quinta-feira, 28 de junho de 2018

513 - O TRIUNPHO DA VONTADE, primeira parte ...

 

De modo quase automático a sociedade sempre se ajustou, com maiores ou menores flutuações, a um equilíbrio que nos cabe interpretar, e até sobre ele agir. Desde que Malthus nos surpreendeu com as suas primeiras impressões, ou leis, as quais ainda hoje chocam os mais desprevenidos, incautos ou desconhecedores de tais teorias. De tal modo que podemos dizer da demografia o que se diz da física, ou do universo, há um horror ao vazio que, de uma forma ou de outra acaba sendo preenchido. Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, como se existisse nela, demografia, o mesmo tipo de harmonia que observamos entre as leis da oferta e da procura, que, como sabeis se influenciam mutuamente.

Desde 1798 que Thomas Malthus e o seu horroroso malthusianismo que o problema é conhecido com cariz científico, e a par dele os modos de sobre o mesmo agir, o que deve ser feito atempadamente já que a resposta pretendida demorará certamente a ser cumprida. A sociedade por si mesma evita uns problemas mas cria outros e os pratos da balança, balançam deveras até que o pretendido ou natural equilíbrio seja atingido ou encontrado.

A brutalidade das palavras do poeta Jonathan Swift, por volta de 1729 e propondo aos pais que vendessem os filhos para que degustando-os as famílias ricas fizessem frente à fome que devastava a Irlanda, ou que os próprios pais os comessem, tendo ficado conhecida na história como a Modesta Proposta deve ser vista como ironia sobre as teorias de Malthus, ironia que o poeta bem sabia corresponderem à realidade, o mundo, o equilíbrio natural do mundo é autofágico, a história o prova e comprova, não assistimos ao longo dela somente a grandes e macro migrações, mas também a epidemias, fomes, guerras, tragédias, cataclismos, que separadamente ou em conjunto repõem esse equilíbrio entre recursos e consumidores dos mesmos, nós os habitantes do planeta.

A uma outra escala, a uma escala micro o modo de viver das sociedades também repara ou causa danos no tecido demográfico, veja-se como a GB, França e RDA foram procuradas após a II GG e como actualmente e por idênticos mas inversos motivos os portugueses fogem de Portugal, é caso para dizer termos por cá acordado tarde e a más horas para um problema que a demografia apontava há duas três ou quatro décadas atrás, não a ter levado a sério está e irá custar-nos os olhos da cara. Manter a estabilidade ou o crescimento de uma população obedece a factores tão diversos como a economia, o bem-estar, o pleno emprego, a felicidade ou capacidade, diria oportunidade de realização pessoal, aspectos de que Portugal não cuidou, estando agora a importar estrangeiros para colmatar o déficit demográfico, ou seja trocando a solução de um problema actual por uma carrada de problemas futuros, diria estarmos saindo da lama para nos metermos no atasqueiro.

A falta de conhecimento dos nossos governantes e deputados, uns e outros de uma ignorância atroz somente com paralelo na vaidade e prosápia (prosápia enquanto jactância e bazófia) que pavoneiam, aqui nos tem conduzido, valha-nos o facto de muitos desses migrantes acabarem por ir-se embora mal se apercebam do labirinto onde se meteram, sendo pouquíssimos os que acabam por aqui fixar raízes.

Mas estamos a desviar-nos da vaca fria e a vaca fria hoje é a demografia, o patronato tanto esticou a corda para baixo que hoje não tem mão-de-obra que lhe cuda, os tugas emigraram, fugiram da sua egoísta e patronal ambição, esses patrões que trabalhem par eles mesmos, os tugas foram fazer vida e procurar a felicidade noutras paragens. Por outro lado, não detendo já o país a posse das grandes empresas fulcrais no sustento de qualquer economia, como sabemos foram vendidas aos estrangeiros por dois patacos, sucede sermos escravos dos outros na nossa própria pátria e como tal resultar compensador procurar em terra alheia não sofrer os dissabores a que nos condenaram na nossa terra, na nossa pátria.

Como se está vendo uma pátria madrasta, capaz de salvar os bancos mas que não acode aos portugueses, aos seus lídimos filhos, o que diz bem para onde está virada a nossa política e o nosso futuro. Aos bancos acodem com milhões, aos tugas tiram a casa por dois tostões, esta é a política que tem sido exercida pelo centrão, e nem a extrema-direita nem a extrema-esquerda pegam numa bandeira que deviam erguer bem alto, a defesa dos filhos desta nação.

Por outro lado ao tuga não é ensinado, e ele sozinho não chega lá, é incapaz de sózinho pensar como combater todas estas iniquidades e arbitrariedades que lhe atiram acima. O tuga não aprende sozinho, nem acompanhado, nem sequer com os erros dos outros, não o digo eu, dizia-o Eça de Queiroz, e mais recentemente José Gil o nosso filósofo que o tuga é ignorante, vaidoso, estupido por natureza, não faz nada por si mesmo, abomina a franqueza e, a menos que surja um outro Fontes Pereira de Melo, um Marquês de Pombal, um Infante D. Henrique ou um outro Salazar que o conduza, não passará de ovelha no rebanho caminhando ordenadamente para o cadafalso.

Deus concedeu-nos o livre arbítrio, mas o tuga na generalidade nem o usa nem sabe sequer o que seja, ou do que se trata. Já me alonguei demasiado neste ensaio de hoje, amanhã lhe darei continuidade, veremos como a vontade é tudo, querer é poder, vejam o filme de Leni Riefenstahl “ O Triunfo Da Vontade “ o filme proibido de Leni Riefenstahl e aprendam com ele, uma obra-prima cinematográfica mas também da mestria com que os nazis usaram para o mal mas uma fórmula que naturalmente pode e deve ser usada, usado, a vontade, o livre arbítrio, para que consigamos chegar onde queremos, obter o que desejamos.

Amanhã haverá mais, passem bem, tomorrow falaremos dos dez mandamentos, do casamento, de porcas parideiras, de carne pra canhão, de mão-de-obra e níveis de produção, etc etc etc …







512 - UM PEQUENO ENSAIO SOBRE A MINÚCIA*


Serão casos tanto para admirar quão louvar, exemplifico com a minúcia que existe e exigem as coisas frágeis, como a quimera e o pormenor genealógico das obras de arte que Darwin nos desvendou nas asas das borboletas que o sol doira.

Coisas que nos tocam e comovem, tal qual a simplicidade do belo, ou a beleza da simples e aparente minudência do olhar contemplativo de quem observa os iridescentes reflexos do mar no final de uma tarde de verão.

Também contemplo a coerência que nos devia animar, dela dou como exemplo a firme minúcia do bisturi no rasgar das carnes e movido pela virtude do cirurgião. Ou o detalhe, a circunstância aflita das mulheres de negro vestidas que no areal deserto esperam pelo regresso das barcaças quando o mar é táureo e se rebela.

Não olvido coisas a que devemos estar atentos e ter à mão, tal como a sagaz argúcia minuciosa de Armstrong ao poisar o pé na lua, ou a particular minúcia do actor quando expectante no palco actua e nunca menor que a manual perístase ou minúcia com que o artesão fragmenta o diamante de que resulta um lapidado multicolor, irisado e brilhante como uma exposição de mestre.

Maestrina e perita minuciosa é a lagarta, qual perífrase que com mil fios de seda tece e veste o trabalhado capote do diestro, qual bagatela fadada duma sofisticada metamorfose quando e se o toiro citado investe.

O instante, a metamórfica fénix, o raio, o milagre, o inverso da paciente minúcia com que as abelhas constroem os favos de mel, metamorfose e aposta que com minuciosa minúcia a mulher busca alcançar, e ganhar, ao perfumar o corpo de oloroso gel.

Agora observem, vejam, atentem na minúcia com que a ave edifica o ninho, qual minúcia da velha senhora ao bordar o linho e nada diferente da minúcia do lenhador ao cortar a lenha com que alimenta na lareira acesa o tição que arde, a fagulha que crepita, aquece e conforta, que hipnotiza e se fita.

A mim comove-me a doçura, coisa nada mínima inda se fugaz minúcia, o carinho amor e dedicação posto no amanho da vinha, gesto de simples grandiosidade, grandiosidade complexa donde nascem os néctares com que se faz a festa.

Festa, baco, bacantes, a minúcia da fecundação, o crescer do embrião, a dolorosa e perita minúcia do parir, a extremosa ternura duma mãe amamentando o filho, amamentando o devir e o departir trigo e joio pois a vida nos exige minúcia afim de, se vivida, se viver, sendo ser.

  
* Ensaio desenvolvido como homenagem e a partir do poema “A Minúcia” do meu amigo Orlando Redondeiro e publicado in: https://www.facebook.com/groups/551642461892642/permalink/736685093388377/ D'OR OUT / 2016.