terça-feira, 21 de maio de 2019

605 - ELISABETE BARRADAS – EXPOSIÇÃO "TRAÇOS" – UMA CRITICA JUSTA E MERECIDA


 Encontrámo-nos ombro a ombro e casualmente ao balcão da pastelaria Violeta, eu dando um rombo na dieta e alambazando-me com uma trouxa-de-ovos e ela enfardando um farta brutos.

- Tu aqui ?

- Tu por aqui ?

Estou para uma visita à galeria Casas de Sant’Ana e São Joaquim, quero ver a exposição “TRAÇOS” de Elisabete Barradas de quem já vi em tempos umas coisas, parece valer a pena e para tal aqui estou...

- E eu ! Então vamos os dois, pagas as bicas que és tu o cavalheiro e eu uma senhora.

Assim foi, e lá fomos os dois cantando e rindo ver a exposição da Elisabete Barradas, a dois passos dali, exposição dela e de outros.

- Já vi umas coisitas dela repeti, fizeram-me lembrar o louco do mestre José Cachatra * os temas e as cores eram muito aproximadas, mais que tudo foi esse aspecto que me convenceu a visitar a exposição, e a ti ? Que te move ?

- Ela tem trabalhos muito diferentes desses que referiste, a mim é mais a curiosidade acerca dos novos trabalhos dela que me atrai, isso e o trabalho dos seus alunos que também estarão ali expostos.

- Muito bem nina, olha é já aqui, mete lá o dedo nessa coisa e faz força que eu impo !

Entrámos na galeria, nada mais nada menos que a casa senhorial do meu amigo Cordovil e que nos recebeu com a peculiar hospitalidade característica desta nobre e antiquíssima família eborense.

Depois foi deambularmos por ali, vendo e admirando o “palacete” e simultaneamente a exposição. Um palacete amplo e belo, uma panóplia e infinidade de divisões, escadas, corredores, arrecadações, terraços, um quintal no interior, enfim, praticamente o paraíso no centro da cidade. Até um gongo tocámos e quase dançámos na cozinha, tal a sua dimensão.

Para outra dimensão nos remeteram os trabalhos de Elisabete Barradas, remeteram ou pretendiam remeter, quase todos eles, e se não todos uma grande percentagem, apontando aos céus, encaminhando-nos para as alturas, para a transcendência, a lua, o universo, o astro, o infinito, o nirvana, onde nem um escadote faltava.

- Que estranho Sandra, já reparaste no grosso das obras dela ? Há aqui uma tendência muito acentuada para o alto, ora vê !

E ela viu, reviu e confirmou a minha impressão, à primeira vista surgia-me como uma ocorrência inverosímil, repetitiva, mas lá estava. Diria que como a expressão involuntária de uma tara ** ou mais que uma tara, uma panca, uma pancada, uma pedrada disse eu rindo para a Sandra.

- Será ela daquelas que metem na veia Sandra ?

- Parvo, não digas parvoíces.

- Sei lá, não seria a única a fazê-lo, nem seria a primeira vez que tal aconteceria nos anais da pintura cuja história está pejada de casos desses e eu nem conheço esta Elisabete.

Respaldámo-nos confortavelmente conversando recostados nos antiquados e fofinhos sofás de uma das salas, é que muitos artistas pintaram sob o efeito de drogas psicotrópicas, há até um género de pintura assim classificada, psicadélica. Van Gogh foi um exemplo extremo, cortou uma orelha, Picasso era doido por mulheres segundo uma série que há pouco passou num canal por cabo, Cachatra era louco, são dezenas ou milhares os exemplos de pinturas e pintores que carregaram taras... Salvador Dali idem... Além de louco era excêntrico…Temos outro caso extremo, o de WilliamTurner que uma vez se fez amarrar ao mastro de um navio em plena tormenta para não ser tentado a acobardar-se e obrigando-se a sofrer e viver uma tempestade com o fito de a mais tarde a pintar. O que terá motivado esta Elisabete a repetir-se dentro do mesmo tema ?

Aquilo ficara a fazer-me coca-bichinhos na mona, e embora saibamos como a pintura, aliás não só ela como toda a arte é subjectiva e nos interroga, na primeira oportunidade indaguei junto da própria pintora que me tirasse as dúvidas pois tantas mas tantas pinturas famosas se devem a loucos, à loucura ou a drogas... A manias... A taras.. Freud pegava nas pinturas e na explicação que os doentes delas davam e elaborava diagnósticos certeiros... A par dessa estratégia existem em psicologia os chamados testes psicométricos, e também a psiquiatria recorre à interpretação dos conhecidos testes de Rorschach, acho que é assim que se chamam, os quais têm por base a interpretação de borrões, de manchas, no fundo de pinturas... Pinturas esborratadas digamos... 

Mas chegar à fala com a artista foi um desastre, ela parece ignorar que quem se expõe publicamente, quem se expõe (em galerias ou não) sujeita-se a ser criticada, entendendo eu aqui a critica como comparação, análise e avaliação, e no fundo preparação pessoal para a enfrentar, à critica, ripostar explicar, justificar, defender a sua posição, usando da retórica, da lógica, tendo-me vindo à memória o esforço uma vez observado ao meu amigo Marcelino Bravo, ilustre pintor eborense, que numa exposição se desfez em atenções para explicar à turba o significado de uma sua nova tendência ou conceito tendo faltado somente fazer-nos um desenho para que melhor o compreendêssemos.

Tal nem de perto aconteceu com esta Elisabete, com quem troquei impressões no chat duma rede social, as quais vou reproduzir aqui integralmente para vosso inteiro conhecimento e apreciação:

Eis o diálogo tido domingo, 19 de Maio, no Messenger entre mim e a pintora Elisabete Barradas após esta ter aceitado a amizade solicitada:

EU - Bem vinda, vi ontem uma exposição sua, gostei.  🙂
ELA – Obrigada
EU - Só não percebi uma coisa.
ELA - Diga lá o que não percebeu?
EU - A fixação pelas alturas, pelo céu, pela lua, o escadote sempre presente, a tentação de ascender, subir, trepar, a convergência ao alto, e eram numa grande percentagem as figuras que apresentavam essa particularidade, será fixação ? Pelo quê ?
ELA - Não me parece que seja fixação, um determinado estilo do artista, fase !!!
Continuo
Não é fixação !!!
EU - Usei a palavra sem sentido pejorativo, tal como comentei com a Sandra que aquilo me parecia uma tara, igualmente sem esse sentido destrutivo. Estilo, fase, compreendo.
ELA - Tara?
EU - Fase, é melhor fase.
ELA - Desculpe
Boa tarde !!!!
EU - Falo de um comentário com a companheira com quem fui ver a exposição, leia bem, pk não é o que parece

(Mas ELA  já tinha “desligado”, já se fora embora… )

EU - Tem mesmo uma tara, tenho razão, acabou de ma conceder 😀  Boa tarde e boa continuação enquanto pintora, e reveja a sua posição, cultura e atitude enquanto pessoa, não basta pintar melhor ou pior, é necessário algum humanismo, alguma disposição para levar até ao fim as trocas de impressão com o visitante, o impacto da sua arte nele visitante, observador, consumidor, imagino-a nova, nova demais, sem experiência de vida, a dose certa de humildade e modéstia poderão fazer muito por si, já a arrogância e a prepotência são as armas dos ignorantes... Ah ! E leia, leia muito, bons autores 🙂 Xau bjs e boa sorte

ELA depois disto cortou-me a amizade tendo-me bloqueado.

                    _____________ / ___________

Ora o que sucedeu foi nem mais nem menos a senhora ter confundido soberba com disponibilidade, e arrogância com ignorância. Custa-me entender que quem cursou Belas Artes não tenha estudado a história da pintura, biografias de pintores famosos, que não tenha ligado à literatura (está lá tudo) ou possa descurar o humanismo, a psicologia, a que a arte pela sua natureza anda intimamente ligada, ou a formação pessoal. 

          Não basta saber pintar melhor ou pior, existe a chamada inserção social que obriga a respeitar cânones, não basta vender mais baratas ou mais caras as obras, há que ser educado, bem formado, estar preparado para lidar com a clientela, que, se de arte, será minimamente culta, bem formada e exigente, e sobretudo, se se mantém uma escola de pintura há que defender o seu bom nome e não prejudicar artistas convidados nem alunos com condutas de todo inutilmente impróprias.  

Exposições de Elisabete Barradas jamais, ou nunca mais, e é pena porque a senhorita até pinta umas coisitas, nem pinta mal de todo, podia ser uma promessa não fosse o seu feitio irrascível, veja-se o caso de Joana Vasconcelos, não é engraçada mas soube cair em graça e expõe por todo o mundo que conta, já quanto a esta duvido que esse mundo para a qual nem de perto está preparada alguma vez se lhe abra.

É pena, mas nem todos podem ser sublimes… 

Como por exemplo eu ahahahahahahahahahahhahaha !!!









FICHA TÉCNICA DA PINTORA SEGUNDO ELA MESMA: - Artista plástica na empresa Self-Employed e trabalha em Artista plástica na empresa Carvão Estúdio, Évora Portugal - Estudou Artes Plásticas - Pintura em Belas-Artes ULisboa - Anterior: Escola Secundaria Gabriel Pereira - De Évora - Artista Plástica - Representante de artistas argentinos e uruguaios -




** SIGNIFICADO DE TARA SEGUNDO O DICIONÁRIO PRIBERAM DE LINGUA PORTUGUESA:  Ver pontos 4, 6, 7, 8. 9 e 10.

Ta·ra
Substantivo feminino

1. Peso de recipiente ou continente vazio, sem o produto que pode conter (ex.: para obter o peso real da mercadoria, é preciso deduzir a tara do peso bruto).

2. Recipiente ou objecto que pode conter determinado produto (ex.: prefira bebidas engarrafadas de tara retornável).

3. Peso de um veículo de transporte vazio, sem a carga (ex.: o reboque tem tara superior a meia tonelada).

4. [Medicina]  Anomalia hereditária (ex.: tara genética).

5. Defeito de fabrico (ex.: moedas sem tara). = FALHA

6. [Figurado]  Mácula, defeito, senão.

7. [Informal]  Desequilíbrio mental (ex.: ele não deve ser bom da cabeça, deve ter uma tara qualquer). = PANCA, PANCADA

8. [Informal]  Fixação ou atracção muito forte, por algo ou por alguém (ex.: tara por melancia). = MANIA, OBSESSÃO, PANCA

9. [Informal]  Desvio patológico do comportamento sexual considerado normal (ex.: tara com pés). = DEPRAVAÇÃO, PERVERSÃO

10. [Veterinária]  Defeito que diminui o valor de uma cavalgadura.

11. [Botânica]  Taioba.

"Tara", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/tara [consultado em 20-05-2019].













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