater Revival lançaram a feroz critica Fortunate Son não imaginavam que essas canções, e músicas, excepção para Fortunate Son, uma música de protesto criticando o envolvimento americano na Guerra do Vietnam e os privilégios dados aos filhos da "elite" que não eram mandados para o combate, dizia eu não imaginavam que tais canções, uma vez retiradas do contexto em que foram concebidas e integradas num outro mudariam por completo a nossa percepção dessas mesmas composições cujo sentido ao ouvi-las num diferente ambiente muda completamente.

Foi assim que Wagner se viu conotado com a ideologia Nazi, tendo sido acusado de com essa sua composição glorificar em especial a dominadora blitzkrieg, uma cavalgada rápida e eficaz que em pouco tempo dominou a Europa, ainda que rapidamente essa cavalgada viesse a sucumbir debaixo das forças democráticas do resto do mundo. Essa reposição ou recomposição democrática não se fez sem custos, mas os milhões que por nós morreram parecem ter agora sido esquecidos, confirmando que o mundo está pejado de pobres (de espírito) e de mal agradecidos.

Essas músicas, e muitas outras, tornaram-se arma apontada, músicas de intervenção porque intervieram, mudaram o mundo e, parafraseando um poeta e cantor que não recordo agora, a canção é uma arma. Em vez de um fotógrafo, que de acordo com a perspectiva que deseja captar assim manobra ou manipula a objectiva da sua máquina, o seu olho de boi, o seu olhar, para que precisamente vejamos o que nos quer mostrar e nos alheemos de quaisquer outros contextos, o músico, a música, a canção centra-nos no alvo ao qual aponta a sua mira, num alvo pré determinado.


Até eu sou sensível a estas aparentemente pequenas coisas que só a psicologia parece explicar, a erudita ou a de massas, tendo sido assim que passei a detestar Penny Lane dos Beatles, 1967, por a ela estar associada detestável lembrança e, depois da Tessa me ter deixado a ver navios e sozinho enquanto ela se punha a milhas com um paraquedista prenhe de tatuagens, desporto que pela mesma razão passei a abominar. Foi disco que nunca mais ouvi nem a minha vista dele sequer jamais se acercou.

Muda o contexto muda a perspectiva, ou muda a perspectiva conforme o contexto, isto é conforme a música assim será a dança, o que parecendo a mesma coisa não o é. Embora parecendo a mesma coisa não é a mesma coisa, parece não haver nunca duas coisas nem duas situações iguais a não ser nas palavras do ilustre professor doutor Francisco Ramos da Universidade de Évora, meu saudoso mestre de antropologia, e que uma vez me atirou à cara por o tentar ludibriar com um trabalho, ou melhor gritou para mim:

- Baião, a mesma coisa é meter dois dedos no cu e cheirá-los ao mesmo tempo percebe ? E quanto a esse trabalho (de antropologia) estamos conversados.

E lá tive que fazer outro trabalho, à pressa diga-se, por acaso óptimo e que veio a merecer uma nota que nem imaginam um vinte !

Dito isto imaginem o que é a vontade de regressar a casa do soldado que está no Vietname ou do filho que está no Iraque, a canção ou as canções e as próprias letras tomam nesses casos, nesses contextos, um novo sentido apesar de serem as mesmas ganhando uma dimensão gigantesca e avassaladora, como aconteceu especialmente com a canção The House Of the Rising Sun.

De Penny Lane esqueci-me com o tempo, até por ter passado a preferir a filosofia e Trafalgar Square, ou o jardim e a pedra, digo Speaker’s Corners* ou Recanto do Orador, 1855. Não a filosofia nem a Pedra Filosofal** devida a António Gedeão, uma canção de que é difícil não gostar, mas a pedra em cima da qual todos falam ou podem falar se o quiserem, ou orar, discursar, praguejar, contestar, vociferar contra tudo e contra todos e, prova de veracidade e idade da democracia da velha Albion, essa pedra designada por Speaker’s Corner é tão respeitada quanto é garantido o respeito por uma ainda mais velha tradição, A Magna Carta*** 1215, outra peculiaridade inglesa.


Ouvi quando muito jovem uma banda ou uma canção, ou música, não me lembro bem, nem de quem mas alguém cantava essa canção intitulada Magna Carta. Recordo-vos porém que com o tempo a perspectiva de quem detém o mando passa a ser outra, a objectividade talvez seja a mesma, mas o objectivo muda, hoje nada de modas como a de Speaker’s Cornner nem de imprensa livre, mas sim uma imprensa subsidiada, vendida, comprada, amordaçada, domada, manipulada. Verdade que o palrar e o ensino se democratizaram, quer dizer massificaram-se, estupidificaram-se. Hoje a escola é uma máquina trituradora que produz estupidez e estúpidos a granel, mas democraticamente iguais, democraticamente estúpidos, democraticamente parvos.

Razão tinham os Pink Floyd já há umas décadas quando escreveram ou compuseram o álbum Another Brick in The Wall, de 1979, ou Stanley Kuprik com a Laranja Mecânica, um filme de 1971, o filme e o CD, ou antes o vinil e o LP, isto para não ir mais atrás a Orson Welles, Nietzsche,  a Kafka a Muzil,  a George Orwell, a Kundera e outros do mesmo jaez que muito gritaram mas a quem ninguém deu ouvidos, por isso hoje temos a parvoíce elevada à condição máxima e a governar o mundo.

Andava eu matutando nestas coisas quando da estante tirei à sorte O APELO DA TRIBO de Mário Vargas Llosa, Nobel 2010 e de quem já li outras belíssimas obras, como A CIVILIZAÇÃO DO ESPECTÁCULO e outras. Este novo titulo, O APELO DA TRIBO, que adquiri há tempos na FONTE DE LETRAS aguardava vez para ser lido, como outros continuam aguardando, porém conseguiu prender-me desde o primeiro momento e a sua leitura está a tornar-se-me viciante. É sem a menor sombra de dúvida a melhor leitura que eu podia ter encontrado nos conturbados tempos que atravessamos, parecendo ter sido escrita para eles, não foi, mas a aposta ou o prognóstico do escritor saiu acertado. Talvez Vargas Llosa, como Kundera, nalgumas das suas obras tenham tido uma premonição ou estivessem ambos melhor preparados para, partindo de indícios aparentemente inócuos e aleatórios, estabelecerem conexões, avançarem projecções e formularem deduções.


Vinha eu meditando nisto quando o comboio que me trazia do Porto pára finalmente na estação de Évora, inaugurada em 1863. Porém foi remodelada há cerca de dez anos e a CP passou a disponibilizar quatro comboios diários Intercidades na ligação entre Lisboa e Évora, com um tempo de trânsito inferior a 90 minutos. As obras iniciaram-se em 2010. A nossa linda estação, agora renovada, mantém felizmente a sua antiquíssima, riquíssima e belíssima azulejaria. Todavia foi com desgosto que há uma semana reparei pela enésima vez em catorze placards publicitários estrategicamente espalhados ao longo dos cais, painéis duplos, de dupla face, portanto vinte e oito, eternamente vazios, parecendo mesmo estarem ainda por estrear.

Enquanto noutras estações e noutras cidades a publicidade enxameia e é rainha, aqui o fenómeno é precisamente o contrário. Fenómeno, epifenómeno, curiosidade, aberração ? Adivinhe quem souber, puder ou for capaz, mas é assaz curioso que ninguém, nunca, tenha apostado um cêntimo em publicidade na estação de Évora. Receio de que o investimento não tenha retorno ? Será o número potencial de consumidores que não justifica o investimento ? O nível de rendimentos e de vida da população do concelho não aconselha gastos em publicidade ? O índice de desemprego é tal que o investimento é de todo desaconselhado ?

Passaram dez anos desde as obras de remodelação da estação, os vinte e oito painéis mantêm-se vazios já há dez anos porque a situação no concelho não melhorou ? Porque piorou mesmo ? Devo deduzir que do ponto de vista do Investidor publicitário e das marcas dominantes Évora não interessa a ninguém ? Nem sequer ao menino Jesus ? Há coisas que me deixam a pensar, a matutar, a remoer, em boa verdade não só agora, já ando ruminando interrogações há mais de 40 anos, e não encontro respostas para elas.

Ou encontro, mas recuso-me a aceitar o absurdo.










HOUSE OF THE RISING SUN
The Animals
Há uma casa em Nova Orleans
There is a house in New Orleans

Eles chamam o Sol Nascente
They call the Rising Sun

E tem sido a ruína de muitos meninos pobres
And it's been the ruin of many a poor boy

E Deus, eu sei que sou um
And God I know I'm one
Minha mãe era alfaiate
My mother was a tailor

Ela costurou meu novo jeans azul
She sewed my new blue jeans

Meu pai era um homem de jogo
My father was a gamblin' man

Em Nova Orleans
Down in New Orleans
Agora, a única coisa que um jogador precisa
Now the only thing a gambler needs

É uma mala e um porta-malas
Is a suitcase and trunk

E a única vez que ele está satisfeito
And the only time he's satisfied

É quando ele está todo bêbado
Is when he's all drunk
Oh mãe, conte aos seus filhos
Oh mother tell your children

Não fazer o que eu fiz
Not to do what I have done

Passe suas vidas em pecado e miséria
Spend your lives in sin and misery

Na Casa do Sol Nascente
In the House of the Rising Sun
Bem, eu tenho um pé na plataforma
Well, I got one foot on the platform

O outro pé no trem
The other foot on the train

Vou voltar para Nova Orleans
I'm goin' back to New Orleans

Para usar essa bola e corrente
To wear that ball and chain
Bem, há uma casa em Nova Orleans
Well, there is a house in New Orleans

Eles chamam o Sol Nascente
They call the Rising Sun

E tem sido a ruína de muitos meninos pobres
And it's been the ruin of many a poor boy

E Deus, eu sei que sou um
And God I know I'm one
Fonte: LyricFind
Compositores: Alan Price
Letras de House of the Rising Sun © Universal Music Publishing Group, Kobalt Music Publishing Ltd.


FORTUNATE SON
Creedence Clearwater Revival
Algumas pessoas nascem feitas para balançar a bandeira
Some folks are born made to wave the flag

Ooh, eles são vermelhos, brancos e azuis
Ooh, they're red, white and blue

E quando a banda toca "Hail to the chief"
And when the band plays "Hail to the chief"

Ooh, eles apontam o canhão para você, Senhor
Ooh, they point the cannon at you, Lord

Não sou eu, não sou eu, não sou filho de senador, filho
It ain't me, it ain't me, I ain't no senator's son, son

Não sou eu, não sou eu, não sou um afortunado, não
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate one, no
Algumas pessoas nascem colher de prata na mão
Some folks are born silver spoon in hand

Senhor, eles não se ajudam, oh
Lord, don't they help themselves, oh

Mas quando o contribuinte chega à porta
But when the taxman comes to the door

Senhor, a casa parece uma venda de remédios, sim
Lord, the house looks like a rummage sale, yes
Não sou eu, não sou eu, não sou filho de milionário, não
It ain't me, it ain't me, I ain't no millionaire's son, no

Não sou eu, não sou eu, não sou um afortunado, não
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate one, no
Algumas pessoas herdam os olhos estrelados da estrela
Some folks inherit star spangled eyes

Ooh, eles te mandam para a guerra, Senhor
Ooh, they send you down to war, Lord

E quando você pergunta a eles: "Quanto devemos dar?"
And when you ask them, "How much should we give?"

Ooh, eles apenas respondem "Mais! Mais! Mais!"
Ooh, they only answer "More! More! More!"

yoh
yoh
Não sou eu, não sou eu, não sou filho militar, filho
It ain't me, it ain't me, I ain't no military son, son

Não sou eu, não sou eu, não sou um afortunado, um
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate one, one
Não sou eu, não sou eu, não tenho sorte, não não não
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate one, no no no

Não sou eu, não sou eu, não sou filho de sorte, não, não, não
It ain't me, it ain't me, I ain't no fortunate son, no no no
Fonte: LyricFind
Compositores: John C Fogerty
Letras de Fortunate Son © The Bicycle Music Company


ANOTHER BRICK IN THE WALL
Pink Floyd
Nós não precisamos de educação
We don't need no education

Não precisamos de controle de pensamento
We don't need no thought control

Nada de sarcasmo na sala de aula
No dark sarcasm in the classroom

Professores deixam crianças sozinhas
Teachers leave them kids alone

Ei professores, deixe as crianças em paz
Hey, teachers, leave them kids alone

Em suma, é apenas mais um tijolo na parede
All in all it's just another brick in the wall

Em suma, você é apenas mais um tijolo na parede
All in all you're just another brick in the wall
Nós não precisamos de educação
We don't need no education

Não precisamos de controle de pensamento
We don't need no thought control

Nada de sarcasmo na sala de aula
No dark sarcasm in the classroom

Os professores deixam essas crianças em paz
Teachers leave those kids alone

Ei professores, deixem essas crianças em paz
Hey teachers, leave those kids alone

Em suma, você é apenas mais um tijolo na parede
All in all you're just another brick in the wall

Em suma, você é apenas mais um tijolo na parede
All in all you're just another brick in the wall
"Errado, faça de novo! Errado, faça de novo!"
"Wrong, do it again! Wrong, do it again!"

"Se você não come carne, não pode comer pudim
"If you don't eat yer meat, you can't have any pudding

Como você pode comer pudim se não come carne? "
How can you have any pudding if you don't eat yer meat?"

"Você, sim, você atrás dos galpões da bicicleta, fique parado, laddy"
"You, yes, you behind the bike sheds, stand still, laddy"
Fonte: LyricFind
Compositores: Roger Waters
Letras de Another Brick in the Wall © BMG Rights Management

PENNY LANE
Os Beatles
Em Penny Lane, há um barbeiro mostrando fotografias
In Penny Lane, there is a barber showing photographs

De todas as cabeças que ele teve o prazer de conhecer
Of every head he's had the pleasure to know

E todas as pessoas que vêm e vão
And all the people that come and go

Pare e diga: "Olá"
Stop and say, "Hello"
Na esquina é um banqueiro com um automóvel
On the corner is a banker with a motorcar

E crianças riem dele pelas costas
And little children laugh at him behind his back

E o banqueiro nunca usa um mac
And the banker never wears a mac

Na chuva, muito estranho
In the pouring rain, very strange
Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos
Penny Lane is in my ears and in my eyes

Lá embaixo do céu suburbano azul
There beneath the blue suburban skies

Eu sento e, enquanto isso, volto
I sit, and meanwhile back

Em Penny Lane, há um bombeiro com uma ampulheta
In Penny Lane there is a fireman with an hourglass

E no bolso está um retrato da rainha
And in his pocket is a portrait of the Queen

Ele gosta de manter o carro de bombeiros limpo
He likes to keep his fire engine clean

É uma máquina limpa
It's a clean machine
Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos
Penny Lane is in my ears and in my eyes

Quatro tortas de peixe e dedo
A four of fish and finger pies

No verão, enquanto isso de volta
In summer, meanwhile back

Atrás do abrigo no meio da rotatória
Behind the shelter in the middle of the roundabout

A enfermeira bonita está vendendo papoilas de uma bandeja
The pretty nurse is selling poppies from a tray

E embora ela se sinta como se estivesse em uma peça de teatro
And though she feels as if she's in a play

Ela é assim mesmo
She is anyway
Em Penny Lane, o barbeiro depila outro cliente
In Penny Lane, the barber shaves another customer

Vemos o banqueiro sentado esperando por uma guarnição
We see the banker sitting waiting for a trim

E então o bombeiro corre
And then the fireman rushes in

Da chuva, muito estranho
From the pouring rain, very strange
Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos
Penny Lane is in my ears and in my eyes

Lá embaixo do céu suburbano azul
There beneath the blue suburban skies

Eu sento e, enquanto isso, volto
I sit, and meanwhile back

Penny Lane está nos meus ouvidos e nos meus olhos
Penny Lane is in my ears and in my eyes

Lá embaixo do céu suburbano azul
There beneath the blue suburban skies

Penny Lane!
PENNY LANE!
Fonte: LyricFind
Compositores: John Lennon / Paul McCartney
Letras de Penny Lane © Sony/ATV Music Publishing LLC