Casual
e aleatoriamente veio parar à minha frente um conjunto de imagens curioso, uma qualquer
festa ou celebração do meu partido, digo curioso porque só vi velhadas,
velharia, um partido que se reclama de ideias jovens e que não se cansa de
apregoar estar o futuro do país na mão dos jovens é afinal um partido de velhos, uns
mais que outros, eles mais que elas ou vice-versa mas só velharia. Impressionou-me,
quem gere os cordelinhos tá caquéctico, quem pretende oferecer-nos o paraíso
metera-nos no inferno, e jovens ? Vi por lá alguns sim, bem poucos aliás, mais
pareciam robertinhos, títeres, bonifrates, rindo e sorrindo para os mais velhos,
desfazendo-se em mesuras, é que o respeitinho é muito bonitinho ou não é ? Que se proporão vender-nos desta vez ? Mais do mesmo, mais banha da cobra ? Estamos bem arranjados …
Mas
não era disto que vos queria falar hoje, hoje era minha expressa intenção desbobinar
sobre o conhecimento, a sabedoria e o relacionamento, ou o relacionamento e a
sabedoria, já que conheci uma, perdão, não uma mas duas senhoras que mais pareciam uma, e
tão iguaizinhas elas eram que me confundiram, uma questão de percepção, ou de
senilidade, quem sabe se também eu estarei a ficar velho. Tenho que comprar
Calcitrin, verdade que sim, vou apontar não vá esta verdade dispersar. Falemos
então das divindades que mais pareciam divinas deusas e que na realidade inda não
sei se as imaginei se sonhei, a verdade é relativa, as verdades são muitas e a
pós verdade ainda é pior. Mas vamos à verdade, a minha verdade que a vossa é
coisa que nem me interessa.
Era
uma vez uma pequena conhecida que em boa verdade não conhecera e que nem era contida
nem excessiva, nem lenta nem apressada e sendo para aprofundar a verdade o
melhor é confessar-vos que nem a conhecia de todo, nunca a vira, não conhecia
mesmo. Aceitara a sua amizade desinteressada e aleatoriamente, como faço com
tanta gente, já nem digo nada pois invariavelmente apresentam-se como minhas
leitoras, ou seguidoras, motivo mais que suficiente para me encher o ego e nem fazer perguntas. Assim foi com estas, inda que vagamente tenha associado uma delas a alguém que me habituara a ver ao volante duma carrinha, daquelas que transportam
equipas de vendas e tomam de assalto uma zona hoje outra amanhã, que venderia
ela ? Financiamento? Crédito? Tupperwares? Trens de cozinha? Bimbys? Por mim que se lixe,
não estou comprador, nem lá perto.
Mas
eram parecidíssimas estas duas, uma académica, lá tenho eu que passar a ter
mais cuidado com a pontuação, com a grafia, com a sintaxe, com a atenção devida
aos tempos verbais e ao presente indicativo e predicativo do sujeito, a outra
promotora de vendas, uma leoa decerto, quem se aventura na selva dos mercados
com a crise que por aí grassa tem que ser pessoa de coragem, confiante, ainda
por cima encabeçando uma equipa, sendo responsável, é de admirar realmente com tanta
irresponsabilidade que alastra por este país há demasiados anos, conduzir
outros, incutir-lhes coragem, convicção e confiança, dar-lhes meios e
exigir-lhes objectivos, metas, não é para todos, ao tempo que não dava por um
fenómeno assim, isto é liderança, vanguardismo, isto é a assumpção do elitismo
esclarecido, claro que não somos todos iguais, há que ter coragem e assumir
diferenças, liderar, conduzir, ir à luta, ganhar, vencer, mas que venderá ela ?
Esperança ?
Foi assim, depois fiquei-me por ali, ou por
aqui, divagando sobre a formulação de juízos, de conceitos, de preceitos, até
que inadvertidamente o pensamento derivou para os preconceitos, era fácil e
natural o desvio, ou o percurso, porque os neurónios e os axónios lá terão as
suas razões, os seus motivos, as suas conexões, as suas leis, quem sou eu para
os entender, somente os conheço de vista, ou nem isso, e sim de ouvir falar
neles, de ler sobre eles, e já é saber bem mais do que sei sobre estas duas que
julguei, não, não julguei, apreciei, pensei, sobre quem me debrucei, acerca de
quem me pré ocupei, e nem o teria feito não lhes tivesse achado algumas
parecenças, alguma graça, alguma piada, alguma ligeireza, ou destreza, talvez
deva dizer, dizer ou confessar, alguma elegância nos modos, certo que a uma não
lhe conheço mais que o perfil e o apelido, mas a outra caminha com a elegância de
que só um vendedor bem sucedido é capaz, não é altivez, nem arrogância, se não
me engano e do que vejo desta esplanada de onde observo o mundo aquilo não é
pedantismo, é sobriedade, é auto confiança, se calhar é mesmo isso, ela venderá
esperança, que outra coisa poderia alimentar-lhe assim a auto estima ?
Gostava
de conhecê-la melhor, quem não gostaria ? Sobretudo saber o que vende, não que
eu esteja comprador, nem de esperança me sinto necessitado, em boa verdade já
ultrapassei esse desiderato, quem de nada precisa terá de tudo, é um pouco o meu
estado, um pouco complicado, como agora soa dizer-se, ou não ? Nada que não
tenha aprendido, ainda que nem seja ensinado, ou talvez por ser um optimista
céptico, mais que um crédulo pessimista, é a velha questão de olhar para o copo
meio, estará ele meio cheio ou meio vazio ? Um vendedor olhará para ele, ele
copo, e para o interlocutor, processará em segundos milhares de conexões, estimará
potencialidades, avaliará possibilidades e quando o algoritmo lho aconselhar atirará
a sua dica, já a outra obriga-se a ser mais contida, os académicos tendem a
abrigar-se, evitam expor-se, há que resguardar posições e distâncias, como se a
autoridade do saber residisse na sua sagrada ou divina ocultação, no mistério alquímico
dessa disseminação, contida, doseada, como que aspergida sobre bem poucos
eleitos, e estava eu nisto quando a Ti Bilete:
-
Outra senhor Baião ? Desculpe a franqueza mas não serão já demais ? O senhor
lá saberá, ou não veio na mota ?
Precisamente,
nem a mota nem o carro, irei a pé, moro perto e estou desperto, não durmo nem
abano, não oscilo, não tropeço, acordei, simplesmente encalhara nos meus
pensamentos e sonhador como sou erguera um preconceito, fundamentara-o e
justificara-o, quando afinal antes de ir para casa só tenho que lembrar-me do
dois em um, afinal não duas mas uma só, uma só solução, branqueador e
amaciador, Ultra Super Plus, dois em um, nem a marca esqueci, a Luisinha vai
gostar não ter esquecido o recado que me dera, por vezes ponho-me a pensar e
não paro, outras vezes só a Mimi me acorda ao chegar a casa, ronronando e
roçando-se-me nas pernas, eu gosto de gatos, a Luisinha aprecia cães, seja o
que for animais são família né ?
Não
são eles que nos adivinham e conhecem todos os pensamentos ? Dos mais torpes aos mais íntimos ?