quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

O CHEGA, O RENASCER DA FÊNIX E A LÚCIA ...



Muita gente está admirada, surpreendida, quiçá assustada com o modo estrepitoso, polémico, rocambolesco e vertiginoso como o CHEGA vem subindo nas sondagens.

Têm razão e não têm, porque efectivamente o CHEGA chegou e nem parou, desatou a trepar como trepadeira ávida de escalar o muro e chegar ao sol. Desculpai-me o estilo. Não têm razão porque embora tardiamente, como todas as modas que tomam vez em Portugal, a coisa devia ser esperada. Não a têm ainda porque o epifenómeno que o CHEGA consubstancia teve lugar, germinou e amadureceu no seio de quarenta e cinco anos de comodismo e imobilismo em que ninguém se insurgiu contra o rumo descabido que a nossa peculiar democracia todos os dias trilhava.

De deputados a advogados, a professores, a doutores e engenheiros, arquitectos, jornalistas, enfermeiros, funcionários públicos, militares, paramilitares, juízes, oficiais e aprendizes, patrões, empresários e outros que tais, passaram a vidinha pensando exclusivamente em si mesmos, no fim do mês, no vencimento anual, nos negócios, nas empresas, nas chorudas comissões, nas folgas, nos feriados, nas pontes, nas carreiras e escalões profissionais, congelamentos e retenções, esquecendo a coesão, a solidariedade, e deixando impavidamente que vinte por cento da população caísse na pobreza, a classe média definhasse, outro quinto emigrasse, que oportunistas enriquecessem, a corrupção alastrasse, tudo sem largarem um pio, um queixume, um protesto, de tal modo que já nem as estradas são nossas, tendo este povo de seu apenas uma dívida colossal a pagar e piolhos para se catar.

Diariamente, acomodados e instalados, toda esta gente tomava a bica nunca vendo porém o desenho na sua frente, o futuro, a sina, o destino, maravilhosamente plasmado nas borras do café, até o dique ceder. Sim o dique, porque o CHEGA é o avanço tumultuoso da esperança que o dique da cegueira há quarenta e cinco anos travava.

 Agora que a água avança imparável como sendo coisa nova ou desconhecida, pois nela como num cadinho de alquimista se misturam a esperança amordaçada durante décadas e os anseios que já ninguém consegue calar, fecham-se as mentes intolerantes, todas elas entrando num período de negação, em que todos se recusam a ver o que há muito era óbvio, a abstenção a ganhar peso nas eleições, a sua supremacia emergindo sobre tudo e todos como água subindo numa barragem e ameaçando galgar o paredão, vindo por aí em incontrolável turbilhão arrastando tudo à sua frente.

Vai demorar até que as coisas atrapalhadamente acalmem e voltem ao lugar, jamais ao antigo e mesmo lugar mas ao lugar do certo e correcto, a um lugar onde todos se possam ver e rever. É por isso que o recém-chegado CHEGA é uma amálgama de vontades e de anseios deixados por cumprir pelos partidos do sistema, os quais, instalados no seu bem-estar e mordomias se esqueceram completamente do país real.

O polémico CHEGA é o produto do elitismo do PSD, da arrogância do PS e da suposta superioridade moral das esquerdas. Pois olhem bem e vejam a sua obra, a sua criação, a sua criatura, a quem fazem frente barrando o caminho que é de todos, caminho que o CHEGA é obrigado a percorrer abrindo-o à cotovelada. Devia haver mais tolerância, democracia e respeito, o CHEGA mais não é que a Fénix renascendo no mesmíssimo lugar onde a imolaram.

Mas o que é o CHEGA que chegou e se impôs, que aos tropeções e apesar de desastradamente trepa aglutinando as gentes e, como as águas galgando as margens, tudo parece submergir ? O novel CHEGA é ou será nem mais menos do que aquilo que nós quisermos, o CHEGA após a bonança seguirá o rumo traçado em congressos de gente exaltada mas civilizada, buscando também ele um rumo, um rumo que não passe pela iniquidade, pela desigualdade, pela injustiça e descalabro a que chegámos.

Portanto era a hora de dizer basta !

Era hora de dizer chega !

É hora de dar lugar a outra maioria, à competência, ao mérito, é hora de acabar com o partidarismo, com o amiguismo, com o seguidismo, é hora de mudança, uma mudança salutar de que o país há muito anda necessitado. É que a classe política instalada no sistema deixara de ver o país, só tendo olhos para os seus interesses, as suas negociatas, as suas manigâncias, para o chefe, o cacique, o partido. É hora de salutarmente mudar a agulha, mudar de linha, mudar de rumo.

Não temam, concedo que o CHEGA cresce rápida e aleatoriamente, avançando às cegas e à bordoada pois lhe fecham caminho na AR e lhe barram espaço na comunicação social, é também sabido que no seu seio se atropelam interesses e vontade dispares, mas nada disto é novo, existe transparência, tudo se vê, e se primeiro foram as dores do parto, são agora as dores do crescimento a dar nas vistas. Mas o caminho será trilhado, uma vez o rumo traçado o caminho far-se-á, caminhando, porque o caminho se faz caminhando e nós nos faremos caminhantes dele e nele.

Porque estou no CHEGA Lúcia ?

Por tudo isto, porque sou democrata, porque me conheço, porque sei do que sou capaz, porque tenho boa imagem de mim, porque me julgo boa pessoa, porque defendo a igualdade de oportunidades, porque como muitos outros não me senti representado nem me identifiquei nunca com nenhum dos partidos do sistema, os quais vivem numa cegueira e endogamia doentias de que agora se queixam. Porque quero colocar ponto final na corrupção que grassa por todo o lado como a merda de cão nos passeios, porque me senti traído como traídos se terão sentido as centenas de milhar de portugueses obrigados a procurar lá fora o lugar ao sol que aqui lhes foi negado, porque não quero ver subsidiada a vinda de imigrantes quando tudo fizemos para negar aos nossos o seu próprio país.

Neste capítulo concedo que me tornei patriota, nacionalista, porque os portugueses não são números nem são para abandonar à sua sorte, porque como muitos de vocês eu quero um Portugal grande de novo e nele, os portugueses primeiro que todos. Porque quero deixar no CHEGA o meu esforço, o meu empenho cívico, o meu saber, a minha marca, os meus genes, o meu ADN.

Hasta La Victoria siempre Comandante Che Guevara !

A revolução está aí, cumpra-se ou morramos nela !

Não a revolução de Abril, mas a revolução do CHEGA.

A chegada do CHEGA mais não é que o resultado de quarenta e cinco anos de democracia de pantomima, de pechisbeque, e agora admiram-se ?

Não havia nexessidade.

Não havia, mas agora há …


LER TAMBÉM : - https://mentcapto.blogspot.com/2020/02/631-chega-para-ca-chega-para-la.html

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

629 - A taverna do Rato Bicho*, o Hélio e a Patrícia …

Arredores de Linköping

O Rato Bicho nem estava cheio de rebentar como é costume nos dias em que servem cozido à portuguesa, um prato típico alentejano, muito vulgar mas ali muitíssimo bem confeccionado, ricamente acompanhado e bastante apreciado, que porém tem o condão de atrair clientes como a merda atrai as moscas.

Se bem que as mesas estivessem todas ocupadas, não havia, todavia, gente em fila de espera que nos apressasse, pressionando-nos psicologicamente no sentido de despachar o almoço de molde a deixar a mesa livre para quem estivesse a seguir, pelo que a conversa fluía natural e livremente.

A páginas tantas, ou será melhor dizer entre as entradas e o primeiro prato, o Hélio aproveitou uma pausa nos nossos treclarec e mastiganço para colocar na berlinda a questão que verdadeira e profundamente o atormentaria;

- Pois é. E então a senhora, a Fátima, desculpa Baião, desculpem-me, mas ainda não estou à vontade com ela, com a Fátima, mas é mesmo sueca ? E ela percebe mesmo o que estou a dizer, percebe-me bem Fátima ?

Vi logo que estava aliviando nele o receio costumeiro e vezeiro de, lá para o fim do almoço, uma vez emborcados os jarros de vinho da casa, largasse inadvertidamente uma ou outra palavra menos própria, esquecendo haver ali senhoras, e sosseguei-o, pois ela, a Fátima, alvo de tanta atenção e curiosidade, contorcia-se com o incómodo sentindo-se pouco á vontade, fenómeno aliás já de mim conhecido.

- Sueca dos sete costados Hélio, respondi-lhe. Mas está integrada, pois encontra-se entre nós desde os seus vinte e poucos anos ou menos ainda, razão p’la qual praticamente fala e pensa somente em português.


Em boa verdade a Fátima licenciara-se cedo no seu país, na sua terra natal, Linköping,** uma cidadezinha de nome impronunciável a sudoeste de Estocolmo. É um país diferente a Suécia, onde o ensino é não só diferente do nosso como bastante eficiente. Filha de mãe sueca e pai português fizera-se Engenheira do Gelo, uma qualquer especialidade que eles por lá têm que os ajuda muito e lhes dá muito jeito, mais jeito que os nossos engenheiros agrícolas já que nem agricultura temos e, de forma algo curiosa para nós, simultaneamente estudara também enfermagem.

 Lá estudam o gelo como nós não estudamos as terras. Avaliam da sua solidez e consistência, refiro-me ao gelo claro, a sua formação, e concomitantemente a das neves que os originam, dos seus depósitos, camadas e avalanches, que provocam e controlam para as gerir, evitando danos maiores como cortes de estradas e caminhos de ferro ou a morte de pessoas, passíveis de por elas poderem ser soterradas.

- Mas veio cá parar abaixo, isto aqui é mais quentinho e que diz ela de Portugal e do Alentejo Baião ?

- Sim ela andou sempre cá ou lá, ou lá ou cá, mas o que a fez escolher o nosso país foi um acidente que ainda muito nova por lá sofreu. Uma vez saltou de paraquedas no alto de uma montanha afim de colocar explosivos e gerir uma avalanche, acabando por cair sobre gelo fino que, abrindo-se, a engoliu numa fenda enorme. Foi uma queda de trinta metros que só não foi pior porque o cordame e o velame do paraquedas a ampararam, ainda assim a pancada e as dores acabaram-lhe com a carreira de engenheira do gelo mal a tinha começado.

- Por isso Hélio não te admires, digamos ter vindo convalescer para cá, gozar do nosso sol e trabalhar na empresa do pai, no Porto. Era ainda muito jovem, mas tendo sentido necessidade de integração, de socialização, aleatoriamente acabou por colidir com, e aderir ao Movimento Nacional Feminino, MNF, onde rapidamente fazia amigas, facilmente se integrando na sociedade Portuense.

- Xiiiiiii Baião !!!  MNF !!! onde ela se meteu !!!

Ó meu caro Hélio não sejas parolo, aquelas gentes, digo os suecos, têm uma noção de solidariedade e de coesão diferentes da nossa, vera, efectiva, e que colocam em prática de modo altruísta, de tal modo que o Movimento Nacional Feminino, MNF, a convidou para integrar o corpo de enfermeiras paraquedistas numa das nossas províncias ultramarinas e, mal ela abriu a boca foi contemplada com Angola, onde muito jovem acabou por ir bater com os costados e de onde regressaria dois ou três anos depois para tirar em Lisboa uma especialidade de assistência a politraumatizados, tão forte fora a impressão que lhe causaram os desgraçados dos nossos tropas com quem teve a sorte ou o azar de se cruzar.

- Fogo Baião, admirou-se a Patrícia. A D. Fátima, a Fátima digo eu, não tinha pai para a Rita como por cá dizemos. Eu também estive em Angola, aliás sou de lá, eu e o Kayaka, foi lá que me apaixonei pelo Hélio, e sofremos ou vivemos nesses dias umas aventuras danadas em Luanda, na altura da independência aquilo esteve mesmo muito bravo lá.

- Pois foi Patrícia, sei, lembro-me de me contares as peripécias e temores do Hélio, e olha tão bravo era o ambiente em Luanda nessa altura que ela já não voltou a Angola.

Foi por essa época que a conheci na estrela, onde eu fora operado a um ouvido, foi nesse Verão quente. E foi por essa altura que também ela e a Luisinha se conheceram, a festa de fim de curso das duas fora feita em simultâneo, em conjunto, e ficaram amigas. é uma velha amiga de família, estivemos quase quarenta anos sem nos vermos, sem sabermos uns do outro.

- Sim, então evaporou-se ?  politraumatizou-se ? voltou à Suécia ? Inquiriu a Patrícia ávida de curiosidade.


- Nada disso pá, por cá fartaram-se de lhe chamar fascista, reaccionária, mercenária e outros apodos indizíveis, compelindo-a a abandonar a enfermagem e a enveredar por ir trabalhar para o Porto, voltou à empresa do pai como secretária e tradutora, casou-se, teve dois filhos lindos, diz ela, divorciou-se e desapareceu do radar. Por esse motivo só de tempos a tempos trocávamos impressões ou um cartão de boas festas.

Isso também aconteceu com muitas amigas e amigos meus Baião, bem, a uns ou nunca mais os vi ou nunca mais soube nada deles, ou só de quando em quando nos vemos, a vida separa-nos, trama-nos, é dos livros, acontece-nos a todos, e sim esse Verão quente foi mesmo quente, não me admiro que tenha passado por isso, por muito menos houve gente a passar por coisas piores, é a vida, foi, mas por essa altura todos os ânimos andavam exaltados em demasia, isso é verdade.

A bem dizer só a doença da Luisinha a traria de modo mais frequente até nós Patrícia, efectiva e tristemente há males que veem por bem costuma o povo dizer, já eu quanto a isso calo-me para não errar, nada digo, não digo nada para não sair asneirada.

- Então a pintura na capa do livro... Disse a Patrícia.

Sim, a Fátima pinta ou faz que pinta e essa capa resultou dum quadro em acrílico que a Fátima oferecera à Luisinha, depois disso soubemos tinha sido operada à coluna devido à tal queda dada há quase cinquenta anos e as relações reataram-se com mais afinco. Se quisesse ser inconveniente diria ter-se tratado de um surto súbito de solidariedade na desgraça, a Luisinha também tivera a sua recaída por essa época, causada pelo cancro da mama e que na altura julgávamos ultrapassado…


- Pois, pois, recaída tiveste tu pois houve quem te tivesse visto a falhares o degrau do Rato Bicho e a ser amparado pelo senhor padre Ramalho…


Uma jóia de homem ! Almoçou connosco, almoçou na nossa mesa, quanto ao meu estado de saúde nesse dia alegarei em minha defesa ter passado a noite anterior acordado e agitado, não dormira, e apesar de não ter dormido não caí, tive a sensação a emoção, estremeci, estava cansado, mas também estava muito excitado e muito feliz, não chegou a ser uma queda, não passou de um susto…  


           Coisas da vida ...




https://www.facebook.com/Restaurante-O-Rato-Bicho-1054631951232728/


** Linköping -  https://www.google.com/search?q=LINK%C3%96PING+su%C3%A9cia&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjLtZW5utrjAhX2D2MBHR-CBxEQ_AUIESgB&biw=1024&bih=625

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

628 - SORRISO, QUIMERA, JARDIM DO PARAÍSO.




SORRISO, QUIMERA, JARDIM DO PARAÍSO…



Volto de novo à mesa do café,
como volta não volta ao jardim do Bacalhau.

O mesmo café, a mesma mesa mas,
até o jardim não é o mesmo sem ti.

São inda sombras tuas pairando por ali,
roço-me nelas como sempre fiz,

ou fizera.

Agora uma quimera o teu riso, o teu sorriso,
o mesmo posso dizer do jardim do Paraíso.   *



* Jardim do Bacalhau ou do Paraíso,  no Largo do Paraíso, 
  ali ao "Farrobo", em Évora, dois nomes para um mesmo jardim.







sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

627 - POEMINHA A LEMBRAR BELISÀRIO



Enquanto durar a mágoa ardente, nem lhe fará frente a felicidade urgente que experimento e vivo, ambas digladiando-se na terra de ninguém, neste meu peito, trincheira profundamente aberta, longo pranto.

Ferozmente se enfrentam, ora avançam ora recuam, tremendo eu, estremecendo c’os recontros, balanço, não tombo, tento o equilíbrio, ora tomando partido ora hesitando.

Ouço o clarim, os cascos dos cavalos, a carga da brigada e emudeço quando troam os canhões, quando avanço não esmoreço, olho-me e, umas vezes eu, outras outro eu, serei sempre eu mesmo erguendo este estandarte, vivendo este contraste entre quem fui e quem sou, entre o que vivi e o sonho que persigo.

Persigno-me, após aturada genuflexão ponderada reflexão prostrou-me no chão, chão que ora piso ora me foge debaixo dos pés e eu, buscando-me, vejo-me mas não me alcanço, ou procuro-me e não me encontro e,

balançando à deriva neste mar de desencontros que é a vida, eis que diviso tábua de salvação a que me agarro como um náufrago, bóia a que lancei mão e na qual me apoio esperançoso e crente de que,

Nossa Senhora de Fátima acolherá este ateu agnóstico no seu regaço, porque são rosas Senhor, até aqui só têm sido rosas e nada se opõe a que doravante assim não seja, 

pois desde que haja vontade e ensejo para tal até em cima ou no exíguo espaço d’uma agenda coiso e tal, afirmava o juiz Vidigal, homem experiente e expedito ou não fosse dele este dito.

Feito e dito ou dito e feito, resta esperar o resultado, o proveito, aguardar serenamente, esquecer casa em Benavente e continuar confiante, soprando a bóia, inflando a esperança, projectando a vida, sarando chagas e olvidando mágoas, quais cicatrizes que, 

podendo não estar cá sempre cá estarão, recordando e lembrando quão rica de pormenores é a vida e nós meras formiguinhas, vogando à deriva numa casca de noz, sobrevivendo, curando chagas, abafando mágoas, aprisionando prantos, acreditando que entre encantos e desencantos, entre encontros e desencontros, havemos de vogar felizes e contentes com a sina que a cada um fadou, 

ou o destino lhe destinou, como quem passou incólume entre os pingos da chuva e se não molhou.

Mentira, e a prová-lo estão as cicatrizes que arrastamos, as visíveis e as invisíveis e, por muito que as escondamos e calemos, elas aí estão, quando menos esperamos gritando por nós e denunciando-nos, 

porque não há almoços grátis, tudo tem um preço, um custo, e esse custo mor parte das vezes fica-te inscrito na pele, no ADN, e torce-te, molda-te, verga-te, e depois?

Depois são as inexplicáveis atitudes que em ti ninguém entende, e por vezes nem tu mesmo, é genético, é hereditário, é congénito, é-te intrínseco, é fruto do teu carácter, da tua personalidade, do teu feitio, dos teus modos. 

São as tuas taras, as tuas manias, as tuas pancadas, as tuas pancas, daí a bóia, a necessidade da bóia, de um colete de salvação que te salve a ti mesmo de ti, para que haja onde te agarrares e sobrevivas.

Por isso a necessidade de esperança, de devoção, de fé nos segredos que a vida encerra e neles creias, neles, acredites, é forçoso acreditar, confiar, para que sintas confiança e avances, para que o terreno pantanoso se solidifique à medida que avanças, que caminhas. 

Que marques a direcção, o rumo, e não hesites, que dês o passo.

Carregas em ti anos de experiência, portanto ousa, não temas, confia, crê, e cria uma brocha, uma boneca de trapo, um esfregaço com que cauterizes as feridas, um bálsamo para as chagas, láudano para as mágoas, um lenço para o pranto, e ergue-te, caminha, vai.

A felicidade constrói-se, por vezes mesmo sobre os escombros de tudo que vivemos e, sendo preciso, é começar de novo uma vez e outra se necessário …

Verdade ou não Belisário  ?