segunda-feira, 16 de maio de 2011

48 - NÃO, NÃO É O QUE PENSAM ... (2ª de 3 crónicas)




Não que tivessem sido muitas as mensagens recebidas e suscitadas pela anterior entrada – RODOPIOS E SACANICES… e todas tiveram resposta em tempo útil….

Entendam lá todas de uma vez que não há anormais naquele grupo, nem bipolares ou duplas personalidades.

Concedo que determinados comportamentos são extravagantes, eventualmente criticáveis, impróprios até, mas não esqueçam que os meus amigos são um exemplo do mundo, exemplo de tendências e atitudes, doutrinas, credos e comportamentos, não um grupo de santos e santas, de castas virgens, abnegados celibatários ou promíscuos e infiéis.

Há ali de tudo como na farmácia, e acreditem-me, apesar de vos ter relatado uma atitude nada dignificante de um dos membros, e nós fomos os primeiros a assumir essa crítica, são de resto gente digna, trabalhadora, respeitável, aliás como qualquer de vós, ou não fariam parte das minhas amizades.

Ouvi-me.

Vou começar pelo Hélder, de longe o que mais e com maior razão foi criticado. Filho de pais ricos mas de cuja riqueza sempre prescindiu.

Cursou com sucesso uma prestigiada universidade portuguesa, construiu uma carreira profissional invejável, trabalhou até tarde muitas noites, fins-de-semana e feriados, alcançou o pícaro e o êxito, gastou quanto ganhou, comprou casa, bons carros, gozou boas férias, casou com a mulher que elegeu e por quem se apaixonou numa dessas viagem de avião em grupos de turistas.

Filho único, menino da mamã, de todas essas benesses abdicou para se afirmar individualmente, daria a camisa a quem dela precisasse, é culto, fluente em várias línguas, e não tem filhos porque a carreira não lhe deixou tempo para tal, hoje bendiz o facto de não os ter, dantes queria-os como quem quer um brinquedo.

A nossa adesão à CEE traíu-o, a empresa onde exercia funções de quadro superior deslocalizou-se como agora se diz, aos quarenta e cinco anos está desempregado, ninguém o quer, é velho, começou a beber, ninguém consegue travá-lo.

Compreendo-o, não o desculpo.

Verónica, a esposa, academicamente é Engenheira de Recursos Hídricos, todavia depois de suar as estopinhas para ser hospedeira da TAP, o casamento com o Hélder foi uma libertação.

Esta menina bem comportada que quase foi freira por iniciativa própria, quando adolescente, remetida ao lugar de doméstica por vontade do marido, por tédio ou por contestação a esse facto, tatuou-se, aplicou piercings e quando encostada a um balcão cai frequentemente no exagero.

Não prejudica ninguém.

Dizem as más-línguas que o sogro, velho, morreu de enfarte quando a viu aparecer com as tatuagens e os adereços bárbaros como amorosamente o marido se lhes referia.

Não ter filhos só ajudou a incompatibilizá-la com a sogra e com a vida.

Fuma que nem uma desalmada e é uma pessoa extremamente carente.

Acredito que se casou por amor, muita gente não.

Problema dela, não nosso.

D. Apolónia é uma daquelas mulheres com o cu debaixo dos braços, viúva, doméstica, proprietária, nunca fez nada na vida, tem a quarta classe antiga inacabada, não entende porque não se obrigam as criancinhas à catequese e dois ódios de estimação, a Verónica, que lhe roubou o filho e matou o marido e a Direcção geral de Contribuições e Impostos, um bando de gatunos que só querem o que os outros conseguiram com muito suor.

Nunca soube a quem terá pertencido o suor a que se refere, uma vez que trabalhar jamais, criadas usa e abusa a uma média de duas por ano, no mínimo, e o marido idem enquanto foi vivo.

Analfabeto, sempre viveu da especulação imobiliária, influências, compadrios, negócios, e, dizem os maldizentes, financiando as campanhas de um determinado partido.

Deixou a viúva inconsolável, cheia de propriedades, contas bancárias, cadernetas de aforro e acções do BES e do BCP.

Nunca terá vertido uma gota de suor ainda que soubesse do que se tratava, tanto que era coisa que evitava com a maior precaução.

Compreenderão agora os pruridos do Hélder em ter querido vingar sozinho ou em viver da herança paterna, uma vez que a falta de emprego o força a engolir o orgulho.

O Maurício (Pilha-galinhas) é um bom profissional de próteses dentárias que nunca conseguiu realizar-se academicamente, nem fazer carreira profissionalmente, falhou quatro ou cinco casamentos, segundo parece não por culpa própria e hoje, à falta de melhor e com uma idade que já não lhe permite devaneios ou sonhar com os filhos que queria e nunca teve, acalenta contra as mulheres algum ressabiamento que todavia não deixa transparecer e entretém-se a coleccioná-las.

Faz o mesmo com sutiãs e cuequinhas que guarda numa gaveta, ao natural (por lavar) e embora não etiquetadas, sabe a quem pertenceu cada troféu e recorda o episódio que lhe está associado.

Ninguém gosta de ser visto na companhia dele, sabe-o porque todos já lho disseram e criticaram a conduta, e, apesar de não tratar nenhuma mal, talvez por ser um romântico ou um par livre não lhe faltam solteironas, mais parecendo que as atrai como a merda atrai as moscas.

A Fátinha, com quem anda vai para seis meses, quanto a nós um record, só o aguenta por precisar, quer assentar nem que seja à força, tia promete não ficar, ele é sósia do maricon do George Michael, motivo mais que suficiente para ela, sei-o.

Bissexual, ou lésbica assumida, para ser mais preciso, a Gina morre de amores pela Fátinha, aliás foi por a andar espreitando que deu com o carro da Verónica metido na garagem do homem por quem nutre carradas de ciúmes.

Nas horas vagas curte com o cabeleireiro lá da rua, para disfarçar e calar as más-línguas.

Quem não me vai perdoar estas linhas vai ser a Mariazinha, mas posso bem com ela, o máximo que me poderá acontecer é levar com uma tarte pela cabeça abaixo e ficar um ano ou mais sem que me fale, é assim que ela procede, é muito opiniosa e adora acompanhar connosco.

Está apaixonada desde os bancos de escola pelo Hélder, por ele não casou com mais ninguém, embora não admita isto toda a gente sabe ser verdade, talvez seja virgem e é conhecida entre nós pela boquinha de broche.

Não imagino porquê, apenas que tem um falar muito baixinho, muito suave, nunca acima da meia nota quanto mais de um lá menor, e ainda que ninguém perceba de música, todos concordamos que aquela boquinha é de sonho e daria uma boa tocadora de pífaro !

Acredito que se conquistar as boas graças de D. Apolónia receberá o Hélder por recompensa, ele ainda não sabe mas não é coisa que lhe faça diferença, sabido ser  como é obediente á mãe e adorar brincar com instrumentos de sopro !

Uma vez em Gerez de La Frontera….

É melhor ficar calado. (não contem a ninguém), mas certa noite, à beira mar em Puerto de Santa Maria, todos com uma piela de caixão à cova, o Hélder e uma tal Pilar ou coisa parecida, enroscados por causa do frio, o aparelho dos dentes da Pilar cheio de efeitos multicores brilhando no escuro como pirilampos…

O Hélder andou a tratar-se mais de um mês, ficou todo escalavrado!...
O Amor é Fodido! ( Miguel Esteves Cardoso, não recordo a editora) mas ninguém desiste dele!

Quem falta ?

Atenção !

Chamada !

Quem falta !

O Leandro Rosa Silva, advogado, homossexual, parceiro a cem por cento, compicha, (eu sei que se escreve compincha), verdadeiro Adónis, cultor do corpo, do carácter e mais homem que muitos homens.

Finalmente a Filipa e o Afonso, de quem não vos vou falar hoje pois só eles dão uma crónica, lembrem-me um dia de vos falar deles, vale a pena, ela porque não se cala um minuto, ele porque é raro ouvir-se-lhe algo.

Um casal deveras curioso este, mas não é por isso que merecem uma atenção particular.

Mais tarde falaremos deles, até por ter que lhes comunicar o facto e saber até onde poderei ir.

Afinal convenhamos ser tudo gente normal não?

Como vós, como eu, e falto eu !

Mas a mim já vocês conhecem, de mim nem vale a pena falar né?