quinta-feira, 2 de agosto de 2018

524 - SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO * 5 .........




O modo como esta democracia foi instaurada e instalada, por militares ignorantes das coisas da política, e por políticos sabedores em demasia do mesmo mister, conduziu a que fosse entregue de mão beijada nas mãos dos partidos, deixada a desejo das jotas, ao sabor dos aparelhos partidários, dos boys, padrinhos, afilhados, sobrinhos, tios e tias e até das concelhias. De tal modo que o povinho esse, é quem menos ordena, ordena ainda menos que no tempo da outra senhora… Mas tem outras qualidades, goza a vida, produz pouco, pouquíssimo, mas reivindica muito, luta pelos seus direitos, furta-se a quantos deveres pode e vive à margem das guerras da produção, da produtividade, da rendibilidade, não fosse o tempo demasiado quente e viveríamos no paraíso.

Lamentavelmente não tem aparecido ninguém com carisma, com saber e eloquência, falando verdade a este povo crédulo explicando a toda a gente as consequências do caminho trilhado. Não tem aparecido quem entusiasme, quem arraste multidões, quem seja capaz de se afirmar pela sinceridade e dê a volta a isto, que apresente um projecto de futuro, mobilizador e agregador. Em suma não tem aparecido ninguém com tomates. Segundo as estatísticas, estadistas assim abonados aparece em média um de cinquenta em cinquenta anos, ora estamos em 2018, é hora, estará na hora de aparecer esse homem indispensável e providencial.

A aparecer que apareça quem arraste tanta gente quanto o “Presidente Rei” Sidónio Pais arrastou em 1917/18, ou Salazar, o salvador da pátria. É óbvio que terá a tarefa dificultada por todas as peias e entraves que esta democracia estendeu a si mesma, de tal modo que nem se deixa medrar, nem a ela nem à nação. Esta democracia instalou todos os mecanismos que potenciam o nepotismo e a corrupção e nenhum que a tire do poço ou do marasmo que a si mesma se concedeu e apadrinhou.

A democracia, todos o sabemos, é o sistema da maioria, a maioria é o vulgar (não quis usar o termo ordinário, contrário de extraordinário) e o vulgar, o ordinário é o mais pobre, das ideias aos valores, princípios e conhecimentos, os quais não se importa de espezinhar e aviltar em proveito próprio. Da vulgaridade nada de extraordinário deve ser esperado, nunca a nossa história registou os feitos de homens vulgares, nem os houve. Estamos então confessados, esta democracia tem sido a nossa perdição, não é o caminho da salvação e já muita gente o percebeu.

Há dois mil anos já os romanos o tinham percebido, sendo o Senado quem legal e legitimamente, em situações de crise, nomeava um ditador, a quem atribuía poderes máximos, definia objectivos e prazos. Precisamente o oposto do que se passa neste país, onde a democracia não resolveu nenhum dos nossos problemas mas nos trouxe imensos. O problema da democracia é não ser a solução para os todos males, nem se adaptar a determinadas situações ou populações. Tal como a fruta tem o tempo próprio para ser colhida, armazenada, transportada e fruída, também a democracia exige condições pré-determinadas para ser vivida e vivenciada.

O que nasce torto tarde ou nunca se endireita e a voragem dos políticos, a corrupção, a irresponsabilidade e a incompetência são males que assolam Portugal e têm a idade desta disfuncional democracia, pois logo a seguir ao 25 de Abril deviam ter-se traçado os eixos prioritários que definiriam a sustentação estrutural do país, o seu esqueleto digamos, ou exo-esqueleto, mas tal não se fez, e nunca mais foi feito. Não o foi no aspecto concernente a aeroportos e portos, nem nos aspectos rodoviário, ferroviário, ou marítimo, nem no sistema de ensino ainda aos trambolhões, tal qual o sistema de saúde e segurança social se encontram actualmente. Não tivesse o SNS sido erguido nessa altura e não o seria de certeza. Outros aspectos desta estrutura foram igualmente esquecidos, ou torpedeados, como aconteceu com a agricultura e as pescas. A economia e a indústria nunca mereceram qualquer atenção especial, e quanto à banca, seguros e energia pensou-se nelas sim mas apenas para apurar por quanto as alienar.

Do que se conclui viver Portugal um momento excepcional da sua história, um momento em que somente gente excepcional será capaz de tomar e assumir medidas excepcionais, será capaz de nos emocionar, empolgar, mobilizar, arrastar, levantar o moral, tornar a moralidade e a ética valores a respeitar, tornar a justiça célere e justa, exemplar e acessível a todos, começando por acabar com os expedientes dilatórios os quais permitem todo o tipo de tropelias absurdas e os atropelos e injustiças que todos conhecemos.

Vivemos como todos sentimos, uma situação excepcionalmente negativa da nossa história, precisamos de um líder excepcional e de soluções excepcionais. Alguém por sua vontade e imposição deverá, terá que se erguer e tomar em mãos as rédeas desta nação e voltar a fazer dela uma nação. “O fraco rei faz fraca a forte gente” ensinou-nos Camões, é hora de todos trabalharmos pela nação, é hora de tudo fazer pela nação. É de novo tempo de erguer as mãos, pegar em armas e lutar por Deus, Pátria, Família, autoridade, um corpo só, um por todos, todos por um, um pé no pescoço dos recalcitrantes, uma polícia que modere excessos e capaz de morigerar tentações. Eça tinha razão, a democracia fica-nos curta nas mangas, não foi feita para nós.

Voltamos ao eterno dilema, que fazer ? Sair da UE sem ruido para não se perder esse enorme mercado mas podermos tomar as rédeas da governação da nação. Pirueta difícil mas não impossível. E não sair do Euro, não sair do Euro por nada, se a Inglaterra pôde fazer parte da Comunidade Europeia sem fazer parte dos países do Euro, talvez nos fosse possível continuar no Euro sem estar oficialmente na comunidade, talvez a UE respirasse de alívio com a nossa saída, de qualquer modo é uma ginástica a ser tentada. Manobra a ser tentada em simultâneo com a garantia da continuidade pelo respeito e cumprimento do acordado com empresários, actividade empresarial, investidores e credores, tentando que as Agências de Rating não passassem de nós uma imagem assustadora para os mercados.

É evidente que uma manobra destas só acontece em sonhos, mas também ninguém esperava o bambúrrio do 25 de Abril e ele aconteceu. Mais a mais poderá sempre aparecer um personagem patriótico estilo Jaime Neves e colocar o orgulho do país na frente de tudo o resto. A época é propícia, os militares do Exército furtam-se a falar na comissão de inquérito parlamentar ao caso das armas roubadas em Tancos, os da Força Aérea estão a braços com um processo de desvio de milhões nas verbas para aprovisionamento das cantinas, a Marinha encolhe-se sempre que ouve a palavra submarinos. Havendo razões de sobra para alguém tentar pôr esta merda novamente de pé reconquistando o prestigio das Forças Armadas e repondo a sua honra.

E quem sabe se não poderia acontecer tudo de novo ? De novo e igualmente no encantador Monte do Sobral, na estrada que liga a vila de Alcáçovas a Viana do Alentejo, bem no coração do Alentejo, um típico monte alentejano que em tempos esteve ligado à história recente de Portugal, pois ali se realizou, em 9 de Setembro de 1973, a 1ª reunião do movimento de capitães que viria a dar origem ao 25 de Abril de 1974. Nada é impossível, não dizem constantemente que a história se repete ?

A manobra nem seria muito diferente do que foi em 74, garantir a fidelidade de uns quantos fiéis militares, avançar direito a Lisboa, tomar de assalto pela calada os pontos estratégicos essenciais, firmar posições, afirmar-se no terreno e declarar sem alarme o estado de emergência, pois seria de uma emergência que efectivamente se trataria, apelar à compreensão nacional e internacional pela luta da nação, pela sua sobrevivência e independência, pela recuperação da sua economia e soberania…

                …………………  continua …………………….

    “SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO, UMA GOLPADA FICCIONADA” …



* “Sonho de uma Noite de Verão” original: A Midsummer Night's Dream, é uma famosa peça teatral da autoria de William Shakespeare, comédia escrita em meados da década de 1590.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

523 - SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO * 4 .........



Ora íamos nós dizendo, ia eu dizendo que, como se este panorama não bastasse, sair do Euro ou não, tudo que viesse de fora aumentaria enormemente mal saíssemos do Euro, acrescentem-se as alcavalas de impostos destinadas a manter o estado gordo, naturalmente para te desmotivar a comprar fora, motivar ao consumo interno, travar a saída de divisas, obrigar à poupança, ao comedimento, nada de vivermos acima das nossas possibilidades bla bla bla. De seguida iríamos ver o que aconteceria com a importação de matérias-primas, maquinaria e bens de equipamento.

7 - Penso que estarão lembrados ainda que muito simplesmente ficariam repentinamente muito muito mais caras e caros, logo o seu reflexo nos custos originaria aumentos no que quer que com elas e eles fosse fabricado, produzido, de modo que tornaria esses produtos além de mais caros mais inacessíveis aos de dentro, aos tugas, e aos de fora. Exportar tornar-se-ia mais difícil, produzir uma aventura, investir um milagre, tudo definharia, tudo empobreceria. Se agora as coisas são como são, imagina como seriam ó Sebastião… 

Metade ou quase das nossas importações são bens de equipamento destinados a completar muito do que exportamos. Num navio praticamente só o casco, estrutura e mão-de-obra são nacionais, de resto, do mais pequeno GPS aos motores tudo vem de fora. A AutoEuropa monta e pinta automóveis, e à excepção dos conjuntos de pedais e dos escapes tudo o resto vem de fora, para que compreendam o arame de circo em que a nossa economia balança e assenta.

Ora sucede que actualmente não se pode mexer na moeda, digo desvalorizar a moeda, mas podem-se desvalorizar outros factores com peso na produção, como salários, mantidos forçosamente baixos desde a crise e que no geral têm sido mantido baixos e assim irão continuar. A baixa dos salário, de que faz parte o congelamento de carreiras e a dificuldade de admissão na função pública (este último item é questionável), conjugada com a sangria nos impostos retira capacidade de compra ao pagode o qual, vai comprando umas couves e pouco mais, e se houver mais há que sacar-lho antes que se meta a trocar de carrinho fazendo as delicias das economias alemã, ou japonesa ao engravatar-.se com um BMW, Mercedes ou um valente jipão Toyota, que é o que a malta faz mal se apanhe com uns dinheirinhos no bolso. 

Há que travar todas essas veleidades, esta é só mais uma das peculiaridades das nossas gentes, da nossa democracia, fazermos mais pelas economias e democracias dos outros que pela nossa. Há portanto justificada razão e urgência em evitar a sangria de divisas, há que travar este inconsciente pessoal o qual, curiosamente obriga a penar mais os que menos gastam e menos esbanjam. Todas estas medidas foram e são medidas pensadas, repensadas e coordenadas com a Troika por isso não te arrelies muito, nem grites, nem percas tempo em manifs porque o que tem que ser tem muita força e estas questões são questões de estado e muito superiores aos problemas da tua paróquia.

É que entretanto ninguém pára nem a dívida nem o deficit, até porque as grandes empresas nacionais e altamente rentáveis, como a EDP, a ANA, as OGMA, a REN, a TAP, a PT Telecom, os seguros, a banca e tantas outras cujo nome nem me ocorre agora, as quais podiam e deviam canalizar os seus fabulosos lucros para ajudar a combater deficit e divida, e até a aprovisionar e impulsionar o investimento, simplesmente já não são nossas, foram vendidas a pataco para diminuir o que nunca diminuiu nem pára de crescer, foram-se os dedos e os anéis. Nem já as estradas são nossas, pertencem a um tal de PPP que ignoro ser chinês ou Luxemburguês. Antes fossem do PQP que pode ser um fascista mas é um fascista dos nossos. O que não podemos é voltar a ter grandes empresas públicas para enfiar de novo boys, protegidos, afilhados, sobrinhos, amigos e amigas, amantes, concubinas e toda a casta da puta que os pariu, como soez e infelizmente é prática em muitos municípios. 

A fim de fazermos uma pequena ideia da tempestade que sobre nós se abateu vou alinhavar apenas três linhas, esturrámos ingloriamente o ouro que o outro bandido nos deixara, vendemos ao desbarato as maiores e as melhores e mais rentáveis empresas públicas e acumulámos uma dívida castradora e sufocante que nos amarrará durante trezentos anos. Vantagens ? Doravante não precisamos emigrar para sermos escravos lá fora, já podemos ser escravos dos outros cá dentro, nem nos restará mais que sermos escravos de estranhos na nossa própria terra.

Quando disse que esta república e estes partidos, do centrão às extremidades são piores que os Partidos Progressista e Regenerador da primeira república baseava-me no exemplo histórico. A história, o passado mostra-nos, demonstra-nos e ensina-nos, curiosamente ou devido a estupidez e ignorância congénitas não aprendemos nada de um dia para o outro.

Apesar destas cenas apocalípticas e macacas temos conseguido aumentar as exportações, mérito e palmas para empresários e empresas, a percentagem agora alcançada devia tê-lo sido há trinta anos atrás e estar hoje dobrada, duplicada. É este o único aspecto positivo que tenho para vos oferecer, em quase tudo o resto as diversas governações têm sido um desastre, assim está o país, um vero exemplo demonstrativo pelos resultados apresentados, do máximo que tem sido obtido ou conseguido. Mas quem se atreve a fazer balanços ? É o fazem …

Inteligente, inteligente parece só termos o vereador do BE, Ricardo Robles, pena que ao invés de se lembrar apenas dele e de resolver a sua vidinha, solucionar a sua existência, nunca se tenha lembrado de ideia ou solução do agrado de todos e que tivesse enriquecido a nação e os portugueses. É a sua versão do colectivo, o colectivo é ele e só ele, que tem o olho azul e é um moço bonito, eu diria mais, diria que bonito, bonito, são os tomates a bater no pito, como canta e bem Quim Barreiros.

É evidente que o pessoal tem que ser travado, e não somente os corruptos, mas também o amiguismo, o compadrio, o partidarismo, as carreiras, as reivindicações absurdas, a banca e o fisco que por cinco tostões tiraram a casa a milhares de portugueses que se viram no desemprego, tantas vezes por terem perecido as empresas onde labutavam, estranguladas pelo fisco com impostos, ou pela banca com juros, comissões e condições incomportáveis. 

O pessoal também tem que ser habituado a ser comedido, as taxas moderadoras na saúde, no SNS, deviam ter sido instituídas desde o primeiro momento, os gestores responsabilizados, os perdões fiscais estratosféricos a empresas milionárias idem, o duplo emprego aspas, as incompatibilidades, isenções, convenções e subsidiações aos deputados agravadas, revistas, alteradas, acabadas, há que abrir de novo caminho à ética e à moralidade, ao mérito, aumentos salariais e transferências para o poder local deveriam ter sido há muito indexadas ao crescimento do PIB, à taxa de desemprego, idem para despesas e número de funcionários públicos, para limites e valores de aposentações, num claro exemplo de “não se produz não há paparoca” mas não, foi tudo deixado em aberto, deixado ao acaso, deixado o caminho livre, e, sabendo-se como o tuga é, estava mais que visto que esse caminho nos traria onde trouxe, a um buraco sem fundo onde estamos atolados.

Ninguém e atreveu a travar ninguém e o estampanço contra o muro aconteceu em 77, 83, 92 e 2009. Estamos de novo sem travões e caminhamos alegremente contra outro muro e pra mais um aparatoso e estrondoso embate. Riam-se, riam-se, quando souberem que é pra o __ até choram …

           ……………………  continua …………………….




* “Sonho de uma Noite de Verão” no original: A Midsummer Night's Dream,  peça teatral da autoria de William Shakespeare, uma comédia escrita em meados da década de 1590.

terça-feira, 31 de julho de 2018

522 - SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO * 3 .........



Recapitulando, … “A arrastada e vergonhosa saga do Brexit e os populismos insurgentes e emergentes um pouco por todo o espaço da União Europeia atestam quanto a sua ineficácia e incompetência nos foi a todos extremamente penosa e prejudicial “ ...

5 - Prejudicial porque era suposto a Comunidade Europeia combater e colmatar os deficits nos países da União que os apresentassem, penalizando-os e forçando-os a corrigir a situação, mas também os ajudando, amparando-os, como ?

Com o excesso, com o superavit de outros, sendo aqui que surge o busílis, com a egoísta Alemanha à cabeça, acumulando superavit atrás de superavit sem a mínima contemplação pelos parceiros de união e sem que Bruxelas tenha tomates para a penalizar, como aliás está previsto. Bruxelas tão ligeira se mostra na penalização dos incumpridores que apresentem deficits quanto fecha os olhos à insensibilidade alemã.

Fique claro que ninguém pretende tirar ou retirar nada à Alemanha, nem mérito pelos seus superavits, nem dinheiro nem admiração ou consideração, tudo o que a Alemanha consegue ´fruto do esforço e inteligência do seu povo e dos seus políticos, só lhe queria poder tirar a cegueira e a soberba.

O dinheiro do superavit alemão (está suposto nos tratados) seria utilizado/aplicado em países com deficit através de investimento alemão, o qual daí retiraria dividendos. Só teria a ganhar e nada a perder, os países pobres ficariam menos pobres e a Alemanha rica, rica continuaria. Talvez até comprassem mais produtos à Alemanha, todos pobres ou alguns pobres é que nem é remédio nem solução, mas foi o que aconteceu e continua acontecendo. Esta Europa não me serve, não nos serve, não serve a demasiada agente, daí os reveses que a política europeia tem encontrado pela frente nos últimos tempos. França, Polónia, Hungria, Áustria e Itália e Grécia, para não mencionar o caso mais paradigmático do Brexit são pedras no sapato da União.

Tudo leva a crer que a desgraça não ficará por aqui, populismos estão em confronto directo com esta União, o futuro dirá quem teve mais bom senso, se é possível algum bom senso na política europeia ou no populismo, razões e justificações que expliquem este último há, estão vistas e revistas, identificadas, mas a burrice é coisa forte, doença asinina.

6 – É neste cenário multifacetado que nos movemos. Por culpa nossa, asneiras nossas, não temos fundos para investir, nem o estado tem um tostão nem os privados nadam em dinheiro, para além de serem confrontados com uma burocracia e asfixia fiscal que os desmotiva. Há quase cinquenta anos que o investimento público e privado não apresentava valores tão baixos. O maravilhoso Simplex não é ainda suficiente, não mexeu com mentalidades e o fisco arrebanha todos os tostões, que vai gastar improdutivamente na manutenção de classes e direitos questionáveis numa caça ao voto que já se tornou obscena. Deste modo nos empenha a todos sem glória nem proveito. O país atravessa a fase do salve-se quem puder ao invés do “um por todos, todos por um”.

Voltemos à vitela, Euro sim ou Euro não ?  

Independentemente do caos ou do tsunami que a saída do Euro nos faria cair em cima, e o exemplo do Brexit é testemunho disso embora no nosso caso, sem dinheiro para mandar cantar um cego, tudo se complicasse e piorasse a nossa posição negocial na hora da saída. Esqueçamos portanto esse triste pensamento ou devaneio.

Que ficaria então ? Novamente o Escudo, e que Escudo ? Com que valor monetário ? Com que valor face às outras moedas ou divisas ? Há quem aponte no caso uma quebra entre 30 e 50% face ao valor actual, (200,482 PTE = 1 lembram-se?) Eu que sou optimista e já vi muita coisa, adianto convicto de que se assistiria sim a uma depreciação imediata da nossa moeda entre 50 e 100%, senão mais, e a médio e longo prazo muito mais ainda, mas como disse sou optimista recuso-me a entrar nos caminhos do pessimismo e da especulação.

Significaria tal depreciação monetária que passaríamos a comprar tudo que venha da estranja, mais caro na mesma proporção ou percentagem, e quase tudo ou tudo que tem importância vem da estranja. Então com que dinheiro iríamos importar o que importa, agora que teríamos menos, ou o mesmo mas com menor valor, depreciado, o que significaria termos que entregar mais carcanhol em troca do que adquiríssemos ao estrangeiro.

Para além deste nada pequeno inconveniente aconteceria paralelamente termos que continuar pedindo dinheiro emprestado, agora a que taxa de juro ? E a que prazos ? E a divida ? E o deficit ? E a nossa credibilidade nos mercados ? É que estas merdas são como os vasos comunicantes, não és capaz de mexer ou dominar cada uma delas isoladamente, há sempre reflexos noutra, ou nas outras, é como o palhaço malabarista no circo ao ter que jogar e equilibrar em simultâneo meia dúzia de bolas ou de pinos sem deixar cair nenhum no chão. Digamos que o problema do palhaço é muito menos candente que o do Escudo.

Sem a facilidade da moeda única, do euro, válido e aceite por todo o mundo, seja durante um segundo, um minuto, uma hora, um dia, uma semana, um mês, ou um ano a quantidade de transacções financeiras efectuadas, de troca de moeda, o acto de cambiar moeda, seria colossal, e em cada uma dessas operações o câmbio, o custo da conversão havia de somar milhões em nosso prejuízo. Férias nunca mais faríamos sem uma carteira onde guardássemos pesetas, libras, marcos, francos, liras and so on… E sobraria sempre uma irritante mão cheia de moedinhas as quais ficariam anos e anos pelas gavetas e gavetinhas esperando um dia ser reutilizadas. Um suplicio, é ou não é assim ó Simplício ? Era e será.

Sem o respaldo da EU e do Euro toda a gente se aproveitaria da nossa debilidade, sozinhos somos uma merda, no meio dos vinte e oito sempre podemos encher o peito e cagar de alto, fazer frente a este ou àquele. Estão vendo o filme não estão ? Ou não estão mesmo ? Há uns anos, no tempo do Escudo, os bancos não cambiavam a cada casal, ou por passaporte, ou por pessoa, não me lembro bem mas não importa para o caso, uma importância superior ao valor X, isto é, terias que limitar as férias, fazê-las poupadinhas, ou não as fazer na estranja sendo precisamente a isso que o banco/ governo te queria obrigar. Como sempre à rasca e sem divisas, o país sem dinheiro inventou um slogan turístico e lançou a campanha publicitária do “Faça Férias Cá Dentro”

Em Sing Sing também era assim, era ou não era ó Quim ?

Então ? Sair do Euro ou não ? Os carrinhos, uma coisa de que o tuga tanto gosta, sejam Fiats ou Mercedes, passariam repentinamente para o dobro ou triplo do preço, as motas idem, e tudo que viesse de fora, com as alcavalas de impostos destinadas a manter este estado gordo, cada vez mais gordo e naturalmente para te desmotivar a comprar fora, motivar ao consumo interno, travar a saída de divisas, obrigar à poupança, ao comedimento, nada de viveres acima das tuas possibilidades e sobretudo elaborar e lançar campanhas para o parvo do tuga na diáspora continuar a mandar a bagalhoça, apelar-lhe ao sentido pátrio, ao sentimento, ao coração, fazê-lo esquecer que muitos ficaram sem o pé de meia de uma vida no turbilhão do BES e dos outros bancos. Mas parvos haverá sempre, por aí não virá perigo nenhum, quanto mais se aldraba por cá mais crescem as remessas dos emigrantes. São parvos ou não são ? São, e são sobretudo patriotas, o Marcelo que os abrace e condecore, já.

Como se isto, este panorama não bastasse, vamos ver o que aconteceria com a importação de matérias primas, maquinaria e bens de equipamento…  

          ……………………  continua …………………….



* “Sonho de uma Noite de Verão” no original: A Midsummer Night's Dream,  peça teatral de William Shakespeare, uma comédia escrita em meados da década de 1590.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

521 - SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO * 2 .........

               


1 - Primeiro que tudo há que esclarecer termos aderido ao Euro por razões politicas, fizemo-lo levianamente, está assente, é ponto assente mas foi mesmo assim, como a Maria que quis ir com as outras, aderimos ao Euro como aderimos à CEE, por razões politicas, à CEE para que fosse impossível voltar atrás, ou muito mais difícil voltar atrás, como se nada tivéssemos a aprender com o passado e nada mais a fazer com ele que escondê-lo, ignorá-lo. O problema do tempo, independentemente do que sobre ele Einstein teorizou, é ser impossível esconder passado, presente e futuro, um é impossível de apagar, o segundo passível de rectificar, de ser conduzido, e o terceiro fartar-se de ser prometido havendo quem nisso acredite…

Comparações jamais seremos impossibilitados de as fazer, o problema é nunca aprendermos com elas, com o passado, talvez devido a essa fixação de o esconder e, quem não sabe é como quem não vê…. A memória do “homem” é curta e não há oportunista, calculista ou vigarista que se não aproveite dela.

Uma vez dentro da Nato e da CEE seria difícil sair, os mentores da ideia foram atrás dela e especialmente por isso mesmo deram a coisa por adquirida descurando as condições de adesão, descurando-as e aligeirando-as levianamente. A nossa entrada na CEE vinha sendo negociada desde os tempos de Salazar, posteriormente de Marcelo Caetano, a intervenção de Mário Soares só apressou e aligeirou a responsabilidade da coisa, e na coisa. Quanto a Cavaco, o nosso economista e quadro superior do BdP que nunca percebeu patavina de economia e que inicialmente era contra a adesão à CEE, limitou-se a assinar de cruz o dito acordo e a receber a palmas. Não estava nem mental, nem psíquica, nem profissionalmente preparado para as toneladas de dinheiro que posteriormente, e durante os dez anos do seu reinado lhe caíram em cima. De igual modo nunca fez a mínima ideia de como se conduz um país, uma nação, um povo, ainda hoje não faz.

2 – Quanto ao Euro a nossa adesão enfermou dos mesmos males, da mesma ligeireza, da mesma incompetência e irresponsabilidade, pode dizer-se que aderimos ao Euro como aderimos à CEE, para submeter a nossa economia à exposição a mercados mais modernos e concorrenciais e a um tratamento de choque que a arrancasse da modorra, pois todos os métodos já anteriormente usados e experimentados sem qualquer resultado não tinham surtido o mínimo efeito, numa leviana e vã tentativa de evitar o pior.

E o que era o pior ?

Muita rapaziada é demasiado nova para se lembrar, ou nova demais e nascida depois da “coisa”, ou perdeu a memória e já não a lembra, ou é naturalmente ignorante e sempre a ignorou não tendo entendido nem percebido, nem feito absolutamente nada por isso.

3 – Mas voltemos à vaca fria, a partir de 74 a nossa economia definhava dia a dia, houve bancarrotas crises e resgates em 77, 83, 92 e 2009, em que os sucessivos governos, incapazes de revitalizar a economia, sempre que o puderam fazer se serviram do único e ilusório mecanismo à mão para tornar os nossos produtos, já de si poucos, aceitáveis lá fora de modo a que se conseguisse exportar um mínimo, alguma coisinha. Portanto quando e sempre que as coisas apertavam desvalorizava-se a moeda, o escudo (Salazar deixara-o com um valor altíssimo, respaldado e garantido por toneladas de ouro armazenadas nos cofres do Banco de Portugal). Uma vez desvalorizado o escudo os estrangeiros faziam uma festa e com quaisquer cem ou duzentos dólares compravam um navio à escolha e carregadinho até acima de produto portugueses.

O problema é que o operário ao fim do mês e quando recebia o seu salário habitual recebia na realidade menos, inflação por um lado e desvalorização cambial por outro tiravam valor ao que lhe metiam na mão. De desvalorização em desvalorização isto mais parecia a Venezuela, e a tendência era ficarmos com um escudo na mão que mais dia, menos dia valeria nada, valeria zero.

Perdidos por cem perdidos por mil, a adesão ao Euro haveria de nos meter na mão uma moeda forte, acabar-se-ia o perigo de um escudo valendo zero, quem viesse atrás que apagasse a luz, os empresários que se adaptassem, modernizassem, desenrascassem, e alguns conseguiram-no, dar a volta por cima, outros pereceram, milhares de empresas faliram, foram os tempos da fome no Vale do Ave e não só, dos milhares de milhões em vencimentos por pagar, valores que nunca foram pagos. Porém é ver s estatísticas, desde 2000 a economia patina e não cresce, a linha deste gráfico teima manter-se na horizontal, afinal o tal tratamento de choque não nos matou mas também não nos salvou, deixou-nos em coma.

4 – Nesta história da adesão à CEE e ao Euro fomos confrontados e penalizados com outro azar, um azar paralelo com o qual ninguém contara, como aliás nunca contamos ou previmos ou nos preparamos para nada, para coisa nenhuma, e esse azar foi o fim dos estadistas, dos quais Delors foi o último dinossauro excelentíssimo.

Contávamos com eles, estadistas, para bem dirigirem a Comunidade e o Euro, finda a sua linhagem passámos a ser conduzidos por burocratas sem a mínima ideia de nada, em cultura, sem conhecimentos, e o resultado dos seus mandatos redundou em prejuízos para todos que temos vindo a constatar e a contabilizar, todavia ainda longe de apurado o sido final deste desastre total gerado pela sua inoperância e incompetência. O modo como a crise de 2009 em Portugal e na CEE, em especial na Grécia não foi acautelada, evitada ou minorada, o modo como não foi correcta, decente e solidariamente acompanhada diz tudo sobre as suas capacidades, suas deles burrocratas. A arrastada e vergonhosa saga do Brexit e os populismos insurgentes e emergentes um pouco por todo o espaço da União Europeia atestam quanto a sua ineficácia e incompetência nos foi a todos extremamente penosa e prejudicial........

                                 ……………………  continua …………………….



* “Sonho de uma Noite de Verão” no original: A Midsummer Night's Dream,  é a peça teatral da autoria de William Shakespeare, uma comédia escrita em meados da década de 1590.




domingo, 29 de julho de 2018

520 - SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO * 1 .........


INTRÓITO – A ignorância trilha o seu caminho….

Consciente ou inconscientemente, um ou outro português expressa de vez em quando o seu parecer, inda que de modo sucinto, a medo, como quem quebrasse uma autocensura imposta e há muito intuída, dando um lamiré, atirando um bitaite, largando uma bojarda, raramente acertando, raramente dizendo alguma coisa com bom senso, isto é, acertando.

Julgo ser esse medo de errar, de fazer figura de urso, de mostrar não saber ou dominar o que diz que o torna tão calado, muito mais calado que nos tempos da outra senhora nos quais, mau grado a censura e o temor de represálias toda a gente falava, todos mandavam bocarras, pouco se importando em acertar ou não, sendo que o mais, o que era realmente importante era falar, afirmar um direito, gritar sou eu, estou aqui, penso e existo. Um pouco como se estivesse em Ipiranga. Quanto ao resto, a asneiras ou vacuidades, sempre foi o tuga pior que uma qualquer gralha.

Essa naturalidade, essa espontaneidade perdeu-se. Com a democracia teme-se o partido, o chefe do partido, o bufo do partido, o controleiro do partido e, como o país anda todo partido, destruído como nunca andou, o melhor será jogar pelo seguro, engolir em seco e calar. Como nunca andou é modo de falar, de 1910 a 1926, nesses dezasseis anos os partidos Progressista e o Regenerador encarregaram-se de multiplicar por cem os problemas de que acusavam a monarquia mas não tendo resolvido nenhum deles, antes piorado todos e acrescentado mais alguns à extensa lista. Opuseram-se à monarquia, regime de onde aliás eram oriundos e em que tinham ardilosamente tomado a si a rotatividade e barrado o caminho aos pequenos partidos, prática que continuaram no regime republicano.

Para melhor compreensão digamos que funcionaram à imagem dos partidos democratas que há quarenta e quatro anos nos desgovernam, contudo os d’hoje tiverem muito mais tempo, mais condições, o que lhes permitiu terem cavado um buraco bem maior e do qual não sairemos nos próximos trezentos anos nem com um milagre. E por falar em milagres deixem-me dizer-vos, com base na história e nos registos do INE sempre que possível, que só não estamos pior porque entre 1926 e 1974 alguém com um mínimo de inteligência e bom senso esteve ao leme da nação.

Esse alguém podia ter sido melhor, ter feito muito melhor, mas sendo o patêgo que era limitou-se em demasia, a sua mundovisão, para mal dos nossos pecados e com muita pena nossa era curta, o máximo de lonjura alguma vez pisada pelo personagem não ultrapassou Badajoz, num encontro fortuita mente diplomático com o Caudilho de Espanha, Francisco Franco. Foi pena, mesmo assim ficou na história e nela permanecerá para sempre. Não está no Panteão e julgo que nem aceitaria estar, além de outros defeitos que tinha, e tinha muitos, era pessoa modesta.


O FALHANÇO DE BORGES e da camarilha ...


António Borges já não é vivo mas gostaria de ter ouvido a discussão na mesa ao lado da nossa, digo da minha e dos meus amigos, quarta-feira passada cuja temática abordava o Euro. Sobre o Euro dissera este famoso economista numa entrevista dada pouco antes de falecer e talvez para aliviar a consciência, ter sido mal negociada a nossa entrada na moeda única, mal estudado, calculado e estipulado o valor do câmbio a estabelecer para a conversão escudos/euros, facto que muito nos prejudicava, o tal câmbio escudo / 200.482 PTE e do qual ele admitia quota-parte na culpa. A cotação estabelecida nesse câmbio sobrevalorizou excessivamente o escudo, o que foi mau para as empresas portuguesas, e mau para os portugueses que se veriam facilmente com muitos euros na mão disparando a comprar tudo que o mundo tinha para nos vender sem que por nossa vez conseguíssemos vender alguma coisa a esse mesmo mundo.

Devo em abono da verdade consentir que em especial Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, S. Tomé e até o longínquo Timor continuaram a adquirir-nos carrinhos de mão e baldes de plástico mas a desestabilização sócio politica e o empobrecimento dessas antigas colónias acabaram com o devaneio desse tão lucrativo negócio.

Euro sim, Euro não, agora que já lá estamos, ou que ele já cá está, que fazer ? Sair, abandonar, desvincular, voltar ao escudo, porquê, por que não, seria melhor ou talvez não, seria pior, traria vantagens, inconvenientes, seria disparate ou indiferente a estas gentes ? No mínimo a discussão / fricção gerava calor na mesa do lado, daí que da nossa mesa não pudéssemos ignorar o debate em curso, que acompanhámos com interesse já que não é costume neste país discutir-se n ágora apropriada qualquer tema que suscite algum interesse, pelo que aproveitando a inércia iremos acrescentar ao debate alguns temas de conveniência e utilidade em proveito quer do tema quer do debate.

1.    Primeiro que tudo há que esclarecer que

                           ................ continua .................


* “Sonho de uma Noite de Verão” no original: A Midsummer Night's Dream,  é uma peça teatral da autoria de William Shakespeare, comédia escrita em meados da década de 1590.