terça-feira, 21 de abril de 2020

642 - SEM VÍRUS, UM POSTAL DE MARROCOS ...



De uma amiga confinada de surpresa em Marrocos, onde desenvolvia a sua actividade profissional, restauradora de arte, mester que a tem afastado de Portugal e a tem levado a todos os países que valorizam e defendem preservando-o o seu património cultural, artístico e arquitectónico, recebi esta manhã o testemunho de que vos dou conta, brevemente trocado numa conversa no Messenger e somente para que possam comparar atitudes, acções e modos de fazer a mesma coisa… 

Aqui vai a conversa tal qual a trocámos esta manhã:


  
Ela - Estamos a atravessar tempos muito complicados e não vejo que tão cedo se volte à normalidade, se é que ela alguma vez virá a existir como a conhecíamos.
  
Aqui, (em Marrocos, esclareço eu), as medidas tomadas foram e são extremamente duras. Ninguém se pode deslocar para fora da área de residência, há barreiras policiais em todas as ruas e avenidas para controlar o tráfego quase inexistente. Os transportes públicos foram suprimidos, ficou um autocarro eléctrico para Menara e outro não sei bem para onde. circulam muito poucos táxis, apenas os de 7 lugares porque todos os outros foram proibidos. Foi imposto o uso obrigatório de máscaras, tudo foi fechado à excepção de hipermercados, farmácias, bancos e estações de correios. uma ou outra empresa de comunicações, algumas lojas de frutas e legumes, mercearias e venda de pão estão semi abertas nos souks.
  
Temos um documento para poder sair de casa e adquirir bens alimentares, medicamentos e serviços médicos. Como estou dentro da Medina há em todas as portas e também espalhados pelas ruas ajudantes de polícia, o equivalente aos moços de esquadra espanhóis, para controlar os documentos e também o uso da máscara. As ruas são fortemente policiadas, tanques militares fazem giro pelas grandes avenidas e é visível por todo o lado a presença da guarda real.
  
Por aqui não se brinca. Nos bancos e correios por exemplo, só entra uma pessoa de cada vez, têm porteiro devidamente protegido para abrir e fechar a porta, estabeleceram barreiras a 1,5m dos balcões e somos desinfectadas à entrada assim como nos supermercados.
  
Nunca nos faltou nada desde máscaras a luvas, gel ou álcool. Nas caixas multibanco existem prateleiras com frascos de desinfectante e caixas de kleenex. As distâncias são respeitadas e sinto que aí vivo no terceiro mundo. Nas famílias marroquinas (se tivesse aqui a minha seria igual), só um membro de cada família tem o documento/passe que permite ir à rua, os restantes não podem sair de casa. Soube a semana passada que quando a pandemia começou em Itália o governo daqui colocou todos os embaixadores e cônsules a negociar com outros países materiais médicos, daí estarmos tão bem preparados.
  
Tenho amigos tão confinados como eu, vamos falando pelo telefone, mas nada de encontros.
  
O Rei Maomé VI, foi ele que tomou as rédeas, antes de fechar fronteiras conversou com o Marcelo, o Filipe VI, Macron e o presidente de Itália de quem não sei o nome, a avisá-los, todos concordaram, quanto ao resto da Europa e restantes países deve ter seguido uma informação idêntica via diplomática, suponho. Marrocos sofreu pressões imensas e vergonhosas da União Europeia porque ao fecharem fronteiras estavam a prejudicar a economia através das companhias aéreas e do turismo, mas aqui mantiveram-se firmes.
  
Na passada semana chegaram os grandes elogios de Bruxelas pelo comportamento exemplar tido por Marrocos e ofereceram 420 milhões de euros para ajudar a combater a epidemia, penso até que irão libertar mais dinheiro para o mesmo fim.
  
Sinto que é o único país que tomou as medidas certas no tempo certo, e apesar de os números graves irem subindo demonstram como os marroquinos fizeram um bom trabalho. Para 30 milhões de habitantes há cerca de 2500 contagiados, o que os deixa de cabeça perdida, imagine se estivessem como aí. o mal começou por dois turistas vindos de Itália, mas uma vez detectado o vírus rapidamente dividiram as possibilidades deste surto em 3 áreas e fases de cerco e combate. estamos neste momento na terceira, isto há cerca de uma semana. Perdão foram dois marroquinos vindos de Itália e não turistas (acho que viviam lá).
  
O maior problema aqui é o fato de muitas famílias viverem em casas extremamente pequenas onde se concentram pela força do confinamento várias gerações, avós, pais, filhos ... Veremos como vai continuar. Meios não faltam, inclusivamente todas as clínicas privadas mesmo francesas e espanholas abriram neste momento as portas para o que for necessário gratuitamente, tão pouco custará algo ao governo. Uma extrema solidariedade.
  
Não se esconde nada, todos os dias o ministro da saúde dá uma conferência de imprensa a dizer o que se passa, relatar as medidas já tomadas ou a implementar, divulgar os números de contagiados, de recuperados, de mortos no dia e hora, localização geográfica e hospitais onde se encontram. encontravam… Estou fascinada mesmo sendo tudo por uma razão tão grave e triste.
  
Claro que os dias custam muito a passar, não é o mesmo que estar em casa de todos os dias. Tenho pouco ou nada com que me entreter porque quando estou aqui em Marrocos não venho para ficar em casa. O que me vale é que trouxe 3/4 livros e terão que chegar. costumo passar os dias na rua, como sempre fora e as noites são para os amigos. Agora tudo mudou. Amanhã começa o Ramadã e as mesquitas não abrirão.


 Aqui dá-se uma ordem por exemplo às 10h da manhã para ser cumprida até às 18h. e é exemplarmente cumprida Só soube que iam cancelar eventos e encerrar os restaurantes, cafés, escolas, mesquitas, cinemas, museus quando cheguei para almoçar ao restaurante de um amigo por volta das 2h. Disseram-me para ir comprar umas coisas de alimentação para ter em casa e lá fui nas calmas. Quando dei por ela todo o restante comércio fechara por recriação própria, todas as lojinhas do Souk fecharam, foi impressionante. Nem no supermercado se entra sem controlo de temperatura. Tão pouco tive tempo para comprar mais livros, material de pintura, enfim coisas de que necessito e gosto para ajudar a passar o tempo. E assim vai a vida por aqui.
  
Vou ver os números hoje e já te digo. Tinha isto escrito para te enviar há uns dias…
  
Neste momento são 2900 contagiados,

143 mortos

350 e tal recuperados.

Os números têm vindo a aumentar também devido ao maior número de testes efectuados.

Provavelmente haverá sítios onde possam faltar determinadas coisas, aqui ainda não me faltou nada. A indústria têxtil está a fabricar máscaras, há também fabrico de ventiladores ...

Olha, e já agora qual a tua opinião quanto à origem do Covid ?

O grande problema aqui é a escassez de médicos de reanimação e anestesistas, além de evidentemente haver ainda pobreza entre a população residente em pequenos lugares sem hospitais.
  


Eu - Olá Mariazinha, ou Fátima, ou Beatriz, ou Leonor, ou Zézinha, voltei. Desculpa a demora e interrupção da conversa mas teve que ser, e depois meteram-se outras coisas no meio…. Olha até às compras já fui 😛
 Acerca do aparecimento do vírus contam-se muitas coisas como sabes, vão desde teorias da conspiração, que não desprezo pois nos laboratórios de guerra biológica um vírus pode escapar-se, é um bichinho tão pequenino que dez milhões podiam dançar na cabeça de um alfinete, por isso imagina quão difícil é segurá-los ou confiná-los.
  
Pode ter acontecido um descuido e ter havido uma fuga pois não creio que tenham metido o vírus á solta propositadamente ou tenha aparecido de geração espontânea na natureza, provavelmente brincavam a Deus e Deus lixou-os...

 Aparentemente trata-se de um simples vírus da gripe de uma nova estirpe portanto diferente, mas cuja diferença faz toda a diferença, tal como Pizarro e Cortez fizeram diferença para Maias e Aztecas…
  
De resto Eu sei lá, tu fazes com cada pergunta, eu não sou Deus, ando lá perto mas ainda não me foi dado foral.
  
Olha

Desolha
  
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

 Cuida-te

 Bjs nossos