Os últimos tempos vividos, os atropelos à democracia, a parcialidade manifesta, a falta de isenção de decoro e respeito
por eleitores, contribuintes, espectadores e Tutti quanti, têm-me conduzido a profícua
meditação.
Verberamos os tempos da outra senhora, digo
do antigo regime, mas parece nada termos aprendido com eles, de tal modo que
nos encontramos agora bem pior que em 1926, quando um salvador foi chamado para
que a pátria não perecesse. Direita e esquerda parecem apostadas em ver qual
delas vê pior, seja ao perto seja longe, e a verdade é que volvidos 46 anos de
pacata democracia nos encontramos não num beco sem saída mas no fundo de um
abismo.
É curioso que decorridos 46 anos de relativa
paz neste país e no mundo não tenhamos conseguido fazer ou fechar um único
negócio de modo positivo. Ora nenhuma empresa, nem nenhum país, se aguenta ou sobrevive
vivendo sobre negócios ruinosos. Que me diga quem souber qual negócio que
Portugal fechou nos últimos 46 anos em que não tenhamos tido muitos milhões de
prejuízo. Da TAP á EDP, a Sines a todos os mas a todos os negócios em que nos
metemos, BESCL, BPN, etc. etc., em todos enterrámos muitos milhões para nada,
simplesmente queimados.
É difícil gerir tão mal, é difícil fazer pior,
não nos temos governado, temo-nos desgovernado e mal de há 46 anos para cá. 46 Anos
em que nem novas empresas, nem novas oportunidades surgiram e nada de novo
cresce a não ser a falta de transparência e a corrupção, é tempo de dizer basta
é tempo de dizer chega.
Já nada é nosso, na ânsia de liquidar os agrários
que desprezámos entregámos tudo aos espanhóis que veneramos. O capitalista
nacional não presta, mas o capitalista estrangeiro é herói respeitado e
venerado. De tal modo errámos que hoje nada é nosso, nenhuma grande empresa pública,
nem os seguros, nem a banca, nem as terras, nem as estradas, nem as pontes, nem
portos nem aeroportos. Pagamos caros comboios deficitários e vergonhosos em que
nem andamos, aviões em que não voamos, pagamos cara uma RTP que não vemos,
continuamos pagando a taxa de um universo audiovisual que nos embala, trama,
mente e aliena.
Até quando ? Ainda não CHEGA ?
Pagamos caros serviços de que não beneficiamos
e o avanço tecnológico só serviu para nos complicar a vidinha. Ninguém atende
telefones na maioria dos serviços públicos, não respondem aos e-mails, patinhamos
no nosso próprio atavismo e erguemo-nos contra quem queira mudar este estado de
coisas há muito impossível de manter.
95% Da banca já não é nossa, nem 97% dos
seguros e o investimento, de que precisamos como de pão para a boca, se público
ronda há muitos anos o zero absoluto, se falarmos do investimento privado direi
ser oportunista, leva-nos os anéis não tardando a levar-nos também os dedos,
numa condenável
ainda que compreensível atitude predadora pois somos nós quem se põe a jeito....
Contudo o investimento privado, não deixando
de manifestar-se pelas horas de amargura que está passando, foge daqui a sete
pés apesar
de bradarmos por ele. Para o investidor tudo conta, em especial a existência de
um mercado suficiente, estabilidade social e uma fiscalidade aceitável e previsível,
eu diria serem estas as coisas que mais contam, pois bem, há anos que não temos
nem umas nem outras e, lamentavelmente ninguém se opõe, ninguém contesta,
ninguém denuncia este estado de coisas.
A invés de nós, que somos mestres do
improviso e avançamos às cegas e sem rede, ninguém parece reparar no modo
organizado quase militar com que a China avança no mundo e em Portugal com o seu
modelo de internacionalização. Um modelo exemplar e que mais parece ter saído
dos manuais de um gabinete de estratégia militar onde se elaboram há mais de
trinta anos as melhores tácticas para se assenhorarem do mundo. Começaram por
ficar com as “Lojas do 300” mas hoje Imperam
e dominam, enquanto nós regredimos para valores de há duas décadas atrás.
É
este o nosso progresso, a nossa situação, em linguagem económica dir-se-á que
registamos há mais de 20 anos um crescimento negativo. Toparam o eufemismo ?? Eu
diria mesmo um sólido crescimento negativo. Com eufemismos destes todos os dias
nos enganam, e todos os dias governantes e deputados se enganam a eles mesmos.
Direita e esquerda falharam rotundamente em
Portugal. A direita por se ter acovardado após a morte de Sá Carneiro, de quem
ficou órfã até hoje, incapaz d’o substituir, d’o compreender, d’o igualar. E
assim ou devido a isso a direita se tem demitido de defender os seus valores
tradicionais. Sim a direita tem valores e tradição, tinha, há 46 anos que se demitiu
de os defender, de se assumir, traindo duma assentada e por duas razões todo o
povo português, que não defendeu repito, permitindo a sua alienação, tanto
quanto permitiu e até participou na alienação do país e do seu rico património
social, económico e cultural.
Como alguém disse “temos a direita mais
estúpida da Europa” penso ter sido Miguel Sousa Tavares, que também acrescentou
“termos a esquerda mais estúpida do mundo”. Senão vejamos o que conseguimos em
46 anos em que a esquerda governou ou no mínimo condicionou maioritariamente os
caminhos deste país ?? No mínimo zero, nada, no máximo 46 anos perdidos, um buracão
na economia, e na sociedade uma montanha de dívidas que nem Maomé quererá olhar
quanto mais visitar…
Nem tudo que é bom se deve à esquerda, nem
tudo que é mal se pode atribuir à direita, uma outra são o braço e o fiel da
mesma balança, e querer governar com uma esquecendo a outra é erro crasso, até
a nossa cara tem duas faces, e todos somos portugueses, todos temos boas ideias,
todos temos ideias de merda. Há 46 anos que ideias e ideais de merda vingam no
país, o resultado está à vista de todos, é hora de mudar de agulha ou de linha.
Querer obter resultados diferentes com a mesma mezinha é teimosia de tolos.
Sim, somos tolinhos, mas portamo-nos como
ricaços apesar dos pelintras e pedintes que somos, perdemos a honra e a
vergonha, do macaco nu que éramos em 74 passámos ao rei vai nu de agora, e
parece nem termos dado por isso. No entretanto enganam-nos e enganamo-nos com
soluções incoerentes, duvidosas, em que ninguém acredita mas às quais todos
encolhemos os ombros, desinteressados, porque este país é governado por um
ninho de aldrabões sem qualquer pudor ou credibilidade, assessorado por mídias
não isentos que espezinham a imparcialidade a cada momento, vivem de subsídios e
lambem a mão do dono.
Da ditadura de Salazar passámos à ditadura
dos instalados, os mesmos contra os quais décadas atrás Mao atiçou os Guardas
Vermelhos dando início à inenarrável Revolução Cultural (formalmente a Grande
Revolução Cultural Proletária), movimento sociopolítico na China a partir de
1966 e que se prolongou até 1976. Movimento que de cultural não teve nada mas
de barbárie teve imenso, terá sido essa contudo a única forma possível de fazer
a terra mover-se, tal qual dissera teimosamente séculos atrás Galileu Galilei,
Já não recordo mas penso que em 1633
- … “ E no entanto ela move-se “ …
Derrotado
o milenar feudalismo chinês com a revolução de 1950, não tardou que funcionários
e homens de mão do partido tomassem conta dos lugares deixados vagos e se
instalassem neles de armas, bagagens e mordomias. A China, que sofrera uma
convulsão (1946 – 1950), estava de novo manietada, desta feita pelos donos da
revolução, que prometiam mais mil anos de feudalismo, ou de imobilismo. Mao
nunca teria tido de outro modo que não com a ingenuidade, parvoíce e inocência
dos jovens, poder para retirar desses lugares de privilégio os novos instalados,
e hoje a China é o que todos sabemos.
Portugal padeceu até 74 com a oligarquia
instalada no poder cuja história conhecemos, mas volvidos 46 anos temos nas
mesmas cadeiras gentinha ainda pior. Dantes sofríamos os desagravos de uma
cabeça uma sentença, hoje os desatinos de cem cabeças e de cem sentenças. Entre
uma e outra opção venha o diabo e escolha.
Os instalados de hoje contra os
instalados de ontem, porém estes comem mais, roubam mais, estragam mais e fazem
menos, muito menos. Que fizeram de positivo para além de 46 anos de negócios
ruinosos ? Para além da venda do país a pataco ? Para além da traição de
alienação de sectores estratégicos ao estrangeiro ? Para além de toda
injustiça, incompetência, irresponsabilidade e corrupção ?
Basta, chega, vou terminar deixando-vos dois
desafios para interrogação e meditação;
§ Que levou o fascista Benito
Mussolini e o partido Fachio a instituir pela primeira vez no mundo regulamentação
de trabalho extraordinariamente detalhada e ao tempo a mais completa e progressista
da Europa e do planeta, a qual incluía pela primeira vez as 48 horas de trabalho
semanal, oito diárias, e em que contexto e condições o fez ?? **
§ Por que foi o Kaiser Guilherme
II da
Alemanha e último Rei da Prússia, esse imperialista, fascista, direitista e
capitalista quem instituiu pela primeira vez na história, na Europa e no mundo,
um sistema de previdência e segurança social cuja protecção beneficiou desde então
milhões e milhões de trabalhadores, e por quê ?? ***
Meditem.
Boas Festas, Feliz Ano Novo
- ** A Carta do Trabalho (italiano: Carta del Lavoro) é o documento
no qual o Partido Nacional Fascista de Benito Mussolini apresentou as linhas de
orientação que deveriam guiar as relações de trabalho na sociedade italiana,
nomeadamente entre o patronato, os trabalhadores e o Estado, sendo uma das
facetas do modelo político corporativista. A Carta foi promulgada pelo Grande
Conselho do Fascismo e divulgada no jornal Lavoro d'Italia em 23 de Abril de
1927. As horas diárias e semanais por algumas categorias (8 e 48)
foram estabelecidas pela legislação regular nomeadamente o R.D.L. 19 Março
1923, n. 692. A CDL declarava apenas princípios orientadores como uma
Constituição. (NOTA POSTERIOR; O meu obrigado a Ricardo Marchi que ajudou a esclarecer alguns pontos mais duvidosos.)
- *** Na abertura do Reichstag a 6 de maio de 1890, o Kaiser Guilherme II (Natural de Berlim, 27 de Janeiro de 1859 – falecido em Doorn, 4 de Junho de 1941, foi o último Imperador alemão e Rei da Prússia de 1888 até sua abdicação em 1918 no final da Primeira Guerra Mundial. GVBuilherme II afirmou que o problema que exigia mais atenção era o aumento do projecto sobre a protecção dos trabalhadores.[11] Em 1890, o Reichstag aprovou os Actos de Protecção dos Trabalhadores que melhorou as condições de trabalho, protegeu mulheres e crianças e regulou as relações de trabalho.