quinta-feira, 21 de abril de 2011

41 - OUTRO 25 DE ABRIL?



Ainda não é um bambúrrio, mas que um burburinho atravessa os nossos quartéis não tenhamos a mínima duvida.

Desde que em 74 tiveram a sua dose de protagonismo que os militares não davam acordo de si, embalados primeiro no prestígio e na consideração que alcançaram, depois na dolce vita que o regime sucessivamente lhes foi proporcionando, criaram barriga e maus hábitos.

Saíram agora de novo das casernas, não já para reporem a ordem das coisas, mas reclamando o pagamento atempado do pré, sempre pouco, numa tentativa histriónica para garantirem privilégios que nunca deveriam ter sido continuados, por desnecessários, num pós guerra colonial, guerra cuja teimosia nos exauriu.

Verdade que nem sei para que actualmente nos servem tantos marechais, generais tenentes e coronéis, e por aí abaixo, sabido que, para que se vão os anéis e nos fiquem os dedos, muitos quartéis acabarão por ser vendidos ao desbarato.

Magalas para varrer as paradas já faltaram ás chefias, e, agora que descobriram a possibilidade de não haver pecúlio que lhes baste, temo por nós.

É certo que tivemos um dos nossos pontos altos em Aljubarrota, cuja padeira fez o que tinha a fazer, e que o recuo para o Brasil quando das invasões francesas, foi táctica que nos garantiu uma vitoria sem mérito mas indiscutível.

Concedo terem sido momentos altos da nossa história.

Mas eram outros os tempos, hoje, com três submarinos entre os recebidos e os encomendados, que tomara não venham a ser penhorados por quem os financiou, se metermos um em Alqueva, duvido que os dois restantes nos sirvam para leiloar em caso de ameaça de fominha generalizada, ou até p’ra pescar lá longe o bacalhau, onde dantes uma frota se aventurava, tendo sido paga p’ra nada fazer…

Quanto ao resto do material bélico que nos anima, nem sei se teria venda na feira da ladra.

Andaram mal os militares, pois se em 74 tinham do seu lado toda ou quase toda a populaça, agora, por nem dela se terem lembrado e apenas colocado em causa privilégios pessoais, olhando exclusivamente para o próprio umbigo, ficaram sem o meu apoio e certamente o de outros portugueses que teriam preferido vê-los de novo clamar pelos direitos de todos nós, o célebre povo unido recordam-se ???? … Porque todos nós temos algo a lamentar e nem ao menos as barrigas e honrarias que no entretanto eles acumularam e tanta inveja nos fazem.

Necessidades temos todos, que alguns só deles se lembrem, fez-me lembrar Salazar e a sua divisa de dividir para reinar.

O mal é estas coisas serem faladas, nem o governo nem qualquer tuga com dois dedos de testa, acreditará que sejam capazes de um desiderato qualquer apesar das bocarras do Otelo.

Causam por certo mais mossa ao governo os comentários a propósito passados na comunicação social, que as mal disfarçadas ameaças de levantamentos de rancho a que a sua marcial insubordinação der azo.

Mas não foi pela igualdade e solidariedade que se bateram em 74 ?

E agora seria então pela desigualdade ? Pelos seus privilégios ?

Mas disso estamos nós fartinhos de todo !

Para esse peditório não contem comigo ! Já dei uma vez e bastante arrependido estou !

Assumo ser difícil ter mão nesta gentalha, como em professores e alunos que desde o tempo em que tudo se resolvia à chapada nunca mais nos deram descanso.

Para mais, com ministros que se portaram com civis como se fossem ditadores militares e se portam agora com os militares como se eles fossem civis, nunca mais a bota baterá com a perdigota.

Eu já me ria, passados que são tantos anos, das vãs glórias que o 25 de Abril nos trouxe, e em que, qual trouxa, acreditei então plenamente.

Agora a coisa chia mais fino, não só me admira como se aguenta sem ir abaixo este país, que só pode ser rico por muito que nos façam crer no contrário, pois somente os ricos se dão ao luxo de um desperdício idêntico ao que desde então praticamos desportivamente, como me admira que, passados tantos anos após a revolução das promessas, continuem por resolver senão todos mas mais alguns dos problemas com que então nos debatíamos.

Mas sobre esses problemas nenhum dos nossos sargentos lateiros nem generais empertigados se pronunciou.

Isso é política, e a política é para os políticos.

Estamos bem defendidos creiam-me.

Cai nessa Vanessa!