1 - Primeiro
que tudo há que esclarecer termos aderido ao Euro por razões politicas, fizemo-lo
levianamente, está assente, é ponto assente mas foi mesmo assim, como a Maria
que quis ir com as outras, aderimos ao Euro como aderimos à CEE, por razões
politicas, à CEE para que fosse impossível voltar atrás, ou muito mais difícil voltar
atrás, como se nada tivéssemos a aprender com o passado e nada mais a fazer com
ele que escondê-lo, ignorá-lo. O problema do tempo, independentemente do que
sobre ele Einstein teorizou, é ser impossível esconder passado, presente e
futuro, um é impossível de apagar, o segundo passível de rectificar, de ser
conduzido, e o terceiro fartar-se de ser prometido havendo quem nisso acredite…
Comparações
jamais seremos impossibilitados de as fazer, o problema é nunca aprendermos com
elas, com o passado, talvez devido a essa fixação de o esconder e, quem não sabe
é como quem não vê…. A memória do “homem” é curta e não há oportunista,
calculista ou vigarista que se não aproveite dela.
Uma
vez dentro da Nato e da CEE seria difícil sair, os mentores da ideia foram
atrás dela e especialmente por isso mesmo deram a coisa por adquirida
descurando as condições de adesão, descurando-as e aligeirando-as levianamente.
A nossa entrada na CEE vinha sendo negociada desde os tempos de Salazar,
posteriormente de Marcelo Caetano, a intervenção de Mário Soares só apressou e
aligeirou a responsabilidade da coisa, e na coisa. Quanto a Cavaco, o nosso economista
e quadro superior do BdP que nunca percebeu patavina de economia e que inicialmente
era contra a adesão à CEE, limitou-se a assinar de cruz o dito acordo e a
receber a palmas. Não estava nem mental, nem psíquica, nem profissionalmente
preparado para as toneladas de dinheiro que posteriormente, e durante os dez
anos do seu reinado lhe caíram em cima. De igual modo nunca fez a mínima ideia
de como se conduz um país, uma nação, um povo, ainda hoje não faz.
2 – Quanto
ao Euro a nossa adesão enfermou dos mesmos males, da mesma ligeireza, da mesma
incompetência e irresponsabilidade, pode dizer-se que aderimos ao Euro como
aderimos à CEE, para submeter a nossa economia à exposição a mercados mais
modernos e concorrenciais e a um tratamento de choque que
a arrancasse da modorra, pois todos os métodos já anteriormente usados e
experimentados sem qualquer resultado não tinham surtido o mínimo efeito, numa
leviana e vã tentativa de evitar o pior.
E o
que era o pior ?
Muita
rapaziada é demasiado nova para se lembrar, ou nova demais e nascida depois da “coisa”,
ou perdeu a memória e já não a lembra, ou é naturalmente ignorante e sempre a ignorou
não tendo entendido nem percebido, nem feito absolutamente nada por isso.
3 –
Mas voltemos à vaca fria, a partir de 74 a nossa economia definhava dia a dia,
houve bancarrotas crises e resgates em 77, 83, 92 e 2009, em que os sucessivos
governos, incapazes de revitalizar a economia, sempre que o puderam fazer se
serviram do único e ilusório mecanismo à mão para tornar os nossos produtos, já
de si poucos, aceitáveis lá fora de modo a que se conseguisse exportar um mínimo,
alguma coisinha. Portanto quando e sempre que as coisas apertavam
desvalorizava-se a moeda, o escudo (Salazar deixara-o com um valor altíssimo,
respaldado e garantido por toneladas de ouro armazenadas nos cofres do Banco de
Portugal). Uma vez desvalorizado o escudo os estrangeiros faziam uma festa e
com quaisquer cem ou duzentos dólares compravam um navio à escolha e carregadinho até acima
de produto portugueses.
O
problema é que o operário ao fim do mês e quando recebia o seu salário habitual
recebia na realidade menos, inflação por um lado e desvalorização cambial por
outro tiravam valor ao que lhe metiam na mão. De desvalorização em
desvalorização isto mais parecia a Venezuela, e a tendência era ficarmos com um
escudo na mão que mais dia, menos dia valeria nada, valeria zero.
Perdidos
por cem perdidos por mil, a adesão ao Euro haveria de nos meter na mão uma
moeda forte, acabar-se-ia o perigo de um escudo valendo zero, quem viesse atrás
que apagasse a luz, os empresários que se adaptassem, modernizassem, desenrascassem,
e alguns conseguiram-no, dar a volta por cima, outros pereceram, milhares de
empresas faliram, foram os tempos da fome no Vale do Ave e não só, dos milhares
de milhões em vencimentos por pagar, valores que nunca foram pagos. Porém é ver
s estatísticas, desde 2000 a economia patina e não cresce, a linha deste
gráfico teima manter-se na horizontal, afinal o tal tratamento de choque não
nos matou mas também não nos salvou, deixou-nos em coma.
4 –
Nesta história da adesão à CEE e ao Euro fomos confrontados e penalizados com
outro azar, um azar paralelo com o qual ninguém contara, como aliás nunca
contamos ou previmos ou nos preparamos para nada, para coisa nenhuma, e esse
azar foi o fim dos estadistas, dos quais Delors foi o último dinossauro
excelentíssimo.
Contávamos
com eles, estadistas, para bem dirigirem a Comunidade e o Euro, finda a sua
linhagem passámos a ser conduzidos por burocratas sem a mínima ideia de nada,
em cultura, sem conhecimentos, e o resultado dos seus mandatos redundou em prejuízos
para todos que temos vindo a constatar e a contabilizar, todavia ainda longe de
apurado o sido final deste desastre total gerado pela sua inoperância e
incompetência. O modo como a crise de 2009 em Portugal e na CEE, em especial na
Grécia não foi acautelada, evitada ou minorada, o modo como não foi correcta,
decente e solidariamente acompanhada diz tudo sobre as suas capacidades, suas deles burrocratas. A arrastada e vergonhosa saga do Brexit e os populismos insurgentes e emergentes um pouco por todo o espaço da União Europeia atestam quanto a sua ineficácia e incompetência nos foi a todos extremamente
penosa e prejudicial........
……………………
continua …………………….
* “Sonho de uma Noite de
Verão” no original: A Midsummer Night's Dream, é a peça teatral da autoria de William Shakespeare, uma comédia
escrita em meados da década de 1590.