quinta-feira, 2 de agosto de 2018

524 - SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO * 5 .........




O modo como esta democracia foi instaurada e instalada, por militares ignorantes das coisas da política, e por políticos sabedores em demasia do mesmo mister, conduziu a que fosse entregue de mão beijada nas mãos dos partidos, deixada a desejo das jotas, ao sabor dos aparelhos partidários, dos boys, padrinhos, afilhados, sobrinhos, tios e tias e até das concelhias. De tal modo que o povinho esse, é quem menos ordena, ordena ainda menos que no tempo da outra senhora… Mas tem outras qualidades, goza a vida, produz pouco, pouquíssimo, mas reivindica muito, luta pelos seus direitos, furta-se a quantos deveres pode e vive à margem das guerras da produção, da produtividade, da rendibilidade, não fosse o tempo demasiado quente e viveríamos no paraíso.

Lamentavelmente não tem aparecido ninguém com carisma, com saber e eloquência, falando verdade a este povo crédulo explicando a toda a gente as consequências do caminho trilhado. Não tem aparecido quem entusiasme, quem arraste multidões, quem seja capaz de se afirmar pela sinceridade e dê a volta a isto, que apresente um projecto de futuro, mobilizador e agregador. Em suma não tem aparecido ninguém com tomates. Segundo as estatísticas, estadistas assim abonados aparece em média um de cinquenta em cinquenta anos, ora estamos em 2018, é hora, estará na hora de aparecer esse homem indispensável e providencial.

A aparecer que apareça quem arraste tanta gente quanto o “Presidente Rei” Sidónio Pais arrastou em 1917/18, ou Salazar, o salvador da pátria. É óbvio que terá a tarefa dificultada por todas as peias e entraves que esta democracia estendeu a si mesma, de tal modo que nem se deixa medrar, nem a ela nem à nação. Esta democracia instalou todos os mecanismos que potenciam o nepotismo e a corrupção e nenhum que a tire do poço ou do marasmo que a si mesma se concedeu e apadrinhou.

A democracia, todos o sabemos, é o sistema da maioria, a maioria é o vulgar (não quis usar o termo ordinário, contrário de extraordinário) e o vulgar, o ordinário é o mais pobre, das ideias aos valores, princípios e conhecimentos, os quais não se importa de espezinhar e aviltar em proveito próprio. Da vulgaridade nada de extraordinário deve ser esperado, nunca a nossa história registou os feitos de homens vulgares, nem os houve. Estamos então confessados, esta democracia tem sido a nossa perdição, não é o caminho da salvação e já muita gente o percebeu.

Há dois mil anos já os romanos o tinham percebido, sendo o Senado quem legal e legitimamente, em situações de crise, nomeava um ditador, a quem atribuía poderes máximos, definia objectivos e prazos. Precisamente o oposto do que se passa neste país, onde a democracia não resolveu nenhum dos nossos problemas mas nos trouxe imensos. O problema da democracia é não ser a solução para os todos males, nem se adaptar a determinadas situações ou populações. Tal como a fruta tem o tempo próprio para ser colhida, armazenada, transportada e fruída, também a democracia exige condições pré-determinadas para ser vivida e vivenciada.

O que nasce torto tarde ou nunca se endireita e a voragem dos políticos, a corrupção, a irresponsabilidade e a incompetência são males que assolam Portugal e têm a idade desta disfuncional democracia, pois logo a seguir ao 25 de Abril deviam ter-se traçado os eixos prioritários que definiriam a sustentação estrutural do país, o seu esqueleto digamos, ou exo-esqueleto, mas tal não se fez, e nunca mais foi feito. Não o foi no aspecto concernente a aeroportos e portos, nem nos aspectos rodoviário, ferroviário, ou marítimo, nem no sistema de ensino ainda aos trambolhões, tal qual o sistema de saúde e segurança social se encontram actualmente. Não tivesse o SNS sido erguido nessa altura e não o seria de certeza. Outros aspectos desta estrutura foram igualmente esquecidos, ou torpedeados, como aconteceu com a agricultura e as pescas. A economia e a indústria nunca mereceram qualquer atenção especial, e quanto à banca, seguros e energia pensou-se nelas sim mas apenas para apurar por quanto as alienar.

Do que se conclui viver Portugal um momento excepcional da sua história, um momento em que somente gente excepcional será capaz de tomar e assumir medidas excepcionais, será capaz de nos emocionar, empolgar, mobilizar, arrastar, levantar o moral, tornar a moralidade e a ética valores a respeitar, tornar a justiça célere e justa, exemplar e acessível a todos, começando por acabar com os expedientes dilatórios os quais permitem todo o tipo de tropelias absurdas e os atropelos e injustiças que todos conhecemos.

Vivemos como todos sentimos, uma situação excepcionalmente negativa da nossa história, precisamos de um líder excepcional e de soluções excepcionais. Alguém por sua vontade e imposição deverá, terá que se erguer e tomar em mãos as rédeas desta nação e voltar a fazer dela uma nação. “O fraco rei faz fraca a forte gente” ensinou-nos Camões, é hora de todos trabalharmos pela nação, é hora de tudo fazer pela nação. É de novo tempo de erguer as mãos, pegar em armas e lutar por Deus, Pátria, Família, autoridade, um corpo só, um por todos, todos por um, um pé no pescoço dos recalcitrantes, uma polícia que modere excessos e capaz de morigerar tentações. Eça tinha razão, a democracia fica-nos curta nas mangas, não foi feita para nós.

Voltamos ao eterno dilema, que fazer ? Sair da UE sem ruido para não se perder esse enorme mercado mas podermos tomar as rédeas da governação da nação. Pirueta difícil mas não impossível. E não sair do Euro, não sair do Euro por nada, se a Inglaterra pôde fazer parte da Comunidade Europeia sem fazer parte dos países do Euro, talvez nos fosse possível continuar no Euro sem estar oficialmente na comunidade, talvez a UE respirasse de alívio com a nossa saída, de qualquer modo é uma ginástica a ser tentada. Manobra a ser tentada em simultâneo com a garantia da continuidade pelo respeito e cumprimento do acordado com empresários, actividade empresarial, investidores e credores, tentando que as Agências de Rating não passassem de nós uma imagem assustadora para os mercados.

É evidente que uma manobra destas só acontece em sonhos, mas também ninguém esperava o bambúrrio do 25 de Abril e ele aconteceu. Mais a mais poderá sempre aparecer um personagem patriótico estilo Jaime Neves e colocar o orgulho do país na frente de tudo o resto. A época é propícia, os militares do Exército furtam-se a falar na comissão de inquérito parlamentar ao caso das armas roubadas em Tancos, os da Força Aérea estão a braços com um processo de desvio de milhões nas verbas para aprovisionamento das cantinas, a Marinha encolhe-se sempre que ouve a palavra submarinos. Havendo razões de sobra para alguém tentar pôr esta merda novamente de pé reconquistando o prestigio das Forças Armadas e repondo a sua honra.

E quem sabe se não poderia acontecer tudo de novo ? De novo e igualmente no encantador Monte do Sobral, na estrada que liga a vila de Alcáçovas a Viana do Alentejo, bem no coração do Alentejo, um típico monte alentejano que em tempos esteve ligado à história recente de Portugal, pois ali se realizou, em 9 de Setembro de 1973, a 1ª reunião do movimento de capitães que viria a dar origem ao 25 de Abril de 1974. Nada é impossível, não dizem constantemente que a história se repete ?

A manobra nem seria muito diferente do que foi em 74, garantir a fidelidade de uns quantos fiéis militares, avançar direito a Lisboa, tomar de assalto pela calada os pontos estratégicos essenciais, firmar posições, afirmar-se no terreno e declarar sem alarme o estado de emergência, pois seria de uma emergência que efectivamente se trataria, apelar à compreensão nacional e internacional pela luta da nação, pela sua sobrevivência e independência, pela recuperação da sua economia e soberania…

                …………………  continua …………………….

    “SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO, UMA GOLPADA FICCIONADA” …



* “Sonho de uma Noite de Verão” original: A Midsummer Night's Dream, é uma famosa peça teatral da autoria de William Shakespeare, comédia escrita em meados da década de 1590.