terça-feira, 3 de março de 2020

637 - ASSIM NASCE A POESIA, by Luísa Baião … *


Poesia é sol que rompe as nuvens do quotidiano. A vida, essa, quantas vezes não é mais que um sarcasmo, um desalento. Chegar-nos-á um cansaço dela, uma qualquer doença, como abismo que se aproxima, qual tentação, quantas vezes anseio de partida.

- Tinhas noventa anos. Eras velho, dorido, as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados, o cérebro cansado. *

É um momento de renúncia, os gestos abandonam-se-nos, as sensações confundem-se-nos. Vivemos uma vida cheia, mas só até entrarmos na solidão, na penumbra, a vida nunca é mais que um parêntesis.

- Criaste pessoas, e gado, meteste pobres na tua própria cama, quando o frio ameaçava gelá-los.

Melhor se a não vivemos de incongruências, se a não conduzimos por atalhos. Se não fizemos dela coisa a atirar para a indiferença, porque um dia, milhares de crepúsculos nos rodearão e, momento chegará em que tudo se evapora.

- Contaste-me histórias de aparições, de príncipes, rainhas...

Mau é quando nos sobra silêncio, a vida só é plena quando vivida para os outros.

- Por vezes lembro-me de ti...

Ficar-nos-ão saudades de coisas que nunca fizemos, dos sonhos nunca cumpridos, de tudo quanto não fomos. Ter vivido é ter sido outra, conformar-se é ser vencida.

- Histórias... Que até hoje trago guardadas no meu coração.

A vida é um sonho a que por vezes faltamos, e, se os não temos, os sonhos, a esses faltamos também.

- O meu coração ficou de rastos. Chorei lágrimas...

Não deitemos queixas ao mundo, nada peçamos à vida, tudo lhe demos. Somos todas escravas de determinismos que nos fogem.

- Estarás sempre guardado no meu coração. **

Tememos a morte com estranho fascínio, por quê? se ela é alívio, libertação...

 * by Maria Luísa Baião, criado sexta-feira, ‎4‎ de ‎Abril‎ de ‎2003, ‏‎pelas 17:44h e certamente publicado no Diário do Sul, Coluna KOTA DE MULHER nos dias ou semanas seguintes.

 ** Em itálico e negrito, palavras da Celeste, 16 anos. DS