terça-feira, 9 de maio de 2023

TEXTO 784 - INSTITUTO CULTURAL DE ÉVORA ""ERA UMA VEZ UM ALENTEJANO MALTÊS""

🔴
No âmbito do Projeto NetBooks, apresentamos o 5° e-book - "ERA UMA VEZ UM ALENTEJANO MALTÊS", da autoria de Humberto Baião.

Sinopse

“ERA UMA VEZ UM ALENTEJANO MALTÊS”, é um poema épico sobre o Alentejo, resultante duma mui antiga colectânea de contos cujo personagem acompanha esta nossa terra da pré-história aos dias de hoje. Portugal e o Alentejo são o lugar marcado por essa mesma história. A riqueza patrimonial e imaterial do Alentejo, ambas ricas em factos conhecidos, espólio valiosíssimo tornado visível e divulgado, pois é a história ímpar do Alentejo que aqui é literalmente contada por ser dum conto que se trata, conto mui rico em diversidade, em deslumbramento e que esta epopeia traz à liça.

E dito isto, vamos ao “ERA UMA VEZ UM ALENTEJANO MALTÊS”."

🚀 Faz download deste E-book !

🔗👀 Link disponível também na nossa BIO :

NOTA IMPORTANTE ! - DIFICULDADE EM DESCARREGAR O PDF - Caras amigas e amigos, muita gente tem tido dificuldade ou não tem mesmo conseguido descarregar o ficheiro PDF com A EPOPEIA No problem, façam-me chegar o vosso pedido por mensagem privada e em pouco tempo terão como resposta o FICHEIRO PDF prontinho a ler ! Obrigado e desculpem o mau jeito 🙂 🛑🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴🔴



terça-feira, 7 de março de 2023

UMA CAMINHADA, UM PÉZINHO, UM DEDINHO


783
UMA CAMINHADA, UM PÉZINHO, UM DEDINHO …
 

Tinha sido uma caminhada exigente, espinhosa, o que lhe valera fora um jogo de ténis novos, novíssimos, mas, como não há bela sem senão, morderam-lhe os calcanhares. Certo que por mor disso fora das primeiras a chegar, levou para casa uma menção honrosa e uma borrega horrorosa. 


Tratei-a na chegada, mera bolhinha muito miudinha, muito pequenina, junto ao dedinho pikinino, ao dedinho mindinho do seu pezinho bonitinho, Formosinho, engraçadinho, e que eu segurava nas mãos. 

Comovido ou enternecido ante tal visão, ou melhor, ante tal aparição, ao ver a bolhinha pequenina, miudinha no dedinho engraçadinho não me contive, ergui os braços, uma mão deslizando pela barriguinha da perna, a outra segurando o pezinho formosinho, que levei à boca e onde, com carinho, depositei um beijinho. Não passou dum jinho pequerruchinho, um carinho, depositado inocentemente e devagarinho com ternura e doçura naquele lindo pezinho.



É noite de sábado ou domingo, é uma noite fatal, é noite de fim-de-semana, daquelas em que se bebe ou uma ou outra coisinha e depois…. Coiso e tal etc. e tal e coiso… a gente por vezes nem sabe como acaba, ou se acabará em festival, outras nem imagina como tal começará, mas é fatal que comece, depois….

 O tempo dirá…

 Geralmente um abracinho apertadinho marca o começo e tal e coiso, e depois… se coladinhos, o comboio desata a apitar não parando mais… e nem três vezes, por vezes, chega ele a apitar…


Mas sabeis, não é bem no dedinho mindinho que ela tem a tal bolhinha, pequenina, pequenina no dedinho miudinho, engraçadinho. É lá pertinho e, claro, naquele mesmo pezinho.

 É bom esclarecer estas coisas, porque ao principio enganava-me e pressuroso descalçava o sapatinho que não era, e depois, atencioso, subia-lhe aos beijinhos pela alva perna acima, ao joelhinho, à coxa rija, chegando à derivação, onde nem sinal nem proibição, para depois e só depois, de mansinho, recomeçar, descendo devagarinho p’la outra perninha abaixo enquanto ela, aos risinhos, libertava coceguinhas junto com as risadinhas e c’o pezinho descalço, descalçava o outro pezinho atirando o sapatinho lá p’ra longe, coitadinho, talvez p’ra que eu não parasse e descesse ternurento até ao pezinho certo e bolhinha redentora, onde finalmente e já exausto depositava com fervor o ultimo beijinho d'um cento.


Sim sim era mesmo assim, quer fizesse chuva ou vento, ou o sol a barlavento, eram aos centos, aos milhares os beijinhos ternurentos que a bolhinha pedia mal o sapatinho saltasse e de cada vez que a via. Era o princípio de tudo, era o meio e o fim do mundo e era até o Xanax de quando ali chegava iracundo, irado c’o reino animal ou então a pisar mal.

 - Pisar mal !!! Ahahahahahah !

 Riu-se ela a rodos quando entre dois grandes fogos lhe expliquei o pisar mal, assentar o pé no chão numas botitas ajustadas mas sem as unhas aparadas, experimentem e logo verão, caminhar manco, aleijado, como se vós mesmos ao andar tivésseis um grão no sapato.

 E foi ela, atenta e bondosa quem me aparou as unhacas e me devolveu o garbo. Voltei a andar direito, com natural naturalidade, como se das costas sofridas me retirassem um fardo e, ao invés de um gavião, tornei a ser o Baião, mimoso, doce, simpático, carinhoso e tal e qual me conheceis pelo menos há meio século. Um estojo de unhas faz milagres e dá jeito, oh se dá ! Aproveitem os dias de anos ou o Natal e comprai um meus alarves.

             

            Depois foi uma beleza, jamais se sentiu minha presa ou me julgou caçador, jamais malha levantada ou um meia rasgada e, para ser mais minucioso, jamais teve alguma vez as canelas arranhadas. Mas também isto vos confesso, caminhada bem andada só com unhacas aparadas, sapato impermeável e justo c’os atacadores bem apertados e um lacinho bem dado.   

 A bolhinha pequenina no pezinho bonitinho, formosinho e engraçadinho era o mote, fosse motivo ou desculpa para qualquer cena maluca que nos deixasse coladinhos. Éramos uns desgraçadinhos, sempre sempre aflitinhos, sempre sempre agarradinhos, sempre ora ponha aqui o seu pezinho, sempre o tapete sobre a poça não fosse ela distraída, molhar o lindo sapatinho. Sim é verdade inda recordo, sim é verdade, inda hoje o é, fosse desculpa ou motivo qualquer bolhinha era o mote para sentarmos na garupa e abalar a galope montados num cavalinho.

 Fosse Rocinante ou Bucéfalo, fosse Silver ou Diablo a verdade verdadinha era que uma vez montados, eram nuvens eram sóis, eram estrelas e cometas, eram bebés e chupetas, e à terra só tornava-mos quando muito devagar, mesmo mui devagarinho, com muito muito jeitinho, não fosse eu por distracção, ou desmazelo, pisar-lhe um dia o pezinho, pequenino, mindinho, bonitinho, formosinho e engraçadinho, descendo a cama ensonado, exausto ou aparvalhado após tanta correria em que os cavalos cansados nos traziam de mansinho de volta à terra do nunca, onde entre suspiros e ais fumávamos uns cigarrinhos muito bem enroladinhos com dois dedais de conversa. De conversa vice-versa, ou versa-vice, se acontecia partir com festas e arraiais a que só dávamos fim antes que a cama se partisse.

                                   
                

                  Foram tempos de ventura, foram tempos de fartura, e aquela mesma bolhinha pequenina junto ao dedinho mindinho do pezinho bonitinho, formosinho e engraçadinho, continua, com carinho, desafiando de fininho a repetir os miminhos que derretidos, coladinhos, trocávamos escondidinhos nos dias de sol quentinho ou de vero friozinho p’ra aquecer o ambiente e tornar a cama quente fosse Natal ou não minha gente !!!!



quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

782 - DINO SANTIAGO E O COLONIALISMO DE PACOTILHA OU POLITICAMENTE CORRECTO !


DINO SANTIAGO E O COLONIALISMO DE PACOTILHA OU POLITICAMENTE CORRECTO


Com a polémica levantada acerca da letra do hino nacional, Claudino Pereira, aliás Dino d’Santiago, aliás Dino Santiago, português de gema, nado e criado em Quarteira desde 1982, de descendência cabo-verdiana, da Ilha de Santiago, veio sem o querer, sem o desejar ou sequer o imaginar, levantar de novo a velha polémica da colonização, da boa e da má.

 

De imediato foi contestado, provavelmente por o julgarem oriundo de uma das nossas colónias ou províncias ultramarinas devido ao facto de ser negro. É negro sim, mas contudo não é menos português que qualquer nós. Será no máximo mais parvo que alguns e mais esperto que muitos, o que nada tem a ver com a cor, quando muito terá a ver com a cor política, meandros onde parece mover-se bem melhor que quaisquer de nós e onde igualmente fomentou acesas polémicas. (vide histórias com Fernando Medina).


 É prendado, abarbatou alguns prémios musicais, era e é por isso reconhecido na nossa praça, mas padece de um défice histórico-cultural, essencialmente no que á história concerne, á filosofia, devendo igualmente um pouco ao bom senso.

 

Porém, para os que como ele vituperam o hino nacional e a história nele plasmada, em especial aos que tanto bramam contra o colonialismo, vale a pena alinhavar algumas linhas.

 

O homem, o ser humano, terá aparecido sobre a terra de entre 5 a 7 milhões de anos atrás segundo os científicos. Á volta de 2 milhões e meio de anos o género Homo separou-se dos Australopitecos, em África, a partir de onde esses humanos se terão espalhado ou ramificado por todo o restante mundo que lhes foi possível e era acessível.

 

Milhões, ou centenas de anos de evolução, terão tido como transversais a grupos, clãs, tribos, lugares e tempo, factos tão simples como nascer, morrer, respirar, comer e matar, matar também para caçar. A luta tem sido uma constante transversal ao longo dos tempos e aos homens, luta por um local privilegiado, luta por um lugar, uma região, um território, na medida em que o dito fosse mais apto à recolecção, á caça, á pesca, á cultura de cereais ou cobiçado por qualquer outro motivo.

 

Nada se fez nem faz sem trabalho, sem conquista, sem defesa, sem pertença, sem posse, portanto sem guerra. A guerra, tal qual o amai-vos e multiplicai-vos, são as atitudes que melhor caracterizam o homem e que durante maior período de tempo o definiram e ainda caracterizam. Somos uma raça guerreira por natureza, está no nosso ADN, é-nos inato, congénito, natural.

 

Partindo de África o homem colonizou o mundo. Os Vikings foram até à América, outros até à Índia, o Gama, o Cabral, Fernão de Magalhães, Camões e outros, deram mundos ao mundo, desvendaram este mundo, deram início à globalização e a globalização despertou a cobiça e a colonização do planeta.

 

É ver a saga do Mayflower, ou como o homem chegou tão longe como às Américas, do norte, centro e sul, ou á Austrália. É vermos como a sua inerente e nata vontade o levou a chamar suas a essas terras, a esses territórios que já tinham dono, onde outros há muito viviam e dos quais foram escorraçados, ou onde foram dizimados, ou colonizados, quando não também escravizados.

 

Não me caberá a mim fazer aqui o julgamento do colonialismo, já que o colonialismo é tão velho e tão mau, ou tão bom quanto o próprio homem. Este nosso cantinho, a Europa capitalista, colonizou, explorou, sugou, tudo onde chegava. Em especial porque esta Europa, inventora do capitalismo e que na época já estava mais desenvolvida que o resto do mundo, e esse incipiente capitalismo estava decerto sedento e faminto do que fosse ou pudesse abocanhar.

 

Essa voracidade faz parte da natureza humana. Mas há outro tipo de voracidade não menos voraz todavia mais perniciosa, o comunismo, doutrina que nem foi melhor nem pior. Desse dizemos que não colonizou, foi inclusivista (kkkkkkkk) foi inclusivo, abafou, chamou a si todos aqueles países que posteriormente e com a queda do muro de Berlim renegaram o dogma comunista, o jugo soviético. Foi doutrina que não vingou nem na terra em que nasceu e que muitos tontinhos ainda defendem, sem repararem não haver sítio ou lugar nenhum deste planeta onde o comunismo tenha feito ou possa apresentar obra meritória.

  

Comunismo é reflexo dum conjunto de sentimentos humanos dos mais baixos que possamos imaginar, baseados na intolerância, na prepotência, na inveja, na incapacidade, na incompetência, na dualidade de critérios, na força bruta, na estupidez e na cegueira.

 

Do norte de África, no médio oriente, na Austrália, áreas igualmente colonizadas pelos europeus sabemos menos mas sabemos, da China e Indochina sabe-se alguma coisa, pouca coisa e em especial as notícias de guerras, sempre guerras, mas da China ancestral basta saber-se que construíram a maior muralha do mundo para imaginarmos ter havido necessidades de defesa, para imaginarmos que terá havido ataques, que haveria guerras.

 “Guerra” a tal constante.

 Mas no nosso caso o colonialismo tem naturalmente girado principalmente em volta de Angola, Moçambique e Guiné. Nações que hoje são estados degradados, estados falhados, a Guiné é raro exemplo de um estado pária, de um narco estado. As outras duas pouco melhor estão, e em ambas se fez sentir já o desejo de que os portugueses, seus antigos colonizadores voltem a governá-los.

 

São povos a quem foi dada a independência sem que tivessem maturidade para ela, sim porque isto dos povos também tem que ver com a idade, a responsabilidade, a capacidade.

 

Desde 75 e da independência que só destroem, nada digno de nota constroem, mas dos últimos 50 anos de colonização portuguesa ficaram escolas, hospitais, portos, aeroportos, estradas, viadutos, pontes, caminhos-de-ferro, cidades, organização, estruturas, cultura, ensino, misteres, aptidões, barragens, centrais eléctricas, infra-estruturas, fábricas, etc etc etc.

 

Nem tudo foi mau e no seu conjunto acho que lhes foi bem mais vantajoso o tempo de colonização que o tempo que levam de independência, tempo dedicado a guerras, vide notícias sobre a batalha fratricida de Cuíto-Cuanavale (1987-1988, sul de Angola), onde morreram mais de 500.000 negros. Vivem-se por lá tempos de instabilidade, de atraso, de dependência, de fome.

 

Entregues nas mãos de cubanos e russos, Angola e Moçambique foram espoliados até ao tutano, com os chineses será muito pior, já é e será cada vez mais.

 

Do colonialismo, como do ser humano, podemos dizer haver bom e haver mau, basta comparar o nosso com o belga, com o colonialismo praticado no Congo Belga, para depressa concluiríamos que os reis Leopold I e II da Bélgica deveriam figurar em museus como os demónios negros da escravidão e do horror, devido ao terror com que colonizaram e governaram as suas possessões.

 

Muitos exemplos poderíamos ir buscar, cito de cabeça a Índia e o Paquistão, que antes da cisão hindus / muçulmanos eram um só estado, a Índia Britânica. Hoje, quer para o mal quer para o bem são duas potências nucleares e duas grandes nações, superpovoadas e superdesenvolvidas. Pergunto como seriam hoje essas duas Nações (que já foram uma só até 1947), se não tivessem carregado o fardo da colonização pelo império mais desenvolvido deste mundo. Portanto do ponto de vista prático falamos unicamente da Índia, que foi colonizada pelo Império Britânico, pelo Império Vitoriano.

 

Esse Império Vitoriano, que tantas tropelias praticou na Índia, não terá deixado também um modelo, um exemplo, um legado, um testemunho positivo ? Serão a India e o Paquistão, duas das nações que congregam simultaneamente o maior número dos melhores técnicos informáticos do planeta um fruto do acaso ou filhas da velha colonizadora ?

 

Como podemos ver, o colonialismo é tal qual o homem, tal qual o ser humano, Há bom e a mau, cabe-nos olhar, avaliar, ponderar, comparar, e naturalmente julgar, mas julgar moralmente, já que de outro modo nunca será possível fazer justiça.

 

Mas julgar moralmente, avaliar friamente e de forma isenta os diversos comportamentos coloniais, também nos obriga a ser honestos connosco próprios, e aceitar que se há situações que foram condenáveis e até altamente condenáveis, outras houve em que foram benéficas para os povos colonizados, e Portugal enquanto país colonizador foi no aspecto prático indubitavelmente um "bom" exemplo para o mundo.

 

A verdade acima de tudo.

 

NOTA  - Dino Santiago nasceu em 1982, tem 41 anos de idade, é de descendência cabo-verdiana proveniente da ilha de Santiago e natural de Quarteira, Algarve, onde viu a luz no dia 13 de Dezembro de 1982.

 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

781 - ÉVORA ESTÁ DE PARABÉNS ... OU QUANTO MAIS ME BATES MAIS GOSTO DE TI ...

                



ÉVORA ESTÁ DE PARABÉNS OU ...

 QUANTO MAIS ME BATES MAIS EU GOSTO DE TI ...

 

Évora e os eborenses estão de parabéns, um dia saberemos como e porquê mas, ao contrário de tanto nervo arrasado e de tantas dúvidas alimentadas, ganhou surpreendentemente o troféu Cidade Capital Europeia da Cultura 2027.

 

Sabia-se que 12 cidades portuguesas tinham submetido candidaturas à Capital Europeia da Cultura (CEC) para o ano 2027 Portanto 12 cidades portuguesas eram oficialmente candidatas: Aveiro, Braga, Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Guarda, Leiria, Oeiras, Ponta Delgada, Viana do Castelo e Vila Real. Qualquer delas de longe com muitos mais pergaminhos e provas dadas no campo da cultura que Évora. 


Confesso-me surpreendido, e expectante, superadas ou vencidas as dificuldades da nomeação, quedo-me na expectativa decidido a observar e avaliar as acções futuras da coisa, do fenómeno, essas sim que, com razão e desejando enganar-me, queira Deus não sejam mais que, de acordo com o costume, o embrulho de outra oportunidade perdida. Mais uma. Senão vejamos.

 

Passaram 48 anos sobre o 25 de Abril, e que evoluímos ? A última grande obra levada a efeito pelo Município neste concelho foi o parque de piscinas Engenheiro Arantes de Oliveira, à época um dos melhores da Europa, que nem preservado tem sido e cujos acessos estão desde 5 de Setembro de 1964, data da sua inauguração, por fazer. Tudo o resto que tem sido erguido nesta cidade, e é bem pouco, tem cunho privado, institucional ou governamental.

 

Quanto ao ilustre Eng.º Arantes e Oliveira, distinto profissional e cidadão, viu o seu nome simplesmente apagado de todo o lugar onde era justo e merecido que aparecesse. Não era comunista, foi esse o seu pecado.

 

Pelo mundo fora países e cidades têm sido erguidas nas últimas cinco décadas, nós não, nós divergimos, diverge o país, diverge o Alentejo, e diverge Évora, a cidade mais pobre e mais atrasada do Alentejo, este por sua vez uma província paupérrima. Alentejo que já foi o celeiro de Portugal. E mesmo em Portugal outras cidades nos têm ultrapassado, têm vida, parecendo um absurdo, sendo o país o mesmo, parecem estar noutra nação. Vão ao norte, vão ao Algarve, somente onde o socialismo e o comunismo grassaram parecem ter ficado improdutivas as terras e as gentes. Somos o país mais atrasado e pobre da rica Europa em que nos quisemos inserir e onde nos mantemos á custa de pedinchice e de esmolas. Até quando ?

 

Há mais de 30 anos, mais concretamente em 1986, a ONU ofereceu-nos a etiqueta de Cidade Património da Humanidade. Foi uma justa atribuição e o reconhecimento aos nossos antepassados longínquos pela riqueza da obra arquitectónica que nos legaram. Infelizmente, retirando da equação alguns hotéis, e talvez uns quantos restaurantes, pouco mais ganhámos com isso.

 

Há até já quem advogue termos turistas a mais, os quais deixarão pouco dinheiro ainda que empatem tudo, ocupando tudo, no fim incomodando tudo e todos, será isso ? Por vezes parece-me que esta cidade quando não vive de sonhos, de ficções, vive dos pesadelos que cria….

 

A rica etiqueta de Património Mundial não nos catapultou ou não soubemos aproveitar nem o plinto nem a embalagem ou ocasião para evoluirmos, para nos desenvolvermos. Aqui todas as oportunidades se desvanecem por falta de visão, de mundivisão, de liderança e de competência. Sobra contudo sobranceria, arrogância e ignorância, um trio arrasador.

 

Há dias fui, fomos, bombardeados na imprensa e nas redes sociais com as comemorações dos 450 anos da Universidade de Évora, uma mentira descarada, a nossa Universidade foi fundada pela Companhia de Jesus em Abril de 1559, porém a sua actividade durante os dois séculos da sua primeira fase de existência não se traduziram numa efectiva abertura dos espíritos, a Universidade parece ter-se fechado sobre ela própria, tal qual faz nos dias de hoje.

 

Foi deste modo, através dos negativos fenómenos de isolamento e de endogamia que Évora terá acabado por participar na tendência muito portuguesa de virar as costas à Europa transpirenaica, pelo que não nos deve admirar que a Universidade se tenha facilmente transformado num alvo da política reformadora, lúcida e centralista do Marquês de Pombal.

 

Reflexo disso, em 8 de Fevereiro de 1759, duzentos anos após a fundação, a nossa Universidade foi encerrada para reabrir somente em 1979. Ao todo a UE, cujos 450 anos erradamente comemoramos, funcionou uns meros 241 anos, intermitentes. Convém saber estas coisas.

 

Mas, paradoxo dos paradoxos é o facto ou saber-se que a nossa cidade está tanto mais pobre quão mais idade a universidade soma… As estatísticas e os censos não mentem …

 

Quanto a isso, sem a menor dúvida mais uma oportunidade perdida, todos se calam, ninguém diz nada, como se a normalidade fosse esta inacção, esta morrinha, esta dormência, esta passividade, essa sim uma característica bem alentejana, tal qual a “indolência” e que o “cante” tão bem expressa, ou tão bem canta.

 

Ultrapassada a surpresa do insólito fica a curiosidade. E depois ? Depois de comemorada a cultura e estourados os milhões que restará ?

 

Não esqueçamos que do passado herdámos uma dívida colossal, senão a maior uma das maiores entre os municípios nacionais e com ela um empréstimo de salvação que obrigou a Câmara Municipal de Évora a cobrar-nos pela tabela máxima todas as taxas e tachinhas, impostos e mais-valias, uma obrigação decorrente das obrigações desse empréstimo salvífico e que todos os eborenses pagam e pagarão com um palmo de língua de fora não sabemos durante quantas décadas.

 

Não só somos os mais pobres como nesta cidade tudo falta e tudo é caro, caríssimo, é caso para julgar os eborenses (entre os quais me incluo ainda que não me canse de protestar) é caso para julgar os eborenses dizia eu, como teimosos masoquistas.

 

…Quanto mais lhes batem, mais gostam que os maltratem …

 

Todas as políticas, todas as estratégias e tácticas usadas até hoje mais não conseguiram que o nosso lastimável, visível e incompreensível empobrecimento generalizado, constante, e galopante. E desta vez ?

Vai ser o regabofe habitual e inconsequente ...  Esta gente não se enxerga, nunca enxergou, já lá vão 48 anos, o tempo de uma vida, quantas oportunidades perdidas ? Quantas vidas queimadas? 


Quantas oportunidades queimaram já por sectarismo ? 

E depois ?

Mais uma oportunidade perdida, como habitualmente...

Como vai ser depois, como vai ?

Eu aposto forte em mais uma oportunidade perdida.

Cegos, mudos e surdos, só quem neles vota os supera... 

A ver vamos ...

A ver vamos como diria qualquer cego, é indiferente quem, pois mais parece que cegos já todos nós estamos há demasiado tempo…



NOTA:  Fotos retiradas da net, obrigado aos autores, que desconheço. 

 

DEPOIS DE LERES, O TEXTO, SE CONCORDAS E O APRECIASTE,   PARTILHA-O PELAS TUAS AMIZADES…

   OBRIGADO, E UM ABRAÇO !

terça-feira, 15 de novembro de 2022

A MORTE DA PASSARINHA EM 3 PARÁGRAFOS

 


 De imediato pensei que tivesse periquitos, ou canários, os rouxinóis e os pintassilgos não se dão em cativeiro, nem as passarinhas, digo as pardalocas, as fêmeas do pardal.

 

Juro ter sido o que me acudiu à mente mal a vi entrar de luto, quero dizer de preto, toda de preto, primeiro pensei cá para comigo quem teria sido que lhe teria morrido, depois, não vos confesso mas ri-me para mim mesmo pensando que podia ter sido um periquito, reparei na casaquinha preta, muito gira, muito à maneira, na saia preta, saia ou vestido, de qualquer modo preto também, com uns remates mui leves em dourado, se não era dourado pareceu-me tal, mas longe como estava e zarolho como tou ficando, a idade não perdoa e os quarenta já pesam, não será pois de admirar que faça algumas confusões, inda por cima com um remate tão ténue como aquele, mas que o preto lhe assentava a matar assentava, sobretudo a casaca, a casaquinha, ninguém poderia negar, e a saia, cá estou eu vendo mal, o vestido, digo o vestido, bom tecido, bom corte, bem passado, boa perna, bem torneada.

 

Reparei também visto estarmos perto do verão nas sandálias, não me recordo da cor mas eram abertas, o pé sem calosidades, conforme, isto é nos conformes, sem joanetes, não lembro as unhas mas suponho-as tratadas, como tudo o resto, a perna firme, há ali muita marcha, ou muita marcha ou muito ginásio, estou a rir-me para mim mesmo com os meus delírios, mas ela também não desarma, não larga o sorriso, até o café bebe sorrindo, todos os dias fico à espera de ver um fiozinho de café escorrendo-lhe por um dos cantos da boca, por um ou pelos dois, aposto que nem assim largará o sorriso, fica-lhe bem o sorriso, mas cá para mim tem um não sei quê,  pour moi a un je ne sais quoi de matreiro, é que não é só o sorriso, são também os olhos, como duas âncoras, ou antes como uma antena de radar, olhando tudo, tudo mirando sem saber nunca onde ancorar, ou se calhar sabe e não quer, esta coisa das tecnologias furtivas, stealthy, tem muito que se lhe diga.

 

Bebe a bica e furtivamente passa os olhos por um jornal ou revista escolhida aleatoriamente, pelo menos é o que me parece, lê sorrindo, decerto que não a notícia da explosão de ontem em Cabul e que despachou uma data deles, quase cem, já deixei arrefecer o café porra, fico de antenas no ar e depois é isto, e eu que detesto café frio, não consigo lembrar a cor do batom dela, será daqueles mui vermelhos que ficam marcados na chávena ?

  


 Uma vez num daqueles filmes do inspector ou detective Poirot desvendaram o crime pelo batom na chávena, já vi que não tenho merda de jeito para inspector, o que interessaria ver não vi, nem lembro, lembro o conjunto preto, saia e casaco, casaquinho, ou jaqueta, saia ou vestido, deixei-a abalar antes de confirmar, fiquei preso nas pernas e na bainha curta da saia, da saia ou do vestido, de qualquer modo permitindo que se vissem umas coxas fortes, fortes mas não musculadas, o que é demais não presta, vive a correr, tomou a bica em pé, muitas vezes a toma assim, mas nem sempre, se calhar será só quando está com pressa, fá-lo em pé e lendo, em pé e sorrindo, sempre à pressa, deve ter que ir apanhar a equipa, a malta das enciclopédias ou da herbalife, quantas mais vendas fizerem pela manhã menos calor apanham.

 

O sol já vai ficando uma fornalha e ainda mal começou Junho, pagou e desandou à pressa, vejo-a pela montra, vai buscar a carrinha, passa acelerada frente ao café, gosto de a ver ao volante, quando era rapaz também eu sonhei ser motorista, via-me em sonhos abraçado a um volante enorme e dominando o bicho, um camião de dez rodados com atrelado, eu usava ténis e era sempre a acelerar, Espanha, França, Alemanha, não recordo já onde fui parar mas uma vez na passagem para a Itália embora não usasse sandálias, estava de pijama nesse dia e num cruzamento ali mesmo na fronteira um tipo faz uma daquelas manobras de merda, perigosa, escapou-me o ténis do pedal, apanhei um susto e mijei-me.

 

A minha mãe afinou e com razão, eu já devia ter uns dezasseis ou dezassete aninhos, mijar na cama com essa idade nunca em pequenino me fizeste uma dessas que vergonha, parece que a estou ouvindo ainda, ela que tenha cuidado com as sandálias, e com sapatilhas nem pense, quando mal esperar poderá escorregar-lhe o pé do pedal e truz, mijar-se toda, seria uma pena não ?

 

Nem imaginam enquanto o tempo passou, fiquei para aqui a olhar para os sapatos mas tenho que lhe dar corda e ir ao pão antes que se esgote, senão depois quem ouve a Luisinha sou eu, cabeça no ar, quanto mais velho mais parvo, e não seria eu a tirar-lhe a razão da boca.



Texto já publicado em 2 de Junho de 2017 sob o nº 437