quarta-feira, 18 de maio de 2011

49 - PAU DE CANELA ... (3ª de 3 crónicas) .................




Lembram-se da crónica anterior; “Não é o que Pensam”, em que vos falava dos meus amigos e em que propositadamente deixei para depois a Filipa e o Afonso ?

Pois chegou a altura de vos falar deles, um bom par de jarras !

Em primeiro lugar explicar-vos que muito aprendi com o Afonso, mais velho que eu meia dúzia de anos, o que quando jovens era uma diferença abissal, em idade e em sabedoria ! (conhecemo-nos desde que nos encontrámos, gaiatos, roubando pistolas do Zorro das montras dos feirantes durante o S. João ! )

O Afonso foi um dos primeiros ganzas existentes nesta cidade, (quando ainda nem na droga se falava já ele andava sempre “apanhado”), e um dos primeiros que, nas então recém inauguradas Piscinas Municipais de Évora, ousava ou aventurava-se a mergulhar da prancha olímpica dos dez metros para o poço respectivo, com a arte, harmonia, beleza, e sedução tão próprias aos mergulhadores das falésias de Acapulco !

Filipa era médica fazendo o internato no, nessa época denominado Hospital da Misericórdia e a ela “roubado” pelo estado no pós 25 de Abril, hoje Hospital Distrital, mais concretamente Hospital do Espírito Santo.

Filipa foi seduzida em primeiro lugar pelo porte altivo do Afonso, pelo garbo com que mergulhava, e, dizem as más-línguas que, numa fase posterior, pelo modo como lhe chupava os dedinhos dos pés e o resto.

A verdade é que se enlearam e não havia dia em que não fossem vistos tomando a bica juntos, ou se embrulhassem, por vezes em plena piscina, onde não havia quem não reparasse tal o escarcéu que faziam, mas, continuemos, bica que o Afonso já então remexia com um pau de canela, dizia ele que para disfarçar o hálito de odores do tabaco e da erva.

Tal foi o tempo que a brincadeira de se enrolarem durou que ainda hoje basta ao Afonso o cheiro da canela para ficar com pica, tal o poder da sugestão numa mente tão desbragada e voraz quanto a dele.

A verdade é que miradas duas tatuagens, uma de um golfinho no braço direito e outra de pétalas de rosa na omoplata esquerda, e remirados os dentes da Filipa pelo Afonso, tal qual se faz ás mulas, aos camelos e se fazia aos escravos, ele aceitou um compromisso entre ambos desde que excluída ficasse a fidelidade, coisa que afirmava ser incapaz de respeitar mas que eu curiosamente suspeito, e todos os seus amigos seriam capazes de apostar forte, ele não ter até hoje, e já lá vão perto ou mais de 30 anos, não ter dizia eu, quebrado !

Mas não pensem que tudo foram sempre rosas.

Em primeiro lugar, sendo ganza tão jovem, Afonso não parava em emprego nenhum até que por influência de um padrinho (isto dos padrinhos não é só de agora), lá conseguiu uma vaga de gato-pingado primeiro e de maqueiro depois, no citado hospital.

Durante uns tempos conseguiu de modo mirabolante evitar a Filipa, médica lá mesmo recordam ?

È que o Afonso intitulava-se engenheiro de recursos hídricos ou coisa do género, com os anos perdi muitos pormenores, ou confundo-os, compreenderão e desculpar-me-ão certamente.

Finalmente uma noite a coisa deu-se, a Filipa estava de banco, requisita um homem que levasse um doente ao Raio X e aparece-lhe o Afonso, de bata azul, barba por fazer, beata atrás da orelha, e tão surpreendido quanto ela embora já esperasse que um dia a coisa desse barraca !

A Filipa corou e ferveu de tal modo que o olho estrábico ficou emparceirado com o outro pela primeira vez na vida, mas não se desfez, deu-lhe uma ordem seca e autoritária e pediu-lhe que não voltasse enquanto o doente não viesse com a chapa na mão.

Consta que no dia seguinte em casa dele ou dela teve lugar uma enorme discussão que durou pouco e redundou em amor pelas cadeiras, mesas, balcões de cozinha, carpetes, sofás, e este apontamento, ainda recordo como se fosse hoje, o facto do Florival se me ter queixado ter ido lá a casa reparar um candelabro que nem sabe como teria sido literalmente arrancado do tecto, mais tendo parecido, palavras dele, alguém no mesmo se ter pendurado propositadamente !

Certo certo é que deixaram de ser vistos juntos, os colegas da Filipa jamais lhe perdoariam a opção por um maqueiro, não me atrevo sequer a aludir ao que ela eventualmente tenha pensado, o Afonso desapareceu do hospital e da cidade pois durante bastante tempo não lhe pusemos a vista em cima, e foi, foram visto juntos pela primeira vez após o “embate”, num ginecologista, que lhes disse tratar-se sim de um alarme falso, e não só a Filipa não estar grávida, como nunca o estaria, pois tudo indicava que, infelizmente, jamais algum dia o ficaria.

Sei que por esses anos da década de oitenta, quando as taxas de juros atingiram valores astronómicos, só batidos pela inflação e pela desvalorização do escudo, tornando inevitável a entrada à bruta do FMI no país e a saída de divisas para o estrangeiro, o Afonso ganhava a vida levando grandes quantias, em notas, de Portugal para Espanha, iludindo a alfandega, dinheiro que depositava numa conta que abria em nome do mandante em Badajoz, serviço pelo qual cobrava uma comissão e “gancho” que igualmente o influente padrinho lhe tinha arranjado, ao qual dava cobertura e afiançava.

Correu tudo muito bem durante algum tempo até que lhe coube a responsabilidade de uma maquia maior que ele não resistiu a depositar em nome próprio, tão certinho como eu estar vivo e ele saber que do lado de cá o queixoso simplesmente não se podia queixar, tendo sido por esses tempos que cagou finalmente no padrinho, que todavia quando o Afonso completou a sua formatura universitária lhe perdoou tudo mais uma vez, e tratou de mover influências tais que o Afonso, que sempre tivera sido um óptimo maqueiro, se viu repentinamente guindado à Administração de uma Empresa Pública como por obra e graça do espírito santo.

Anos mais tarde o seu terno e incomparável padrinho, já velhote e que por isso ou por mor de uma amante 30 anos mais nova, morreria de maneira fulgurante e de um modo tão pouco ortodoxo que obrigou a que tivessem que lhe partir o membro para que não descansasse no alaúde de bandeira levantada !

 Não sei se o Afonso comprou o diploma que hoje ostenta ricamente emoldurado na parede do escritório.

Sei sim que durante cinco ou seis anos frequentou uma universidade dessas privadas cujo aparecimento era recente e onde se deslocava todos ou quase todos os dias em carrão próprio, aguentando todas as despesas e, viemos a saber depois, em cumprimento de promessa feita à Filipa, que já não teria motivos para se envergonhar dele.

Correram-lhes as coisas tão bem que a Filipa é Directora Clínica na sua especialidade, o Afonso é gestor de uma grande mas grande Empresa Pública, ambos usam fato e gravata das nove ás cinco, e, talvez por isso, é vê-los emporcalhados e fazendo chavascal quando saímos daqui nos nossos célebres passeios de moto, aparando-lhes a baba e o ranho, limpando-lhes o vomitado, e até o cu já uma vez calhou, e por mais que uma vez um dos nossos penduras encartados teve que trazer a mota e eles virem de táxi tão bêbedos estavam, pelo que só posso garantir serem amigos do peito e insuperáveis, desejar-lhes felicidades, e a vós garantir-vos não haver médica mais atenciosa, nem gestor de maior sucesso e tão bem engravatado, e pago, pelo que se vos cruzardes com eles na rua não hesiteis num caloroso cumprimento, são cidadãos de primeira apanha, apenas ela detesta mergulhadores e ele o cheiro a erva que por vezes paira no ar, coisas de somenos se em conta tivermos o facto de santos naquele grupo só eu, mas já sabem, de mim não falo, não vale a pena e já me vão conhecendo de ginjeira.


Afinal convenhamos que somos todos gente normal não ? 


segunda-feira, 16 de maio de 2011

48 - NÃO, NÃO É O QUE PENSAM ... (2ª de 3 crónicas)




Não que tivessem sido muitas as mensagens recebidas e suscitadas pela anterior entrada – RODOPIOS E SACANICES… e todas tiveram resposta em tempo útil….

Entendam lá todas de uma vez que não há anormais naquele grupo, nem bipolares ou duplas personalidades.

Concedo que determinados comportamentos são extravagantes, eventualmente criticáveis, impróprios até, mas não esqueçam que os meus amigos são um exemplo do mundo, exemplo de tendências e atitudes, doutrinas, credos e comportamentos, não um grupo de santos e santas, de castas virgens, abnegados celibatários ou promíscuos e infiéis.

Há ali de tudo como na farmácia, e acreditem-me, apesar de vos ter relatado uma atitude nada dignificante de um dos membros, e nós fomos os primeiros a assumir essa crítica, são de resto gente digna, trabalhadora, respeitável, aliás como qualquer de vós, ou não fariam parte das minhas amizades.

Ouvi-me.

Vou começar pelo Hélder, de longe o que mais e com maior razão foi criticado. Filho de pais ricos mas de cuja riqueza sempre prescindiu.

Cursou com sucesso uma prestigiada universidade portuguesa, construiu uma carreira profissional invejável, trabalhou até tarde muitas noites, fins-de-semana e feriados, alcançou o pícaro e o êxito, gastou quanto ganhou, comprou casa, bons carros, gozou boas férias, casou com a mulher que elegeu e por quem se apaixonou numa dessas viagem de avião em grupos de turistas.

Filho único, menino da mamã, de todas essas benesses abdicou para se afirmar individualmente, daria a camisa a quem dela precisasse, é culto, fluente em várias línguas, e não tem filhos porque a carreira não lhe deixou tempo para tal, hoje bendiz o facto de não os ter, dantes queria-os como quem quer um brinquedo.

A nossa adesão à CEE traíu-o, a empresa onde exercia funções de quadro superior deslocalizou-se como agora se diz, aos quarenta e cinco anos está desempregado, ninguém o quer, é velho, começou a beber, ninguém consegue travá-lo.

Compreendo-o, não o desculpo.

Verónica, a esposa, academicamente é Engenheira de Recursos Hídricos, todavia depois de suar as estopinhas para ser hospedeira da TAP, o casamento com o Hélder foi uma libertação.

Esta menina bem comportada que quase foi freira por iniciativa própria, quando adolescente, remetida ao lugar de doméstica por vontade do marido, por tédio ou por contestação a esse facto, tatuou-se, aplicou piercings e quando encostada a um balcão cai frequentemente no exagero.

Não prejudica ninguém.

Dizem as más-línguas que o sogro, velho, morreu de enfarte quando a viu aparecer com as tatuagens e os adereços bárbaros como amorosamente o marido se lhes referia.

Não ter filhos só ajudou a incompatibilizá-la com a sogra e com a vida.

Fuma que nem uma desalmada e é uma pessoa extremamente carente.

Acredito que se casou por amor, muita gente não.

Problema dela, não nosso.

D. Apolónia é uma daquelas mulheres com o cu debaixo dos braços, viúva, doméstica, proprietária, nunca fez nada na vida, tem a quarta classe antiga inacabada, não entende porque não se obrigam as criancinhas à catequese e dois ódios de estimação, a Verónica, que lhe roubou o filho e matou o marido e a Direcção geral de Contribuições e Impostos, um bando de gatunos que só querem o que os outros conseguiram com muito suor.

Nunca soube a quem terá pertencido o suor a que se refere, uma vez que trabalhar jamais, criadas usa e abusa a uma média de duas por ano, no mínimo, e o marido idem enquanto foi vivo.

Analfabeto, sempre viveu da especulação imobiliária, influências, compadrios, negócios, e, dizem os maldizentes, financiando as campanhas de um determinado partido.

Deixou a viúva inconsolável, cheia de propriedades, contas bancárias, cadernetas de aforro e acções do BES e do BCP.

Nunca terá vertido uma gota de suor ainda que soubesse do que se tratava, tanto que era coisa que evitava com a maior precaução.

Compreenderão agora os pruridos do Hélder em ter querido vingar sozinho ou em viver da herança paterna, uma vez que a falta de emprego o força a engolir o orgulho.

O Maurício (Pilha-galinhas) é um bom profissional de próteses dentárias que nunca conseguiu realizar-se academicamente, nem fazer carreira profissionalmente, falhou quatro ou cinco casamentos, segundo parece não por culpa própria e hoje, à falta de melhor e com uma idade que já não lhe permite devaneios ou sonhar com os filhos que queria e nunca teve, acalenta contra as mulheres algum ressabiamento que todavia não deixa transparecer e entretém-se a coleccioná-las.

Faz o mesmo com sutiãs e cuequinhas que guarda numa gaveta, ao natural (por lavar) e embora não etiquetadas, sabe a quem pertenceu cada troféu e recorda o episódio que lhe está associado.

Ninguém gosta de ser visto na companhia dele, sabe-o porque todos já lho disseram e criticaram a conduta, e, apesar de não tratar nenhuma mal, talvez por ser um romântico ou um par livre não lhe faltam solteironas, mais parecendo que as atrai como a merda atrai as moscas.

A Fátinha, com quem anda vai para seis meses, quanto a nós um record, só o aguenta por precisar, quer assentar nem que seja à força, tia promete não ficar, ele é sósia do maricon do George Michael, motivo mais que suficiente para ela, sei-o.

Bissexual, ou lésbica assumida, para ser mais preciso, a Gina morre de amores pela Fátinha, aliás foi por a andar espreitando que deu com o carro da Verónica metido na garagem do homem por quem nutre carradas de ciúmes.

Nas horas vagas curte com o cabeleireiro lá da rua, para disfarçar e calar as más-línguas.

Quem não me vai perdoar estas linhas vai ser a Mariazinha, mas posso bem com ela, o máximo que me poderá acontecer é levar com uma tarte pela cabeça abaixo e ficar um ano ou mais sem que me fale, é assim que ela procede, é muito opiniosa e adora acompanhar connosco.

Está apaixonada desde os bancos de escola pelo Hélder, por ele não casou com mais ninguém, embora não admita isto toda a gente sabe ser verdade, talvez seja virgem e é conhecida entre nós pela boquinha de broche.

Não imagino porquê, apenas que tem um falar muito baixinho, muito suave, nunca acima da meia nota quanto mais de um lá menor, e ainda que ninguém perceba de música, todos concordamos que aquela boquinha é de sonho e daria uma boa tocadora de pífaro !

Acredito que se conquistar as boas graças de D. Apolónia receberá o Hélder por recompensa, ele ainda não sabe mas não é coisa que lhe faça diferença, sabido ser  como é obediente á mãe e adorar brincar com instrumentos de sopro !

Uma vez em Gerez de La Frontera….

É melhor ficar calado. (não contem a ninguém), mas certa noite, à beira mar em Puerto de Santa Maria, todos com uma piela de caixão à cova, o Hélder e uma tal Pilar ou coisa parecida, enroscados por causa do frio, o aparelho dos dentes da Pilar cheio de efeitos multicores brilhando no escuro como pirilampos…

O Hélder andou a tratar-se mais de um mês, ficou todo escalavrado!...
O Amor é Fodido! ( Miguel Esteves Cardoso, não recordo a editora) mas ninguém desiste dele!

Quem falta ?

Atenção !

Chamada !

Quem falta !

O Leandro Rosa Silva, advogado, homossexual, parceiro a cem por cento, compicha, (eu sei que se escreve compincha), verdadeiro Adónis, cultor do corpo, do carácter e mais homem que muitos homens.

Finalmente a Filipa e o Afonso, de quem não vos vou falar hoje pois só eles dão uma crónica, lembrem-me um dia de vos falar deles, vale a pena, ela porque não se cala um minuto, ele porque é raro ouvir-se-lhe algo.

Um casal deveras curioso este, mas não é por isso que merecem uma atenção particular.

Mais tarde falaremos deles, até por ter que lhes comunicar o facto e saber até onde poderei ir.

Afinal convenhamos ser tudo gente normal não?

Como vós, como eu, e falto eu !

Mas a mim já vocês conhecem, de mim nem vale a pena falar né?


domingo, 15 de maio de 2011

47 - RODOPIOS E SACANICES ... ( 1ª de 3 crónicas)



A partida era às sete.
Não eram habituais atrasos.
Alguém lembrou que na véspera ouvira umas conversas esquisitas enquanto emborcava umas canecas, culpando a mãe, mas… quem liga a quem nessas ocasiões?
Eram quase oito horas, partimos, eles que dessem depois mais gás à máquina e talvez nos apanhassem no caminho, era norma, não normal acontecer, mas norma.
Até porque ou nos púnhamos a abrir ou nem um metro de praia onde estender a toalha quando chegássemos, sabido não haver maricas nenhum de Lisboa que não parecesse buscar o sol de Sesimbra.
Abalámos chateados, atrasados, recuperando o tempo acelerando a fundo e ultrapassando uns pela esquerda e outros pela direita, foi um espectáculo, um verdadeiro festival, não fazíamos uma destas desde a viagem a Faro!
O dia foi bem passado, mau grado eles não atenderem os telemóveis nem terem ligado ou aparecido.
No regresso, já sem pressas, fome ou sede, coisas que atiráramos fora em Vendas Novas, a capital das bifanas e da parvoíce diz sempre o Afonso, rumámos aos arredores e à quinta onde viviam, nada.
O jipe e a moto do Hélder estavam debaixo do telheiro habitual, do Mercedes da Verónica nem sinal.
Tudo fechado, certo que eram vinte horas, mas nem uma luz, um sinal, nem do alarme, o Farrusco e o Tirano esfomeados e sedentos, ali havia gato, 
– e cão –, rematou o Afonso.
Rumámos a casa da mãe, que distava quilómetro e pouco, na mesma propriedade.
A Verónica tinha sido hospedeira da TAP, toda “não me toques” até casar com o Hélder, órfão de pai seis meses depois de casar e no dia em que a mulher apareceu ao sogro com uma carrada de piercings mais umas tatuagens, uma delas, uma borboleta dois dedos acima do rabo e que, diz quem sabe, foi a culpada do enfarte do velho.
Chegámos, D. Apolónia veio a terreiro sem precisar sequer que a chamassem, que a culpa era nossa, que nunca tivéramos juízo e ao filho só fizera mal ter-nos conhecido e acompanhar-nos e práqui e práli.
Bem quis esclarecer o caos, parei a moto, desci, avancei e;
– Já aí quieto meu maricas de galarito!
Tu és o pior de todos!
Nem mais um passo!
Quanto mais velhos menos juízo têm!
Ainda tentei balbuciar qualquer coisa mas D. Apolónia, embora com menos uns anitos que eu sempre me tratara por tu, com indisfarçável indiferença e menos respeito ainda, coisa que nunca compreendi mas sempre aceitei, era mulher rude, campónia, mãe do meu amigo, nunca pensei casar com ela, pelo que tanto se me dava como se me deu, naquele dia deu.
D. Apolónia mas…
- Já te disse meu maricas!
Põe-te fora daqui e já!
Paneleiros!
São todos uns paneleirões, paneleiros e putéfias, meu rico filho com quem se meteu!
Por tua causa e de outros como tu, meu merdas, é que…
Não adiantou, não conseguimos arrancar nada de nada a D. Apolónia, mas, a julgar pela coisa algo se tinha passado, e grave.
Certo que tinha partido de Évora protegido pelo meu fato de cabedal azul, o escuro, mais fresco, mas àquela hora estava de bermudas, uma camisola de manga cavada até à cintura comprada com o propósito de deixar mostrar os músculos e a beleza deste corpinho, o cabelo de um azul-marinho lindo, enfim, tudo adereços que em vez de acalmarem mais espevitaram a ferocidade de D. Apolónia, uma daquelas pessoas cheias de narda e de propriedades mas carente de massa cinzenta, para quem a frase “todos diferentes, todos iguais” seria mais uma coisa provinda desse novo jogo do “soduku” que um qualquer pensamento profundo, uma vez que era mulher mais propensa a coisas práticas.
Debandámos.
Já pela meia-noite a Gina viu o Mercedes da Verónica com o focinho enfiado na garagem do Pilha-galinhas, mais concretamente o Maurício, estranha coisa, pois o Hélder e o Maurício eram inimigos figadais há anos, telefonou à maralha, a maior parte de nós na feira de Reguengos, e lá acorremos pelo que quando batemos à porta éramos já um grupo coeso de amigos na farra, grupo a que só faltavam o Maurício, a Verónica e o Hélder.
Foda ou canelada?
Foda…
A Verónica tinha uns olhos de quem chorava há um mês, por ela ficámos sabendo metade da história, pelo Maurício outra parte, faltaria o Hélder, cujo paradeiro todos desconheciam e cujo depoimento esclareceria e comprovaria os pormenores em falta, os dados adquiridos, e o facto de, na passada semana a Verónica e o Hélder se terem engalfinhado.
Ela dera-lhe um pontapé, ele, ferido no seu orgulho de macho latino ripostara com um “cabra de merda, a minha mãe é que tinha razão” e atirara-lhe um murro ao focinho que a deitara por terra e pusera a sangrar.
Ela apenas se lembra de ele a ter posto na rua, arrancado as chaves de casa, gritado galdéria de merda não me voltes a aparecer diante que te fodo o juízo todo, e ter abalado, a pé, chorando, para casa da mãe.
Segundo a Verónica confidenciou à Filipa, a exaltação adviera da estreia, umas noites atrás, duma fantasia de enfermeira, coisa que sabia agradar ao Hélder, que já se queixava das máscaras, das capas e dos chicotes e algemas, coisas de que andaria a ficar mesmo farto.
Despeitada e metida na rua a Verónica rumara ao único homem que há muito lhe prometera e prometia o coração, o Maurício, não por acaso conhecido pelo cognome de Pilha-galinhas…. em cuja casa se instalou de mesa e pucarinho, que é como quem diz de armas e bagagens, mostrando ao Hélder não precisar dele para nada.
Só que as coisas nunca são assim tão fáceis.
Enquanto a Verónica e a Filipa entre lágrimas e juras, planos de vingança e contenção, se esclareciam, o Maurício abria a matraca ao ouvido do Leandro para se lamentar que toda a vida tinha tentado saltar prá cueca daquela gaja, sem qualquer resultado, chegara a ponto de lhe prometer e jurar amor eterno, e nada, e casamento, e nada, a não é que agora a tinha ali, ainda por cima para ficar!
E logo agora que nada lhe convinha, que já tinha férias combinadas, pagas e repartidas com a Fátinha em Porto Covo, e aparece-lhe esta gaja em casa, sem avisar, sem dizer água vai água vem, a meter-se-lhe na cama, fogo, não via que mal tivesse feito a Deus para merecer aquilo, e agora?
E agora quem é que lhe tirava a gaja debaixo porra?
Tou mesmo a ver que mais dia menos dia o Hélder vai chorar no meu ombro depois de umas cervejolas, vituperar a mãe e a moral de merda da velha, mais a própria estupidez por lhe ter dado ouvidos, chorar pela Verónica e cagar-me calças e blusa de baba e ranho e eu, farto desta merda, faço votos para que a coisa se resolva depressa, afim de não estragar as férias ao Maurício e à Fátinha, o leve a repensar a coisa e aproveitar as fantasias em que a Verónica é mestra, e ela que encha a barriga e quebre violentamente a rotina aproveitando para fazer com o Maurício o que pelos vistos não deve ou não pode fazer com o maridinho que, por sua vez não faria mal em se desfazer da velha, pois já é crescidinho e fica-lhe mal furtar-se à Verónica quando toda a gente sabe as porcarias de que é capaz quando se apanha sozinho em Gerês, Faro ou em qualquer outro sitio.
Mas como não há mal que não venha por bem, a Mariazinha, que há dez anos corteja o Hélder, esfrega as mãos de contente e oferece tartes à D. Apolónia.
Ela lá saberá porquê.
E eu, bem… eu o melhor, pelos vistos seria começar a ter juízo ou montar um consultório sentimental…..

quarta-feira, 11 de maio de 2011

46 - ELES AMAM-ME ! eheheh !!!!!

Moi preparadinho p'ra ver Braga por um canudo :) 

Sou vivido o suficiente para ter desfrutado não somente da vida mas por exemplo do Algarve antes do Allgarve, isto é no tempo em que se viam carradas e carradas de amendoeiras em flor, tavernas, restaurantes e esplanadas onde me sobrava dinheiro para pagar as extravagancias e as contas, havia alguém para nos atender e se comia bem, mas mesmo bem, se podia estacionar em qualquer dos muitos lugares à disposição, e a vista, ai a vista! Abrangia quilómetros de latitude olhando para o mar e de longitude mirando a terra !

Talvez por isso adore as flores de amendoeira, que agora compro nas lojas do chinês para enfeitar recordações empoeiradas sobre um qualquer móvel da sala.

Certo que não havia auto-estradas, mas o tempo corria tão devagar que ninguém tinha pressa de chegar fosse onde fosse, muito menos ao Algarve, que nessa época proporcionava lições de inglês a toda a gente, foi lá que o aprendi, como foi lá que, nas noites sem frio e sem fim, em redor de grandes fogueiras na praia, conheci o mesmo Jorge Palma que agora não me conhece. Tudo isto num tempo em que os algarvios eram tão pouco cosmopolitas, estúpidos e íntegros quanto o pode ser uma criada de servir e ainda comiam com o prato na gaveta da mesa da cozinha, que de imediato fechavam se alguém chegava, lamentando-se de termos chegado tarde pois tinham acabado de almoçar naquele mesmíssimo instante. Depois ficaram inteligentes repentinamente, desataram a construir prédios por tudo que era sitio, até nos passeios, a falar somente inglês, a somar nas contas dos restaurantes desde os números das facturas, ás datas, até ás saladas de alface, debitadas como de frutas, se tornaram arrogantes e passaram a esquecer-se de atender quem não seja franciú, bife ou boche.

Foi aí que dei o fora, era amor a mais e, como eu muitos fizeram o mesmo, até os algarbéus se terem convencido que as saudades matavam e terem criado uma campanha muito gira que correu o país de lés a lés, intitulada “ Vá Para Fora Cá Dentro”, mas era tarde, outras paixões me animaram, como animaram muitos outros, e assim descobri que havia mais mundo, mais bonito e sobretudo mais barato. Conheci outros lugares e outras gentes por toda a Europa e norte de África, só tendo voltado ao Allgarve esporádica e exclusivamente quando algum familiar me morria e, mesmo assim procurei sempre ir apenas ao funério e não ao velório, para não ter que dormir por lá nem deixar um “tusta” que seja num qualquer restaurante de má memória.

Perdão, mais ou menos religiosamente ainda ia à grande Concentração Motard de Faro, mas tão só porque depois de chegarmos e das primeiras bebidas já nenhum de nós sabia em que parte do mundo se encontrava, de tal modo que uma noite, depois de umas bejekas e de uma sessão espectacular de um concurso da “Miss T-Shirt Molhada”, pensámos estar em Las Vegas e demos por nós buscando o barco para Portugal, que apanhámos em Portimão e nos deixou, babados e vomitados salvo erro em Tanger, sem passaportes nem nada, tendo sido uma desgraça tal que nem vos conto. Idem para uma campanha televisiva para visitar os Açores, “Pronto para o melhor tempo da sua vida” e que se me deparou diante um dia enquanto jantava uma sopinha de beldroegas apanhadas à bórliu, não fosse dar-se o caso de estar avisado e vacinado quanto baste para não ir em cantigas, (estive lá uma vez e bastou), no tempo em que nem nos convidavam e como tal tudo corria bem, e a mim melhor correu quando alguns ilhéus ilustres me souberam amigo de um arquitecto aqui de Évora que tivera grande peso e preponderância na reconstrução de Angra do Heroísmo após o terramoto que quase a deitou abaixo.

Por isso e mais nada que isso me trataram como o teriam tratado a ele caso tivesse aparecido por lá naqueles dias, pelo que só tive que comer e calar, nem me esqueci de lhes agradecer, a eles, as mesuras proporcionadas, nem de agradecer e entregar ao dito arquitecto os saudosos cumprimentos que me encarregaram de lhe trazer uma vez regressado dessas férias inesquecíveis. Não sei porquê, como poderão ver criei um preconceitosito contra as campanhas, e já não me levam ás boas nem sequer a uma simples prova de vinhos.

Tudo nesta vida se paga, e prefiro pagar o que me pedem a alinhar em promoções de intenção duvidosa.

Talvez por isso, acabei o jantar rindo a bandeiras despregadas com a campanha de uma conceituada marca de automóveis que vai lançar no nosso país os carros eléctricos, e aqui vos deixo já o meu vaticínio de que, quando isso acontecer, poderão ter por mais que certo o aumento da tarifa de electricidade, pois se o comermos em chibo não o comeremos em bode e, se não pagas o vergonhoso roubo que constitui o preço da gasolina, descansa que pagarás com língua a dobrar a electricidade, que é como quem diz o dinheiro que o maravilhoso carro te ajudará a poupar nas tuas viagenzitas parvas, sempre aos mesmos sítios e a que eu, vulgarmente chamo as voltinhas dos parvos.

Quando alguém te declarar o seu amor, já sabes, põe-te a pau, decerto te querem comer as papas na cabeça !


Capice ?  

Moi preparadinho p'ra arrancar p'ra Faro :) 

quinta-feira, 5 de maio de 2011

45 - ...................... PUTAS NA CAMA ........................



Já lá vai o tempo em que os estados civis se resumiam a três, e, se vida e cronologia não interferissem, eram comummente e salvo raríssimas excepções vividos pela seguinte ordem; solteiro, casado e viúvo. Idem para o género feminino.


 O problema é que a sociedade entrou em ebulição tão acelerada quanto o progresso no estudo da fissão e fusão do átomo e se reflectiu na evolução do estado da matéria que, da clássica categorização em terra, fogo, água e ar, passando agora pela designação elementar de sólido, líquido e gasoso passou a apresentar mais um patamar, plasma, matéria negra ou outra qualquer coisa do domínio do imaterial.


 Estou a falar bem ou não senhora engenheira ? Não estou a safar-me mal atendendo à minha ignorância na matéria pois não ?

 

Isto a propósito de mais um estado que o dito civil passou igualmente a apresentar, divorciado, não falando nos intermédios mais ou menos densos ou de duvidosa densidade de, numa relação, aberta normalmente, separado, unido de facto, algo confuso ou vivendo maritalmente.

 

Lembram-se de vos ter falado nos cinco maridos da prima Michele ? Ou será que ainda não falei ? Se não falei juro fazê-lo em breve ta bem ? (vide texto 66 ).

 

Bem, voltando à minha prima Michele que com um, ela foi casada, de outro está divorciada, portanto separada, com um terceiro viveu uma relação de facto, desisti de saber se aberta  se fechada e que tipo de relação existe agora, ainda que tenha adivinhado que se aproxima de concretização mais uma vivência marital, (mais uma experiência ?) desta vez com um marinheiro entradote e reformado que, a julgar pelas cores que começou a apresentar, consumado que está apenas um mês dessa relação, dará à Michele o conhecimento do, ignoro se ambicionado mas pelo menos até agora não experimentado estado de viúva.

 

Aposto que redundará numa viúva-alegre e por pouco tempo, conheço-a bem melhor que ela a mim.

 

O problema, nem meu nem dela, mas de muita gente actualmente, é não se adaptarem, conviverem mal com os nuevos e hodiernos estados que, fermentados e fomentados pela crise tanta gente englobam já, refiro-me à separação e ao divórcio.

 

Não vou falar-vos do ponto de vista feminino, bem sei quanto gostariam mas coíbo-me de tal enquanto houver mulheres a preencher aqui perfis e a saber disso muito mais que eu, medida sensata não acham ? (prova de que nem sou tão parvo quanto me julgam).

 

Do ponto de vista dos homens, e bastantes amigos tenho divorciados ou separados, é outra coisa, e para já vos garanto que tudo que vou afirmar é inventado e jamais lhes ouvi o que quer que seja, mesmo quando chorando ao meu ombro, baba escorrendo pelos cantos da boca, olhos vidrados e mais amarelos que um eléctrico da carris, debitam vinganças, arrependimentos, saudades, amores, perdões, e tudo e todos culpam da situação, menos a eles próprios que, quanto a mim e a julgar pela fasquia do que tenho ouvido, de tudo serão os únicos culpados.

 

Nunca soube se depois de etilizados me confundem com uma mulher da vida, ou o bar com um lupanar, visto em nada se parecer com qualquer confessionário já por mim visto, nem eu tenha cara de padre ou por hábito desnudar os ombros.

 

Mas a questão de hoje resolve-se com poucas explicações, e deriva, toda ela, do facto de a mulher “dever” ter capacidade de encarnar três estados, não civis, não físicos, antes psicológicos, filosóficos, quânticos, tântricos, teatrais ou metafísicos, capacidade que a faltar-lhes as coloca debaixo de um mau-olhado, e péssimos karma ou chacra se à altura de tão compreensível quão inusitado desempenho se não mostrarem.

 

Pois bem, o mal ou a coisa, é que me apercebi que, de modo largamente maioritário, os meus amigos aspiram a uma mulher tripla, coisa que, pelo menos no que me toca, não conheço, não há, nunca vi, embora tenha ouvido falar bastante, como dos unicórnios, do ciclope, do abominável homem das neves ou das sereias...

 

Pois fiquem V. Exª.s sabendo que, para manter um matrimónio, segundo opiniões de gente respeitadíssima, tão respeitada quanto a de um digníssimo coronel reformado que tive como vizinho, sempre apalpando as criadas que por isso não lhe paravam lá em casa até que uma mais afoita o levou ao altar, vivendo agora da reforma generosa que o Ministério da Defesa não recusa a nenhuma viúva de qualquer dos seus graduados, medalhados ou não. Para sobreviver há que sofrer como ela sofreu, palavras dela mesma.

 

Ia eu dizendo que a mulher tripla que tanta gente pretende, deverá ser exemplarmente casta e ofuscantemente linda aos olhares dos amigos, para orgulho do maridinho, dona de casa exímia, incansável e aplicada, cursada em lavoures (não confundir com louvores), e na cama, que deverá ter largura qb, possuir a experiência de uma grandessíssima puta, pois não havendo causa sem efeito, (ou o contrário ?) proporcionará ao queridinho um superior êxtase de sensualidade e prazer.

 

Ora digam lá vocês se este paleio de merda terá algum fundo de verdade, batidas que serão em aturar asnos destes, pois é precisamente por vossa culpa e devido às vossas incapacidades e incompetências que todas as sextas feiras os aturo eu, bêbedos que nem cachos, e calhando uma destas noites, chamando-me à pedra por este escrito e esmurrando-me o focinho. É um risco que corro só por querer demonstrar-lhes por A mais B que estão melhor assim, separados ou divorciados, e nem culpas devem carregar nas suas consciências atormentadas, tormentos de que tanto me custa vê-los perecer.

 

As que estão casadoiras que se preparem pois por vezes para sobreviver há que sofrer como a outra sofreu. Depois não digam que ninguém as avisou.

 

Nuno !

 

Saem mais seis imperiais!

 

Em copo de vidro fininho não esqueça ! 



(post scriptum; sendo este um dos textos mais lidos de todos segundo as estatisticas do blogue, que tem um contador, porque será que só uma vez foi comentado?)