terça-feira, 30 de março de 2021

680 - ÉVORA, TARTAN, MARCHAR MARCHAR... * (Texto de 06/11/2000)

 


  


TARTAN,   MARCHAR  MARCHAR *


Texto Publicado no Diário do Sul em 06/11/2000


 Para ser sincero esta crónica não devia ter sido escrita por mim, mas por um colega de escrita que infelizmente não conheço, e que nas páginas deste diário, de forma regular e nas páginas de desporto, nem sempre falando de desporto, tem contudo a virtualidade de captar o quotidiano de uma forma que admiro.

 As suas crónicas estão invulgarmente eivadas de uma ironia salutar, não mordaz, que de forma simples mas objectiva provam a sua capacidade de ver o que o rodeia tal qual a objectiva de uma máquina fotográfica.

 Recheadas de realismo diria eu, e se algumas tenho perdido, noutras tenho tido a oportunidade de verificar a realidade que não só capta mas que transpira através da escrita.

 Refiro-me a Mário Simões, procurem ler as suas palavras, sempre na secção de desporto, mas, e felizmente, nem sempre ao desporto dedicadas. Diria mesmo que mais as aprecio quanto mais do desporto se afastam, como se obedecessem a uma lógica que o obriga a mostrar a alma, mais que a cumprir a função de cronista desportivo.

 Mas perguntar-me-ão chegados a este ponto, que tem a ver o Mário Simões com a nossa conversa de hoje, ao que eu responderei que nada mais nada menos que uma espera no barbeiro em dia de chuva fraca. Realmente, e enquanto no barbeiro chegava a minha vez de levar umas tesouradas, admirei-me com um jovem dos seus dezasseis, dezassete anos, que em camisola de manga curta, mau grado o tempo frio e chuvoso que se fazia sentir, esperava como eu que o barbeiro caísse das nuvens.

 Claro que lhe perguntei se toda aquela leveza de vestuário era promessa ou mostra de virilidade, mas não, nem uma coisa nem outra, simplesmente vinha directo dos treinos que fizera no descampado próximo, para pegar a sua vez na loja das tesouradas.

 Praticava atletismo, com gosto e empenho, salvo erro nos Dianas, tendo a conversa derivado para a falta de uma pista de tartan em Évora, onde nem uma simples pista de atletismo os jovens têm à disposição, e ao que fiquei a saber por ele, até já se contentava com uma descoberta e exterior como a de Beja, lamentado-se pelo facto de que desde que há anos atrás abraçara o atletismo, ouvia falar em promessas de polidesportivos e complexos desportivos em que não acreditava já.

 Tendo-me reconhecido como cronista deste diário logo ali aproveitou para me levar a tornar público o seu desgosto e desilusão, que, como afirmou, grassavam entre muitos dos seus companheiros dessa e de outras modalidades, sem condições para a prática tão sã do desporto, que entre outros méritos conhecidos de todos, ocupa salutarmente a juventude e a afasta do fatalismo das drogas e de outras adições ou dependências igualmente nefastas...

 Para a idade que tinha passou-me bem os tópicos do sermão, e foi aí que me lembrei do Mário Simões, este era um caso de vida e desporto, tão ao seu jeito e tão ao seu gosto, e que eu por mais que me esforce, sei não saber tratá-lo como ele o trataria, eu desenrasco-me, ele teria conseguido fazer deste caso um caso a valer, o que aliado aos conhecimentos que tem de desporto, da sua prática a das condições em que se processa, seriam certamente mais proveitosas as suas palavras que as minhas.

 Contudo procurei não desiludir o nosso jovem atleta, ele saberá bem que a força de vontade também tem o seu valor nos méritos que como desportista venha a alcançar. É evidente que com condições outro galo cantaria, e certamente mais jovens se entregariam de alma e coração à salutar prática desportiva, e com um pouco de fé pode até ser que os seus filhos, ou netos, venham a desfrutar dos tão prometidos quanto apregoados equipamentos desportivos. Eu espero há anos por uma biblioteca e ainda não desesperei, conto viver pelo menos mais trinta ou quarenta anos, pelo que acredito que a mesma seja erguida ainda no meu tempo.

 No entretanto vou dando uns saltos ali a Vendas Novas, que proporcionalmente ao seu tamanho tem uma belíssima biblioteca, que equivaleria a todo o nosso Rossio de S. Brás, biblioteca que, curiosamente, tem livros, livros em que podemos mexer, e até ler ou trazer para casa. Conhecem uma biblioteca assim na nossa terra ? quem nos dera !

 Que os jovens não desesperem é o que lhes peço, alguma coisa há-de mudar nesta cidade, e ainda que mais nada mude, mudaremos nós, lá chegará o dia em que eu não terei olhos para ler, nem o meu atleta pernas para correr, aí certamente poderemos olhar para trás e ver o que esteve mal, mas como será tarde, o melhor é começarmos a ver já por que não bate a bota com a perdigota, e emendar a tempo o que estiver mal, está na nossa mão, só na nossa mão, entendemo-nos ?

 

Acabei agora de saber os resultados da participação dos nossos atletas nos jogos Paraolímpicos de Sidney, orgulhosos, trouxeram-nos ouro e prata em medalhas que nos honram, e se atentarmos que lhes falta muito mais que condições para treinos a rigor, mais uma razão para não desfalecermos à primeira contrariedade. É que na vida tudo são dificuldades e contrariedades, se não nos habituarmos a superá-las agora, então quando ?

 

* NOTA ACTUAL - Ah !  MAS HÁ MAIS QUE DIZER SOBRE A PISTA DE TARTAN, uma vez que lhe “roubaram” um corredor, impedindo que haja ali provas internacionais, impedindo que ali sejam homologados Records, impedindo que camionetas de desportistas e turistas venham a Évora assistir às provas internacionais de gabarito que ali não poderão ter lugar. Penso que a culpa coube ao   IPDJ que terá querido poupar uns tostões na obra porém, obra com tanta fiscalização e licenciamentos, é caso para perguntar quem mais pactuou com tamanho erro ??


quinta-feira, 25 de março de 2021

679 - SIM SENHOR PRESIDENTE, UMA IDEIA DE CIDADE ... *****

 

SIM SENHOR PRESIDENTE, UMA IDEIA DE CIDADE

Texto 1 de 12, Publicado no Diário do Sul em 24/07/2000


O presidente da república, Jorge Sampaio, apelou em Espinho a que as cidades portuguesas se desenvolvam harmoniosamente, com qualidade, e com a participação dos cidadãos.

Afirma Jorge Sampaio que não deverão ser feitas obras que ninguém entenda, ou que os cidadãos não sintam como suas”, “é trabalho da democracia e dos eleitos convencer as pessoas, explicando-lhes os projectos e, até mudar de decisão se a participação dos cidadãos for nesse sentido, afirmou.

Numa outra ocasião destacou o importante papel das iniciativas locais e da sociedade civil, e confirmou que se tem verificado que algumas das fórmulas mais inovadoras, por exemplo em matéria de combate à pobreza e ao desemprego, tenham sido levadas a cabo por instâncias descentralizadas da Administração Pública, muitas vezes em parceria com actores colectivos da sociedade civil, e com a própria participação dos cidadãos.

“Outro bom exemplo de uma articulação sensata diz respeito aos problemas da dinamização económica e ordenamento do território”… Muita razão reconheço ao senhor presidente, confesso até que já tinha começado há muito como cidadão empenhado a preocupar-me com os destinos da minha cidade, e que as suas afirmações só anteciparam o que tinha em mente, isto é, uma serie de crónicas sobre UMA IDEIA DE CIDADE, a minha ideia para esta cidade.

Esta crónica será pois a primeira de uma série sobre esta temática, e que me perdoem os leitores se acaso alguns pormenores não coincidirem com os vossos interesses ou desejos, não esqueçam contudo que não sou um especialista nestas coisas, sou, como vos, um cidadão que tem uma ideia de cidade, uma outra ideia que não a que se nos depara aos olhos há demasiado tempo.

No pós 25 de Abril foi feito um apreciável esforço de requalificação urbana, foi um período áureo, de fácil contentamento das populações, ávidas dos mais elementares atributos de um urbanismo de que só uma ínfima parte do país beneficiava.

A dispersão da população por bairros clandestinos, erguidos à revelia dos poderes locais e estatais que faziam orelhas moucas das nossas mais básicas necessidades e direitos, são ainda em alguns casos raiz de um tecido urbanístico obrigado a acolher no seu seio esse espaço edificado, criando escolhos a um perfeito ordenamento territorial da nossa cidade. Contudo águas correntes, electrificação e saneamento básico foram concluídos.

Hoje colocam-se-nos novos desafios, todos aspiramos a um melhor padrão de vida, a mais segurança, no fundo a novos modelos de gestão, muito mais exigentes do que os necessários no tempo em que tudo estava por fazer e em que facilmente se identificavam as nossas mais prementes carências, que com relativa facilidade e engenho se iam superando.

 As exigências de hoje não apontam já para a satisfação de necessidades básicas, mas para muito mais complexas ambições e aspirações, muito mais difíceis de identificar e satisfazer, e cuja apreensão por parte dos poderes públicos lhes impõe um desenvolvimento de competências que não se coaduna com amadorismos, e muito menos com eleitoralismos, manobra a que qualquer um já desvenda as intenções.

Previsão e planeamento são agora as palavras de ordem e as bandeiras a erguer, acabou o tempo do improviso, acabou o tempo em que ser do partido era condição necessária e suficiente. Aos homens do aparelho nunca ninguém questionou as competências, nem os seus eleitores, eles também beneficiados ou prejudicados pelas capacidades ou falta delas nos seus eleitos, nem sequer a oposição, nem grupos de cidadãos.

Tão importante quanto derrotar o adversário teria sido obrigado obrigá-lo a jogar de modo diferente, as exigências e contestações teriam levado a uma superior qualidade de gestão. Contudo, durante décadas, ninguém se importou com a gestão do burgo, que cresceu sem dúvida, mas pouco, e na exacta dimensão de horizontes de quem o conduziu.

Querer hoje apontar responsabilidades a quem é um decano dos autarcas em Portugal, e que soube como nenhum outro promover uma imagem que vale por muitos será um erro, mas recordem quem esteve à sua volta e compreenderão por que há razões para rirmos de tanta ingenuidade, nossa e não só.

Os erros pagam-se caro, e todos os estamos a pagar, cidadãos, oposições e situações. Certamente haverá guerra em 2001. Estes novos tempos não se compadecem com hábitos rotineiros, exigem uma corajosa rotura com o tradicional e uma muito clara aposta nos recursos humanos, os tempos que correm impõem equipas cultas, com elevados níveis de instrução, com aptidão para desenvolver processos sustentáveis de crescimento, ao invés de que é costumeiro, as tradicionais actuações pontuais de cariz eleiçoeiro.

Nesta terra nada de significativo se faz há muitos anos, para repentinamente surgirem em catadupa obras que servirão de bandeira no próximo acto eleitoral.

Premeditado ?

Não sei que dizer…

Na próxima crónica abordarei à lupa alguns factos indesmentíveis.


Texto1 de 12, Publicado no Diário do Sul 

                    em 24/07/2000

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terça-feira, 23 de março de 2021

678 - CIDADE FANTASMA - UMA IDEIA DE CIDADE ... *****

            

ÉVORA, CIDADE FANTASMA - UMA IDEIA DE CIDADE  

Texto nº 4 (de 12) e publicado no Diário do Sul em 14-08-2000

 

“O que caracteriza a cidade contemporânea é a sua desintegração. Não é pública, no modo clássico, não é doméstica, não é religiosa. É uma cidade fragmentada, caótica, dispersa, a que falta uma figura própria, “a alma”… 

O coração da cidade está hoje desintegrado, continuamos a pensar que os locais de reunião pública, praças, passeios, cafés, onde as pessoas podem encontrar-se e falar são coisas do passado, mas devem ter lugar nas nossas cidades” *

Muitas são as definições de cidade, curiosa a que se segue, de Ortega y Gasset, para quem cidade por excelência é a cidade latina, mediterrânica, clássica, onde “o elemento fundamental é a praça, local de conversa, eloquência, política. Em rigor a urbe clássica não deveria ter casas, mas apenas fachadas, necessárias para delimitar uma praça. A cidade clássica nasce do instinto oposto ao doméstico. Edifica-se casa para se estar nela, funda-se a cidade para se sair de casa e reunir-se com os outros, que também saíram de suas casas” **

 O imaginário de Ortega y Gasset move-se dentro da cidade política, onde se conversa, onde os contactos predominam, e onde a praça é o lugar de tertúlia da cidade, de tertúlia política. Este tipo de cidade, loquaz, conversadora, tem muito que ver com o desenvolvimento da vida citadina, e na medida em que diminua a loquacidade, declina o exercício da cidadania, na esteira da pólis e da ágora gregas.

 As cidades anglo-saxónicas, caladas, reservadas, têm em vida doméstica o que lhes falta em vida civil. Os anglo-saxónicos fecham-se em casa, nos bares ou pubs, onde alegre e salutarmente convivem, são o contraste entre cidades domésticas e cidades públicas, como a nossa era.

 Na cidade muçulmana no existe a praça como elemento de relação pública, a função da praça é exercida por um pátio na casa, o espaço privativo, ou na mesquita, nesta última não se trata de política, mas sim de religião, de meditação, não é um espaço público como nós latinos o entendemos. Na civilização muçulmana o único lugar que adquire vida é o mercado, alcaçaria ou bazar, que satisfaz necessidades públicas mas meramente funcionais. A cidade muçulmana baseia-se na vida privada, a anglo-saxónica é doméstica, a latina é pública.

 Aos eborenses de hoje tiraram a praça, ou as praças, tiraram esplanadas e cafés, (café Arcada e café Portugal), tiraram pontos de encontro e de tertúlia, deram-lhes em troca Malagueiras, tornaram-nos abúlicos, coarctaram-lhes a participação, deram-lhes lugares para comícios cuja moda foi bem passageira, foi isso que fizeram com a Praça Joaquim António de Aguiar, e com a Praça do Geraldo (ou do Giraldo, há meses com candeeiros no tabuleiro que nem funcionam e sem bancos para nos sentarmos), foi como se nos tivessem tirado a alma. Que nos deram em troca ? Uma cidade despovoada quando a noite chega, onde durante o dia é impossível circular ou estacionar, uma cidade de onde só nos apetece fugir. Que correu mal ? Por que temos numa cidade tão pequena os males das grandes metrópoles e não as suas vantagens ?

 “A cidade é uma linguagem de direitos e deveres” *** Por que temos só deveres ? Quem nos roubou os direitos ? Ainda estamos a tempo de evitar o crescimento e as transformações incongruentes ou males maiores, apesar da cidade ser constituída por áreas congestionadas e zonas diluídas pelo campo, não existe nela a vida de relação, nem pode existir, ou por asfixia o por dispersão… O homem sofre nela tantos e tão diferentes estímulos que acaba por se encontrar totalmente desintegrado” *

 A apatia dos eborenses em relação à sua participação cívica pode muito bem radicar nestes pressupostos, os eborenses encontram-se, não se reúnem, falam, não comentam, observam, não analisam, registam, não criticam, sobrevivem, não vivem. Acomodaram-se à situação, não reagem, não agem, não interagem. 

Tudo lhes passa ao lado como se nada lhes dissesse respeito, habituados que estão a ninguém lhes pedir opinião. De tudo se alheiam, não compreendem já quais os seus direitos. Alguém faz, alguém manda fazer, não sabem quem ou porquê, nem importa quem ou o quê, consta que são sempre os mesmos, por isso a cidade não é “linguagem”, mas um complexo divórcio há muito consumado.

 “A composição urbana refere-se a critérios de decisão de ordem estética e funcional, não pode ser abordada sem uma sólida cultura arquitectónica, histórica e política, privilegiando os aspectos técnicos, sociais e económicos” ****  

“O urbanista hoje terá que deixar de ser um especialista que impõe soluções em nome da sua competência, para se tornar uma espécie de animador cultural, social, encarregado de liderar o debate e favorecer a emergência de consensos, envolver as populações, conquistadas pela razão dos seus argumentos” **** 

Neste caso, o exemplo do modo como foi conduzido o processo do Aterro Municipal é claramente elucidativo do muito que há a aprender...


 Na próxima crónica um mergulho nos meandros que poderão estar na origem do crónico subdesenvolvimento de Évora, crónico mas típico, tão típico que qualquer dia colocam um eborense ao lado dos Meninos da Graça, para inglês ver.

 

***** ATENÇÃO !! 
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MAS ESTÃO ACTUALISSÍMOS ....

Texto escrito em 29 do 6 de 2000, e publicado no Diário do Sul em 14-08-2000.

* Fernando Chueca Goitia in “Breve História Do Urbanismo”,  Presença

**  in “The Writings Of Josep Lluis Sert”  (Arquitecto e Urbanista)

 *** Leonor Coutinho in “Seminário A Política Das Cidades”,  2/97

**** Jean Paul Lacaze  in “A Cidade De Urbanismo” ,  Instituto Piaget



segunda-feira, 15 de março de 2021

677-CULPA DA ESQUERDA, CULPA DA DIREITA?

               


Das duas. Uma porque armada de uma superioridade moral a que nunca teve direito e de uma ignorância impar, a outra porque se acovardou e encolheu, deixando sem defesa os valores que sempre defendeu, conservadorismo e constância.

A esquerda pegou no estandarte do progresso e ergueu-o sem reparar que a bandeira se encontrava de cabeça para baixo no mastro e o resultado, está à vista.

A direita, órfã desde a morte de Sá Carneiro, entreteve-se a incensar quem quer que lhe aparecesse com um carro novo a estrear ou a rodar… Não querendo ser confundida com a extrema esquerda caceteira, a quem nunca barrou o caminho, salvando-se….  Fechou os olhos ao pároco Melo, e deste modo os mártires padre Max e a estudante Maria de Lurdes viriam a abrir caminho a Otelo…

E às Brigadas Revolucionárias das Forças Populares 25 de Abril que operaram em Portugal entre 1980 e 1987 período durante o qual meteram bombas por onde quiseram, tendo sido directamente responsáveis por treze mortes às quais há a acrescentar as mortes de quatro operacionais das ditas brigadas. Brigadas que foram autoras de dezenas de atentados a tiro, de outros atentados com recurso a explosivos e de alguns assaltos a viaturas de transporte de valores, a bancos, tesourarias das Finanças Públicas e empresas diversas geridas ou propriedade de “fachos”…


A sua actividade acabou num mega julgamento inconclusivo por incapacidade de identificar claramente os culpados ou por, hábito português, prescreverem os processos…

A direita abriu o caminho e a esquerda percorreu-o correndo sem pensar, ainda hoje não parou, ainda hoje não pensa e regularmente o efeito das suas decisões resulta no contrário da ideia que inicialmente as animava. Cegueira ? Talvez, mas muita ignorância isso sim.

A direita sentou-se à mesa de babete ao peito mantendo os velhos snobismo e marialvismo, esquecendo tradições milenares de honra, de defesa da pátria, do nacionalismo, da lealdade, da religiosidade, coisas, atributos que lhe foram tão caros mas contudo deixou cair no chão e enlamear.

E durante quarenta anos ninguém gritou aqui d’el-rei que o dito vai nu ? Nem os militares ? A quem encheram a pança de mordomias e o peito de caricas de lata mas nos lembram a toda a hora serem o garante último da defesa da liberdade desta nação ? Liberdade ? Agora que nada é nosso ? Não foi só o paiol de Tancos que foi roubado nas barbas deles ! Foi um país inteiro ! Comeram-lhes as papas na cabeça ! A eles e a nós ! E era louco o Medina Carreira ? E está louco o Venturinha ? E ninguém viu nada ? Quarenta anos a descer para um abismo e ninguém viu ? Ninguém disse nada nem quando a divida disparou que nem um foguete ? Depois admiram-se dos quinhentos mil votos que ninguém sabe de onde  apareceram…  

E agora ?

Agora bate chapas e tinta Robbialac.

Agora estão aí mui amiguinhos esquerda e direita para retocar a fachada a este chaço velho cansado por 46 anos de diatribes, dando-lhe a aparência duma cara nova e preparando-o para mais umas décadas, talvez debaixo do signo maligno de uma novo regime, ou não é a Constituição Da Republica Portuguesa uma vaca sagrada que alimenta muita gente enquanto emagrece este povinho e lhe leva couro e cabelo em custos no veterinário ?

A nossa CRP, como qualquer outra Constituição, prevê ela própria modos e modelos de regime e de mudanças legalmente enquadradas portanto, força, temos a lei do nosso lado e só nos faltam os votos para virar e revirar as coisas de pantanas até ficarem direitas, até ficarem como deve ser pois este país virou uma bagunçada corrupta a que nenhum partido quer dar fim por se lhe acabar a mama…  

Força pessoal !! 

Força rapaziada !!




 


sexta-feira, 12 de março de 2021

676 - OS MUI GRANDES BURACOS DE ÉVORA ...

 

         

        OS BURACOS E O PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE


 O princípio da subsidiariedade mais não é que a garantia financeira da autonomia do poder local, e traduz-se na atribuição dos poderes financeiros da Administração Central através do Orçamento do Estado, transferindo anualmente recursos para os municípios, numa lógica “dos que podem para os que precisam” 

As autarquias locais apesar de serem autónomas, também são afectadas pelas opções do estado que nelas descarrega funções, sociais, educativas e muitas outras. Para compensar o mesmo estado promove desde que a CRP foi elaborada e entrou em funcionamento, por meio do cumprimento desse preceito constitucional, uma justa repartição dos recursos, para que os concelhos mais pobres, sem empresas, sem meios, sem ter como nem onde obter receitas, possam fazer face às necessidades e ganhem a possibilidade de abandonar a pobreza e prover ao seu desenvolvimento.

Não somente é feita uma sangria aos impostos dos concelhos mais ricos em favor dos mais pobres, através das transferências do Orçamento de Estado, como ao longo destes quarenta anos o processo tem evoluído, por isso hoje são permitidos aos municípios prover o aumento do número dos impostos locais, socorrer-se de mecanismos de perequação financeira, sendo-lhes inclusive permitida uma maior autonomia tributária de molde a aproximar a cobrança da receita à realização da despesa, por um lado, e tanto quanto possível respeitar os direitos dos contribuintes, um equilíbrio muito difícil de conseguir na prática.

Tem sido muito difícil conseguir uma eficiência minimamente razoável nas decisões políticas quanto à realização da despesa local, desequilíbrio que vulgarmente é constatado pela observação do aumento do número e volume de impostos sobre os munícipes cuja cobrança está atribuída aos municípios. O inverso, o alívio fiscal com origem nos municípios raramente é observado.


Temos que ter em conta que em Évora o poder local conta há mais de trinta anos com a atribuição de uma parcela significativa de receitas retiradas aos outros municípios através do FEF (Fundo de Estabilização Financeira) e de outras comparticipações, mecanismos e subsídios do Estado (59% da receita da CME em 2021, mais de metade da receita, virá de transferências do orçamento...) * bem como do recurso ao crédito, medida esta da qual tem abusado, pois como é sabido o Município de Évora foi declarado em 2013 num completo e complexo “desequilíbrio financeiro estrutural”. 

Essa gravíssima gravidade das finanças obrigou a que durante décadas a C. M. E. não tivesse acesso a crédito, não dispusesse de verbas para investimentos, que estivesse proibida de efectuar um rol de despesas e fosse obrigada a manter em alta a amplitude de taxas taxinhas, impostos e derramas que recaem sobre cidadãos e empresas, o que significa que os eborenses pagam tudo pelo escalão máximo porque a gestão municipal foi ao longo de décadas senão ineficiente, pelo menos incompetente.

O princípio da autonomia financeira das autarquias locais tem por fim garantir a estabilidade dos meios financeiros ao seu dispor, permitindo assim o seu funcionamento autónomo. Mas a lei da autonomia financeira dos municípios assenta também, ou prevê da parte destes a capacidade de elaborar, aprovar orçamentos correctos, avaliar discutir, modificar e votar as opções do plano e de outros documentos previsionais, elaborar e aprovar os documentos de prestação de contas que por lei lhes sejam destinados, ordenar e processar as despesas legalmente autorizadas mas, sobretudo gerir com eficiência os recursos colocados à sua disposição, capital, pessoal e equipamentos, nunca esquecendo que esses recursos saíram do lombo de cidadãos contribuintes doutros concelhos e claro, também do nosso, do de Évora,

Esta coisa de ter poder para exercer tributação, poder atribuído por lei ao município para arrecadar e dispor de receitas a que consiga deitar mão traz também responsabilidade. Ora a jurisprudência e o que tem sido observado é que apesar de ter sido despejado tanto dinheiro em muitos municípios, Évora inclusive, e ainda que esteja reconhecida a consolidação da autonomia financeira dos municípios em especial nos últimos trinta anos, é igualmente verdade que os resultados pretendidos não foram completamente alcançados. Muitos municípios continuam a apresentar fraca capacidade de gerar receitas próprias, o que significa que apesar dos rios de dinheiro em cima deles despejados foram incapazes de sair da pobreza, foram incapazes de prover ao seu próprio desenvolvimento.


Até quando durará este desperdício de esforços, de dinheiros, de competências, é uma incógnita, parece até que, quanto mais dinheiro lhes é colocado à disposição, menos se esforçam por o fazer render ou por o gerirem com eficácia e eficiência, com proveito.

Numa palavra, o município de Évora, como aliás tantos outros por esse Alentejo e país fora, são incompetentes, e são-no há décadas. Os números estão à vista e falam por si, não sou eu que o digo.

Évora não tem buracos, não tem é dinheiro para os tapar, porém, e para compensar, tornou-se ela mesma um enorme buracão.

 

http://www.antoniorebelodesousa.pt/artigos/AsFinancasLocaisEnquantoInstrumentoDoDesenvolvimentoEconomico.pdf

 ·        https://aeca.es/old/xixencuentrocomunicaciones/72f.pdf

 ·       https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/29503/1/A%20Nova%20Lei%20das%20Finan%C3%A7as%20Locais%20e%20as%20Suas%20Repercuss%C3%B5es%20na%20Gest%C3%A3o%20Municipal.pdf

 ·        https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/35552/1/17%20-%20Finan%C3%A7as%20locais.pdf

 ·        https://core.ac.uk/download/pdf/153407275.pdf

 ·        https://www.cm-evora.pt/situacao-da-rede-viaria-e-sua-reparacao/?fbclid=IwAR2O3z10kDjKnIANeiJw03wL67U4bBYa_jpnm-DSWMcrLQVibGQOmu9iDcM

 ·        https://www.igf.gov.pt/inftecnica/75_anos_IGF/marlene/marlene_cap025.htm

 ·        https://aeca.es/old/xixencuentrocomunicaciones/72f.pdf


* Exemplo da distribuição receita/despesa de uma das freguesias afecta à CME em 2021, como acontece com todas as outras e com a própria CME mais de metade da receita, 59%, virá de transferências do orçamento, sendo uma grande parte dela gasta com recursos humanos, encargos com instalações e gastos de funcionamento... Como haverá de sobrar dinheiro para tapar buracos e realizar outras obras de vulto e de interesse para a cidade ?