Moi preparadinho p'ra ver Braga por um canudo :)
Sou vivido o
suficiente para ter desfrutado não somente da vida mas por exemplo do Algarve
antes do Allgarve, isto é no tempo em que se viam carradas e carradas de
amendoeiras em flor, tavernas, restaurantes e esplanadas onde me sobrava
dinheiro para pagar as extravagancias e as contas, havia alguém para nos
atender e se comia bem, mas mesmo bem, se podia estacionar em qualquer dos
muitos lugares à disposição, e a vista, ai a vista! Abrangia quilómetros de
latitude olhando para o mar e de longitude mirando a terra !
Talvez por
isso adore as flores de amendoeira, que agora compro nas lojas do chinês
para enfeitar recordações empoeiradas sobre um qualquer móvel da sala.
Certo que não
havia auto-estradas, mas o tempo corria tão devagar que ninguém tinha pressa de
chegar fosse onde fosse, muito menos ao Algarve, que nessa época proporcionava
lições de inglês a toda a gente, foi lá que o aprendi, como foi lá que, nas
noites sem frio e sem fim, em redor de grandes fogueiras na praia, conheci o
mesmo Jorge Palma que agora não me conhece. Tudo isto num tempo em que os
algarvios eram tão pouco cosmopolitas, estúpidos e íntegros quanto o pode ser
uma criada de servir e ainda comiam com o prato na gaveta da mesa da cozinha,
que de imediato fechavam se alguém chegava, lamentando-se de termos chegado
tarde pois tinham acabado de almoçar naquele mesmíssimo instante. Depois
ficaram inteligentes repentinamente, desataram a construir prédios por tudo que
era sitio, até nos passeios, a falar somente inglês, a somar nas contas dos
restaurantes desde os números das facturas, ás datas, até ás saladas de alface,
debitadas como de frutas, se tornaram arrogantes e passaram a esquecer-se de
atender quem não seja franciú, bife ou boche.
Foi aí que
dei o fora, era amor a mais e, como eu muitos fizeram o mesmo, até os algarbéus
se terem convencido que as saudades matavam e terem criado uma campanha muito
gira que correu o país de lés a lés, intitulada “ Vá Para Fora Cá Dentro”, mas
era tarde, outras paixões me animaram, como animaram muitos outros, e assim
descobri que havia mais mundo, mais bonito e sobretudo mais barato. Conheci
outros lugares e outras gentes por toda a Europa e norte de África, só tendo
voltado ao Allgarve esporádica e exclusivamente quando algum familiar me morria
e, mesmo assim procurei sempre ir apenas ao funério e não ao velório, para não
ter que dormir por lá nem deixar um “tusta” que seja num qualquer restaurante
de má memória.
Perdão, mais
ou menos religiosamente ainda ia à grande Concentração Motard de Faro, mas tão
só porque depois de chegarmos e das primeiras bebidas já nenhum de nós sabia em
que parte do mundo se encontrava, de tal modo que uma noite, depois de umas
bejekas e de uma sessão espectacular de um concurso da “Miss T-Shirt Molhada”,
pensámos estar em Las Vegas e demos por nós buscando o barco para Portugal, que
apanhámos em Portimão e nos deixou, babados e vomitados salvo erro em Tanger,
sem passaportes nem nada, tendo sido uma desgraça tal que nem vos conto. Idem
para uma campanha televisiva para visitar os Açores, “Pronto para o melhor
tempo da sua vida” e que se me deparou diante um dia enquanto jantava uma
sopinha de beldroegas apanhadas à bórliu, não fosse dar-se o caso de estar
avisado e vacinado quanto baste para não ir em cantigas, (estive lá uma vez e
bastou), no tempo em que nem nos convidavam e como tal tudo corria bem, e a mim
melhor correu quando alguns ilhéus ilustres me souberam amigo de um arquitecto
aqui de Évora que tivera grande peso e preponderância na reconstrução de Angra
do Heroísmo após o terramoto que quase a deitou abaixo.
Por isso e
mais nada que isso me trataram como o teriam tratado a ele caso tivesse
aparecido por lá naqueles dias, pelo que só tive que comer e calar, nem me
esqueci de lhes agradecer, a eles, as mesuras proporcionadas, nem de agradecer
e entregar ao dito arquitecto os saudosos cumprimentos que me encarregaram de
lhe trazer uma vez regressado dessas férias inesquecíveis. Não sei porquê, como
poderão ver criei um preconceitosito contra as campanhas, e já não me levam ás
boas nem sequer a uma simples prova de vinhos.
Tudo nesta
vida se paga, e prefiro pagar o que me pedem a alinhar em promoções de intenção
duvidosa.
Talvez por
isso, acabei o jantar rindo a bandeiras despregadas com a campanha de uma
conceituada marca de automóveis que vai lançar no nosso país os carros
eléctricos, e aqui vos deixo já o meu vaticínio de que, quando isso acontecer,
poderão ter por mais que certo o aumento da tarifa de electricidade, pois se o
comermos em chibo não o comeremos em bode e, se não pagas o vergonhoso roubo
que constitui o preço da gasolina, descansa que pagarás com língua a dobrar a
electricidade, que é como quem diz o dinheiro que o maravilhoso carro te
ajudará a poupar nas tuas viagenzitas parvas, sempre aos mesmos sítios e a que
eu, vulgarmente chamo as voltinhas dos parvos.
Quando alguém
te declarar o seu amor, já sabes, põe-te a pau, decerto te querem comer as
papas na cabeça !
Capice ?
Moi preparadinho p'ra arrancar p'ra Faro :)