segunda-feira, 30 de julho de 2018

521 - SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO * 2 .........

               


1 - Primeiro que tudo há que esclarecer termos aderido ao Euro por razões politicas, fizemo-lo levianamente, está assente, é ponto assente mas foi mesmo assim, como a Maria que quis ir com as outras, aderimos ao Euro como aderimos à CEE, por razões politicas, à CEE para que fosse impossível voltar atrás, ou muito mais difícil voltar atrás, como se nada tivéssemos a aprender com o passado e nada mais a fazer com ele que escondê-lo, ignorá-lo. O problema do tempo, independentemente do que sobre ele Einstein teorizou, é ser impossível esconder passado, presente e futuro, um é impossível de apagar, o segundo passível de rectificar, de ser conduzido, e o terceiro fartar-se de ser prometido havendo quem nisso acredite…

Comparações jamais seremos impossibilitados de as fazer, o problema é nunca aprendermos com elas, com o passado, talvez devido a essa fixação de o esconder e, quem não sabe é como quem não vê…. A memória do “homem” é curta e não há oportunista, calculista ou vigarista que se não aproveite dela.

Uma vez dentro da Nato e da CEE seria difícil sair, os mentores da ideia foram atrás dela e especialmente por isso mesmo deram a coisa por adquirida descurando as condições de adesão, descurando-as e aligeirando-as levianamente. A nossa entrada na CEE vinha sendo negociada desde os tempos de Salazar, posteriormente de Marcelo Caetano, a intervenção de Mário Soares só apressou e aligeirou a responsabilidade da coisa, e na coisa. Quanto a Cavaco, o nosso economista e quadro superior do BdP que nunca percebeu patavina de economia e que inicialmente era contra a adesão à CEE, limitou-se a assinar de cruz o dito acordo e a receber a palmas. Não estava nem mental, nem psíquica, nem profissionalmente preparado para as toneladas de dinheiro que posteriormente, e durante os dez anos do seu reinado lhe caíram em cima. De igual modo nunca fez a mínima ideia de como se conduz um país, uma nação, um povo, ainda hoje não faz.

2 – Quanto ao Euro a nossa adesão enfermou dos mesmos males, da mesma ligeireza, da mesma incompetência e irresponsabilidade, pode dizer-se que aderimos ao Euro como aderimos à CEE, para submeter a nossa economia à exposição a mercados mais modernos e concorrenciais e a um tratamento de choque que a arrancasse da modorra, pois todos os métodos já anteriormente usados e experimentados sem qualquer resultado não tinham surtido o mínimo efeito, numa leviana e vã tentativa de evitar o pior.

E o que era o pior ?

Muita rapaziada é demasiado nova para se lembrar, ou nova demais e nascida depois da “coisa”, ou perdeu a memória e já não a lembra, ou é naturalmente ignorante e sempre a ignorou não tendo entendido nem percebido, nem feito absolutamente nada por isso.

3 – Mas voltemos à vaca fria, a partir de 74 a nossa economia definhava dia a dia, houve bancarrotas crises e resgates em 77, 83, 92 e 2009, em que os sucessivos governos, incapazes de revitalizar a economia, sempre que o puderam fazer se serviram do único e ilusório mecanismo à mão para tornar os nossos produtos, já de si poucos, aceitáveis lá fora de modo a que se conseguisse exportar um mínimo, alguma coisinha. Portanto quando e sempre que as coisas apertavam desvalorizava-se a moeda, o escudo (Salazar deixara-o com um valor altíssimo, respaldado e garantido por toneladas de ouro armazenadas nos cofres do Banco de Portugal). Uma vez desvalorizado o escudo os estrangeiros faziam uma festa e com quaisquer cem ou duzentos dólares compravam um navio à escolha e carregadinho até acima de produto portugueses.

O problema é que o operário ao fim do mês e quando recebia o seu salário habitual recebia na realidade menos, inflação por um lado e desvalorização cambial por outro tiravam valor ao que lhe metiam na mão. De desvalorização em desvalorização isto mais parecia a Venezuela, e a tendência era ficarmos com um escudo na mão que mais dia, menos dia valeria nada, valeria zero.

Perdidos por cem perdidos por mil, a adesão ao Euro haveria de nos meter na mão uma moeda forte, acabar-se-ia o perigo de um escudo valendo zero, quem viesse atrás que apagasse a luz, os empresários que se adaptassem, modernizassem, desenrascassem, e alguns conseguiram-no, dar a volta por cima, outros pereceram, milhares de empresas faliram, foram os tempos da fome no Vale do Ave e não só, dos milhares de milhões em vencimentos por pagar, valores que nunca foram pagos. Porém é ver s estatísticas, desde 2000 a economia patina e não cresce, a linha deste gráfico teima manter-se na horizontal, afinal o tal tratamento de choque não nos matou mas também não nos salvou, deixou-nos em coma.

4 – Nesta história da adesão à CEE e ao Euro fomos confrontados e penalizados com outro azar, um azar paralelo com o qual ninguém contara, como aliás nunca contamos ou previmos ou nos preparamos para nada, para coisa nenhuma, e esse azar foi o fim dos estadistas, dos quais Delors foi o último dinossauro excelentíssimo.

Contávamos com eles, estadistas, para bem dirigirem a Comunidade e o Euro, finda a sua linhagem passámos a ser conduzidos por burocratas sem a mínima ideia de nada, em cultura, sem conhecimentos, e o resultado dos seus mandatos redundou em prejuízos para todos que temos vindo a constatar e a contabilizar, todavia ainda longe de apurado o sido final deste desastre total gerado pela sua inoperância e incompetência. O modo como a crise de 2009 em Portugal e na CEE, em especial na Grécia não foi acautelada, evitada ou minorada, o modo como não foi correcta, decente e solidariamente acompanhada diz tudo sobre as suas capacidades, suas deles burrocratas. A arrastada e vergonhosa saga do Brexit e os populismos insurgentes e emergentes um pouco por todo o espaço da União Europeia atestam quanto a sua ineficácia e incompetência nos foi a todos extremamente penosa e prejudicial........

                                 ……………………  continua …………………….



* “Sonho de uma Noite de Verão” no original: A Midsummer Night's Dream,  é a peça teatral da autoria de William Shakespeare, uma comédia escrita em meados da década de 1590.