INTRÓITO – A ignorância trilha
o seu caminho….
Consciente
ou inconscientemente, um ou outro português expressa de vez em quando o seu
parecer, inda que de modo sucinto, a medo, como quem quebrasse uma autocensura
imposta e há muito intuída, dando um lamiré, atirando um bitaite, largando uma
bojarda, raramente acertando, raramente dizendo alguma coisa com bom senso,
isto é, acertando.
Julgo
ser esse medo de errar, de fazer figura de urso, de mostrar não saber ou
dominar o que diz que o torna tão calado, muito mais calado que nos tempos da
outra senhora nos quais, mau grado a censura e o temor de represálias toda a
gente falava, todos mandavam bocarras, pouco se importando em acertar ou não,
sendo que o mais, o que era realmente importante era falar, afirmar um direito,
gritar sou eu, estou aqui, penso e existo. Um pouco como se estivesse em
Ipiranga. Quanto ao resto, a asneiras ou vacuidades, sempre foi o tuga pior que
uma qualquer gralha.
Essa
naturalidade, essa espontaneidade perdeu-se. Com a democracia teme-se o
partido, o chefe do partido, o bufo do partido, o controleiro do partido e,
como o país anda todo partido, destruído como nunca andou, o melhor será jogar
pelo seguro, engolir em seco e calar. Como nunca andou é modo de falar, de 1910
a 1926, nesses dezasseis anos os partidos Progressista e o Regenerador
encarregaram-se de multiplicar por cem os problemas de que acusavam a monarquia
mas não tendo resolvido nenhum deles, antes piorado todos e acrescentado mais
alguns à extensa lista. Opuseram-se à monarquia, regime de onde aliás eram
oriundos e em que tinham ardilosamente tomado a si a rotatividade e barrado o
caminho aos pequenos partidos, prática que continuaram no regime republicano.
Para
melhor compreensão digamos que funcionaram à imagem dos partidos democratas que
há quarenta e quatro anos nos desgovernam, contudo os d’hoje tiverem muito mais tempo, mais
condições, o que lhes permitiu terem cavado um buraco bem maior e do qual não
sairemos nos próximos trezentos anos nem com um milagre. E por falar em
milagres deixem-me dizer-vos, com base na história e nos registos do INE sempre
que possível, que só não estamos pior porque entre 1926 e 1974 alguém com um
mínimo de inteligência e bom senso esteve ao leme da nação.
Esse
alguém podia ter sido melhor, ter feito muito melhor, mas sendo o patêgo que
era limitou-se em demasia, a sua mundovisão, para mal dos nossos pecados e com
muita pena nossa era curta, o máximo de lonjura alguma vez pisada pelo
personagem não ultrapassou Badajoz, num encontro fortuita mente diplomático com
o Caudilho de Espanha, Francisco Franco. Foi pena, mesmo assim ficou na
história e nela permanecerá para sempre. Não está no Panteão e julgo que nem
aceitaria estar, além de outros defeitos que tinha, e tinha muitos, era pessoa
modesta.
O FALHANÇO DE BORGES e da camarilha ...
António
Borges já não é vivo mas gostaria de ter ouvido a discussão na mesa ao lado da
nossa, digo da minha e dos meus amigos, quarta-feira passada cuja temática
abordava o Euro. Sobre o Euro dissera este famoso economista numa entrevista
dada pouco antes de falecer e talvez para aliviar a consciência, ter sido mal
negociada a nossa entrada na moeda única, mal estudado, calculado e estipulado o
valor do câmbio a estabelecer para a conversão escudos/euros, facto que muito
nos prejudicava, o tal câmbio escudo / 200.482 PTE e do qual ele admitia quota-parte
na culpa. A cotação estabelecida nesse câmbio sobrevalorizou excessivamente o
escudo, o que foi mau para as empresas portuguesas, e mau para os portugueses
que se veriam facilmente com muitos euros na mão disparando a comprar tudo que
o mundo tinha para nos vender sem que por nossa vez conseguíssemos vender
alguma coisa a esse mesmo mundo.
Devo
em abono da verdade consentir que em especial Angola, Moçambique, Guiné, Cabo
Verde, S. Tomé e até o longínquo Timor continuaram a adquirir-nos carrinhos de
mão e baldes de plástico mas a desestabilização sócio politica e o
empobrecimento dessas antigas colónias acabaram com o devaneio desse tão lucrativo
negócio.
Euro
sim, Euro não, agora que já lá estamos, ou que ele já cá está, que fazer ?
Sair, abandonar, desvincular, voltar ao escudo, porquê, por que não, seria
melhor ou talvez não, seria pior, traria vantagens, inconvenientes, seria
disparate ou indiferente a estas gentes ? No mínimo a discussão /
fricção gerava calor na mesa do lado, daí que da nossa mesa não pudéssemos
ignorar o debate em curso, que acompanhámos com interesse já que não é costume
neste país discutir-se n ágora apropriada qualquer tema que suscite algum interesse,
pelo que aproveitando a inércia iremos acrescentar ao debate alguns temas de conveniência
e utilidade em proveito quer do tema quer do debate.
1.
Primeiro que tudo há que esclarecer que
................ continua .................
* “Sonho de uma Noite de Verão” no original: A Midsummer Night's Dream, é uma peça teatral da autoria de William Shakespeare, comédia escrita em meados da década de 1590.