Querido António,
desejo sinceramente que ao receberes esta te encontres de saúde, bem como a tua
numerosa família, que conheci no sábado, entre Viana e Alcáçovas e com a qual
fiquei agradavelmente surpreendida. Eu fico bem, com as mazelas que todos
sabemos, mas com um espirito que mais animado ficou depois desse almoço em que
vi um verdadeiro exemplo de harmonia, dedicação, carinho e amor. Sei que sempre
foste um homem de palavra, de palavra e de princípios, e mais convencida fiquei
de que essas qualidades, que em ti não são novidade, te serão mais que
necessárias agora que a família aumentou e as responsabilidades foram acrescidas.
Não penses que não
reparei nas palavras de conforto apoio e confiança que a tuas gentes te
dedicaram, até um cego notava que ninguém as regateou. Claro que também eu fui
arrebatada por essa onda de empatia que ali se gerou, mais convencida tendo
ficado da importância da unidade na família e do cumprimento dos papéis que nos
estão reservados. A família precisa de nós, não diria que para alcançar a
maioridade, mas para alcançar a liberdade que só a assunção dos seus direitos
lhes garante. Agora sei que com o teu empenho a situação de todos vai melhorar,
não que esteja mal, mas acredito que a perfeição não passa de uma meta, e que o
nosso dever mais não é que continuamente procurar atingi-la, embora sabendo que
quanto mais perto mais difícil o seu alcance, já que é da natureza das coisas
que ela continuamente se afaste.
É que os objectivos a
que nos propomos, não te esqueças que também eu tenho uma família por quem
responder, se por um lado nos conferem o direito, também nos exigem a aptidão
para preencher expectativas, claras ou não, de todos os que em nós depositaram
esperança e confiança. É um trabalho inerente a todos a quem Deus concedeu uma
família, relevando do seu desempenho, neste caso do nosso desempenho, e factor
decisivo de aceitação e harmonia tão cruciais para o bem-estar da família, para
o seu desenvolvimento e progressiva satisfação.
Não existindo mais
que modos subjectivos de avaliação, resta-nos a dedicação, uma maneira de ser
coerente, e a procura da excelência para que nos venhamos a sentir igualmente
recompensados no nosso papel, e isso já será visível, esperando portanto que
possamos um dia brindar os dois pelo facto de termos superado os obstáculos,
esses sim iguais, que se nos atravessam no caminho.
Só nos resta
trabalhar no sentido de dar tudo pela família, responder aos seus anseios, dar
corpo à satisfação das suas necessidades, encontrar as soluções convenientes no
momento certo, saber encontrar o equilíbrio que a todos contente igual e
justamente. Ser pai, ser mãe, mais não é que identificar necessidades e
satisfazer expectativas, procurar não trair a confiança em nós depositada.
Quanto melhor executarmos o nosso papel, maior o reconhecimento que nos é
transmitido, maior a nossa satisfação, já que é dessa forma que sabemos, que
sentimos, estar a dar o nosso melhor contributo para o bem-estar e a elevação
do nível de vida da família. Melhorar, melhorar sempre, é o papel, destino e
dever dos pais para com os seus filhos.
Temos que nos armar
de confiança e paciência desde o primeiro dia não é ? Da incerteza à certeza
vai todo um caminho de melhorias a percorrer, atitudes a tomar, o tempo a
passar, olhos sempre no futuro sem descurar o presente, como quem está sempre
com um olho no burro e outro no cigano. E no fim, somente no fim dos nossos
dias, a satisfação de ver a família bem, fruto do nosso trabalho, fruto de uma
vida de dedicação, de melhorias contínuas, do desbravar de obstáculos, da
transmissão de afectividades, de pensamentos e atitudes positivas.
Temos que ser magos,
malabaristas de práticas e modos permanentes que nos levem à perfeição, é isso
que esperam de nós e por vezes nos assusta. Do berço à cova prevendo e
concebendo o melhor, assumindo responsabilidades, inventando eficácia,
transmitindo aos outros uma força que por vezes não cremos existir em nós,
diariamente, sistematicamente. Ser pais começa por ser entendido por uma
oportunidade, uma benção que nos foi concedida, mas cedo acaba por ser um
imperativo a que não podemos eximir-nos. Porque te calhou ser pai, quando
talvez já o não esperasses, te deixo de parabéns um poema que me ficou no
ouvido e de que tanto gostei;
Tenho lá, no meu quintal
Uma roseira enxertada:
Dá rosas tantas e tantas !
A seguir dá rosas brancas
E dá outras encarnadas... **
Beijinhos.
* Publicado por Maria Luísa Baião em Diário do Sul, coluna KOTA DE MULHER, 15 de Outubro de 2001 e em homenagem ao corajoso amigo António Beijinho.