domingo, 31 de março de 2019

588 - CONCENÇO HORTOGRÁFIQU, by M L Baião*


Qrida Matilde, desta vez sou a respondere com preça antes que a opurtnidade pace. Noz por cá vamos indo umas vezes, outras vindo, como o trabalho, que uma veses tem avondo outras não, emfim, é o que Deus quere, mais amais, do modo que alguns trabalham, mais valia pagar-lhes pra nada fazerem.

Mal por mal, talvez o çaldo fosse positivo, agora já nem estragam nem empatam, maior perjuíso portanto nam darãm, pelo que foi a corage de dar a certa gente um grito, que todos houviram, assim mais para uma orde para que, por favor, nam trabalhem mais !

Foi um favor que nos fizerom, entretenhamsse com brinquedos que vem ai o Natal, e eu sempre dice que o nosso quintal estava cheio de gaiatos. Mal de quem nam quis querer, agora aturem-nos que é pra doer. Mas a cosa ia mesmo do piorinho, já nam vai durar felismente.

E nesta maré que acaben cum a nuvela da Casa Pia, cum a tristesa e as consequensias e resultados da sida, co primero prémio em númbero e desgrassada dimenção da toxicopêndencia, ca eterna briga entre istriónicos e renovadores, felizmente já em fim de cena, nam se ouvirá falar deles dentro de um ou dois anos.

E ca parvoisse de na acetarmos a clunagem e isto quando nem pintos sabemos crear. O nosso pequenino univerço tornou-se cafquiano, como dice o senhor cura, já se afirma à boca fechada que a moeda má expulsou a boa porque à boca pequena os zuns zuns tinham á muito dado duas voltas ao mundo, por este andar é que nam se via adonde isto ia parar filha.

Os culegas de escola zangaram-se entre si, onte por cauza de um peão, amanhã seria mor dos berlindes, o prefeçor é que teve razão, de tudo lavou as mãos, um dos catraios, pensava ter celado um alazão branco e partido á desgarrada, disia-se alvo de preseguição, houge teme que o prendam numa sela imunda, de balde a sua proveta origem.

Talvez fouce a sua sorte, pois avia para aí quem, pudendo, o cosia em banho maria, mais que visto está que o gaiato nam éra bemvindo. Nada averia a temer nam fosse darsse o cazu do homem ser por certo filho de um parto dificil, salvo decerto numa incunbadora, mas chamar-lhe abroto eu não xamo pois como sabes em Portugal o abroto é proibido.

De fato nam gostei eu e porvavelmente muito mais gente, têlo visto na Tv, com ar de vitima e uma aspersão de incredulo, chatiado com todo o mundo, em especial com os seus, os mesmos que ainda nam à muitos dias, de modo assás concençual coletivamente o aviam aplaudido. Esta situassão era de perver, ou nam conhecê-se a gente o mesmo homem que, em cede própria tanto se ilodiria o que groço modo me leva a querer que ele nam conhesse nem a circuncizão eleitoral em que se mechia.

Acredito que aonde quer que seja e qualqueres que sejam os interrogados já estiveram provas da sua desmedida ambissão e purpensão a pour em prática nada mais que a sua desmedida disperção do realmente, coisa que, se lhe preguntarem, jurará abuminar. Mas, pirlimpimpim, na minha terra é assim, apezar de muitas de nós nam terem eça persecção, a verdade é que tudo muda com abnegassão de uns quantos, mas ochalá nam fique tudo na mesma ou piore sem que a nossa pacividade incomode quem mais nam faz que, num paço de magia, limpare o pó da estrada com uma camurssa.

Nam estou muito de acordo é com essa história de 'haver que ser çulidários nesta caminhada", e sobretudo "saber pradonde vamos", do modo como a couza foi colocada, dá para pençar se nam terá avido momentos em que o nam fomos e momentos em que nam soubemos para onde ir, mas consedo o beneficio da dúvida a esta questão, já que alguma cosa terá falhado para que estejamos pior agora que á década e meia atráz.

Pençativos e cossando as cabeças deviam andar os que o pormuveram ao lugar em que se encontra, estiveram bastante tempo para pençar e muito quem os aconcelhace a nam se meter no inbróglio mas, errar é umano, talvez cressem que o homem trazeria o paraiso. Mas dói, tanto que agora, até o conssenso hortográfiquo está sem acordo, os palopes e o Brazil nos paçaram a perna, entretidos que andamos com os desvairios de ânus e ânus de erros políticos que, dis quem sabe, se pagão caros.

Esta carta já vai longe, vês que eu tinha rasão, prá semana falamos, adeus e até se vermos. 
* By Maria Luísa Baião, escrito terça-feira, ‎30‎ de ‎Novembro‎ de ‎2004 pelas ‏‎19:41h

587 - FLORES DE AMENDOEIRA, by Luísa Baião *


É domingo. A solenidade do dia e o frio quebram-me as rotinas. Uma procissão não saiu ao adro. Eu teimo mas, o sol retraiu-se e tive por momentos de aconchegar luvas e cachecol. Enganou-nos a todas este astro tímido, brilha mas não aquece e o povinho, que nada parece esquecer, afirma há muitos anos tal coisa não se ver. Verdadinha que se não vê, pior, sente-se na pele e de tal modo que, tiritando mas gozando os luminosos raios em que me enleio, não evito, por ser domingo, o meu passeio habitual.

 Já lá vão três bicas, bebidas como brasas com que procuro alimentar a fogueira ou a fornalha do meu viver. Vou desandando, percorrendo as ruas e escolhendo os passeios matizados por este sol que me refresca enquanto, delícia das delícias, no céu, o arco-íris nos abençoa. Derivo para o campo. Algumas flores, como eu transidas, ou se quedam como avezinhas inactivas nos canteiros que soalheiros ainda não foram este ano, ou, envergonhadas fecham-se em copas e não desabrocham por represália o encanto das suas pétalas e cores. Poucas são as que, nem quedas nem mudas e apesar de pelas geadas tolhidas, se arrogam um ar de sua beleza.
  
O tempo anda cambalhotando o planeta, qualquer dia rotações transladam-se, cortam-nos as vazas numa mão para que não tenhamos naipe. Emissões e poluições irão traçar-nos ao arrepio os hábitos futuros. Por enquanto nada parece acontecer neste cantinho para além do frio sofrido. Enrolo-me em mim e continuo este passeio de passos perdidos. Rumo além onde, iludida pelas cambalhotas que damos, uma linda amendoeira como pavão que há muito não vimos por estas terras exuberante mostra o seu leque de ramos floridos.
  
Há cores que acalmam, a amendoeira sabe-o pois nos suga com seu hálito. Não estou só, muitas outras debaixo dela se acolhem sorvendo um odor idílico que nos aquece a alma e gela o nariz. Batemos os pés, esfregamos as mãos e, de luvas, todas, tentamos apanhar o ar expirado, nuvem dissipada no gesto que enreda as conversas e une os propósitos. Ao abrigo desse halo celeste trocamos conversas como se nos conhecêssemos há muito. A amendoeira, de ramagens de malha larga a todas envolve e enquadra, ninguém perde o astro-rei, nem o aroma desse turíbulo natural, qual incenso de rosa pintado que todas, enlevadas gabamos.

O ar, aromatizado mas frio não cresta contudo o diálogo. Todas escusam admitir porquê mas sentem-se agora menos frustradas, oprimidas, expectantes, como se do abraço destas amendoeiras fluíssem apaziguadores esteios que, nos dias que hão-de vir sosseguem ânsias e crispações urdidas, assimiladas por um Inverno em turbilhão e que como ele nos trocara as voltas.

 Ensejo roubar ali mesmo um ramo florido, retraio-me, a árvore é nossa, é de todas, em vez disso fecho os olhos, respiro fundo, trancando essa recordação enquanto, uma vez mais, suspiro de alívio por o tempo estar a mudar.
  

* By Maria Luísa Baião, escrito quinta-feira, ‎3‎ de ‎Março‎ de ‎2005, ‏‎pelas 11:57 h

sexta-feira, 29 de março de 2019

586 - SACRO SACRÁRIO, CHAGA ARDENTE .........


Lembra somente os bons momentos dizes-me tu, mas todas as histórias de amor são no final também de dor. Comprazo-me com a dor das saudades que lhe tenho e castigo-me, como se suportando esta dor cauterizasse a ferida deixada aberta pela sua perda.


Sim, suplicío-me com as saudades de ti, com a dor que em herança me deixaste, esta chaga onde, dia sim dia não, quando não dia sim dia sim, escarafuncho em busca da catarse que me libertará da tua imagem, da tua lembrança, das memórias de ti, deste amor que há muito te erigi e não se apaga.

Sofrer é amar-te, dar a mim mesmo testemunho e fé do meu amor por ti, amar-te é sentir-me feliz por esta dor já que nada mais ficou de ti, no teu lugar, digo ocupando o teu espaço, o espaço que era teu.

Chaga, dor, memórias, lembranças de ti que, por melhores que sejam me não aliviam, antes crestam as horas de insónia em que mergulho recordando-te na vã esperança de esquecer-te. Debalde passo e repasso em revista situações e momentos passados, inesquecíveis e irrepetíveis, inda que procurando iludir-me a mim mesmo, como se essas memórias pudessem substituir a dor lancinante da tua perda ou preencher o vazio que a saudade cava fundo no meu peito, fazendo-me reagir a todos quantos me cercam como um animal ferido, sempre assustando e afugentando quem ouse aproximar-se ou condoer-se ignorando o quanto me compraz esta dor por ser o que me resta de ti, dor que protejo e acarinho com a mesma fé que um devoto dedica à sua crença, e crente de que enquanto esta chaga pontificar em mim és tu quem nela vive fazendo de mim morada, fazendo de mim sacrário.

Talvez por te trazer no peito, qual relicário, me toquem tão fundo as alusões a ti e me firam como um estilete quaisquer frases, quaisquer músicas das que ambos tantas vezes ouvimos, por mais pequenas que sejam, quaisquer ditongos, nomes, pronomes, sílabas, substantivos ou adjectivos, até os que de modo meramente fugaz ou casualmente me tolham, de frente ou de través, directamente ou de soslaio, despertando em mim reflexo, reacção e defesa na protecção do teu nome, do espaço que ocupas em mim.

Fica meu amor fica no meu peito e em minha memória, nunca te sintas constrangida, faz de mim a tua casa, tua guarita, não serei digno de ti mas sussurrai-me uma só palavra e minha alma será salva deste tormento tamanho, desta agonia sem fim.


sábado, 16 de março de 2019

585 - TÃO LINDA, É SUA ? ‎ by Maria Luísa Baião *


Olhou-me cabisbaixa, contrita, e disse-o tão suave e carinhosamente quanto o meu instinto permitiu adivinhar. Oriunda de uma terrinha do interior alentejano tirara com denodo, sacrifício e óptimo aproveitamento um curso de relações internacionais, crente e ciente, então, que a Europa, o nosso desenvolvimento, a internacionalização das nossas empresas, o mercado de trabalho, exigiriam dela, da sua juventude, da sua formação, um contributo rigoroso que aliás estivera preparada para abraçar como entrega a uma causa.

Transparência, ingenuidade e inocência eram de tal modo visíveis nela que me sensibilizou a sua timidez, ou vergonha.

- Sim, é minha ! Mas não minha filha, é a Leonor, minha netinha ! Os pais estão acolá !

Nem sei o que nos aproximou, sem dúvida que a menina mas não só. Compráramos ambas laranjas, queijos de Serpa, enchidos. Nisso os nossos gostos eram muito idênticos e decerto ao chegar a casa as duas constatámos nem as laranjas terem valido a pena nem os queijos, que de Serpa só tinham o nome. Azares, azares que vão permitindo a uns quantos ir sobrevivendo até ao dia que não consigam enganar ninguém. Mas, como todas sabemos, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.

- É a D. Luísa não é ? Reconheci-a do jornal…

Encontráramo-nos mirando do paredão as águas infindas de Alqueva, cuja cor nesse dia ligeiramente enevoado se colava ao céu azul plúmbeo, num dos fins-de-semana do passado Inverno.

- É uma menina muito linda sabe… há tanto que sonho com uma bebé assim…

- Então, volvi eu, problemas ?

– Não, não é isso, a vida sabe. Esperámos quarenta anos por esta barragem, já aceitei que terei que esperar outros quarenta pela minha vez, e não creio em milagres quando chegar aos setenta.

– Credo minha filha ! Permita-me que a trate assim, deve ter a idade do meu filho. Que se passa consigo !?

O tempo fora passando, ela vira passar as oportunidades à esquerda e a vida à direita. Tudo lhe fugira debaixo, não das mãos, com as quais nada agarrara vez alguma. Um namorado que já fora noivo e com quem aprendera, lado a lado nos bancos da escola a escrever continuava escrevendo, todavia sem prometer já o que quer que fosse, tão pouco lamentando sonhos desfeitos ou erigindo outros, ou novos, mantendo-a arrependida de o não ter acompanhado com a bússola apontada aos antípodas, a Nova Zelândia, onde o agricultor que fora e a necessidade de ocupar os braços e o futuro o haviam conduzido. Também a família deste se queixava do espaço entre notícias, atribuindo a uma tal inglesa as razões para o desiderato, fechando-se em copas, olhando-a cada vez mais como uma coisa esquisita, sem préstimo nem mais valias ou vantagens adicionais, comparativas ou intrínsecas, comoditties, como agora ou hodiernamente se diz que pudessem valer-lhe ou justificar para alguém nova deslocalização. Enfim, do que ouvi o seu homem globalizara-se, eclipsara-se.

E ela, ainda jovem, e ela ainda linda, viúva por antecipação, licenciada por opção, e, desculpem a franqueza, parva por consideração, fidelidade e lealdade não percebi bem a quê ou a quem, vendendo pão num comércio abastecido por um padeiro da Vidigueira. Imaginem só se não se tem licenciado, provavelmente venderia hortaliças num lugar às ditas dedicado já que no Alentejo profundo essa vertente e tecnologia associada ainda sobrevive.

Lembrei-a porque recebi esta semana via Diário Do Sul um e-mail de um lugar onde jamais esperara ser lembrada. Ercília, assim se chama a minha última amizade e protagonista desta história, encheu-se finalmente de coragem e esperança, arregaçou as mangas tendo rumado há meses para o Canadá, onde tem uma antiga amiga sua colega de curso, há anos instalada como relações públicas de uma companhia aérea. Ercília é hoje secretária numa empresa importadora de atoalhados, secção dedicada aos têxteis portugueses, ganha bem, virá imensas vezes a Portugal, ocasiões em que a par de negócios matará saudades, tem um colega mexicano a arrastar-lhe a asa e…

Olhem, nem queiram saber como fiquei feliz !

Bons partos Ercília !




* By Luísa Baião,‎ escrito quinta-feira, ‎3‎ de ‎maio‎ de ‎2007, ‏‎16:26h e provavelmente
publicado no Diário do Sul, rubrica "KOTA DE MULHER" nos dias seguintes.  

sexta-feira, 15 de março de 2019

584 - MULHERES ANTES DE NÓS ... Expo Filipa Guerreiro no New Concept Coffee & Shop. Évora.


Nunca soube o que vem de dentro e transborda para fora das palavras, a não ser o que ficou por dizer e portanto não foi dito, por isso às vezes o digo, o impensável, o inaudito, o inusitado inesperado. Tendo sido o que fiz ao olhar na direcção certa e me deparar com o quadro número 5, que me não arrepiou a penugem dos braços mas provocou em mim indizível gesto de pálpebras.

Recuei uns passos para o olhar e focar com maior acuidade e, ao fazê-lo recuei igualmente umas décadas nas minhas memórias, amparei-me na cadeira junto à mesa sobre o dito quadro e ali fiquei contemplando-o, a lembrança sorrindo e a esperança a boiar no brilho dos meus olhos, galvanizados pelo ritmo africano e dissonante a duas batidas com que há cinquenta anos acompanhava a cançoneta que toda a maralha soletrava cada vez que surgia uma vedeta ou uma lambreta;

- Eu vi a B.B. na estrada marginal / montada numa Lambretta e mostrando o material…

cançoneta que não sendo nada de especial se propagava entre a rapaziada como fogo em pasto seco, deixando-nos na alma um aconchego e ponto final parágrafo, não vá a Margarida outra fotógrafa com tendências para gramática lixar-me o juízo ao ler isto. Ponto final parágrafo. Passemos pois aos parágrafosinhos pequeninos, mais facilmente tragáveis e digeríveis, diria por sua vez a Rebeca que pontifica na cozinha de um restaurante onde vou muito.

 MULHERES ANTES DE NÓS, uma exposição fotográfica de Filipa Guerreiro em mostra no New Concept Coffee & Shop, seduziu-me ou empolgou-me o suficiente para me prostrar ante o quadro 5 e depois percorrer com atenção todos os quadros restantes, anteriores e posteriores, debruçando-me sobre cada um e cada uma das mulheres neles retratadas, muitas delas minhas conhecidas, nossas conhecidas, nossas velhas conhecidas, de outras eras, de outras cenas, d’outras vidas.

Só não sei quem seja a Filipa, cuja ternura é bem vinda e se encontra plasmada em muitos daqueles quadros, em especial naqueles onde as rendas e rendinhas têm uma palavra a dizer, sabido como é sucumbir eu a esse artifício de filigrana de que a sensualidade se serve para nos cooptar, quando não arrastar ou prender por um fio, por uma guita, qual balão inflado de erotismo e vogando nos céus de um materialismo imagético cujo portefólio eu e todos arrastamos com maior ou menor discrição.

Pois saibam vossas excelências que foram nem mais nem menos essas rendas e rendinhas quem me levou numa viagem absurda a um passado que inda hoje recordo, Paris, loucura, anos vinte, “Casa Phundada em 1927”, Kermesse de France, Phragrancias de Europa para a mulher ideal, assim mesmo, com ph, montra em vidro negro biselado a dourado, decerto da mesma idade, Paris, loucura, anos vinte, Casa Phundada em 1927, ta explicada a coisa, a coisa e o estilizado novecentista de uns lábios e de umas pernas no vidro da montra, cujo significado demorei séculos a entender, os lábios retintos de vermelho da velhinha, teria sido bailarina ? Aprumada, arranjada, linda, já não há velhinhas assim, um dia plof e a loja para trespasse, mais uma que se foi… *

Ta explicada a coisa, a coisa e o estilizado novecentista desses lábios, os lábios retintos de vermelho da velhinha e de umas pernas no vidro da montra, cujo significado demorei séculos a entender ou seja, tudo isso e a mulher ideal que nunca conheci se me gravou na mente quando do meu exame de acesso à escola preparatória, e nunca mais eu ou somente mais tarde eu ... *

Casei mais tarde com uma santa mulher, mas a mulher ideal nunca, ainda hoje sonho conhecê-la, não passa de um sonho, já nessa época a Europa só sonhos e a única verdade que lembro é a mesma senhorita linda que desde esse exame segurava o leme ao balcão da loja, magra como um fuso e elegante que nem bailarina de can-can, teria sido bailarina ? *

Rejubilei ante o quadro 5 e tantos outros, e as rendinhas, e os remates, e quando acordei mirei tudo com redobrada atenção, já que assisti in vivo à ressurreição de um passado agora sem os limos nem as cores esverdeadas que os náufragos e os mortos invariavelmente arrastam ou trazem agarrados a si quando com uma fateixa os puxamos para quaisquer margens. * *

Dito e feito num ai, propositadamente me depeniquei p’ra me confirmar acordado, pois se tratava novamente de caso único nos anais do esoterismo, cujo karma decerto atrevidamente me convocara para testemunhar a aura e espalhar a palavra, o conhecimento e a luz emanadas por mais esta exposição. Saibam portanto os eborenses e outros habitantes deste mundo que nem a “Kermesse de France” morreu, está viva, vivinha da Silva, ou da Costa, mais linda que nunca e recomenda-se, nem o New Concept Coffee & Shop deixou a sua veia ou vertente cultural por mãos alheias tendo voltado a surpreender-nos e a brindar-nos com mais esta peculiar, linda, aparatosa, rara e insólita exposição. * *

Portanto passai palavra ou copiai e partilhai este edital e fazei saber a toda a gente que no New Concept Coffee & Shop vos espera uma inaudita e espectacular exposição e uma bica, e que a Kermesse de France, Phragrancias de Europa para a mulher ideal embora não tenha já a singeleza dos antigos dizeres, ou biselados dourados, mantém contudo as prateleiras preenchidas de aromas de encantar, filhos dos mais famosos narizes do mundo segundo tive há tempos ocasião de constatar embora não tendo logrado rever a tal velhinha guardada nas minhas ainda mais velhinhas memórias, precisamente quando eu um catraio e ela velhinha coisa nenhuma… 

           Ainda hoje recordo tudo menos a mulher ideal e a única verdade que lembro é a mesma senhorinha linda que desde um meu exame segurava o leme ao balcão da loja, magra como um fuso e elegante que nem bailarina de can-can, uma mulher esbelta e linda gravada, biselada a dourado nesta minha retorcida mente… * *


https://mentcapto.blogspot.com/2015/07/255-fragrancias-de-ontem-e-de-hoje.html

** https://mentcapto.blogspot.com/2012/12/135-evora-era-mais.html







sexta-feira, 8 de março de 2019

583 - SOLIDÁRIA, NÃO SOLITÁRIA... by Maria Luísa Baião *


Inquieto-me, em sonhos revolvo a cama. Mesmo a dormir quem me guarda, mau grado muita tisana teima sempre em me acudir. Será porventura algum anjo que desta forma me abana buscando o senso comum ? Na verdade pesa-me fundo tão triste, tão vil espectáculo com que nos carrega o mundo.

Não aprendemos ainda como escrever alegria. Teimamos quais formiguinhas num esforço assaz inglório, embrulhar em fantasia a lufa-lufa diária de nossas singelas vidinhas.

Não entendemos ainda como construir um jardim. Cavamos fundo na alma pois não sabemos que a calma é provinda, via aérea, do aroma do jasmim. São flores etéreas e lindas, não lançam grandes raízes mas alimentam felizes, as que desde mui petizes descobriram ser assim que se geram, quais tenazes, eternas boas vontades e se criam amizades.

Sonho. Percorro um mar de lilases. Estendo o esforço e a razão até ter forças capazes de te acudir, dar a mão. Sou fraca como o lilás, mas como eu qualquer uma desde que o queira é capaz, de imitar esta maneira de pôr em tudo que faz, uma solução eficaz, resultante e prazenteira.

O mundo é já bem azedo, pr’a quem leva o dia-a-dia gizando amanhãs tendo medo. Imaginem só por momentos, que ao invés desses tormentos todas nós num gesto uníssono, como em convés de bulício rumamos contra a maré. Bastará mexer um dedo, crer, ter fé, acreditar, dedicar todos os dias um pouquinho desse querer pr’a ver o mundo mudar.

Quando um arco-íris redondinho riscar os céus delirante, então inda que por um instante, nesse astro galopante seremos nós outra gente. Mais juntinhas à salvação, nos carreiros da redenção e de um futuro radiante. Sentiremos no porvir a consciência contente, nem temeremos ao dormir acordar para a penitência a que o dia-a-dia obriga. Eu que o diga.

É esse esforço mutante o caminho a percorrer por todas que queiram saber o gosto, o aroma, o prazer, da sensação triunfante que se achará a jusante de um outro modo de ser.

A solidão arruína, torna a alma pequenina incapaz de querer, de dar. Mas a gratidão sentida pela dádiva genuína d'os outros nunca olvidar enriquece, enche de calma o sono de quem dormita. E quando a vida é vivida de forma desinteressada, mas em que a dor de qualquer uma que esteja necessitada em nossa mente gravita pr’à tornar menos pesada, podemos então gritar, não que estamos, mas que somos, uma mulher solidária.

É preciso perceber que o mês que está a correr sob este tema tão batido que é a SOLIDARIEDADE, deve ser no meu pensar um mês inteiro a esquecer. O que temos que lembrar é que este tema tão lindo e que a todas é tão caro, não é pr’a comemorar é para fazer valer durante o resto do ano, durante o resto da vida, durante o resto do querer.

O que eu não quero entendam já, é que fiquemos por cá por esta terra tão querida, como ficaram por lá e pelo resto da vida as tristes comemorações dos dias e das cidades sem carrinhos nem carrões, em que um dia tudo anda a pé mas em que no resto do ano se esforçam por demonstrar, quase todas (os) sem excepção, quanto são gente sem fé.

Se é certo que a solidão mata a SOLIDARIEDADE acredite, poderá bem ser a chave do celeiro que a todas (os) farta.

Desde pequena ouvi dizer a quem mui bem o sabia, que a coesão faz a força e só assim se mata caça quem acredite e porfie trilhar por sua autoria caminhos de venturança.

Talvez vá exagerar mas como pr’a vos convencer a tudo vale deitar mão, bem poderá acreditar que, se seguir o meu pregão esbarrará no futuro com toneladas de abastança e um grande grande perdão.

“Solidariedade é caminharmos todos juntos” - Cátia Canelas, 8 anos, EB1, Cruz da Picada, vencedora do concurso “Mês da Solidariedade -  Freguesia da Malagueira” - Évora 2003.
* By Luísa Baião,‎ escrito sexta-feira, ‎16‎ de ‎maio‎ de ‎2003 pelas ‏‎08:19 h e provavelmente publicado no Diário do Sul, rubrica "KOTA DE MULHER" nos dias seguintes.

terça-feira, 5 de março de 2019

582 - TIR@PICOS by Maria Luísa Baião * ...................



Quomodo vales? Scribit ad narrandum, non ad probandum, sine ira et studio. Que nação o meu coração abraçou ? Que razão o meu coração abraçou ? Serão vãos focos, luzes, aplausos, ritmo.

Que nação que não esta tem um sol assim pela manhã ? Vida é babilónia, viver uma insónia. Estás a ver a cena ? Pela rua abaixo, pela rua acima, sempre o mesmo ardina. Por onde entra o sol na peneira ? Como entra o sol na peneira ?

O sistema é um dilema, não será problema quando o dilema é sistema ? Sempre a mesma barulheira ! Sempre a mesma bandalheira ! Nunca haverá caminho se o caminho não for a direito ! Atention ! danger ! Adiante ! Suerte amico cuida-te ! Será culpa minha ? Será culpa tua ? Quem é que ordena ? Quem mais condena ? Quero encontrar a esperança, quando voltará ela ? Quero parar na próxima estação ! Quero mudar na próxima estação !

Quero fugir a esta mão negra, quero correr o meu destino, quero parar apenas e só numa praia, no mar…! Ver perdido o coração, olhar embevecida e gritar;

- Bem-vinda a manhã !
- Não me gritem !
- Cuidado c’o mundo !
- Não me gritem !
- Próxima estação ! Esperança !

Quanto falta para ela? A sangue e fogo a vida será sempre má façamos o que façamos. Qual será a última hora, a nossa última hora, o tempo escoa-se. Carroceiro faz a hora mudar, quero soltar o coração, quero caminhar altiva e segura, segura e altiva que por este solo caminha uma raça.

 Cuidado com a noite, ela ameaça, cuidado com a morte, cuidado com a sorte. A morte vem a sorte vai, já não há que estranhar. Já não espero, é meu destino, já não me enganam. Cresci, amadureci. Vi. Encontro certos dias o demónio, caio sempre na trampa de confiar, não na trampa de amizar, mas na trampa de o encontrar.

Esse negócio me sai mal. Tem cuidado, num país do sul me mato a trabalhar, num país do norte me mato a inspirar. Uma tristeza, longa, que mereci por me agarrar à esperança ? Agora danço assim, já não me engano, vira vira vira vira vira vira vira vira vira.

Que oração cantar ao coração ? A estrela Vega nos guie nesta serenata de ardilas em fantasmática cidade onde, por vezes, dou por mim distanciada, outras esquecida do que sou. Já estou virada ? Já estou curada ? Cá me vou, sempre só com minhas penas, tecendo vivas ao amor que lhe tenho.

Ninguém rouba a Primavera. Não passarão, não, não passarão se não vierem por bem.

- Bem-vinda a minha sorte. Crente, não creio na morte,

- Bem-vindo o amor

sussurrou-me uma cigana, bem-vinda tequilla, macieira e a Maria Joana ! Rádio Bemba… que se passou ? Que passou ? A polícia chegou ! Vai ouvir a Rádio Bemba, presente ! pim ! pam ! Pum !

Cuidado com o barco, não entornes o caldo, como alma perdida neste século, todo mundo nos condena, só desejo correr o meu destino, é desatino ? Que se passou ? Que passou ? O vento sopra pela rua ensaiando uma vaga serenata de amor. Cuidado, ensaiando nos vão dobrando.

Que cidade esta, tem avenidas de amor ! De dor, passemos pela rua, não passemos, não, a mim nada me pára, nada me obriga a mirar, a acreditar.

 Adiante ! Agora danço assim - tira tira tira tira - não quero a morte como futuro, bem-vinda a sorte, o amor, a manhã, para a direita ou para a esquerda, para a esquerda ou para a direita, deixem-me, vou só com as minhas penas.

Corro pela luz, pela esperança, p’la dignidade, paz, saúde, trabalho, independência, liberdade, democracia, educação.

Que nação tem um sol assim p'la manhã ? Vida é babilónia ! Viver uma insónia. Estás a ver a cena ?

P'la rua abaixo, p'la rua acima. O sistema é um dilema, não será problema se o dilema é um sistema. Estás vendo a cena ? Estás a ver a cena ?

Vai ouvir a Rádio Bemba ! **

Será culpa minha ? Será culpa tua ?

Bem-vindo o amor, bem vinda a cigana, bem-vinda a tequilla, a macieira e a Maria Joana !

It deciphers me. 

* Texto dedicado p'la Luísa ao seu querido e saudoso amigo Tirapicos, escrito ‎a ‎20‎ de ‎Fevereiro‎ de ‎2006, pelas ‏‎12:06h, paz à sua alma. Inédito, não existe certeza quanto a ter sido publicado. 






segunda-feira, 4 de março de 2019

581 - SER OU NÃO SER LIBÉLULA by Luísa Baião*



              Eu não sei por que é que nem todas vós gostais de voar, as coisas vistas de cima são tão bonitas ! Acho que é por medo. Por medo de cair. É pena porque lá no fundo, se não se cai também não se vêem os pássaros nem as borboletas e não se vê nem o luar, nem o arco-íris, nem os campos lindos deste Alentejo mirrado.

É que depois, como quem nunca viu nada fica sempre de fora das conversas, porque não sabe sobre o que falar, fala-se sobre o nada, ora só falam sobre o nada certas pessoas... Que falam por falar… Eu gostava de ser libélula, porque as libélulas falam das nuvens ou da beleza do arco-íris, da brancura do luar ou até das flores dos verdes campos enquanto outras pessoas se perguntam;

- O que é isto ?
Eu nunca vi...

e piscam os seus olhinhos míopes.

Certo dia percebi um alvoroço entre os gentios, e D. Coruja, professora que se especializara nas cousas da noite, disse ter visto uma cujo rabo era tão grande que ia do horizonte até o umbigo do céu, bem acima das nossas cabeças.

- Ele vem de muito longe, de muito longe mesmo. 
  Só passa por aqui de 76 em 76 anos...

vem das lonjuras do céu, é um brinquedozinho do sol. Uma espécie de iô-iô. Nós, aqui na terra, somos brinquedos também, somos um grande carrossel, girando, girando, sem nunca chegar perto, sem nunca chegar longe, sempre no mesmo caminho...

Assim falou D. Coruja, que também disse uma coisa que nos fez pensar;

- O cometa tem poderes mágicos. Ele tem o poder de realizar os desejos de quem o vir. Se alguém, ao olhar para ele, de todo o coração desejar alguma coisa, essa coisa acontece mesmo...


        E foi naquele reboliço, cada qual dizendo aquilo que iria desejar quando visse o cometa que desejei ser uma libélula, para estar mais perto do milagre. Mas o milagre só acontece para aquelas que vêem o cometa.

        Eu queria ser libélula e ver as coisas bonitas do mundo. Não havia nada que desejasse mais do que isso. E com esse desejo imenso adormeci. E sonhei. Sonhei com o que mais desejava e nos sonhos os meus desejos se transformavam em realidades. Sonhei com um céu multicolorido, com o arco-íris, e que em redor tudo ficava luminoso e reflectido na água.


Primeiro vi uma gota de orvalho brilhando e os raios de sol partindo-se nela em sete cores, vi pinheiros verdes, o azul do céu, o brilho do sol, um mundo de coisas bonitas. Então compreendi que só querendo os nossos olhos vêem aquilo que o coração deseja.

Quando o desejo é belo, o mundo fica cheio de luz, mas sendo o desejo ruim, o mundo entristece-se...

E qual libélula sobrevoei uma lagoa, folhas que flutuavam na superfície e deslizavam na corrente como leves barquinhos. E vi peixes sonolentos, de grandes olhos abertos, habitantes das funduras. Vi três mundos: o das coisas de dentro, o das coisas de fora, e o dos reflexos.

Não, a magia não era para ver mais longe. O maravilhoso não estava escondido nas funduras do céu nem nas profundezas da terra. A magia era para ver diferente aquilo que os olhos tinham visto sempre, sem ver.

Ah! De que adiantariam olhos de ver longe se eles não tivessem o desejo de olhar o maravilhoso inda que morando perto ? Sim eu estava vendo como nunca antes este mundo encantado, lindo bastante e do fundo do coração desejando sinceramente que nele haja sempre bondade e beleza.

Para mim o milagre aconteceu... E agora sei, porque vi, qual a razão pela qual a chuva cai aos pinguinhos e não toda de uma vez e descobri o lugar onde podemos encontrar as respostas para as perguntas que temos ou a apreciar a poesia de Fernando Pessoa, as sonatas de Mozart, as telas de Monet, pores-do-sol, beijos, perfumes e outras coisas que apenas nos darão felicidade.

Adeus.  **

* By Maria Luísa Baião,‎ escrito ‎ quarta-feira, ‎31‎ de ‎agosto‎ de ‎2005 ‏‎pelas 15:46 horas e provavelmente publicado no Diário do Sul, rubrica "KOTA DE MULHER" nos dias seguintes.


‎** Texto inspirado pelos lindíssimos contos de R. A., colectânea “A Toupeira”

580 - HÁ HOMENS TESOS ! by Maria Luísa Baião *



Ricas férias passei, mas em abono da verdade vos digo que, se do Carnaval de Évora tivesse sabido, teria sido aqui por mim vivido, e não noutras paragens com tamanha antecedência marcado.

Não vale a pena chorar no molhado, até porque molhados estiveram quase todos os galegos dias que em férias andei. Mas valeu a pena, descomprimi, descansei e ri, remédios essenciais a um bom arbítrio dos humores, já que de amores me quer parecer, nunca padecerei.

Ginguei e passeei p’las bandas de Finisterra, lá onde o mar começa e se acaba a terra, palmilhei os “caminhos de Santiago”, o tal que volveu santo, de apelido Compostela, por alcunha o “Mata Mouros”, e que, decerto não por milagre, me poupou a aziagos dias, apesar do tenebroso frio que por todas aquelas cidades se sentia.

Muitos tesouros vi nem todos brilhando de fulgor, alguns, bem poucos com pena o digo, tendo mais a ver com honor e perigo, audácia, coragem, visão, castigo e recompensa, cuja riqueza está mais no que exemplificam e se pensa, que na falácia de quem muito e em vão grita.

Vim contrita, contrita e meditabunda, revendo planos, projectos e, de forma rotunda revendo e reinventado, reinventando e revendo o que nos separa dessas gentes, tão formigas, tão contentes, tão amigas, alegres, nunca displicentes. Hereges não são por certo, visto existir sempre por perto lugar de recolhimento, meditação ou oração, seja monumento ou não que lhes permita sentir, pensar e melhor agir.

Foi em Vigo que espantada,vi uma estrutura criada, melhor, uma escultura moldada por quem dessas coisas sabe. Vigo, cidade entalada entre o mar e a serra, cujas gentes, num truísmo, renegaram o determinismo que esse fado lhes traçava, roubando ao céu o espaço que a terra lhes negava. Testemunha-o essa escultura, que apontando para a altura, dá conta do querer e saber de quem procura a fortuna com seus braços e mister.

Quatro garanhões pujantes, trepando impantes por base que a escultura ergue às alturas em espiral mais do que instável, subindo com virtual ímpeto e quase se atropelando, num equilíbrio precário, parecendo quererem ultrapassar-se na estreita faixa que pisam. Tal milagre termina com o primeiro, o que conduz essa tão destemida quão desabrida corrida, sem chão debaixo dos pés, empinado no precipício que lhe serve de edifício, só lhe faltando ganhar nessa corrida imparável, céu e espaço adjacentes. Que imponentes, que lindos, que vivos, que impressionantes os traços desse artista que a tal beleza deu vista.
 
         Claro, logo ali quis saber o querer de tão nobre gesto em ferro e aço tornado. Pois há pouco que dizer, simboliza tal delícia a vontade de um autarca, de um povo que em terras da Galícia ousou pensar e fazer, ousou trabalhar e querer. 

Simboliza essa expressão, que fado algum parará quem em si mesmo acredite. Que mesmo faltando o chão, nada, nada fará parar quem recuse ouvir um não. Vigo recuperou numa década o atraso que a separava do desenvolvimento de muitíssimos anos que a afastava do resto de Espanha e da Europa. Por cá, muita gente se prepara já para apostar ou penhorar o capital de crédito, o muito ou pouco que lhe resta e quase em cima de eleições.

A ninguém parecemos querer dar nem o beneplácito da dúvida, nem tempo para galgar o precipício, parecemos mesmo mais seduzidas (os) por nos atirarmos dele abaixo que em saltá-lo. Não nos precipitemos, saibamos aguardar………….….………
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* Por María Luisa Baião, escrito el jueves 26 de Febrero de 2004, a las 17:50 horas y publicado en el Diario del Sur, rúbrica "KOTA DE MUJER" en los días siguientes.