quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

782 - DINO SANTIAGO E O COLONIALISMO DE PACOTILHA OU POLITICAMENTE CORRECTO !


DINO SANTIAGO E O COLONIALISMO DE PACOTILHA OU POLITICAMENTE CORRECTO


Com a polémica levantada acerca da letra do hino nacional, Claudino Pereira, aliás Dino d’Santiago, aliás Dino Santiago, português de gema, nado e criado em Quarteira desde 1982, de descendência cabo-verdiana, da Ilha de Santiago, veio sem o querer, sem o desejar ou sequer o imaginar, levantar de novo a velha polémica da colonização, da boa e da má.

 

De imediato foi contestado, provavelmente por o julgarem oriundo de uma das nossas colónias ou províncias ultramarinas devido ao facto de ser negro. É negro sim, mas contudo não é menos português que qualquer nós. Será no máximo mais parvo que alguns e mais esperto que muitos, o que nada tem a ver com a cor, quando muito terá a ver com a cor política, meandros onde parece mover-se bem melhor que quaisquer de nós e onde igualmente fomentou acesas polémicas. (vide histórias com Fernando Medina).


 É prendado, abarbatou alguns prémios musicais, era e é por isso reconhecido na nossa praça, mas padece de um défice histórico-cultural, essencialmente no que á história concerne, á filosofia, devendo igualmente um pouco ao bom senso.

 

Porém, para os que como ele vituperam o hino nacional e a história nele plasmada, em especial aos que tanto bramam contra o colonialismo, vale a pena alinhavar algumas linhas.

 

O homem, o ser humano, terá aparecido sobre a terra de entre 5 a 7 milhões de anos atrás segundo os científicos. Á volta de 2 milhões e meio de anos o género Homo separou-se dos Australopitecos, em África, a partir de onde esses humanos se terão espalhado ou ramificado por todo o restante mundo que lhes foi possível e era acessível.

 

Milhões, ou centenas de anos de evolução, terão tido como transversais a grupos, clãs, tribos, lugares e tempo, factos tão simples como nascer, morrer, respirar, comer e matar, matar também para caçar. A luta tem sido uma constante transversal ao longo dos tempos e aos homens, luta por um local privilegiado, luta por um lugar, uma região, um território, na medida em que o dito fosse mais apto à recolecção, á caça, á pesca, á cultura de cereais ou cobiçado por qualquer outro motivo.

 

Nada se fez nem faz sem trabalho, sem conquista, sem defesa, sem pertença, sem posse, portanto sem guerra. A guerra, tal qual o amai-vos e multiplicai-vos, são as atitudes que melhor caracterizam o homem e que durante maior período de tempo o definiram e ainda caracterizam. Somos uma raça guerreira por natureza, está no nosso ADN, é-nos inato, congénito, natural.

 

Partindo de África o homem colonizou o mundo. Os Vikings foram até à América, outros até à Índia, o Gama, o Cabral, Fernão de Magalhães, Camões e outros, deram mundos ao mundo, desvendaram este mundo, deram início à globalização e a globalização despertou a cobiça e a colonização do planeta.

 

É ver a saga do Mayflower, ou como o homem chegou tão longe como às Américas, do norte, centro e sul, ou á Austrália. É vermos como a sua inerente e nata vontade o levou a chamar suas a essas terras, a esses territórios que já tinham dono, onde outros há muito viviam e dos quais foram escorraçados, ou onde foram dizimados, ou colonizados, quando não também escravizados.

 

Não me caberá a mim fazer aqui o julgamento do colonialismo, já que o colonialismo é tão velho e tão mau, ou tão bom quanto o próprio homem. Este nosso cantinho, a Europa capitalista, colonizou, explorou, sugou, tudo onde chegava. Em especial porque esta Europa, inventora do capitalismo e que na época já estava mais desenvolvida que o resto do mundo, e esse incipiente capitalismo estava decerto sedento e faminto do que fosse ou pudesse abocanhar.

 

Essa voracidade faz parte da natureza humana. Mas há outro tipo de voracidade não menos voraz todavia mais perniciosa, o comunismo, doutrina que nem foi melhor nem pior. Desse dizemos que não colonizou, foi inclusivista (kkkkkkkk) foi inclusivo, abafou, chamou a si todos aqueles países que posteriormente e com a queda do muro de Berlim renegaram o dogma comunista, o jugo soviético. Foi doutrina que não vingou nem na terra em que nasceu e que muitos tontinhos ainda defendem, sem repararem não haver sítio ou lugar nenhum deste planeta onde o comunismo tenha feito ou possa apresentar obra meritória.

  

Comunismo é reflexo dum conjunto de sentimentos humanos dos mais baixos que possamos imaginar, baseados na intolerância, na prepotência, na inveja, na incapacidade, na incompetência, na dualidade de critérios, na força bruta, na estupidez e na cegueira.

 

Do norte de África, no médio oriente, na Austrália, áreas igualmente colonizadas pelos europeus sabemos menos mas sabemos, da China e Indochina sabe-se alguma coisa, pouca coisa e em especial as notícias de guerras, sempre guerras, mas da China ancestral basta saber-se que construíram a maior muralha do mundo para imaginarmos ter havido necessidades de defesa, para imaginarmos que terá havido ataques, que haveria guerras.

 “Guerra” a tal constante.

 Mas no nosso caso o colonialismo tem naturalmente girado principalmente em volta de Angola, Moçambique e Guiné. Nações que hoje são estados degradados, estados falhados, a Guiné é raro exemplo de um estado pária, de um narco estado. As outras duas pouco melhor estão, e em ambas se fez sentir já o desejo de que os portugueses, seus antigos colonizadores voltem a governá-los.

 

São povos a quem foi dada a independência sem que tivessem maturidade para ela, sim porque isto dos povos também tem que ver com a idade, a responsabilidade, a capacidade.

 

Desde 75 e da independência que só destroem, nada digno de nota constroem, mas dos últimos 50 anos de colonização portuguesa ficaram escolas, hospitais, portos, aeroportos, estradas, viadutos, pontes, caminhos-de-ferro, cidades, organização, estruturas, cultura, ensino, misteres, aptidões, barragens, centrais eléctricas, infra-estruturas, fábricas, etc etc etc.

 

Nem tudo foi mau e no seu conjunto acho que lhes foi bem mais vantajoso o tempo de colonização que o tempo que levam de independência, tempo dedicado a guerras, vide notícias sobre a batalha fratricida de Cuíto-Cuanavale (1987-1988, sul de Angola), onde morreram mais de 500.000 negros. Vivem-se por lá tempos de instabilidade, de atraso, de dependência, de fome.

 

Entregues nas mãos de cubanos e russos, Angola e Moçambique foram espoliados até ao tutano, com os chineses será muito pior, já é e será cada vez mais.

 

Do colonialismo, como do ser humano, podemos dizer haver bom e haver mau, basta comparar o nosso com o belga, com o colonialismo praticado no Congo Belga, para depressa concluiríamos que os reis Leopold I e II da Bélgica deveriam figurar em museus como os demónios negros da escravidão e do horror, devido ao terror com que colonizaram e governaram as suas possessões.

 

Muitos exemplos poderíamos ir buscar, cito de cabeça a Índia e o Paquistão, que antes da cisão hindus / muçulmanos eram um só estado, a Índia Britânica. Hoje, quer para o mal quer para o bem são duas potências nucleares e duas grandes nações, superpovoadas e superdesenvolvidas. Pergunto como seriam hoje essas duas Nações (que já foram uma só até 1947), se não tivessem carregado o fardo da colonização pelo império mais desenvolvido deste mundo. Portanto do ponto de vista prático falamos unicamente da Índia, que foi colonizada pelo Império Britânico, pelo Império Vitoriano.

 

Esse Império Vitoriano, que tantas tropelias praticou na Índia, não terá deixado também um modelo, um exemplo, um legado, um testemunho positivo ? Serão a India e o Paquistão, duas das nações que congregam simultaneamente o maior número dos melhores técnicos informáticos do planeta um fruto do acaso ou filhas da velha colonizadora ?

 

Como podemos ver, o colonialismo é tal qual o homem, tal qual o ser humano, Há bom e a mau, cabe-nos olhar, avaliar, ponderar, comparar, e naturalmente julgar, mas julgar moralmente, já que de outro modo nunca será possível fazer justiça.

 

Mas julgar moralmente, avaliar friamente e de forma isenta os diversos comportamentos coloniais, também nos obriga a ser honestos connosco próprios, e aceitar que se há situações que foram condenáveis e até altamente condenáveis, outras houve em que foram benéficas para os povos colonizados, e Portugal enquanto país colonizador foi no aspecto prático indubitavelmente um "bom" exemplo para o mundo.

 

A verdade acima de tudo.

 

NOTA  - Dino Santiago nasceu em 1982, tem 41 anos de idade, é de descendência cabo-verdiana proveniente da ilha de Santiago e natural de Quarteira, Algarve, onde viu a luz no dia 13 de Dezembro de 1982.

 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

781 - ÉVORA ESTÁ DE PARABÉNS ... OU QUANTO MAIS ME BATES MAIS GOSTO DE TI ...

                



ÉVORA ESTÁ DE PARABÉNS OU ...

 QUANTO MAIS ME BATES MAIS EU GOSTO DE TI ...

 

Évora e os eborenses estão de parabéns, um dia saberemos como e porquê mas, ao contrário de tanto nervo arrasado e de tantas dúvidas alimentadas, ganhou surpreendentemente o troféu Cidade Capital Europeia da Cultura 2027.

 

Sabia-se que 12 cidades portuguesas tinham submetido candidaturas à Capital Europeia da Cultura (CEC) para o ano 2027 Portanto 12 cidades portuguesas eram oficialmente candidatas: Aveiro, Braga, Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Guarda, Leiria, Oeiras, Ponta Delgada, Viana do Castelo e Vila Real. Qualquer delas de longe com muitos mais pergaminhos e provas dadas no campo da cultura que Évora. 


Confesso-me surpreendido, e expectante, superadas ou vencidas as dificuldades da nomeação, quedo-me na expectativa decidido a observar e avaliar as acções futuras da coisa, do fenómeno, essas sim que, com razão e desejando enganar-me, queira Deus não sejam mais que, de acordo com o costume, o embrulho de outra oportunidade perdida. Mais uma. Senão vejamos.

 

Passaram 48 anos sobre o 25 de Abril, e que evoluímos ? A última grande obra levada a efeito pelo Município neste concelho foi o parque de piscinas Engenheiro Arantes de Oliveira, à época um dos melhores da Europa, que nem preservado tem sido e cujos acessos estão desde 5 de Setembro de 1964, data da sua inauguração, por fazer. Tudo o resto que tem sido erguido nesta cidade, e é bem pouco, tem cunho privado, institucional ou governamental.

 

Quanto ao ilustre Eng.º Arantes e Oliveira, distinto profissional e cidadão, viu o seu nome simplesmente apagado de todo o lugar onde era justo e merecido que aparecesse. Não era comunista, foi esse o seu pecado.

 

Pelo mundo fora países e cidades têm sido erguidas nas últimas cinco décadas, nós não, nós divergimos, diverge o país, diverge o Alentejo, e diverge Évora, a cidade mais pobre e mais atrasada do Alentejo, este por sua vez uma província paupérrima. Alentejo que já foi o celeiro de Portugal. E mesmo em Portugal outras cidades nos têm ultrapassado, têm vida, parecendo um absurdo, sendo o país o mesmo, parecem estar noutra nação. Vão ao norte, vão ao Algarve, somente onde o socialismo e o comunismo grassaram parecem ter ficado improdutivas as terras e as gentes. Somos o país mais atrasado e pobre da rica Europa em que nos quisemos inserir e onde nos mantemos á custa de pedinchice e de esmolas. Até quando ?

 

Há mais de 30 anos, mais concretamente em 1986, a ONU ofereceu-nos a etiqueta de Cidade Património da Humanidade. Foi uma justa atribuição e o reconhecimento aos nossos antepassados longínquos pela riqueza da obra arquitectónica que nos legaram. Infelizmente, retirando da equação alguns hotéis, e talvez uns quantos restaurantes, pouco mais ganhámos com isso.

 

Há até já quem advogue termos turistas a mais, os quais deixarão pouco dinheiro ainda que empatem tudo, ocupando tudo, no fim incomodando tudo e todos, será isso ? Por vezes parece-me que esta cidade quando não vive de sonhos, de ficções, vive dos pesadelos que cria….

 

A rica etiqueta de Património Mundial não nos catapultou ou não soubemos aproveitar nem o plinto nem a embalagem ou ocasião para evoluirmos, para nos desenvolvermos. Aqui todas as oportunidades se desvanecem por falta de visão, de mundivisão, de liderança e de competência. Sobra contudo sobranceria, arrogância e ignorância, um trio arrasador.

 

Há dias fui, fomos, bombardeados na imprensa e nas redes sociais com as comemorações dos 450 anos da Universidade de Évora, uma mentira descarada, a nossa Universidade foi fundada pela Companhia de Jesus em Abril de 1559, porém a sua actividade durante os dois séculos da sua primeira fase de existência não se traduziram numa efectiva abertura dos espíritos, a Universidade parece ter-se fechado sobre ela própria, tal qual faz nos dias de hoje.

 

Foi deste modo, através dos negativos fenómenos de isolamento e de endogamia que Évora terá acabado por participar na tendência muito portuguesa de virar as costas à Europa transpirenaica, pelo que não nos deve admirar que a Universidade se tenha facilmente transformado num alvo da política reformadora, lúcida e centralista do Marquês de Pombal.

 

Reflexo disso, em 8 de Fevereiro de 1759, duzentos anos após a fundação, a nossa Universidade foi encerrada para reabrir somente em 1979. Ao todo a UE, cujos 450 anos erradamente comemoramos, funcionou uns meros 241 anos, intermitentes. Convém saber estas coisas.

 

Mas, paradoxo dos paradoxos é o facto ou saber-se que a nossa cidade está tanto mais pobre quão mais idade a universidade soma… As estatísticas e os censos não mentem …

 

Quanto a isso, sem a menor dúvida mais uma oportunidade perdida, todos se calam, ninguém diz nada, como se a normalidade fosse esta inacção, esta morrinha, esta dormência, esta passividade, essa sim uma característica bem alentejana, tal qual a “indolência” e que o “cante” tão bem expressa, ou tão bem canta.

 

Ultrapassada a surpresa do insólito fica a curiosidade. E depois ? Depois de comemorada a cultura e estourados os milhões que restará ?

 

Não esqueçamos que do passado herdámos uma dívida colossal, senão a maior uma das maiores entre os municípios nacionais e com ela um empréstimo de salvação que obrigou a Câmara Municipal de Évora a cobrar-nos pela tabela máxima todas as taxas e tachinhas, impostos e mais-valias, uma obrigação decorrente das obrigações desse empréstimo salvífico e que todos os eborenses pagam e pagarão com um palmo de língua de fora não sabemos durante quantas décadas.

 

Não só somos os mais pobres como nesta cidade tudo falta e tudo é caro, caríssimo, é caso para julgar os eborenses (entre os quais me incluo ainda que não me canse de protestar) é caso para julgar os eborenses dizia eu, como teimosos masoquistas.

 

…Quanto mais lhes batem, mais gostam que os maltratem …

 

Todas as políticas, todas as estratégias e tácticas usadas até hoje mais não conseguiram que o nosso lastimável, visível e incompreensível empobrecimento generalizado, constante, e galopante. E desta vez ?

Vai ser o regabofe habitual e inconsequente ...  Esta gente não se enxerga, nunca enxergou, já lá vão 48 anos, o tempo de uma vida, quantas oportunidades perdidas ? Quantas vidas queimadas? 


Quantas oportunidades queimaram já por sectarismo ? 

E depois ?

Mais uma oportunidade perdida, como habitualmente...

Como vai ser depois, como vai ?

Eu aposto forte em mais uma oportunidade perdida.

Cegos, mudos e surdos, só quem neles vota os supera... 

A ver vamos ...

A ver vamos como diria qualquer cego, é indiferente quem, pois mais parece que cegos já todos nós estamos há demasiado tempo…



NOTA:  Fotos retiradas da net, obrigado aos autores, que desconheço. 

 

DEPOIS DE LERES, O TEXTO, SE CONCORDAS E O APRECIASTE,   PARTILHA-O PELAS TUAS AMIZADES…

   OBRIGADO, E UM ABRAÇO !

terça-feira, 15 de novembro de 2022

A MORTE DA PASSARINHA EM 3 PARÁGRAFOS

 


 De imediato pensei que tivesse periquitos, ou canários, os rouxinóis e os pintassilgos não se dão em cativeiro, nem as passarinhas, digo as pardalocas, as fêmeas do pardal.

 

Juro ter sido o que me acudiu à mente mal a vi entrar de luto, quero dizer de preto, toda de preto, primeiro pensei cá para comigo quem teria sido que lhe teria morrido, depois, não vos confesso mas ri-me para mim mesmo pensando que podia ter sido um periquito, reparei na casaquinha preta, muito gira, muito à maneira, na saia preta, saia ou vestido, de qualquer modo preto também, com uns remates mui leves em dourado, se não era dourado pareceu-me tal, mas longe como estava e zarolho como tou ficando, a idade não perdoa e os quarenta já pesam, não será pois de admirar que faça algumas confusões, inda por cima com um remate tão ténue como aquele, mas que o preto lhe assentava a matar assentava, sobretudo a casaca, a casaquinha, ninguém poderia negar, e a saia, cá estou eu vendo mal, o vestido, digo o vestido, bom tecido, bom corte, bem passado, boa perna, bem torneada.

 

Reparei também visto estarmos perto do verão nas sandálias, não me recordo da cor mas eram abertas, o pé sem calosidades, conforme, isto é nos conformes, sem joanetes, não lembro as unhas mas suponho-as tratadas, como tudo o resto, a perna firme, há ali muita marcha, ou muita marcha ou muito ginásio, estou a rir-me para mim mesmo com os meus delírios, mas ela também não desarma, não larga o sorriso, até o café bebe sorrindo, todos os dias fico à espera de ver um fiozinho de café escorrendo-lhe por um dos cantos da boca, por um ou pelos dois, aposto que nem assim largará o sorriso, fica-lhe bem o sorriso, mas cá para mim tem um não sei quê,  pour moi a un je ne sais quoi de matreiro, é que não é só o sorriso, são também os olhos, como duas âncoras, ou antes como uma antena de radar, olhando tudo, tudo mirando sem saber nunca onde ancorar, ou se calhar sabe e não quer, esta coisa das tecnologias furtivas, stealthy, tem muito que se lhe diga.

 

Bebe a bica e furtivamente passa os olhos por um jornal ou revista escolhida aleatoriamente, pelo menos é o que me parece, lê sorrindo, decerto que não a notícia da explosão de ontem em Cabul e que despachou uma data deles, quase cem, já deixei arrefecer o café porra, fico de antenas no ar e depois é isto, e eu que detesto café frio, não consigo lembrar a cor do batom dela, será daqueles mui vermelhos que ficam marcados na chávena ?

  


 Uma vez num daqueles filmes do inspector ou detective Poirot desvendaram o crime pelo batom na chávena, já vi que não tenho merda de jeito para inspector, o que interessaria ver não vi, nem lembro, lembro o conjunto preto, saia e casaco, casaquinho, ou jaqueta, saia ou vestido, deixei-a abalar antes de confirmar, fiquei preso nas pernas e na bainha curta da saia, da saia ou do vestido, de qualquer modo permitindo que se vissem umas coxas fortes, fortes mas não musculadas, o que é demais não presta, vive a correr, tomou a bica em pé, muitas vezes a toma assim, mas nem sempre, se calhar será só quando está com pressa, fá-lo em pé e lendo, em pé e sorrindo, sempre à pressa, deve ter que ir apanhar a equipa, a malta das enciclopédias ou da herbalife, quantas mais vendas fizerem pela manhã menos calor apanham.

 

O sol já vai ficando uma fornalha e ainda mal começou Junho, pagou e desandou à pressa, vejo-a pela montra, vai buscar a carrinha, passa acelerada frente ao café, gosto de a ver ao volante, quando era rapaz também eu sonhei ser motorista, via-me em sonhos abraçado a um volante enorme e dominando o bicho, um camião de dez rodados com atrelado, eu usava ténis e era sempre a acelerar, Espanha, França, Alemanha, não recordo já onde fui parar mas uma vez na passagem para a Itália embora não usasse sandálias, estava de pijama nesse dia e num cruzamento ali mesmo na fronteira um tipo faz uma daquelas manobras de merda, perigosa, escapou-me o ténis do pedal, apanhei um susto e mijei-me.

 

A minha mãe afinou e com razão, eu já devia ter uns dezasseis ou dezassete aninhos, mijar na cama com essa idade nunca em pequenino me fizeste uma dessas que vergonha, parece que a estou ouvindo ainda, ela que tenha cuidado com as sandálias, e com sapatilhas nem pense, quando mal esperar poderá escorregar-lhe o pé do pedal e truz, mijar-se toda, seria uma pena não ?

 

Nem imaginam enquanto o tempo passou, fiquei para aqui a olhar para os sapatos mas tenho que lhe dar corda e ir ao pão antes que se esgote, senão depois quem ouve a Luisinha sou eu, cabeça no ar, quanto mais velho mais parvo, e não seria eu a tirar-lhe a razão da boca.



Texto já publicado em 2 de Junho de 2017 sob o nº 437



segunda-feira, 31 de outubro de 2022

O CUIDAR D'ÉVORA NÃO PODE IR A TODAS !!!!!



TEXTOS POLÍTICOS

 

781 -  O “MCE” NÃO PODE IR A TODAS !!!

 

Diariamente sou incomodado por carros mal estacionados ou até atravessados na via enquanto crianças são despejadas ou apanhadas junto das diversas escolas da nossa urbe. Já lá vai o tempo em que descia a Rua da Mouraria para desembocar em S. Mamede e deixar a minha netinha na primária. Mais próximo dos nossos dias sofri quando ela frequentou Santa Clara, e sofro quando calha levá-la ou ir buscá-la a uma secundária que agora frequenta.

 

Naturalmente sinto-me constrangido de um modo acutilante quando as coisas não me correm a desejo, vociferando contra tudo e contra todos, dependendo em grande parte da qualidade em que me desloco, se na de peão, se na de condutor. Ressalvo que em qualquer dessas qualidades sou um simpatizante do “MCE” cuja actuação aprecio diariamente, não sou mais interventivo por geralmente me encontrar bloqueado pelo Facebook, o novo paladino da liberdade de expressão e que está transformando Salazar e a sua censura num menino de coro e brincadeira. Até nos faz ter saudades daqueles tempos.

 

Actualmente é a Europa, berço das liberdades e da democracia que se arma aos cágados e, numa pirueta e num autêntico império da coerção sobre a liberdade de expressão abafa-a… Sou dos que defendem acerrimamente a liberdade de expressão, a minha e de toda a gente, inda que não goste do que digam defenderei sempre o direito de o dizerem, embora o modo de ver de muitas cabeças me faça impressão e incomode verdadeiramente.

 

Há dias senti-me extraordinariamente mal, incomodado portanto, com um cartaz que alguma alma ou espirito menos dotado colocou na página Facebook do “MCE”, literalmente ofendendo muitos simpatizantes desse salutar e positivo movimento uma vez que muitos serão pais, e condutores, dos tais, acusados de pararem sem consideração pelos demais e em contramão, ou em fila dupla, etc etc etc, em fim, só faltou chamarem-nos animais, tal o despautério que nesse cartaz era destilado…

 

Ora sucede que a abordagem, o estacionamento ou a paragem junto às escolas tem em Évora e há décadas muito que se lhe diga. Em primeiro lugar deveremos interrogar-nos se a esses pais (e avôs) é dada ou não uma outra alternativa que não seja a de transgredir. É ? É-lhes dada alternativa ? 

 

Lembro aqui muito a propósito que junto às piscinas de Évora, construídas há mais de cinquenta anos, não foram ainda construídos os acessos necessários e que há muito se impõem, inclusive deixaram construir um bairro tão juntinho a elas que o mesmo poderá inviabilizar a construção correcta desses acessos, e lembro que, quem para elas se desloque a pé para lá ou para cá, em qualquer dos sentidos em relação à entrada ou portaria das mesmas, nem sequer tem um passeio sobre o qual andar, tendo sido colocados há meia dúzia de anos como medida provisória de prevenção e resguardo uns pilotes que já devem ter-se tornado definitivos…  

 

Aproveito e faço notar que todos os acessos a quase todas as escolas eborenses foram inicialmente mal concebidos, ou nem sequer foram pensados, apesar de haver espaço e ocasião ou oportunidade para terem sido feitos acessos correctos fora da via de circulação, aproveitando os extra largos passeios ou os largos espaços livres adjacentes a essas escolas. Alguns desses espaços propriedade dessas escolas e sem qualquer aproveitamento. 

 

Em vez de me chamarem todos os nomes e mais alguns, a mim que também sofro com o desiderato, ninguém se lembrou de culpar os arquitectos que conceberam ou planearam essas escolas e acessos ? Nem vos ocorreu culpar quem devia ter fiscalizado esses projectos e acautelado os acessos antes da execução das obras dessas escolas ? Que mentes simplistas culpam as consequências e ilibam as causas ?  Que falta de bom senso anima a administração da página do “MCE” a ponto de nos desejar (metaforicamente) enforcar a todos menos aos culpados, em quem nem se atreve a tocar ...

 

Realmente é uma pena, tanto espaço desperdiçado junto a tantas escolas e tantos neurónios não utilizados por cabeças de gente paga por todos nós para trabalhar com competência mas que o não faz ... Pois meus amigos, vocês que me atiraram, nos atiraram pedras acima, queixai-vos á CME, aos BVE, à Protecção Civil, à CCRA, pois ao que julgo (projectos do estado poderão estar isentos de tal) projectos de uma determinada envergadura terão que ter forçosamente o amém dessas entidades.

 

E ao “MCE” aconselho a ser mais comedido, a pensar antes de agir, a escrutinar de melhor forma os administradores a quem confia ou em quem delega a administração da sua página, já que alguns nem se sentem capazes de defender as posições ou atitudes que tomam, nem tão pouco de ser correctos, dialogantes e transparentes nas conversações travadas com quem os aborda. É gente que serve mal, muito mal o "MCE", e os tempos não vão propícios a amadorismos... A senhora vereadora deve acautelar melhor as mãos em que se entrega. Sou vosso simpatizante, mas jamais vos perdoarei a leviandade com que desta vez me melindraram, me ofenderam, e espero sinceramente ter sido simultaneamente a única e a última vez.

 

Não podemos nem devemos ser mais papistas que o Papa, o “MCE” não se pode pôr a elogiar toda a gente, tal como não pode morder em todos os eborenses. Em política não se pode agradar a todos, é muito fácil criar adversários, difícil é ter sangue frio, bom senso, ser diplomata, tolerante, ter a mente lúcida, acreditar estar dentro da razão e sobretudo ter a coragem para avançar em frente, se necessário contra tudo e contra todos,

É isso mesmo que muitos eborenses esperam do “MCE”.




 NOTA: - SE CONCORDAS COM O EXPOSTO PARTILHA SFF, PARA QUE ESTA CRITICA CHEGUE A QUEM DE DIREITO E COMECEM A TRABALHAR COMO DEVE SER, EM VEZ DE NOS COLOCAREM TODOS A DISCUTIR AS CULPAS DE QUEM AS NÃO TEM,

 OBRIGADO

Ver original em: - https://www.facebook.com/groups/movimentocuidardeevora/permalink/3258089857790016/


domingo, 18 de setembro de 2022

779 - GOSTO DE OS VER, SIM, GOSTO DE VÊ-LOS



Quando calha, vulgo inesperadamente, sempre, gosto de os ver, não que se esconderam, ou que se furtem às vistas. Não, nada disso, somente procuram o abrigo de uma sombra, a invisibilidade de uma esquina, a cumplicidade de uma multidão.

 

Ela, alheia aos compridos cabelos que a toldam de sereia, sorri, sorri sempre, nunca dei por ela que não sorrindo, de olhos brilhantes e vivos, a boca ingénua de quem ainda sonha, ou mais não tem ainda que sonhos, e sempre linda.

 

Ele de ar limpo, cabelo aparado, barba por nascer, porte atlético, humano, sério, brioso, confiante, quase um homem já, riso comedido, sorriso franco, alto, esbelto, um Adónis em potência, a coisa promete.

 

Pelo menos comigo prometeu, Prometeu abençoou-me, promessa que durou anos e anos, décadas. Desde imberbe e quando eu na minha mota azul, cabelo comprido, barba despontando, sério e brioso, confiante, quase homem, me entreguei num compromisso para a vida confiante, ainda sonhando com muitos, muitos sonhos nesse momento alinhavados, e cumpridos.

 

Ele acciona o start da mota dourada (dourada como os sonhos ?), ela sorri cúmplice, e monta ligeira e álacre rumo a uma qualquer “Lagoa Azul”. Eu fico, vendo-os partir, e volto a sonhar com o teu rir o teu gargalhar feliz, com o brilho dos teus olhos, e tu ágil como uma sereia e enquanto viva, um sonho lindo.

 

Gosto de os ver sim, porque neles me revejo, e com eles rememoro, e me iludo de um tempo que não volta mais e jaz na minha mente como se 1 de Novembro todos os dias e eu, depositando flores numa lápide imaginária, imagino o passado remoto como estando presente e tendo ainda futuro, pois muitas vezes o melhor que conseguimos da vida são os enganos a que nos entregamos, que prolongamos e revivemos, como se não houvesse hoje nem amanhã, apenas um passado que ao mínimo pretexto nos convoca, trai e ludibria, sabendo ser precisamente isso que dele esperamos e nada mais que isso.




Astuta, ela apeia-se da mota, tira o capacete, sacode os cabelos com um gesto airoso, estudado, tal qual tu, estudante ainda, dona de casa cedo e por obrigação, leviana nos tempos livres como libertação da mulher democrática que já eras, que sempre foras e continuaste sendo.

 

Foram tempos engraçados, o bambúrrio da revolução, a libertação dos tabus, a afirmação do ser, do sermos, o princípio do fim. Tempos lindos, com os quais passados pouco mais de quarenta anos havíamos de rebentar, por laxismo. Ainda bem que partiste e não viste, não vês, não presencias o suicídio destas democracias pelas quais tanto lutámos, lutaste.

 

 Ele, com um toque do pé coloca mota no descanso, acredita ainda que haverá um tempo para ele, para eles, oportunidades para eles, para todos, engana-se mas não sabe, como eu me enganei sem o saber e só acordei passados tantos anos, e quando era ineludível que não avançávamos, mas recuávamos, um passo por cada dois dados em frente.

 

Eu era jovem e acreditei, como não acreditarão eles que vivem um sonho que eu próprio já vivi ? Que calcorreiam os mesmos caminhos e as mesmas ruas que já percorri ? Juntos contra o mundo acreditam ter forças para tudo enfrentar, deixai-os sonhar como eu sonhei, não sabia nada, não sabem nada, será melhor assim…

 

Ainda hoje não sei nada, e saberei cada vez menos, sei, lembro-me bem, que ela me tirava o sono, me tirava o sono e me tirava do sério, a terra parecendo o céu, os minutos horas, o presente algodão doce e o futuro cor-de-rosa, lilás, fúcsia, polvilhado de estrelas e promessas, num imenso tapete alcatifado que se sumiu repentinamente debaixo dos pés e ficámos sem chão, fiquei sem chão.

 

Piso com cautela a estrada que percorro agora, vendo criteriosamente onde ponho os pés por não ter onde me agarrar, me segurar, avanço tacteando, apalpando, tal qual um cego, vivendo de lembranças e memórias inda vívidas em mim, contudo cada dia mais difusas, apagando-se aos poucos, por isso gosto de vos ver, lembram-me eu, lembram-me nós, são um espelho cujos reflexos recebo como um negativo que na tina os cristais, óxidos, soluções alcalinas, metol, hidroquinona e haletos revelam, libertando sonhos e recordações, fecho os olhos, respiro fundo e então visões,

 

Absorvo essas emanações e tantas outras, de tiossulfato de sódio, de ácido acético glacial, d’ácido cítrico, de tiossulfato de sódio e de sulfito de sódio, não mais que eflúvios capazes de projectar na minha mente um diáfano holograma, monocromático ou colorido do melhor que em mim fixei.

 

Embora os jornais pintem os dias futuros de um escuro indizível, a esperança sobrepõe-se á mais ténue crença e, dois passos em frente um passo atrás, avançamos tão confiantes quanto o equilibrista no arame que os astros seguram e o destino estica, dando tensão á vida e ao viver que com alegres cores pintamos na tela do futuro, alheados da firmeza, ou falta dela, em que o cavalete assenta os pés na terra.

 

“CARPE DIEM”


A LAGOA AZUL https://www.youtube.com/watch?v=eq7M89rpSCA

MELODY https://www.youtube.com/watch?v=1B8a99J0bMU

VERÃO 42 https://www.youtube.com/watch?v=oYu6HtUxRJs