segunda-feira, 11 de abril de 2011

38 - A SAUDADE, O DESEJO E A TUA AUSÊNCIA...




E quando a mente se queria libertar do pensamento que me oprime e tolda, eis que o dia surge baço, triste e chuvoso, quebrando-me a vontade de pelas estradas desvairar sem hora nem destino

Não quero pensar, custa-me pensar, dói-me pensar, por isso a tal me furto na vã ilusão de o conseguir

Não consigo

Pudera eu, mas não consigo

As ideias assaltam-me em catadupa entrechocando-se, cada uma exigindo primazia  atenção e dedicação exclusivas, e não consigo debruçar-me sobre absolutamente nada, sobre nenhuma delas, furtando-me às soluções que procuro e não alcanço, a sobressaltos nesta vidinha álacre mas rotineira, a esta alegre paz dos mortos que há tanto cultivo como se necessária, útil, essencial à vida, e não é

Não é, é erro e engano, viver não pode ser isto, decerto não é isto, pelo que, consciente da minha inconsciência e recusa de atenção aos tantos problemas e questões que em simultâneo me assaltam, sorrio, pela primeira vez sorrio e deixo andar, deixo para trás, o tempo que resolva esta minha impossibilidade, reservo-me gozar o momento e lembrar-te, a ti, cuja ausência me grita e me inquieta, tu, sim tu, a quem dei asas, aguardei planasses, por quem agora olho temerariamente os céus na incerteza do regresso, feliz por finalmente voares só, quebrados receios que não lembrara, antecipara, acautelara, como se o centro do mundo eu, e não sou, nunca fui, mas me julguei, tal o apreço que me votaste

Tomei então consciência da força em ti e da tua vontade

E quedei-me cônscio que tu és tu e eu sou eu, e jamais fomos ou seremos um só

Então, pela primeira vez lamentei não ter tido o que jamais pedira e tanto acabara desejando, quanto lamentei ter perdido o que vez nenhuma me pertencera e já dera como meu

Sim, o que jamais pedira ou vez alguma desejara, e se transmutara indelevelmente em algo que muito ambicionei e jamais tive, apesar assim o ter considerado, mas ao qual por direito algum que conscientemente possa arvorar a favor poderei por uma vez chamar ou dizer meu

E assim a saudade o desejo e a tua ausência em simultâneo evoluem num sonho lindo que alimento, mais acordado que dormindo, e me trazem encantado há tanto tempo, esquecido de tudo e de todos, e de mim, que me não penso, já que somente nesse sonho vertido em esperanças inverosímeis me é possível acalentar-te

Tão inverosímeis quanto o futuro que nos aguarda, quais castelos de nuvens engalanados de boas intenções e suspiros, e ais, e tu, e eu, em posições tais que o melhor é esquecer, não lembrar mas esquecer simplesmente que não podemos sequer augurar, sorrir, sorrir desta ironia que nos juntou sem juntar e contudo durante tanto tempo logrou enganar estas mentes ávidas, carentes, iludidas, sofridas, alienadas de si por vontade própria, agora cônscias de que contudo, todavia, valeu a pena esta impossibilidade…

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