sexta-feira, 22 de julho de 2022

772 - MORENA PAIXÃO - Poema de Humberto Baião

         Poema composto para um meu amigo tentar musicar.


MORENA PAIXÃO  *

 

Abraça-me mar,

Contém'a saudade,

Embeleza este amar,

Este desejo e vontade.

 

E, como só tu sabes,

Guarda este amor,

Segredo que não abre,

E se se esconde na dor.

 

Cerceia a saudade,  

Refreia este amar.

 

Abraça-me mar,

Como só tu sabes,

Evita-me sonhar,

Voar como as aves.                          

 

Poupa-me ao sonho,

Trava-me o desejo,

E a esperança que ponho

Em roubar-lhe um beijo.

 

Cerceia a saudade,  

Refreia este amar.

 

Sou um Pedreirinho, **

Planando nos sonhos

De roubar-lhe beijinhos,

Beijinhos aos molhos.

 

Abraça-me mar,

Como tão bem sabes,

Evita-me sonhar,

Vogar como as aves.

 

Não cerceies esta saudade mar,  

Nem refreies este amor, meu mar.

 

Solta-me a vontade,

Não me abraces mar,

Solta este segredo

Teimando em abrir.

 

Deixai m'o coração florir

Mar, não me traves,

Nem me poupes,

Sou livre como as aves,

Não me culpes.

 

Pior o degredo …                

Que guardar segredo…

 

Vou roubar-lhe um beijo

Levantar-lhe um altar

Quebrar este freio, e

 

Abraçar o mar

Abraçar o mar

Abraçar o mar

 

Pior o degredo …                

Que guardar segredo…

 

·          Poema de Humberto Ventura Palma Baião

Évora – Portugal. -  Foto Net 4039867_Ao_toque_do_Berimbau_70_x_90


                      ** Pedreirinho, ave de Cabo Verde

terça-feira, 19 de julho de 2022

772 - A EUROPA É O GRANDE PERDEDOR *

 



A
EUROPA É, PORTANTO, O GRANDE PERDEDOR *

“O conflito ucraniano e o lado civil da guerra”

 

No início de Junho, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais com sede em Washington (um think tank muito próximo do Departamento de Defesa dos EUA e da indústria de armas dos EUA pela qual é fortemente financiado) publicou um artigo de Antony H. Cordesman, “The Long- Impacto a propósito do conflito ucraniano e da crescente importância do lado civil da guerra”, que descreve muito apropriadamente a nova abordagem norte-americana ao conflito na Europa Oriental.

 

Diz: “agora parece possível que a Ucrânia não recupere os seus territórios no leste e não receba rapidamente a ajuda necessária para a reconstrução”. Ajuda que seria estimada, com muito optimismo, em 500 mil milhões de dólares (número que não leva em conta a perda territorial de sua região mais rica). Além disso, a Ucrânia terá de contar com uma permanente ameaça russa que limitará a capacidade de reconstrução das suas zonas industrializadas e que, apesar das perdas territoriais acima referidas, e só ingenuamente tendo em conta que não haverá no futuro problemas ao nível do comércio marítimo. (o risco da ameaça russa após a conclusão das operações no Donbass, e dos movimentos em direcção a Odessa permanecem reais, pois excluem completamente Kiev do litoral do Mar Negro).

 

O artigo também relata, como o conflito mostrou, do lado russo, um uso coordenado e muito flexível de meios militares, políticos e económicos em comparação contra o qual o simples recurso à guerra de propaganda e ao regime de sanções no Ocidente parecia visivelmente ineficaz. Um factor que de alguma forma remodelará o sistema global desde o eventual fim dos combates não significará o fim de seus impactos económicos e geopolíticos de longo prazo. Sem falar que a Rússia e a China estão desenvolvendo uma notável capacidade de atrair países africanos e asiáticos para o seu lado (o caso recente do Mali, que optou por expulsar os contingentes francês e italiano, nesse sentido, é emblemático).

 



Além disso, ao contrário do que tem feito a propaganda ocidental até agora, Cordesman afirma que apenas uma "pequena fracção" das acções russas na Ucrânia podem ser formalmente definidas como "crimes de guerra", apesar de seu impacto sobre a população civil.

 

Independentemente das considerações do chefe de estratégia emérito do Think Tank norte-americano (com o qual se pode concordar ou não), o que fica evidente é a mudança de paradigma na narrativa do conflito em que se centra.

 

Os Estados Unidos (aqueles que, segundo Kissinger, têm apenas interesses e não aliados) não são novos nessas operações de abandono do "amigo" quando atingem seu objectivo ou não o julgam mais útil (do Vietnam ao Afeganistão, passando pelo Panamá e Iraque, a história está cheia de exemplos semelhantes). Resta saber se os Estados Unidos realmente alcançaram seus objectivos em relação ao conflito na Ucrânia ou se essa mudança de paradigma pode ser interpretada como uma “retirada estratégica”.

 

Foi apontado anteriormente que o conflito na Ucrânia está levando a mudanças profundas na actual estrutura económica, financeira e geopolítica do mundo. Podemos falar de uma evolução para um sistema multipolar? A resposta é sim, mesmo que os próprios Estados Unidos tentem desacelerá-lo. Como ? Hoje existem três grandes potências mundiais (no futuro poderão ser quatro com a Índia): Estados Unidos, Rússia e China (as duas últimas são consideradas potências revisionistas do sistema unipolar). No entanto, o principal concorrente global do dólar é o euro. Logo, o objectivo norte-americano, para ganhar tempo na parábola descendente do império norte-americano, é o enfraquecimento constante da moeda europeia.

 

Além da Ucrânia, quem é o grande perdedor no actual conflito na Europa Oriental ? A União Europeia. O objectivo dos Estados Unidos, pelo menos desde 1999, tem sido tornar sua própria indústria artificialmente competitiva, destruindo a indústria europeia e mantendo o Velho Continente em estado de cativeiro geopolítico. A elite política europeia está bem ciente disso, mas está muito ocupada perseguindo seus próprios interesses, esquecendo os interesses da união.

 

Tomemos, por exemplo, o caso limítrofe da Itália, cuja estratégia energética de longo prazo foi abalada pela agressão da OTAN contra a Líbia. Desde então, os governos Monti, Letta e Renzi foram os principais responsáveis ​​pela subordinação quase total da política energética italiana ao gás russo. Hoje, os mesmos partidos que primeiro apoiaram a necessidade de intervenção na Líbia e depois os governos que se seguiram ao de Berlusconi (responsável pela traição a Trípoli) são os mesmos que reivindicam e aplaudem o embargo às importações de hidrocarbonetos da Rússia, mais uma vez em completo desrespeito ao interesse nacional da Itália. Nesse contexto, a única solução para a Itália só pode ser livrar-se do dragismo o mais rápido possível. (Não por acaso Mário Draghi acabou de demitir-se, demissão que o presidente italiano não aceitou, nota minha).

 

A Europa é, portanto, a grande perdedora económica e geopolítica. A possibilidade de uma crise alimentar na África e no Médio Oriente devido à continuação do conflito e, consequentemente, a redução das exportações de grãos russos e ucranianos para essas regiões pode causar novas ondas migratórias que afectarão directamente uma Europa em que o problema do fornecimento de energia levará a uma inflação cada vez mais alta, uma crise económica estrutural e um declínio muito mais que relativo na qualidade de vida geral.

 

Finalmente, não se deve subestimar que a âncora vital para a Europa (pelo menos no curto prazo, já que a diversificação via África e Israel parece muito distante) deveria ser o gás natural liquefeito norte-americano. Bem, uma estranha explosão recentemente derrubou o LNG HUB em Freeport, Texas, de onde saem os navios que transportam o gás para a Europa. A infra-estrutura estará novamente operacional a partir do final de 2022. (e, acrescento eu, pronto para ser novamente torpedeado) Tudo isso enquanto a Gazprom reduz suas exportações para a Europa em retaliação à aprovação de mais um pacote de sanções suicidas.

 

Fonte: Editora Ariana, via Euro-Sinergias.

 


Tradução livre feita por mim a partir de:

https://reseauinternational.net/leurope-est-donc-la-grande-perdante/

Imagem_pdfimagem_e impressão por Daniele Pereira.




terça-feira, 12 de julho de 2022

ÉVORA, CIDADE A METRO, 1 IDEIA DE CIDADE

 


771 - CIDADE A METRO, UMA IDEIA DE CIDADE    ( 7 )

ATENÇÃO, crónica já publicada no Diário do Sul em 4 de Setembro do ano 2000.

 


Alguns problemas são ocultados enquanto outros, de menor dimensão, são objecto de debates animados”  *

 

Sendo a cidade um lugar por excelência de concentração de população e o lugar privilegiado de relações sociais, a verdade é que devido às características da própria cidade intramuros, o crescimento da mesma se tem feito para os subúrbios.

 

Esta expansão, que diariamente origina fluxos pendulares de pessoas e viaturas, com as consequentes perdas de tempo e o congestionamento da cidade (engarrafamentos diários) deve-se ao facto, entre outros, de não ter ainda sido concretizado um eficaz sistema de transportes colectivos, e a não ter havido lugar a uma desconcentração ou descentralização de muitos dos serviços estatais e privados que de forma míope continuam a apostar no centro histórico, contribuindo para agravar os problemas conhecidos.


 Alguns factores essenciais contribuíriam para esse descongestionamento, a descentralização de serviços, a criação de bolsas estacionamento, arborizadas, (foi-me dito então - estão já previstas mais, pois as que foram criadas não eram suficientes) a mais que reconhecida necessidade de completar as vias circulares envolventes, (nunca terminadas até hoje) e uma solução, não encontrada ainda, para os transportes colectivos.

 

 Com o novo Plano de Urbanização estamos (estávamos então) em condições de definir objectivos, coordenar eficazmente a vida económica e social, calendarizar acções e projectos, mobilizar meios, promover a optimização do espaço e dos recursos, melhorar a qualidade de vida.

 

É necessário compreender que o Planeamento deve ser entendido como um processo dinâmico, um meio para atingir fins, nunca como um fim em si mesmo.

 

Não deverá constituir unicamente uma bandeira a agitar por quem merecidamente o conseguiu, mas sim para evitar improvisos, medidas de curto prazo, ou remendos, tendo pelo contrário em mente a projecção do nosso desenvolvimento a médio e longo prazo, e não só o planeamento em termos físicos, mas também em termos económicos, sociais e culturais.

 

A taxa de urbanização em Portugal é somente metade da verificada na CEE, com incidência em Lisboa-Porto e litoral. Contudo Évora registou entre 1981 e 1991 altas taxas de crescimento urbano. Évora surge (surgia na época) vocacionada como a área Metropolitana do Alentejo, por razões naturais mas também devido ao fraco crescimento das outras cidades alentejanas.

 

Voltando ao início desta crónica, verificamos que ao longo dos anos se tem discutido muitas vezes o sexo dos anjos, ou o óbvio, em detrimento das Grandes Opções que muitas vezes são ocultadas ao cidadão, vindo este a confrontar-se à posteriori com factos consumados

 

Os grandes problemas que Évora acusa são o subdesenvolvimento, os transportes, a falta de indústrias, de locais de lazer e encontro, e coíbo-me de mencionar outros porque estão em “projecto”, em “carteira”, estão em “incubação” … (tal e qual, foi assim que me responderam então).

 

Na realidade, se queremos pensar o futuro, não devemos esquecer uma cintura verde, que permita à cidade beneficiar de um pulmão, aos eborenses lugares de recreio, e que em simultâneo proporcione a partir dele nova realização / reorganização da cidade, em especial dos antigos bairros clandestinos forçosamente integrados na malha morfológica urbana, não sem dano para a fisionomia correcta que por esse motivo não pudemos criar.

 

Évora acusa a justaposição de três planos distintos, correspondente a três diferentes épocas, a antiga, do velho burgo, a moderna, que inclui os clandestinos, melhor ou pior assimilados, e a contemporânea, ou seja aquela em que temos que apostar vivamente, e cuja harmonização com os planos anteriores deve permitir uma interacção aceitável, já que o óptimo é no caso impossível.

 

Mas, acautelando o futuro, e porque há que prevenir para não termos que remediar, sugeria que fosse pensada a instalação de um Metro de Superfície, que circundasse a cidade, com interfaces nos bairros periféricos, nas piscinas, (a precisarem urgentemente de uma vasta área de estacionamento, necessidade que continua a manifestar-se actualmente sem que lhe tenha sido dada resposta) no Kartódromo, no Aeródromo, nos hipermercados, nos complexos desportivos, nos terminais rodo e ferroviários, e com possíveis incursões a pontos nevrálgicos da cidade e a bolsas de estacionamento. Um desses pontos seria o rossio de São Brás, futura praça grande e de onde poderia irradiar a rede, para a zona e o Parque Industriais, o MARÉ, a futura feira. Um percurso acautelado hoje evitaria demolições no futuro. O Metro é um meio de transporte rápido e eficaz, seguro barato, não poluente, desconheço somente se a sua instalação seria muito onerosa ou não. (poderiam ter sido aproveitados troços de linhas de caminho de ferro que foram arrancados).

 

Mirandela tem um destes sistemas de transporte urbano e ao que consta com elevados índices de satisfação da população. E por ter falado na nova Feira de São João, com os seus futuros pavilhões de exposições, que nível lhe vai ser dado ? Local ? Regional ? Nacional e internacional ? Não duvido que a sua implementação atrairá a Évora muitas empresas que a actual feira deixa de fora. Muitas delas pretenderão certamente vir a instalar-se em Évora aproveitando a dinâmica proporcionada pelo parque, estão criadas ou pensam criar-se  estruturas para as receber ? (pergunta retórica pois entretanto essa dinâmica morreu).

 

Sabe-se que o PROSIURB financia a fundo perdido infra-estruturas e equipamento de apoio à actividade produtiva, equipamentos de utilização colectiva ou a sua reabilitação. Já foi accionado este programa ? Já se concorreu a ele ? (nunca ninguém deu qualquer resposta a estas perguntas, nem na AME, é portanto importante que o MCE queira muito justamente acompanhar os trabalhos da câmara municipal, ajudando, lembrando, alertando, certamente de modo construtivo, lamento que essa intenção do MCE tenha sido lapidarmente derrotada e negada por todos os outros partidos na reunião da AME que decorreu em S. Miguel de Machede).

 

E não será altura para pensar em novo parque de piscinas ? Em trinta anos a cidade de cresceu e parece que o complexo actual não satisfaz já as exigências em termos de população. (trinta na altura, agora cinquenta).

 

E a criação de uma pista de desportos motorizados a exemplo de outras cidades do país, e até de Arraiolos, seria de difícil concretização ?  Uma parceria com a secção de motorismo do LGC não seria possível ? E ficaria assim tão cara uma pista por exemplo de autocross/motocross ? Em que é suficiente um caminho aberto por um buldózer em terrenos incultos, e pouco mais ? Não esqueçamos que Portugal é campeão do mundo de moto Enduro, sagrado este ano (ano 2000) na pessoa do português Hélder Rodrigues, que nas ruas da sua terra e após o atropelamento de muitos cães e gatos, canalizou para o Enduro as proezas que a polícia o dissuadiu de praticar na vila. (Portimão não construiu um autodromo/motodromo de sucesso ?).

 

Tal dinamizaria outro tipo de desportos, atrairia gente e competições, satisfaria necessidades de muitos aceleras que nas ruas da cidade sublimam a sua vocação de campeões, colocando tudo e todos em perigo constante. Não deveriam desta forma ser positivamente canalisados esses impulsos pela velocidade e exibicionismo para locais adequados e com maior proveito para todos ?  (em especial o turismo). 

 

* Lacaze, Jean-Paul, A Cidade e o Urbanismo, Ed. Instituto Piaget.

 

Sétima cónica de um conjunto temático de doze, publicada no Diário do Sul, Coluna Radicais Livres, em 4 de Setembro do ano 2000. (Em itálico explicações minhas e actuais, para melhor compreensão do texto, as quais naturalmente não constam no original).


                                                       

sexta-feira, 10 de junho de 2022

770 - PORTUGAL TÁ NA MERD@ , OU PIOR ... *

 


Quanto mais os personagens ou actores oficiais desautorizam, desacreditam, desmentem o que quer que seja, mais se sente que ou mentiram ou mentem.

 

Quando a UE, a OCDE ou o FMI auguram uma alteração da taxa de crescimento, uma subida da inflação, ou o BCE uma subida das taxas de juro, ou a Quercus uma variação climatérica negativa, e de imediato alguém vem contraditar, já está, não vou acreditar !

 

Se alguma coisa aprendi ao longo de quarenta e tal anos de democracia que levamos é que todos nos mentem com quantos dentes têm na boca. Que a crise anunciada já tinha começado em 1973 é uma despudorada mentira. Não é a mesma crise, estas ou esta é nova, é nossa, é democrática… Em 48 anos nem a combateram, nem a debelaram nem se acabou, e duvido que alguma vez venha a ser exterminada, nós talvez... Se não nos cuidarmos...

 

Não porque a crise seja invencível, mas sim por ser altamente improvável haver um sacan@ com vontade, honestidade e sobretudo com bom senso e capacidade mínima para o fazer.

 

Bem sei não ser meu hábito arengar aqui sobre estes temas mas, tal como Nero, que num momento de tédio mandou incendiar Roma para se divertir e tendo sido tal o reconhecimento demonstrado que, para jamais ser esquecido, de vez em quando prantamos o seu nome num cão, igualmente o nome de mui boa gente sempre na boca dos telejornais devia animar as hostes caninas !

 

Mas estamos a desviar-nos do caminho da virtude, lá para o nordeste eclodiu uma associação que tomou em braços a defesa do gado asinino, do burro, sabem o que é ? De orelhas grandes, mais pequeno mas mui parecido com um cavalo ? Pois bem, o nome de muita gente hoje famosa devia ser prantado nos burricos em homenagem ao esforço e dedicação com que nos têm 7odido a vidinha vai para mais de quarenta aninhos…

 

Que acham ? Pomos os nomes dos políticos nos burricos ? Tenho um pedido de assinaturas de apoio a correr na net ? Há quem por menos o tenha feito.

 

E tanto me tenho lembrado disso…

 

A propósito, recordam o Hitler ? Esse foi tão bom que nem aos cães deram o nome ! Um bandido ! Verdade ! Ninguém duvida ! Pois esse monstro, há uns bons anos pôs-me a chorar sabem ?

 

Era eu estudante de história, quando me calhou ter que fazer um trabalhinho sobre a ascensão económica do III Reich.

 

Bem… ainda fui até à Faculdade de Letras da capital p’ra ver se comprava um barato, já feito, ás vezes encontravam-se, e os contínuos vendiam aquilo por tuta e meia, ou não estivéssemos em Portugal !

 

Pensariam que só os diplomas do engenheiro e do Relvas eram passíveis de mácula ? Quantos milhares o serão !

 

P’ra ser franco só aprendi história depois de me darem o diploma, tive professores claro, uma maioria que já nem lembro e que nunca o deviam ter sido, (nunca deveriam ter sido profs... e muito menos meus... ) muitos outros que por más razões não esquecerei nunca, e bem poucos por boas vivencias e que jamais olvidarei, mas esqueçamos demónios e deuses, oportunistas e incapazes que a estória de hoje é outra e não quero indispor-me com ninguém, bem chega o que passei nas mãos daquela cáfila que quero e me esforço por esquecer.

 

Concluindo, lá tive que ser eu a fazer o trabalho sobre a economia do III Reich, e não é que me vieram as lágrimas aos olhos ?

 

Vocês sabiam que Hitler gostava do seu povo ? Amava o seu povo ? Senão como justificar que tivesse encomendado num caderno de encargos com especificações rigorosas para ser construído, por pouco mais dinheiro que o custo duma motorizada, um automóvel fiável, capaz de albergar uma família ! Não é comovente ? Digam lá se não é ?

 

Assim nasceu o Volkswagen carocha, fruto do amor de um tirano pelo seu povo, inacreditável ! Ele há coisas levadas da breca ...

 

Dói, eu sei, custa a aceitar, concordo, mas é verdade, a história por vezes conta-nos a verdade sabem ? E eu cheio de ciúmes pá !

 

Talvez não acreditem mas foi aí que começou a minha admiração por quem gosta de nós ! Fiquei tão sensibilizado ! Aquela prova de amor deixou-me completamente desarmado !

 

E depois, o tempo foi passando, eu sempre esperando ser amado, sempre esperando uma prova de amor e nada, cada vez mais frustrado, cada vez mais desiludido, e nem um democrata, nem ao menos um social democrata, até que desacreditei de todo, nem um democrata cristão, nada, nem um social fascista, nem sequer um fascista, e cada um lembrando-se apenas de si, aboletando-se, amanhando-se, prometendo, primeiro calma, depois tudo, e nada, e eu em desespero, até deixar de confiar, até deixar de acreditar, e nem uma prova de amor, mesmo pequena que fosse, eu nem pedia muito, por fim só já pedia que me ouvissem, e nada, chorei, já homem, chorei, calei fundo a vergonha mas chorei, e isso não perdoo !

 

Não posso perdoar a quem nos tem tramado, atraiçoado !

 

Não perdoo que não tenha havido de há quarenta anos para cá, neste país de merd@, um socialista, um social democrata, um democrata cristão, um filho da put@ qualquer, um c@brão qualquer, um bandido qualquer, que tivesse resolvido um só dos problemas que desde então temos, na saúde, na justiça, na educação, na economia, na habitação, no emprego, cada qual entregue a uma classe privilegiada, a uma ordem profissional, a um grupo industrial ou financeiro, a gestores sem escrúpulos, burocratas acéfalos ou políticos t@chistas, enfim, um anormal qualquer que nos dê uma demonstração de amor, que nos defenda, que providencie pelos nossos mais comezinhos interesses, que por um minuto apenas se esqueça dele próprio, e só peço um minuto porra ! Será pedir muito ? 

 

Por isso não se admirem que tenha com convicção revisto as minhas posições e preferências, que deseje hoje ardentemente um qualquer tirano que mostre a essa gente como se ama um povo, como se defende um povo, um tirano forte, ombros largos, tacão duro e de preferência fotogénico que lhe quero pendurar uma foto ampliada e colorida na sala porra ! Em todas as salas fonix !

 

E que seja mostrada e pendurada em todas as escolas, e os dias amanheçam radiosos e solarengos, e a gente aprenda e saiba mais que a escutar os problemas da Carolina Salgado ou Furtado ou o car#lho, mais que a conhecer as plásticas da Elsa Raposo, ou as p#tas da Casa dos Segredos,. Verdade que espero ansiosamente um homem providencial, amante da pátria, que reponha a glória da raça, restaure o patriotismo e nos mande prá cama à meia-noite por termos trabalho a fazer no dia seguinte e bem cedo !

 

Claro que essa coisa da imaginação ao poder que em 68 tanto brado deu em França terá que cá chegar um dia, quando nem faço a mínima ideia.

 

Viva Portugal !

 

Viva o 10 de Junho  !!

 

Viva a raça portuguesa !

 

Por uma constituição defensora de um estado novo !

 

Tudo pela nação, nada contra a nação !

 

VIVA !!!!!!!

 

Viva o 1º de Dezembro !

 

Viva a nova Restauração !!!

 

 

Viva o IVA a 13 % e a bica a 50 centavos !!!

 

 

(Sobre este tema aconselho a leitura da Revista Visão, Nº 797, páginas 50 a 62, nada de sustos, têm muitas fotos)


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·        Texto já publicado por Humberto Baião em 28 de Dezembro de 2011 e desta vez republicado com uma natural actualização de datas... 


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domingo, 22 de maio de 2022

SÓ UMA PROFESSORA MAIS, SÓ MAIS UMA ?

           


769 - SÓ UMA PROFESSORA MAIS, SÓ MAIS UMA ? *


Chutei, como se os corresse a pontapé, uma dezena de livros de diversos autores políticos com que esbarrava amiúde e vulgarmente me estragavam o dia, a noite, ou pelo menos o momento. Uma insinuação de gripada que me assaltou com os frios trazidos e uma neura inconfessável que leva já quase um mês de duração, quebraram-me toda e qualquer disposição para o que quer que seja, ou fosse.

 

 A ameaça de gripada tem sido tratada com mezinhas caseiras, muito medronho, ou ponche, em canecas bem quentes e cheias, e idas bem cedo para vale de lençóis de modo a suar bem e expurgar o maligno. A neura, essa, duvido que algum dia me passe, mas isso são contas de outro rosário.

 

 Meto-me na cama normalmente com um livro, adoentado ou não, é hábito velho que duvido alguma vez abandone, a minha gata não preciso chamar, muitas noites mal me estendo e já ela está a meter-se pela roupa aconchegando-se a meus pés. É um amor aquela gata, e como não morri após tantos anos de fumaça, não será ela a acabar comigo decerto, para mais vacinada e tratada a tempo e horas, cuidado que nem comigo mor das vezes tenho.

 

 Na balbúrdia da minha raiva, tirei ainda a tempo do lixo, um livreco que andaria pelas estantes há uns bons quinze anos, inacreditável mas vero, vos afianço. Não estivesse eu a extrair dele uma leitura tão ternurenta e confesso nem me acudiria ao espírito dar-vos conta deste corriqueiro pormenor que, aparentemente, vos interessará tanto como aos anjinhos.

 

 No momento em que professores e professoras, mantêm com as ministras uma tão áspera refrega sobre a avaliação, a descoberta desta obra de Luísa Dacosta, “Na Água do Tempo” – Diário, Quimera, 1992, e que congrega notas suas, dispersas, desde os anos cinquenta e creio, de toda a sua vida de docente do ensino básico, caiu que nem mel na sopa.

 

 Antes de mais deixem-me que vos diga denunciarem as suas notas uma inteligência, sabedoria e intuição e sensibilidade extremas, coisa que sobremaneira aprecio numa mulher, de raro que a coisa me é dada a observar. Dos homens nem falo, se fosse para vos falar de estupidez ficar-me–ia por mim e teria sobejamente matéria mais que suficiente, também fui professor e nunca pensei aligeirar as culpas que carrego.

 

 Mas esta mulher transpira ternura, maternidade e doçura por todos os poros, o que deixa transparecer ter antevisto muito, e descrito ainda mais, tanto tempo antes de muitos de nós, coisas com que por vezes nem sonhámos, o que se torna simplesmente desarmante. Os relatos de episódios das suas aulas e da sua vida, modo de ser e mentalidade, avivaram na minha memória a presença da D. Cristina, minha professora primária em S. Miguel, ou melhor, Regente, e de quem guardo igualmente gratas recordações.

 

 Muito mais que a trampa de livros de pedagogia e didáctica que me forçaram a ler, "professorezecos e zecas" que nem consigo lembrar, mais valia que este livro tivesse sido de leitura obrigatória no decorrer dos cursos de ensino, pois que não ensina, mostra, não desfia regras e normas, forma, não venera teorias e abstracções idiotas, educa. Que pena não ter aqui e agora para a conversa a minha amiga Petra, também ela professora do básico, e com quem de quando em vez me alargo em conversas sobre o vasto campo de acção do ensino de criancinhas de sonho, como ela lhes chama.

 

 Voltemos à Luísa Dacosta, cuja existência ignorava mas agora conheço de cor e salteado, também graças à Net, Luísa a quem humilde e decerto tardiamente deixo o meu agradecimento e testemunho, pela pessoa que é, pelo tanto bem espalhado sem esperar daí mais que a grata recompensa de se saber útil aos demais, pela consideração que com a sua postura fez reflectir sobre todas as mulheres mas, e sobretudo, pelo amor inquestionável que fez verter da sua vida e com o qual tantas crianças terá abençoado.

 

 Eu dar-lhe-ia nota vinte, mas nem imagino como com este modelo de avaliação seria ela classificada.

 

 Afinal esta ameaça de gripada teve para mim uma vantagem notória. *

 

Mas o resto?

 

  Ai o resto!

 

 Que merda de vida…

  Nota: * Texto já publicado em 23 de Fevereiro de 2011 com o nº 25