Logo que, vai para três ou quatro
semanas atrás, cheguei de férias, procurei saber novas do meu amigo Durão. Não
que outras situações não fossem para mim preocupantes, simplesmente o mundo
hoje coloca-nos tanta complexidade em simultâneo que nos obriga a andar numa
autêntica roda-viva. Isto quando não nos atira com enormes problemas para cima,
que nos submergem completamente, e tão inacreditáveis que nos fazem perder a fé
em tudo e todos. Ao Durão, bom rapaz, um pouco tímido até, aconteceu-lhe há
pouco algo que não esperava, para o que não se encontrava preparado e que o
deixou muito mal.
Não
consegui chegar à fala com ele, mas informaram-me estar a aceitar menos mal o
seu destino e a recompor-se do choque que essa brusca mudança na sua vida lhe
provocou. Adiantaram-me estar confiante, gente próxima mo afirmou; “que o rumo que está a percorrer é o certo”,
fiquei contente, assim ele saiba encontrar depressa o seu caminho, nada de mais
sincero posso desejar-lhe. Foi difícil
encontrar alguém que dele me desse novas, todos parecem estar em férias, com
nada se preocupando, outros não sabem nem querem saber do que quer que seja, o
mal é uma pessoa ver-se numa situação daquelas para conhecer ingratidão e
esquecimento.
Nesta
busca de novas do meu amigo Durão contactei velhas amigas e amigos, falámos
disto e daquilo, tendo ficado a saber, entre outras novidades, ter havido um
ilustre académico, aliás ouvido por uma “
Comissão para a Reforma do Sistema Político”, que teve a lucidez de
afirmar; “...ter de haver coragem para
aumentar os políticos, de entre eles os deputados”. Estou plenamente de
acordo, até porque em tempo de vacas magras, se os deputados não forem
aumentados mais ninguém o é.
Eu iria
até mais longe, seria mais ousada, indexaria ordenado mínimo e pensões de
reforma ao vencimento dos deputados e, de cada vez que estes fossem aumentados,
quer o ordenado mínimo quer as pensões subiriam automaticamente, não seria
justo ?
Até por
ser tudo uma questão de produtividade, questão para a qual parece só termos
acordado agora, é que por este andar qualquer dia ninguém quer ir para
deputado, trabalhar a valer. Vejamos, com as reformas que alcançam, as
imunidades de que gozam, as incompatibilidades a que são obrigados, e tendo que
viver quase exclusivamente do seu parco vencimento, quem quererá um dia
trabalhar nestas condições? coitados dos políticos.
Se
queremos o que não temos, eficiência, responsabilização, clarividência,
produtividade, competência, se queremos melhor saúde, justiça, educação e
fiscalidade, é limpinho que teremos que aumentar os deputados! já deveria até
ter sido feito há bem vinte anos atrás, talvez os problemas de hoje não
existissem! agora assim? assim não iremos lá, temos que pagar a quem trabalhe,
e quem trabalhe decerto o merecerá!
Mais
conversa para aqui e para ali, contra-ataquei a minha amiga; que o nosso mal
está no modelo de desenvolvimento económico e social, que o país está sem rumo,
sem estratégia, sem investimento estrangeiro! Sim, sim, respondeu-me ela, na
verdade o país não tem controle, cada português que arranja um estratagema para
melhorar a vidinha é logo alvo de invejas, é ver o caso dos portageiros da
Brisa, dos gestores de falências no norte, da Moderna! não pode ser! Isto como
está a ficar não deixa que ninguém se governe! lá está! os deputados têm que
ser aumentados! por arrastamento o povinho terá a sua parte e prescindirá
destes arranjinhos com que vai endireitando a vida! doutro modo não é possível
! temos que nos preparar! vem aí o alargamento a leste e o fim dos fundos
comunitários, isto não pode governar-se só com a fuga e a fraude fiscais !
Bom,
chega de conversa disse eu a dado ponto, folguei em saber o Durão mais
arrebitado, andava muito tristonho. Vocês conhecem o Durão ? um moço na casa
dos quarenta, técnico na edilidade, está em franca recuperação e ainda bem, é bom
rapaz, dos meus tempos de escola, meu amigo e amigo dos meus.
Liguei
de seguida a uma outra amiga que, malandreca, me atirou logo com esta; ouve lá
ó cronista! porque foi que o governo anterior, nos seus piores momentos, não
teve nunca sondagens tão baixas como este novo governo agora? Ao que eu
respondi que;
- não
sei querida! já não percebo nada ! vou
deixar de me meter em política !
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Escrito por Maria Luísa Baião, domingo, 15 de Setembro de 2002, pelas 19:57h
e em homenagem a este seu amigo de infância e que sofrera um grave acidente.