domingo, 30 de janeiro de 2022

752 - O AMIGO MC E O ERRO DE PARALAXE ...

 



752 - O MEU AMIGO MC E O ERRO DE PARALAXE

 

Na altura nem texto coloquei, apenas a foto, confiante que os observadores fariam uma leitura correcta do seu conteúdo. Mas se eu quisesse escrever um texto chamando a atenção para a violência doméstica, recorreria a fim de fazer recair os vossos olhos sobre o mesmo à figura de uma mulher, encolhida a um canto, no chão, protegendo de um punho imaginário que a estaria ameaçando, rosto e cabeça com braços e mãos.

 

Se eu quisesse chamar a atenção para criminosa, predatória e pecaminosa pesca contra a baleia, procuraria imagens de um navio baleiro, armado com os seus canhões de arpões, navegando num mar tingido vermelho como normalmente acontece quando arpoam e sangram as baleias até à morte. Ou limitar-me-ia a recomendar-vos a leitura ou releitura de Moby Dick, de Melville e a história dessa grande obra.

 

Se eu quisesse chamar a atenção para o problema ecológico, para a poluição a que estamos submetidos e para o factor das árvores através da fotossíntese libertarem oxigénio, ar puro, conduziria a vossa atenção para a necessidade delas, árvores e florestas. Provavelmente colocaria no cabeçalho uma imagem da floresta amazónica, o maior pulmão que a Terra tem.

 

Se eu quisesse chamar a atenção para a pobreza franciscana que há anos vem aumentando em Portugal, colocaria uma foto de um sem-abrigo na rua, ou de dois ou três, ou até quatro ou cinco dormindo ao relento, talvez dormindo debaixo de uma ponte. No fundo que interessaria quem eram eles, gente anónima caída em desgraça nesta democracia que devia acudir a todos ?  

 

No caso dos sem-abrigo todo o interesse foi colocado em chamar a vossa atenção para a extrema pobreza que o nosso presidente, quando tomou posse do cargo pela primeira vez prometeu debelar. Bom, ou antes mau muito mau, o presidente já vai no seu segundo e confortavel mandato mas a pobreza em vez de acabar tem aumentado a olhos vistos.

 

Vem isto a propósito, e já não é a primeira nem a segunda nem a terceira vez que acontece, do facto de um meu amigo atabalhoadamente colocar em causa as minhas postagens numa determinada rede social, desta vez chamando-me mentiroso e dizendo (aliás com razão) tratar-se de uma fotografia velha. E efectivamente aquela foto, no cabeçalho deste texto e que pesquei na net, já tem 5 anos.

 

 Inquirindo-me num comentário em que lugar tinha ela sido tirada, respondi-lhe para o despachar ter sido tirada no Porto, em Portugal, quando eu próprio nem sei onde tal foto foi tirada nem quando, e muito menos quem sejam os miseráveis que estão nela. Parece segundo ele, ter sido tirada em Madrid, Spain. A mim interessava-me sobretudo passar na net, no Facebook, uma foto que vos chamasse a atenção para a miséria a fim de vos sensibilizar em vésperas de eleições, para a pobreza enraizada em Portugal, no sentido de cooptar a vossa solidariedade e coesão, e caridade, quanto a esse flagelo que cresce sem parar debaixo de governos e partidos hipócritas, de esquerda caviar ou não.

 

Pois o meu amigo MC viu a árvore mas não viu a floresta. Claro que lhe respondi a desejo, coloquei gosto em todos os seus comentários e de seguida apaguei-os. Há pessoas que vêem o geral, outras o particular, e há pessoas que não vêem nada. O meu amigo MC, que é engenheiro, estará inadvertidamente sofrendo de mal profissional, sendo daquelas pessoas capazes de ver o particular mas não dar pelo gigantesco real que o rodeia. Juro ser ele capaz de ver o invisível, e estou certo, ele vê o pormenor mais ínfimo que se lhe depare.

 

Não é qualquer um que lida com electrões, vocês estão a ver o tamanho dos electrões, dos átomos, de protões, neutrões, provavelmente ele vê tudo aquilo que nós nem imaginamos, aqueles bichinhos pequeninos movendo-se pelos trilhos que lhes destinam, saindo daqui para ali a fim de fazerem trabalhar varinhas mágicas, fazerem trabalhar automóveis, fazerem trabalhar o que quer que calha, querendo passar todos ao mesmo tempo pela estreita secção do filamento de uma lâmpada e por isso, por não aguentar em simultâneo o atrito de tantos e tão apressados passando o estreito, fininho, finissímo filamento fica em brasa e dá-nos a luz que nos alumia.

 

Talvez o meu amigo MC, tão bem preparado para dar atenção ao pormenor, devesse alargar as vistas, acho que devia olhar também para longe, para o horizonte, e treinar ver o geral, ver o conjunto, o resultado completo de todos aqueles pormenores que ele gosta tanto de dissecar. Fico-me por aqui, porque como amigo não tenho interesse nenhum em perdê-lo, afinal de contas não me fez mossa e até aprendi com ele como a condução do pensamento, quer do geral para o particular, induzido, quer na generalidade o inverso*, deduzido, nos pode enganar sem que sequer demos por isso.

 

E vocês ? Têm atentado na miséria ? Lutam contra ela ?



 

* Por existirem várias e diferentes formas de dedução. 






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