sexta-feira, 30 de maio de 2014

190 - CHAMAVA-SE MIMI * ......................................


Chamava-se Mimi e cantava só para ele, 
                  E ele chorava... Mesmo em festas, fosse qual fosse a festa chorava ...

E isso ainda hoje muito lhe pesa na consciência em que ancora fundo um complexo de que acredita jamais livrar-se. No entanto desde há muitos anos que Mimi lhe inflava o ego. Tempos idos afagara-o dando-lhe a conhecer a aura de guerreiro invencível que, de quando em vez inda hoje enverga.

Fora criado em ambiente de floreados e jogos florentinos, dominava como ninguém o comando da Play Station e ganhara a admiração de muitos, em especial da recatada Mimi, a quem dedicara todas as suas vitórias. De sua natureza era contudo trapalhão, precipitado, impaciente, desorganizado, o que, mais vezes que desejaria, o teria exposto ao ridículo. Dotado de tão deploráveis atributos não nos admira que Mimi paulatinamente dele se tivesse afastado e, tanto mais quanto mais ele, naufragando, se colava a ela numa ânsia desmedida de se salvar de si mesmo.

Renegado, agarrou-se às hostes de apaniguados e admiradores, gizou um esquema manhoso, coisa nada rara nele, e atirou-se a luta catártica, mergulhando nela despojando-se de tudo, tendo sido durante essa luta purificadora que, interpretando a seu modo a sabedoria de um xamã, fez-se amarrar num totem e, em sacrifício redentor e num apelo lancinante, implorou a ablação dos testículos, certo de serem eles os culpados pelas execráveis palavras e ignóbil atitude com que Mimi o afastara :

- Nem foder sabes e tudo te atrapalha…

Não quiseram os deuses que fosse chegada a sua hora, tendo-lhe sido concedido um período sabático que o rapaz aproveitou com surpreendente empenho e a que se entregaria com denodo.

O moço havia de provar a Mimi, e a todos, ser mais que um desgraçado, para esquecê-la, afogou-se em formações esotéricas, creditou-se doutras aptidões e, c’o desemprego a subir, sem competências que lhe pudessem valer, encaminhou-se p’rá única saída restante e com desesperada paixão e inusitado desempenho abraçou uma carreira politica. Não chegara Hitler a condutor de povos por lhe terem negado entrada em belas artes ? Quem quer e acredita sempre alcança, contassem com ele que estava aí para o provar.

Liderando grupo vasto de acólitos pouco escrupulosos logrou guindar-se a lugar cimeiro, e, num reino de cegos e zarolhos onde ele, com dois olhos verdadeiros, facilmente construiu uma alternativa tecida de fio a pavio em premissas discutíveis, pouco elaboradas e ainda menos aprofundadas que os exames da lusófona, lugar por excelência do seu guia espiritual e de um certo Dux de má nome e pior sina, mas também de outros forçados e doutorados que tais…

Solenemente empenhado em mostrar à Mimi que seria capaz nem ouviu o pai, que muitas vezes lhe sussurrou:

- Toma tacto pá, isto não tem conserto.

Conselhos que não ouviu, tantas vezes quantas a paternal figura lhe tentara incutir juízo. Todavia o que tem que ser tem muita força e ei-lo aí, ante nós, alardeando os bíceps, feito alter-ego e patrono da ignorância que sempre governou o reino. E então foram anos foram dias foram horas de assumpção e desespero, mas conseguiu.

Neste ponto da narrativa terei que dar o braço a torcer porque passou a merecer o meu respeito, não a minha gratidão, mas o meu respeito. Podia ter olhado para o pântano de um pedestal, poderia ter-nos imaginado a todos de tanga com altivez, mas não o fez. Creio que terá sofrido uma desilusão, creio que terá pensado serem favas contadas e afinal saiu-lhe Braga por um canudo, mas não fugiu.

Outros, arvorados de maiores pergaminhos o haviam já feito. **

Não ele, não fugiu, ao invés arregaçou as mangas e lançou-se a fazer o que ninguém ousara desde o Infante D. Henrique o tal da ínclita geração, vocês lembram-se ? Qual D. Sebastião investiu, avançou contra a moirama à espadanada, apresentou um programa, apresentou-se a eleições, e ganhas estas apresentou-se ante nós qual João sem Medo.

Traçou um rumo e uma meta, e, atabalhoadamente, cegamente (como era seu mister fazer antes de implorar a ablação, lembras-te?), avançou aos zigues zagues, aos avanços e recuos, pisando e empurrando, prometendo e abjurando, dando num dia tirando no outro, aldrabando e confundindo, e de tal modo levou a peito o seu papel que acabou acreditando nas mentiras que paria, nas vitórias que não tinha e nas guerras que perdia.

Em terra de cegos quem tem olho é rei, e passou aos óculos, ao ar grave na Tv, aos fatos de bom corte, a limusina e três choferes. Sofreu, torceu-se e contorceu-se com as dores de malabarismos sem igual, mas aguentou-se e, num dia em que todos o davam por perdido e a Europa deu meia volta, ei-lo de novo, já não vencido e, para nosso horror, sem ter quem se lhe igualasse !!

E vencedor !!

No meio do balanço a que votava o mundo o seu saldo nele nem era dos piores, beneficiou da onda negra, do vómito negro da gárgula europeia cujo hausto fétido lhe disfarçou as nódoas e diluiu o bolsado.Tentou convencer-nos, sem sucesso, e virámos-lhe as costas desandando para os quatro cantos do mundo.

Por isso, por tudo isso, calai-vos almas de má fé e pior perder, calai-vos adamastores do reino porque ao leme desta chalupa não vai quem sabe, nem vai Deus, vai alguém mais forte que todos ! Alguém mais forte que Ele, vai quem da tômbola a sorte tirou primeiro, vai quem aos céus as mãos já ergueu três vezes, e quem já por três vezes ao leme as prendeu…

-  “ Aqui ao leme sou mais que eu.

E mais que o medo de quem me teme, manda a vontade que me ata ao leme !! “ .... (sic)

E continua rindo-se de nós... Até quando ? 
Até quando até quando até quando até quando ???

* Foto 1 : Trabalho manual sobre imagem do grupo musical " Doces " 
* Guterres em 2001 e Barroso em 2004.
 P.S. – Se alguém duvida que daqui a trinta anos PPC será tido e julgado como o PM que cheio de coragem arregaçou as mangas e colocou ordem neste país que ponha as barbas de molho porque estará rotundamente enganado. Os anais da história só lembrarão o nosso primeiro.