Tinha sido uma caminhada exigente, espinhosa, o que lhe valera fora um jogo de ténis novos, novíssimos, mas, como não há bela sem senão, morderam-lhe os calcanhares. Certo que por mor disso fora das primeiras a chegar, levou para casa uma menção honrosa e uma borrega horrorosa.
Tratei-a na chegada, mera bolhinha muito miudinha, muito pequenina, junto ao dedinho pikinino, ao dedinho mindinho do seu pezinho bonitinho, Formosinho, engraçadinho, e que eu segurava nas mãos.
Comovido ou enternecido ante tal visão, ou melhor, ante tal aparição, ao ver a bolhinha pequenina, miudinha no dedinho engraçadinho não me contive, ergui os braços, uma mão deslizando pela barriguinha da perna, a outra segurando o pezinho formosinho, que levei à boca e onde, com carinho, depositei um beijinho. Não passou dum jinho pequerruchinho, um carinho, depositado inocentemente e devagarinho com ternura e doçura naquele lindo pezinho.
É noite de sábado ou domingo, é uma noite fatal, é noite de fim-de-semana, daquelas em que se bebe ou uma ou outra coisinha e depois…. Coiso e tal etc. e tal e coiso… a gente por vezes nem sabe como acaba, ou se acabará em festival, outras nem imagina como tal começará, mas é fatal que comece, depois….
O tempo dirá…
Geralmente um abracinho apertadinho marca o começo e tal e coiso, e depois… se coladinhos, o comboio desata a apitar não parando mais… e nem três vezes, por vezes, chega ele a apitar…
Mas sabeis, não é bem no dedinho mindinho que ela tem a tal bolhinha, pequenina, pequenina no dedinho miudinho, engraçadinho. É lá pertinho e, claro, naquele mesmo pezinho.
É bom esclarecer estas coisas, porque ao principio enganava-me e pressuroso descalçava o sapatinho que não era, e depois, atencioso, subia-lhe aos beijinhos pela alva perna acima, ao joelhinho, à coxa rija, chegando à derivação, onde nem sinal nem proibição, para depois e só depois, de mansinho, recomeçar, descendo devagarinho p’la outra perninha abaixo enquanto ela, aos risinhos, libertava coceguinhas junto com as risadinhas e c’o pezinho descalço, descalçava o outro pezinho atirando o sapatinho lá p’ra longe, coitadinho, talvez p’ra que eu não parasse e descesse ternurento até ao pezinho certo e bolhinha redentora, onde finalmente e já exausto depositava com fervor o ultimo beijinho d'um cento.
Sim sim era mesmo assim, quer fizesse chuva ou vento, ou o sol a barlavento, eram aos centos, aos milhares os beijinhos ternurentos que a bolhinha pedia mal o sapatinho saltasse e de cada vez que a via. Era o princípio de tudo, era o meio e o fim do mundo e era até o Xanax de quando ali chegava iracundo, irado c’o reino animal ou então a pisar mal.
- Pisar mal !!! Ahahahahahah !
Riu-se ela a rodos quando entre dois grandes fogos lhe expliquei o pisar mal, assentar o pé no chão numas botitas ajustadas mas sem as unhas aparadas, experimentem e logo verão, caminhar manco, aleijado, como se vós mesmos ao andar tivésseis um grão no sapato.
E foi ela, atenta e bondosa quem me aparou as unhacas e me devolveu o garbo. Voltei a andar direito, com natural naturalidade, como se das costas sofridas me retirassem um fardo e, ao invés de um gavião, tornei a ser o Baião, mimoso, doce, simpático, carinhoso e tal e qual me conheceis pelo menos há meio século. Um estojo de unhas faz milagres e dá jeito, oh se dá ! Aproveitem os dias de anos ou o Natal e comprai um meus alarves.
A bolhinha pequenina no pezinho bonitinho, formosinho e engraçadinho era o mote, fosse motivo ou desculpa para qualquer cena maluca que nos deixasse coladinhos. Éramos uns desgraçadinhos, sempre sempre aflitinhos, sempre sempre agarradinhos, sempre ora ponha aqui o seu pezinho, sempre o tapete sobre a poça não fosse ela distraída, molhar o lindo sapatinho. Sim é verdade inda recordo, sim é verdade, inda hoje o é, fosse desculpa ou motivo qualquer bolhinha era o mote para sentarmos na garupa e abalar a galope montados num cavalinho.
Fosse Rocinante ou Bucéfalo, fosse Silver ou Diablo a verdade verdadinha era que uma vez montados, eram nuvens eram sóis, eram estrelas e cometas, eram bebés e chupetas, e à terra só tornava-mos quando muito devagar, mesmo mui devagarinho, com muito muito jeitinho, não fosse eu por distracção, ou desmazelo, pisar-lhe um dia o pezinho, pequenino, mindinho, bonitinho, formosinho e engraçadinho, descendo a cama ensonado, exausto ou aparvalhado após tanta correria em que os cavalos cansados nos traziam de mansinho de volta à terra do nunca, onde entre suspiros e ais fumávamos uns cigarrinhos muito bem enroladinhos com dois dedais de conversa. De conversa vice-versa, ou versa-vice, se acontecia partir com festas e arraiais a que só dávamos fim antes que a cama se partisse.