sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

212 - QUARENTA E QUATRO 44 r/c ...............


Trabalhar para quê e para quem ? Nao sendo transcendente a questão que Margarido colocava era pertinente e, ora porque não tivessem argumentos para a rebater ora por não quererem alimentar polémicas com o personagem, mor das vezes deixavam Margarido com a pergunta no ar, sem resposta, e até sem conversa, simplesmente não lhe aparavam as jogadas por estar sempre do contra ou usualmente rebuscar uma qualquer perspectiva que regra geral nem lembraria ao diabo.

Razão tinha-a ele de sobra, e o que sobejava (desculpem a redundância) era mais que suficiente para se tornar incómodo para qualquer um, com elas não, porque elas pareciam ter mais paciência para o tolerar sendo até mais abertas e dispostas a contra argumentar, todavia, o facto de noventa e nove vezes em cem ele ter razão, perdia-o. Ninguém estava para o aturar. A verdade, como todos sabem, incomoda muito, a razão incomoda muito mais.

E a verdade é que durante quarenta anos este bom povo se tinha esmifrado, e suado, para construir grandes empresas, nas comunicações, nos transportes, nos seguros, nas energias, na saúde, na banca, e agora, nem em meia dúzia de anos, de uma penada e por tuta e meia passavam para mãos estranhas. Logo agora, que estavam maduras e eram rentáveis é que eram passadas por meia duzia de patacos mal contados. Outros lhes sugariam o tutano, cabendo-nos a nós continuar a dobrar a espinha, a amouchar e calar.

Margarido tinha razão, alguma coisa falhara e não fora ele, que além do amor pátrio e do prestigio nacional nada mais perdera, pois nunca trabalhara, (ver texto nº 208 – ATIREI O PAU AO GATO...) e agora muito menos contassem com ele porque nunca se sentira com vocação, costela de colaboracionista ou traidor. E, como não se cansava de dizer, ainda por cima trabalhar para pretos ou chinocas como estava a acontecer em grande escala, para nosso desprimor.

Ali onde o viam todos os dias, na linda esplanada do 44 r/c, na Pastelaria Alegria, à praça do Imaginário, ele meramente assistia e esperava o dia em que tudo desse um grande estouro e um maior espectaculo. Tal como ele, julgo ser pacífico para toda a gente que nos estampámos. Um autocarro conduz-se agarrando o volante com unhas e dentes, um avião pilota-se sobretudo acrescentando miolos, um país dirige-se a partir do gabinete do primeiro ministro e dos ministérios das finanças e economia. É obvio que nos últimos quarenta anos esses lugares estiveram desocupados, ou pelo menos não o foram por gente capaz de os exercer. Da AR já nem ele falava, duzentos e trinta inúteis abanando a cabeça em assentimento e fazendo pela vidinha em permanência.

Se ao menos a administração pública funcionasse exemplarmente, ia perorando, mas nem nisso tivémos sorte, pejada que estaria de quadros médios e superiores que nem faziam uma idéia pequena que fosse do que era chefiar, comandar ou administrar. Falta-nos, como na tradição francesa, uma escola superior de administração pública o que, aliado ao mau hábito de atribuir lugares de responsabilidade a politicos irresponsáveis, incultos, incapazes e videirinhos, tem feito de nós a nação que somos, exangue, exausta e exaurida.

A nossa longa história, de quase novecentos anos (isto aprendeu o Margarido comigo) bem nos tem demonstrado que só evoluimos quando debaixo de poderes coesos, unos e fortes, razão tinha Manuela Ferreira Leite, mas não necessitamos somente de seis meses, nem sessenta, mas de outros quarenta e oito anos. Afonso Henriques, D. Dinis, o Infante D. Henrique, D. Manuel, Fontes Pereira de Melo, Salazar, a história é testemunho de que democracia e paninhos quentes nunca nos levaram a lado nenhum. A primeira república foi um regabofe em que os dois principais partidos deixaram resvalar a situação para além dos limites do aceitável, tal qual como agora. Em 1926 os militares, descontentes com a corrupção desenfreada e tementes que lhes faltasse o pré, tomaram nas mãos o poder que os democratas tinham sugado até ao tutano e convidaram Salazar a endireitar esta merda. (sic, palavras ouvidas ao Margarido) Quem teremos que convidar desta vez ? Quem nos salvará agora desta mortífera democracia ?

Desgraçadamente o Portugal de 1910 – 1926 tal como o de 1974 – 2014, só serviu para enriquecer não se sabe bem como, meia dúzia de democratas bem instalados. Em simultãneo o país regride, o povo é explorado e vilipendiado, a suspeição envolve a maioria das gradas figuras nacionais que, quanto mais sobem mais se lembram de si mesmas e melhor se amanham, sendo que democracia acaba por ser sinónimo de oportunismo, amiguismo, compadrio, partidarismo, falta de isenção e de transparência, o oposto do que devia ter sido, e ser.

A impreparação e inconsciência de muitas chefias da nossa administração pública é gritante, e a ignorância acerca do mundo em que se inserem e movimentam confrangedoura. Não duvido que arvorem altos diplomas, em economia, gestão de empresas, arquitectura ou engenharia, mas do ponto de vista social e humano algumas são verdadeiras nódoas e do ponto de vista cívico e político um zero à esquerda, não enxergam mais que uma Capivara (estou a lembrar um dito do meu amigo Carlos C.).

Após o términus das licenciaturas, muitos deles (e delas) deveriam ser obrigados a frequentar qualquer curso de administração pública (e estes obrigados a existir) afim de tomarem conhecimento e consciência do reflexo das suas atitudes e posturas a montante e a jusante das decisões que, tantas vezes (demasiadas) cega e impensadamente tomam.

Portugal não está assim exclusivamente devido aos péssimos politicos que elegemos, as decisões do dia a dia a nivel micro também contam. É certo ser a força da gravidade o sustentáculo do universo infinito, a nível macro, mas ao nível do ínfimo, entre electrões e protões que rodeiam o átomo encontramos a mesma e misteriosa força aglutinadora. Temos a nível macro um PR, um PM, governo, ministros e secretários de estado, mas a nível micro os concelhos, as freguesias, os seus representantes eleitos, e também os chefes de repartições, de serviços, de secções, de departamentos, enfim uma miríade de decisores, de fautores e de gente cuja opinião é ouvida, partilhada e seguida, gente que falhou rotundamente. E não me venham dizer o contrário, porque o país é efectivamente um buraco sem fundo, e isso vê-se ao longe, até um cego repara, tal a dimensão da tragédia.

Jamais haverá impostos que cheguem para sustentar esta desgraça, a única saída é o crescimento, a produção, a criação de empresas e emprego, de riqueza. Facturar, facturar, facturar vai ter que ser o nosso alfa e ómega. Sem isso todas as soluções serão estéreis e inúteis ou demagógicas e é bom que todos, repito todos, nos consciencializemos disso e comecemos desde já a colaborar uns com os outros, ao nível macro e sobretudo micro, pois que ninguém que não nós virá em nosso auxílio, quando muito emprestará dinheiro a juros de agiota para que nos endireitemos, mas seremos sempre nós quem terá que se endireitar, seremos sempre nós quem terá que fazer pela vidinha. Será assim tão dificil de perceber ?

As nossas posturas reactivas estão a empobrecer-nos, somos nós quem se empobrece uns aos outros. Não culpem a Merkel, não culpem a Troika, saberá você que me lê haver milhares de projectos parados em ministérios, comissões de coordenação, direcções gerais, câmaras municipais, há dez, quinze, vinte ou mais anos aguardando deferimento ? Inviabilizamo-nos, destruimo-nos, combatemo-nos.

A nossa postura para com quem nos procura ou ante quem atendemos terá que passar a proactiva, teremos que deixar de nos escudar em burocracias ou excessivos e artificiosos legalismos e ajudar o “outro” a encontrar a solução para o problema que o trouxe até nós, a ajudá-lo a superar as dificuldades e a concretizar os seus desígnios ou sonhos, que também terão que passar a ser nossos, que gerarão empregos, induzirão outras soluções, pagarão impostos que nos suportarão e contribuirão para pagar a saúde, o ensino, a defesa, o bem estar de todos... O montante e o jusante são uma mesma realidade, nossa, são duas caras da mesma moeda, indivisíveis, tocam-nos no âmago, teremos que ultrapassar a demagogia, preconceitos, os juizos de valor e até as melhores boas intenções...

Quando das eleições autárquicas de Setembro de 2013 todos os municípios alardearam num clamor gritante o seu interesse, defesa e protecção do investidor, do empreendedor, do inovador, do promotor. Há poucos dias, por razões que não interessam agora ao caso, dei uma volta pelos sites dos municípios do Alentejo e verifiquei com tristeza que tudo aquilo não passara de paroli paroli paroli... Contam-se pelos dedos de uma mão, e não a esgotam, os que, depois de tanta conversa fiada alojam no site uma página que seja, ou até um mero apêndice dedicado à temática, tal comportamento não nos diz tudo, mas diz-nos muito mais que mil discursos ou boas intenções...