quarta-feira, 4 de maio de 2011

44 - " KERES FALAR " ? ...............



Acordei da sesta com o zumbir do motor do PC.

Bem, aquilo nem foi sesta nem foi nada, deixei-me dormir recostada no sofá e assim estive queda enquanto o PC, em suspensão, mergulhava a salinha na penumbra e eu, cochilando, em suspensão entrara também. Nem posso dizer ao certo se foi o zumbido do motorzinho do PC, se o som do alarme do chat que em simultâneo abriu o monitor. Abri os olhos e lá estava uma janelazinha aberta sobre a minha página onde alguém, não sabia quem, me perguntava se “keria falar”.

Achei aquilo curioso e, curiosa fui ver quem era a figura, a persona, que tão gentilmente me indagava se eu queria falar. Enquanto procurava ainda me ri, iria encontrar um psiquiatra ? Um psicólogo ?

Eu acordada do sofá / divã para uma consulta virtual ?

“Keres falar” ? A frase, assim sem mais nem menos, sem um contexto, sem um cumprimento, um boa tarde, um olá, pareceu-me despida de humanismo, o que mais acirrou em mim a vontade de ver quem, do outro lado, tão friamente indagava, atirando-me a frase como quem, na pesca, atira o isco à água, a ver o que dá …

Desilusão ! Pura desilusão !

Uma página sem qualquer fotografia ou imagem. O nome próprio limitado a ele mesmo, José, mas qual José ? Que José, quem é o José ?

Ah ! Mas o nickname, que giro ! “Vendedor de Sonhos” !

Teria adivinhado que eu dormia ?

Terá querido vender-me um dos seus sonhos ?Estava ali para os vender ou, enganando-se a ele mesmo, para os comprar ?

Achei piada a tudo akilo, ao nome escolhido, de “vendedor de sonhos”, que me lembrou logo um livro lido que tinha que ver com um vendedor de passados, e passados tão perfeitos que prometiam como garantido um futuro diferente e radioso. Já não achei graça ao facto de o meu adorador de sonhos, se esconder no anonimato, ter-me-á ele julgado uma mulher sem sonhos ?

E no que se terá baseado para me julgar assim ?

Simplesmente pesca ?

Deitou a linha esperando agarrar peixe ?

Mal sabe ele que sou mulher que sonha, e não paro enquanto não torno realidade o sonhado, mas decididamente não seria nunca com abencerragens como aquela que eu sonharia, para ser franca nem um sonho barato e com descontos lhe compraria.

O homem pareceu-me tão estúpido !

Aquela abordagem pareceu-me de tal modo estúpida, que pura e simplesmente dei um toque na tecla certa, e apaguei o meu vendedor de sonhos, com uma vontade e força tal, que o devo ter atirado para a Bósnia, pois daí eram oriundas, as últimas das suas amizades, belezas Bósnias e Romenas, que a juntar ás que já acumulava somavam mais de duas mil !

Como se gerem duas mil amigas ?

Esqueci-o, esqueci-o mas fiquei meditando no homem, nos homens quero dizer, cada vez mais parvos, cada vez mais estúpidos, cada vez mais insolentes, não terão melhoras ? Que pensarão esses parvos de nós mulheres ?

Que perante o tal “keres falar”, nos ajoelhamos agradecidas como perante o cura num confessionário ?

Nem a esses me confesso !Na verdade o panorama é mesmo triste, não falo pelas mulheres, género em que me incluo, e que também terá as suas ovelhas negras, não sei, mas os homens, cujo comportamento mais que ver, me é dado observar, andam pelas ruas da amargura, uma autêntica lástima !

Já não há cavalheiros, nem etiqueta, nem romantismo ou sensualidade, mas sobra-lhes falta de formação, de educação, de moral de respeito, enfim uma tragédia !

Quando é que vocês homens aprendem a cortejar uma mulher ?

Com um “keres falar” ?

Escondendo-vos atrás de páginas que mais que vos esconder nos mostram a vossa pequenez ? A vossa cobardia ? A vossa irresponsabilidade ? 
Falta de frontalidade ?

Para vocês meus amigos, que tanto se esforçam por vos esconderdes sabei que são gato escondido com o rabo de fora, há uma coisa que toda essa cautela não esconde, a vossa desmesurada estupidez.

Lamento-vos, e lamento-vos porque sim, gosto de falar, gosto muito de falar mesmo, mas gosto de uma boa conversa, inteligente, com conteúdo, princípio, meio e fim, pelo que, meus queridos, não me levam á pesca, não mordo iscos, não caio em engodos parvos lançados por gente ainda mais parva ...

Passem bem meus queridos.

Bjssssssssss. <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3 <3  :)



sábado, 30 de abril de 2011

43 - TRISTEZA... (ou o meu 25 de Abril*) ....................

               

Contra meu hábito, mal dormira nessa noite. Pesadelos e sombras pressagiavam já o que eu não entenderia nos dias, semanas, meses e anos seguintes. Por isso recordo ter acordado muito cedo nesse dia fantástico, não tanto devido às insónias sonhadas mas antes devido ao alarde que desde madrugada se fizera sentir na quintarola.

Como por artes mágicas tudo naquela manhã se conjugara para que jamais a esquecesse, se bem que na minha modesta idade não me fosse permitido entender os prodígios a que assistia e impossíveis de, em minha mente, serem de imediato transformados em augúrios felizes de dias vindouros. Nessa manhã de sol a quinta parecia ter ficado entregue à bicharada e eu, sozinho, reinando ignorado no meio dela. Galos haviam abandonado o galinheiro escavando com unhas poderosas os locais mais inconcebíveis da quinta, modelarmente arrumada e engalanada por canteiros de diversas espécies, onde o sol avivara a clorofila e rebentos de variadissímas flores matizavam de cores diversas o espaço a perder de vista. Poedeiras pedreses viravam, sobranceiras, as costas ao cativeiro e depunham os ovos nos lugares mais dispares e que vez nenhuma tinham pisado, mostrando, arrogantes, soberbas poses que a vida inteira lhes tinham sido interditas.

Que me lembre, nem caseiro nem quaisquer outros dos homens apareceram nesse dia e, aflitas, as vacas mugiam impacientes, amojos cheios que nem balões de festa majestosa, sem viv'alma que lhes acudisse. Cães corriam de lado para lado enlouquecidos pela festa e era absurdo não entender os seus latidos como advertência e agoiro de milagres futuros que teriam, certamente, eles e eu, a felicidade de vivermos. Tal era a minha alegria e a de todos quantos na quinta não estavam que nem dei pelo sol transpor o zénite e, absorto, aguardava, vendo passar filas e filas de gentes entusiasmadas, empunhando cartazes e gritando palavras de ordem que hoje entendo como traídas no tempo, pois desse dia apenas a minha tia Inácia, ainda viva, conserva o mesmo sorriso, um sorriso de esperança que na hora afivelou, dia em que pela primeira vez a vi bater com a mão no peito e lhe soube de um filho que alguém levara para as longínquas terras do Gungunhana, onde jazeu, nome estranho que me assustou e cujo pavor só ultrapassei meses mais tarde.

Também por esses dias me foi dado a conhecer o primo Hilário, recém chegado dessas terras remotas e que pisou pela primeira vez esta metrópole que jamais conhecera ou vira, razão pela qual nem considerou a importância de tão banal pisadela. Pelo fim de tarde a festa era já um arraial colossal, embora eu não lhe entendesse a causa, habituado que estava às comemorações do Natal, Carnaval, Páscoa e Senhor dos Passos, em que multidões se arrastavam pela vila, apesar dessas vagas nem por sombras terem, nem nos seus melhores dias, chegado aos calcanhares do mar de gente que seguia agora eufórico, desfilando alvoroçado a meus olhos.

Então, como hoje, todos falavam mas ninguém ouvia, cresci portanto no meio de gentes meio surdas que prolongaram no tempo, embalando-me e iludindo-me, histórias de felicidade inventada, prometida e futura, que ainda hoje estou à espera de ver e viver e, desse dia mágico, ficou-me uma esperança teimosa e um optimismo militante que, uma vida inteira vivida, finalmente lograram acomodar no sótão das ilusões em que guardei os pesadelos premonitórios, os sonhos prodigiosos e todas as recordações deslumbrantes dos presságios que nesse dia vivi.

É domingo, nuvens toldam o dia, e o futuro anunciado é de um inverno glaciar onde nem as aves se atreverão aos voos rasantes e às piruetas de outrora, e eu, triste, acordo e lamento que o meu sonho não tenha continuado...  
                     


quarta-feira, 27 de abril de 2011

42 - SEGREDO................................................................


Dir-lhe-ia.

Dir-lhe-ia decerto não fosse temer o choque inesperado que provavelmente lhe provocaria.

Caos na bonança ou tábua de salvação na tempestade ?

Dir-lhe-ia, ou ter-lhe-ia dito… quanta perturbação em mim causam a sua presença, as suas palavras, o seu chamamento.

Dir-lhe-ia quanto aquele cabelo desalinhado me seduz e atropela o pensamento, confundindo-me os sentidos, baralhando-me, tirando-me do sério, do regrado que cultivo em mim.

Evito-a.

Evito-te pelo pavor de sucumbir à tua atracção, ao teu chamamento ?

Aos meus sonhos… confundidos com desejos ?

Sinto-me frágil perante ti, sempre prestes a naufragar sob as ondas intensas da sensibilidade que emanas, sob a sensualidade que te serve de aura, como santa a quem entregasse as vicissitudes que me ensombram e requebram.

Dir-te-ia, mas não digo, receoso de que a contida pacatez da minha atribulada vida se enovele, enrede, emaranhe, e me perca em ti, sonhando-te, desejando-te, pensando-te a meu lado no caminho pedregoso que decerto seria o que pisássemos, por muito sol que o teu sorriso traga à minha vivência incógnita, mas à qual o calor da tua existência arrancou ao marasmo e atirou brutalmente às alterosas vagas desta vidinha agora em turbilhão constante, acossada regularmente pelas tuas insinuações cada vez mais desabridas, que finjo cada vez mais não entender, não perceber, mas percebo, e alvoroças-me a alma cada vez que…

 Cada vez que finjo ignorar-te quedando-me ante a tua aparição como um devoto envergonhado pela sua doutrina, temendo perder a compostura, temendo perder o pé neste mar de angústia em que me afogas e onde evito mergulhar mau grado o desejo consciente e cego de, simultaneamente, em ti me refugiar num gesto paternal de protecção à tua fragilidade, qual berço da serenidade que persegues, em vão ? 

Não sei…

Só sei que me sei porto de abrigo, ávido de acolher-te e em ti me refugiar e ganhar forças para não soçobrar ante a tensão que em mim se acumula e cala, e cuja culpa por ti reparto, qual desassossego que muito temo e ainda mais desejo, até ao dia em que, finalmente, possa dizer-te vem, toma-me, somos uma sombra só, um só caminho, acertemos o passo, descansemos deste tumulto que me consome, sossega, sou eu, estou aqui, abraça-me, aquieta-me, és tu ? 

                 Sou eu, já não te temo, já não te evito, já não frágil, e contigo de novo um colosso, e tu já não mero sonho, já não somente desejo, já não simples aparição, estás aí, existes, sinto-te o pulsar, o bater compassado e ritmado do coração acompanhando o meu, enquanto renasço e em mim sinto a vida surgir novamente em torrente impossível de deter, que não quero deter, e repito-me, sinto a vida aflorar em torrente, em golfadas, num êxtase e delírio incontidos, um sorriso nos lábios, um torpor no corpo macerado, renascido, Fénix, Ícaro, Apolo, Deus…

Assim me sinto quando me falas, me sorris, ter-te-ia decerto dito tudo isto se não temesse a reacção em mim, a dor em mim, o sofrimento em mim, a frustração em mim…

Ter-te-ia dito…

Mas não disse, jamais direi, preferi esconder o que mudaria o rumo ao mundo, lhe deslocaria o eixo.

A terra move-se, a vida flui, os sonhos vivem-se no lugar próprio, e eu, qual formiga no carreiro, recuso-me a dar o pontapé que enlouqueça o formigueiro…

           

quinta-feira, 21 de abril de 2011

41 - OUTRO 25 DE ABRIL?



Ainda não é um bambúrrio, mas que um burburinho atravessa os nossos quartéis não tenhamos a mínima duvida.

Desde que em 74 tiveram a sua dose de protagonismo que os militares não davam acordo de si, embalados primeiro no prestígio e na consideração que alcançaram, depois na dolce vita que o regime sucessivamente lhes foi proporcionando, criaram barriga e maus hábitos.

Saíram agora de novo das casernas, não já para reporem a ordem das coisas, mas reclamando o pagamento atempado do pré, sempre pouco, numa tentativa histriónica para garantirem privilégios que nunca deveriam ter sido continuados, por desnecessários, num pós guerra colonial, guerra cuja teimosia nos exauriu.

Verdade que nem sei para que actualmente nos servem tantos marechais, generais tenentes e coronéis, e por aí abaixo, sabido que, para que se vão os anéis e nos fiquem os dedos, muitos quartéis acabarão por ser vendidos ao desbarato.

Magalas para varrer as paradas já faltaram ás chefias, e, agora que descobriram a possibilidade de não haver pecúlio que lhes baste, temo por nós.

É certo que tivemos um dos nossos pontos altos em Aljubarrota, cuja padeira fez o que tinha a fazer, e que o recuo para o Brasil quando das invasões francesas, foi táctica que nos garantiu uma vitoria sem mérito mas indiscutível.

Concedo terem sido momentos altos da nossa história.

Mas eram outros os tempos, hoje, com três submarinos entre os recebidos e os encomendados, que tomara não venham a ser penhorados por quem os financiou, se metermos um em Alqueva, duvido que os dois restantes nos sirvam para leiloar em caso de ameaça de fominha generalizada, ou até p’ra pescar lá longe o bacalhau, onde dantes uma frota se aventurava, tendo sido paga p’ra nada fazer…

Quanto ao resto do material bélico que nos anima, nem sei se teria venda na feira da ladra.

Andaram mal os militares, pois se em 74 tinham do seu lado toda ou quase toda a populaça, agora, por nem dela se terem lembrado e apenas colocado em causa privilégios pessoais, olhando exclusivamente para o próprio umbigo, ficaram sem o meu apoio e certamente o de outros portugueses que teriam preferido vê-los de novo clamar pelos direitos de todos nós, o célebre povo unido recordam-se ???? … Porque todos nós temos algo a lamentar e nem ao menos as barrigas e honrarias que no entretanto eles acumularam e tanta inveja nos fazem.

Necessidades temos todos, que alguns só deles se lembrem, fez-me lembrar Salazar e a sua divisa de dividir para reinar.

O mal é estas coisas serem faladas, nem o governo nem qualquer tuga com dois dedos de testa, acreditará que sejam capazes de um desiderato qualquer apesar das bocarras do Otelo.

Causam por certo mais mossa ao governo os comentários a propósito passados na comunicação social, que as mal disfarçadas ameaças de levantamentos de rancho a que a sua marcial insubordinação der azo.

Mas não foi pela igualdade e solidariedade que se bateram em 74 ?

E agora seria então pela desigualdade ? Pelos seus privilégios ?

Mas disso estamos nós fartinhos de todo !

Para esse peditório não contem comigo ! Já dei uma vez e bastante arrependido estou !

Assumo ser difícil ter mão nesta gentalha, como em professores e alunos que desde o tempo em que tudo se resolvia à chapada nunca mais nos deram descanso.

Para mais, com ministros que se portaram com civis como se fossem ditadores militares e se portam agora com os militares como se eles fossem civis, nunca mais a bota baterá com a perdigota.

Eu já me ria, passados que são tantos anos, das vãs glórias que o 25 de Abril nos trouxe, e em que, qual trouxa, acreditei então plenamente.

Agora a coisa chia mais fino, não só me admira como se aguenta sem ir abaixo este país, que só pode ser rico por muito que nos façam crer no contrário, pois somente os ricos se dão ao luxo de um desperdício idêntico ao que desde então praticamos desportivamente, como me admira que, passados tantos anos após a revolução das promessas, continuem por resolver senão todos mas mais alguns dos problemas com que então nos debatíamos.

Mas sobre esses problemas nenhum dos nossos sargentos lateiros nem generais empertigados se pronunciou.

Isso é política, e a política é para os políticos.

Estamos bem defendidos creiam-me.

Cai nessa Vanessa!


sábado, 16 de abril de 2011

40 - QUE SE QUEBRE O ESPELHO...


 A hora era tardia mas seria antes a escuridão precoce a tornar a tarde fria. Vi-a na saída do híper, triste, bonita, os cabelos lindos, bem tratados, contrastando com a tristeza espelhada, cavada no rosto de bronze, como quem carrega dentro as culpas de um mundo tão feio quanto o podemos saber, chorosa, ou quase, mas emanando candura, meiguice e doçura impares.

Ameaçava chover e ela ter vindo de longe, talvez trazida pelo vento que, mesmo brando, soprava sempre no Outono.

Perguntei-me o que levaria no coração e quedei-me, imaginando-a, forçando a sua mente, tentando adivinhá-la e senti ter vindo de longe, de muito longe.

- Sim, é verdade amigo, comigo, uma oração, uma prece carregada desde o fim do mundo, desde essa longínqua partida até hoje, até aqui.

Busco, já não resignada ou magoada porque, dentro de mim outra dimensão, do tamanho do mar, outra largura de horizontes, paisagens, praias, rios, ares. Resisto e medito, mais que minhas forças consentem.

Sonho um país encantado, venho de longe, de muito longe.

Aprendi que não se pode ter o mundo, não se pode ter tudo, não se pode ter nada. Somente persigo a esperança, a esperança !

Levanto-me e caio, levanto-me e caio, e levanto-me sempre, como a Lua, como a Lua, que pena, que pena.

Quando chegará a minha vez, quando chegará ? Quando será ? Quando será ? Quando chegará a Primavera ? Sim ! Busco a Primavera !

A minha vida é um iô-iô ! Subindo e descendo, indo e vindo, sim !

Cuidado ! Minha vida é um iô-iô !

Vim em busca da Primavera iô-iô ! Embrulhada em bandeira ! Ao alto hasteada e jamais arriada, como numa janela sempre aberta, juramentada, fiel bandeirante de mim mesma.

Venho de longe, tenho esperança, trago esperança, cor, calor, o odor de outra rosa-dos-ventos, coisas trazidas no coração bem embrulhadas e protegidas desta tão grande ilusão. Qual escapulário das únicas relíquias que me permitem ser consentidas.

Não, já não quero palavras, já não me iludem, nem contentam nem confortam as palavras, sou senhora de mim, de meus sentimentos e desejos.
Sou assim, pouco quero e menos espero.

Quando chegará a minha vez? Quando será? Qual será a minha bandeira ?

Não recordo de todo se chuviscava ou não, pareceu-me vê-la ir pela rua, chorando lágrimas de ouro, nem lembro o que na minha imaginação e mente se confundiu de todo, se pingos de chuva, se lágrimas choradas ou brotando das pedras da calçada.

E tanto que desejava meter música neste texto e não alvitro como !
Dedicar-lhe uma valsa, um bolero, um tango !

E que a pudéssemos ver caminhar entre duas alas de uma orquestra, em que trombones, clarinetes, clarins, saxofones, erguessem em sua homenagem um hino, um cântico !

E estalassem foguetes ! Miríades de luminosas cores a cobrissem como se de flores se tratasse ! E ela pudesse pisar pétalas de milhares de rosas vermelhas !

E repentinamente também eu me senti de longe, muito longe, sozinho com os meus pensamentos, e naquele mesmo momento, eu, que nem dançar sei, apeteceu-me convidá-la para dançar !

Ali mesmo!
Um corridinho, um fandango, um vira do Minho !
Vê-la sorrir !
Pegar-lhe nas mãos, enlaçá-la, e, qual violão, vê-la feliz !
Dançar ali mesmo, esquecendo as caras surpreendidas das gentes !
Fugazmente julguei divisar em ti um sorriso, e eras linda !

Nem sei para quê nem porque pensei avançar sabido que a minha condição e timidez me travariam o ímpeto.

Por isso ali fiquei especado, vendo-te caminhar, abalar-me.

Procuravas nos bolsos do blusão talvez um telemóvel, umas chaves, e eu, quedei-me aturdido, agitado e já saudoso, apiedado de mim, jamais esquecido de ti.