segunda-feira, 13 de abril de 2020

641 - I LIKE GYPSIES, GITANS, AND YOU ????????

Vincent van Gogh, The Caravans Gypsy, Camp near Arles
                                                            
Gosto de nómadas, de ciganos, não que lhes inveje a riqueza, que não possuem, mas a fortuna que dizem sobrar-lhes e jamais alguém lhes poderá tirar.

Gosto do seu ar jovial, desprendido, matreiro e bem-disposto, do pensamento positivo que carregam e arrastam, da solidariedade que os une, da coesão que os cimenta, da faceta tribal que partilham, da honra muito própria que mantêm, da ética gitana do clã, do existencialismo que sofrem e gozam, do materialismo a que não se prendem, da liberdade que com suor e lágrimas defendem.

Roubam tudo quanto podem dizem, água nas torneiras, umas calças ou camisas deixadas nos arames. Tudo quanto no nosso descuido deixamos à mão de semear lhes interessará, lhes dará algum jeito.

 São ciganos, dar um jeito às coisas faz aliás parte da sua filosofia de vida e de subsistência, mais a mais como adquirirão algo se ninguém lhes dará emprego se o pedirem, supondo que o pedem. Sim supondo, e não mais que uma suposição seria lícito atribuir-lhes, trabalhar é para quem não sabe fazer mais nada, e eles sabem.

Um roubozinho aqui, outro ali, beliscam mais a nossa sensibilidade vulgar que a nossa carteira. Afinal os Salgados, os Bavas, os Césares, os Varas, os Sócrates, os Vieiras da Silva, os Oliveira e Costa e tantos outros, roubam-nos bem mais. Roubaram-nos milhares de milhões, e sem que nos revoltemos.

Gritamos aqui d’el-rei se um cigano nos leva os ténis que secavam no quintal, mas quanto aos outros, aos que verdadeiramente nos roubam somos mais contemporizadores, mais tolerantes, e até votamos neles uma e outra vez.
  
Adoro as suas músicas e ritmos tanto quanto seu estatuto libertário, cigano não é ovelha ranhosa, não é carneiro que faça parte da carneirada, cigano é ser tudo que nós invejamos e p’lo que não temos a honra de pugnar. Ser cigano é ter cara para tudo e não corar, enquanto nós calamos a vergonha de cumprir e de obedecer, de comer e calar. Não é o cigano que está errado, somos nós carneiros que não balimos e ainda aplaudimos e votamos no verdugo.

Enquanto nos fodemos das nove às cinco, enquanto trepamos pelas costas uns dos outros para ganhar o favor do chefe, outro merdoso como nós mas a quem o oportunismo guindou mais alto, eles deambulam pelas estradas e percorrem sem pressas paisagens e países. Nas calmas, gozando o sol sem tempo contado, sem corridas, enquanto nós sofremos um ano inteiro para passar correndo por um mês de férias que nos custou os olhos da cara e saiu do coro, que foi suado.


Nós acumulamos selfies e fotografias, eles recordações de lugares, nós no telemóvel eles na memória. Vivem à nossa beira sem preocupações de horários ou de carreiras, de pontualidade ou assiduidade, morrem de velhos quando tem que ser, nós morremos de AVC’s e de enfartes, fruto do muito que comemos, do stress que acumulamos, da avidez que abraçámos.

Não vivem à nossa custa não, sofrem a vida deles e, atentos, espertos, matreiros, tudo que nós deveríamos ser, sempre que podem cavalgam as nossas costas, por breves momentos somente e jamais nos deixarão dores para cem anos ou nos levarão 0,0001 do PIB que seja. Ladrões mesmo são os sérios que caminharam e caminham ao nosso lado… Ciganos são apátridas, sofrem as guerras que não declaram apenas por serem diferentes, na Segunda Guerra mundial foram assassinados mais de quinhentos mil. Hoje, passados setenta e cinco anos parece ainda e por absurdo haver dentro de cada um de nós um pequeno Hitler.

A CEE reconhece o seu estatuto apátrida e respeita-o. Atendendo a esse facto envia-nos anualmente milhões para os integrar, os socializar caso eles aceitem submeter-se. Esse bolo, esse montante de milhões que lhes é destinado e por eles deveria ser distribuído como subsídios alimenta contudo centenas de académicos cuja vida tem sido dedicada ao estudo da pobreza e os tem enriquecido. Tão admirável bolo alimenta ONG’s diversas, uma miríade de organizações governamentais ou não, departamentos universitários, instituições insuspeitas, associações que grassam como cogumelos, milhares de técnicos das mais diversas naturezas etc etc etc …

São músicos, são alegres, são foliões, são vadios, são sem lei que não a sua, são uma esperança à margem desta sociedade alienada e alienadora que construímos e gerimos, que aguentamos e sofremos. É bem possível que dentro de cem, duzentos, trezentos anos a nossa sociedade já não exista, já não pontifique neste mundo. Sobrarão ou restarão os esquimós, os aborígenes australianos, os indígenas africanos, os índios da amazónia e, podem crer os ciganos. Não há mal que entre com eles, nem os vírus. Somente a nossa inveja e baixeza os molesta.

Talvez dez por cento do bolo chegue às mãos dos ciganos, às mãos daqueles a quem se destinam, e mesmo esses dez por cento desejamos para nós e se pudéssemos… Haja calma bom senso e um travão à estupidez, é provável que se tanta narda lhes chegasse às mãos nos deixassem os ténis em paz, e as calças e camisas deixadas esquecidas corando no arame…

É caso para meditarmos e nos darmos ao cuidado duma introspecção regularmente, há-de valer a pena, talvez até aprendamos algo com aqueles que tanto vituperamos. Ganharemos no mínimo uma oportunidade para olhar para nós mesmos. coisa que deveríamos fazer mais vezes.

Capice ? Como diz o Camilo ?


https://www.youtube.com/watch?v=G6aAyvn2A2s&list=PLJ4SrfQtzo8WkVK8QG6gMTmq8lGZWXy31




https://funchalnoticias.net/2020/04/06/papa-denuncia-organizacoes-humanitarias-que-se-servem-dos-pobres-para-garantirem-os-seus-salarios/?fbclid=IwAR0YND5NoALzJKuVXIrbEoizaHYlEJ2rVslhxR85exIF6W1mIveyFtGTuh4