terça-feira, 9 de dezembro de 2014

213 - MATAR O PAI ... FREUD EXPLICARIA ...



                   Breve nota prévia: atendendo ao estado do país e inerente qualidade de vida dos seus cidadãos, e não tendo sido o reino governado por cubanos ou kozovares, naturalmente caberão aos pais da pátria e inclita geração de descendentes quaisquer agradecimentos que lhes queiramos deixar.

                Fez agora noventa anos, e comemorou-os com uma festa intimista que juntou duzentas e cinquenta pessoas. Parece que há dez anos, quando da passagem dos oitenta, teriam sido duas mil, segundo afirma a comunicação social. Não me revejo entre os que sentem dever alguma coisa a este avôzinho e, colocando-me no lugar dele, não me orgulharia nada destas liberdade e democracia que, segundo alguns, lhe devemos.

Um dos nossos grandes males enquanto povo é nunca exigirmos escolher o menú, comemos o que quer que nos ponham em frente e no prato. O avôzinho (e como tive largas oportunidades de verificar todo e qualquer apaniguado, que de o ser se preze, e detenha poder), respira vive e transpira democracia, desde que todos façamos o que ele (s) quer (em) e ordena (am). Não sei se o avôzinho será mais padrasto que pai da nossa democracia. Que muito a terá condicionado não restam duvidas, que ela (democracia) seja esta desgraça que ora vemos e vivemos lamento-o pesarosamente.

O pior é que com ou sem avôzinho os apaniguados parecem padecer de um sentimento de infantilidade, insegurança, atrever-me-ia a dizer orfandade. Freud explicaria certamente a coisa como falta de maturidade, o que nada me admira pois que, cada vez que o poder lhes cai nas mãos se portam como crianças alvitrando uma bola. Primeiro uma birra por não a terem, para depois de a conseguirem nem saberem o que fazer com ela.

Se uma democracia como a que defendem fosse um “produto”, as leis do marketing há muito a teriam chumbado, senão reparem, em quarenta anos não conseguiu implantar-se no “mercado”, continua, de forma instável, insegura e incerta a bater-se com a concorrência por uma quota de mercado que há muito devia estar plenamente assegurada, não raras vezes oferecendo gato por lebre  e levando a uma oscilação de fidelidade e abandono por parte dos consumidores, não sendo uma marca que garanta nem a qualidade nem a coerência e sobretudo a constância das suas próprias especificações. Submetida às rigorosas normas ISO 9000 soçobraria.

Se a Mercedes, a W ou a BMW ou quaisquer uma de muitas outras marcas de renome que conhecemos vivesse debaixo de tais atributos, duvido que tivessem conseguido a fidelidade e confiança que os consumidores lhes atribuem. Talvez eu exagere, afinal os grandes partidos sofrem do mesmo mal, talvez a excepção sejam somente os mais pequenos, que conseguem manter estabilizadas percentagens e eleitores, mas com os quais afinal também ninguém irá a lado algum.

Se nos faltam leis contra a corrupção, contra o enriquecimento ilicito, e tantas outras, em especial as estruturais, essencialmente aos dois grandes partidos do “centrão” o devemos. Sobretudo o avôzinho, fez da politica uma visão e uma causa suas, não a visão ou a causa de todo o país. Demorei quarenta anos a perceber isto, mas mais vale tarde que nunca.

Guterres foi o último politico a quem bati palmas, passado pouco tempo senti-me traído. Afundado nas autárquicas dos finais de 2001 e olhando o país Guterres viu um pântano, mas em vez de combatê-lo demitiu-se. Perdeu-se uma das últimas oportunidades para, sem dor, colocar Portugal nos eixos, e ao invés disso continuou a varrer-se o lixo para debaixo da carpete, quem diz o lixo diz o défice. Enganaram-nos, mentiram-nos deliberada  e premeditadamente. 

Sucedeu-lhe Barroso, o tal que não descansaria enquanto no país houvesse uma criança com fome. (já então as cantinas escolares matavam a fome a imensa gente). Também Durão Barroso teve uma epifania e viu-nos todos de tanga, decerto num pântano e de tanga, e que fez ? Arregaçou as mangas e encetou as reformas que Guterres não implementara ? Não.  Arranjou um bom emprego e atirou com a água do banho e o bébé para o colo do “menino guerreiro”, o resto desta triste história todos nós a sabemos. Quanto às tais crianças a que Durão Barroso se referia, soube-se há dias que pela porta do cavalo meteu o filho no Banco de Portugal. Não salvou as criancinhas todas, mas salvou ao menos uma. Porreiro pá ! Como ele diria... A transparência e o mérito acima de tudo...

Mas este sentimento de orfandade de que enfermam os acólitos do avôzinho não é exclusivo seu. A morte de Sá Carneiro deixou igualmente orfãos os nossos laranjinhas. Aliás Cavaco só ganhou o partido porque tropeçou no palco da Figueira da Foz, a que apontara no intuito de fazer a rodagem do carro, um Citroen BX, palco onde subira para arengar haver mais vida para além de Camarate, que ainda não deixaram de chorar, e já vamos na décima comissão de inquérito. Orfãos de pai, mal viram Cavaco no palco fizeram-lhe como ao velho sargento pára-quedista na II GG, que foi coroado como herói.

Conta-se que um velho e sabido sargento se viu enrascado quando, na madrugada do dia D, foi largado sobre os campos de França. Ninguém negou, aliás todos o viram gritando ordens ao batalhão em plena queda livre. O que nem todos sabiam era que o pára quedas não abrira, e o nosso homem vociferava contra tudo e contra todos maldizendo a sorte que lhe calhara. Ou a falta dela.

Mas quis Deus que tivesse “aterrado” em cima de enorme meda de feno, e, quando não se refizera ainda nem do susto nem da surpresa por estar vivo viu-se rodeado de alemães dispostos a fazer cumprir a sina que o destino lhe não quizera cobrar. Sacou da metralhadora e rátátá rátátá, defendeu o coiro, gritou, gesticulou, vociferou e os restantes homens do batalhão, vendo que nunca perdera o controle nem o ânimo, seguiram-no com igual entusiasmo e esforçaram-se por igualar tão grande exemplo de dedicação e coragem.

Só ele sabe quanto ficou a dever a um casal de velhos normandos que, esperançados na liberdade que lhes trazia, lhe permitiram mudar ou lavar as cuecas e as calças visto que se tinha cagado de medo. (já lá vão quase 70 anos e a memória atraiçoa-me). Grande sargento esse. Hoje tem o nome numa ponte da estrada entre Caen e Rouen, a primeira uma cidade eternamente em dívida e onde lhe foi erguida uma estátua em tamanho natural, em bronze, como a que agora o escultor Leonel Moura pretende, não decerto inocentemente, oferecer ao avôzinho.

Assim se deve ter sentido o nosso heróico Cavaco quando o desceram em ombros do tal palco, inicialmente um debutante economista desejoso de perceber de economia, e depois PR, fazendo as vazas de caixeiro viajante das arábias e publicitando e vendendo vacas risonhas, cagarras selvagens, cavalos, as nossas empresas e o nosso país, o mesmo país ao qual, suprema ironia, enquanto couteiro-mor matou a economia, as pescas, a agricultura, a indústria, que num arrobo de visão premonitória trocou por trinta dinheiros. Ora não tivesse sido esse sentimento de orfandade e jamais os portugueses lhe teriam dado dez anos de prime minister e outros tantos de président....

Já o manhoso do avôzinho sempre deu barraca, mas sobretudo depois de velho. Noutro extremo o palerma do caixeiro viajante não acerta uma e não perde a oportunidade de se ridicularizar aos olhos da maioria deste bom e matreiro povo. E entre estes dois padrastos, entre estes dois marretas tão diferentes anda chutada de um lado para o outro a nossa democracia, se, como diz Rui Rio, será por votarmos de vez em quando que ainda é uma democracia... ? Porque quanto ao resto...

Se nunca foi encontrado um meio termo entre estes dois polos tão opostos não temos que nos queixar. Aujourd'hui sont Sócrates et son ami Passos Coelho... Nunca passaram de dois peões menores nesta disputa de quarenta anos. Ainda hoje não sei qual deles será pior nem qual deles o mais parvo, sei que nenhum ficará na história, um porque devido à xico espertice não a apanhou quando devia e a teve no apeadeiro, outro porque a pontapeou para longe por ignorância desmedida.

                O Avôzinho ? O Cavaquinho ? Nem um nem outro preparou o país para mais que a satisfação dos seus pessoais ou particulares interesses e jogadas. Nada, não temos nada. Nem reguladores, nem leis quadro capazes, nem presente nem futuro. Nem tacto, nem ao menos bom senso. Caminhamos a galope para o quarto ou quinto mundo sem que tal desassossegue algum deles, ou alguém. Costa anui que sim, que errámos, (no tempo de Sócrates) “mas que estávamos no bom caminho” ... Pela minha lógica tal significa que poderemos continuar a errar.... 
                                                                   Oremos...http://www.dinheirovivo.pt/economia/interior.aspx?content_id=4284320&page=-1

O investimento directo estrangeiro cai há mais de dez anos, o público é quase residual, carece de dinheiro que o concretize e sem dinheiro nada feito. Estamos aviados. Continuem a brincar ao pai da pátria. Aos pais da pátria. Ou à democracia, enquanto a fome chacina, a desigualdade grassa e os donos disto tudo se riem de tanta irresponsabilidade, ingenuidade, cegueira e leviandade. E querem que me orgulhe desta democracia e dos seus pais ? Com tanto protocolo que se assina todos os dias não podiam reestabelecer um que houve com Cabo Verde ? Está na hora de recuperar as virtualidades do Tarrafal....

           Pois se até já surgiu quem defenda que o PR deve ser eleito pelas instituições...  (http://observador.pt/2014/12/06/dirigente-ps-defende-fim-da-eleicao-direta-presidente/ ) Mais uma idéia peregrina, como tantas outras que há quarenta anos bolsam....

 Salve-se o sistema, que se lixem os portugueses, que se lixe a nação...                         Que emigrem...