quarta-feira, 27 de julho de 2022

773 - UMA BICA CURTA, O CAFÉ FORTE inédito Maria Luísa Baião *

 

UMA BICA CURTA, O CAFÉ FORTE *

 

nunca a tristeza à porta

mas hoje estou triste

hoje preciso de ti

não suporto este silêncio

ameaçador

nunca pressentira tal

sinto falta da calma habitual

calma que me habita a alma

sempre

 

hoje preciso de ti

de uma bica curta

o café forte

 

que renove o movimento

deste relógio parado no tempo

p’ra que o tempo se repita

e reencontre o rio manso do destino

 

hoje preciso de ti

entre mim e a chuva esta janela

medito

na memória a espuma d’ondas

dias plenos de festa

todos dias de festa

 

em mim frémitos,

ainda preciso de ti

rebusco recordações coloridas

um jantar, uma vela, o brilho da lua

a tua voz quente

sempre

 

eu sei meu amor, eu sei

conheço as horas felizes passadas contigo

afastando sombras do meu coração

saudade de palavras que nunca faltaram

hábitos de ternura

hoje carência

 

hoje preciso de ti

da tua presença

a tua companhia basta

afasta tristezas

como foi

sempre

 

ano após ano

não esqueço

por ti entendi o mundo

conheci o amor verdadeiro

uma vida feliz

dias suaves

as carícias da noite

 

hoje preciso de ti

que me passeies terna

lentamente

e recordes as promessas cumpridas

 

uma bica curta

um café forte

o brilho das estrelas

a tua voz quente

sempre

 

meu amor eu sei

mostraste-me o céu

deste-me a lua

chamaste mulher

aprendi o voo das aves

 

hoje preciso de ti

aprendi a vida amor

tornaste-te luz

ergueste-te como um sol

como raio solarengo e luminoso

descansaste no meu colo e

na memória

ficou-me o teu rosto

o teu gesto

o prazer de te tocar

 

fazes-me sorrir

não recordo dias negros

sim e sempre o desejo

 

uma bica curta

o café forte

trazendo o sabor do passado

coisas bonitas

recordações de ti

 

mistérios que o fogo encerra

os corpos como marés

fazendo tinir lantejoulas e conchas

 

um café forte

a bica curta

 

ensinaste-me a quebrar regras

inculcaste-me de racionalismo ébrio

 

uma bica curta

o café quente

e para ti estas palavras

para que sorrias também

 

tu, eu, nós

sempre

transgredindo e rindo

rindo e transgredindo

assim, sempre, sim

e sempre o desejo

ardentemente

sempre

 

chamaste-me um dia mulher

e eu acordei

 

uma bica curta

o café quente

o  coração batendo como outrora

 

oh meu deus

que encantamento

tornares-me a vida assim !

 

vem meu amor

aquieta-me,

aquieta-te, junto de mim ! 

 

 

·         Poema escrito por Maria Luísa Baião, Évora  28/11/2011