terça-feira, 4 de setembro de 2018

530 - REBÉUBÉU PARDAIS AO NINHO …...............


É fácil cair-se no ridículo, custa-me vê-la cair no ridículo, literalmente devido a uns miolos de pão, isso mesmo umas migalhas de pão, uma insignificância, mas é a realidade, daí que me custe.

Jornais e revistas, Tvs e rádios, não se cansam de alertar, o plástico está a matar-nos, são milhões de toneladas todos os anos desaguando nos mares e oceanos, infestando praias anteriormente paradisíacas, matando a fauna e a flora continental e marítima. Um saco pode demorar quinhentos anos a degradar-se, uma palhinha uns mil e entretanto matar quatro ou cinco baleias, vinte ou trinta tartarugas, umas dezenas de gaivotas, um cento de roazes, uns recifes de corais, orcas, tubarões, pinguins, manatins, atuns e tu, ou tu e eu, ou todos, toda a humanidade está ameaçada.

Mas não com umas migalhas de pão, comestíveis, biodegradáveis, não ameaçando nem incomodando ninguém que não os meus vizinhos da rua, uns comichosos que acham triste o espectáculo de duas ou três fatias de pão atiradas ao acaso para o passeio ou para o meio da rua. Nunca os vira tão incomodados na vida. Nem quando da morte do Papa.

Não se incomodam com os carros velhos por ali abandonados, nem com os copos de plástico que aos fins-de-semana por ali medram, espalhados juntamente com as embalagens vazias e em esferovite, onde comensais tardios trazem o lanche para comer dentro dos carros antes ou depois de … Nada contra, eu sei quão o amor abre apetites, mas não venham espalhar para a minha, nossa rua os restos do McDonalds, as garrafas vazias, os preservativos cheios, os guardanapos de papel com folha dupla, os pensos que incomodam e estorvam na hora H, tudo atirado pela janela dos carros onde comem e se comem.

Nada disso, o que incomoda a vizinhança é a merda das migalhas de pão que eu atiro pela janela da cozinha aos pardais e outros bichos tais. E eu moita carrasco, merda para uma vizinhança destas, cambada de ignorantes nem sabendo quão a passarada lhe é útil ao pé da porta, comendo os insectos, em especial os mosquitos que poderiam trazer os vírus Zika ou Ébola, cada um deles com as suas taras e manias, mas aposto que unânimes em me enforcarem a mim por causa duns miolos de pão, vida ingrata, vizinhos dum cabrão. 

Por isso me custa, não me basta vê-la negar-me a sua solidariedade, vai para além disso, ao negar-me a solidariedade a mim tacitamente está a dar-lha a eles, àquela cambada, ora isso custa-me, isso é ver que ela, ao invés de se preocupar consigo mesma se empenha nesta guerra de alecrim e manjerona, tornando-se também ela ridícula ao cair no ridículo da situação, uma guerra por uns miolos de pão.

É para mim um alegre despertar, levantar-me, dar uma mijadela sentado que é mais cómodo e mais asseado, suspirar, libertar pressões acumuladas e gases, a cagada é mais tarde, depois de tomado o pequeno almoço e impreterivelmente antes de sair de casa, pelo que depois do primeiro asseio me entretenho a preparar a mesa para abancarmos, fazer ou aquecer o chá, chá preto para não ficarem para aí em pulgas com a curiosidade espicaçada, manteiga dos Açores, queijo do Cachopas e Terra Nostra, e compota de abóbora, ficou-me o gosto e o vicio desde a prova dos frasquinhos da Ana Sofia Dordio, abóbora salpicada de pedacitos de nozes. E pão, o pão da véspera claro, não iremos comer mais que três ou quatro fatias, torradas ou barradas, pelo que algumas das restantes são por mim atiradas ao acaso pela janela da cozinha pondo em alvoroço a passarada que parece já esperar-me e, em tumulto se entretém depenicando-as, começando do centro para a periferia, até não restar mais que uma argola, um circulo composto pela côdea da fatia, que o tempo desfará, certamente alimentando essa argola uma miríade de bicharada que não consigo lobrigar da janela mas fará parte da cadeia biológica e com tanto direito à vida quanto eu e tu e vegans, carnívoros, omnívoros e todos menos a cambada de vizinhos de que vos venho falando, gente sem sensibilidade nem conhecimento e que anda cá só para nos fazer a vida negra, e cara, roubar os lugares de estacionamento em especial os que se situam debaixo das poucas árvores da avenida, roubar um ou outro emprego, ajudando a sumir o orçamento da reforma à Seg. Social, e respirando o mesmo ar, o que me provoca uma ansiedade tal e causa de muitos vómitos.

A outras janelas ou por detrás delas e jurando-me pela pele estará a cáfila da vizinhança, gente proba e certamente disposta a matar por menos de dá cá aquela palha, para quem não tenho olhos nem ouvidos a não ser quando alguma presença nova me aguça a curiosidade pela elegância do perfil, a graciosidade do porte, os requebros do andar ou um peito cheio e abanando a cada passo ou saltinho de pardal. Como podem ver isto anda tudo ligado, pardais, pássaros, passarinhos, passarinhas, e os tais cabrões dos passarões e das melras inconformadas e, aposto, mal tratadas e mal fodidas.

Depois é comigo que embirram… 

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  • https://mentcapto.blogspot.com/2018/03/small-story-short-stories-o-urso-polar.html
  • http://enciclopediadecromos.blogspot.com/2014/07/rebeubeu-pardais-ao-ninho-1986.html

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

529 - O VAGAR DA MINHA QUERIDA GUIOMAR



A vida é-me mais fácil se não a partilhar com gente tonta. E tu ? Quando estás pronta ?  É que tenho o carro em contramão, pensara-te mais rápida no arranjo e afinal…

- As pálpebras dão um trabalhão, e o verniz p’ra secar exige um tempão, culpa do vendedor de cosméticos, o aldrabão, a jurar-me que esta marca superava todas as outras em tempo de secagem, brilho e reflexão e afinal saiu-me um anormal, mentiroso e aldrabão como qualquer político ou gerente de balcão do BES ou do GES, ou de outro qualquer Montepio o animal. Vai ouvi-las, não me ficarei sem um pio. Era capaz de o enforcar com o fio dental, ou com a tira da tanga, fico fula quando me tentam tanguear, e neste caso tangueou mesmo, deu-me a volta c’o verniz, mas juro que mas vai pagar e tu, se estás assim com tanta pressa, põe-te a andar querido, vai sem mim que eu vou lá ter, mexe-te não vá a bófia aparecer.

Então não é que o cabrão abalou mesmo ? Só me levam a sério quando estou a brincar ? Foda-se juro que vais pagar-mas ! Eu não me chame Guiomar !

Enquanto ela se embonecava tirara eu o carro da garagem, manobra sempre difícil e morosa por me ter calhado um dos quatro lugares de estacionamento mais difícil na cave do prédio. Eu fora o último a comprar a quarta e última fracção, um prédio lindíssimo, uma boa casa e bem situada, perto da cidade o que contudo não evitou que tivesse sido embarrilado pelo agente imobiliário que mediara a venda de todo o prédio.

- E ali em frente, que estaleiro é aquele ? Paisagem mais feia. Disse.

- Não lamente professor Humberto, vai ficar com as vistas mais bonitas de toda a Cartuxa.

Puxando da pasta e de uns esquiços de projecto assinados por arquitecto com nome na praça, passou-mos para a mão e, confesso, coisa mais linda, na minha frente estender-se-ia no futuro uma urbanização ajardinada, um jardim e um lago com patinhos, imagem linda de morrer. Vendo o meu ar embevecido o malandro ainda acrescentou:

- E irá valorizar esta casa professor Humberto, não hesite, é a última fracção da urbanização como certamente saberá.

Eu sabia, mas estava errado, depois da minha venderam ainda metade dessa urbanização, naturalmente não só a eborenses e quanto ao jardim celestial que havia de estender-se na minha frente no lugar do estaleiro nickles batatóides, eu deveria ter-me lembrado que neste país o problema é sempre o futuro, ia dizendo, quanto a esse jardim ainda aguardo, ainda estou à espera, e já lá vão quase vinte anos mas…

Tudo tem um mas, ter recordado esta banhada fez-me lembrar da minha nova vizinha, uma professora de educação física que anda vendendo prédios por conta da Remax e que vi um dia destes no café enquanto beberricava de um trago uma imperial a seguir à outra pois é verão, está um calor de morte, eu já não vou para novo e temo a desidratação como o diabo teme a cruz. Ia eu dizendo lá estava ela ao balcão deixando uns cartões-de-visita e umas pagelas, ou brochuras, uns folhetos e foi quando reparei no relógio, provavelmente de ouro, uma coisa daquelas a que chamamos cebola, grande, redondo, sustido por uma bracelete também ela dourada, forte, tão forte quão o pulso dela, um pulso largo, possante, todo o braço aliás, de ombros largos. Confesso que já a vira na noite da mudança e depois disso umas seis ou sete vezes, mas nunca tão perto, nunca de modo a ser-me oferecida a possibilidade do pormenor, da pouca distância que permite captar a atenção, o pormenor, um penteado simples, um loiro lindo, simplicíssimo, numa cabeça harmoniosa, uma carita bonita embora não concorrendo para que lhe fixemos as feições.

Será uma boa mãe, há que ser justo e não quero que em coisas de género me achem egoísta, conservador, mesquinho, misógino ou homofóbico, uma boa fêmea do tipo que dará forçosamente uma boa mãe, arrisco ou aposto até num parto fácil a julgar pela largura dos quadris, suporte de um regaço largo e provavelmente de um marido feliz, quem não gostaria de descansar a cabeça naquele regaço ? 

Depois apareceram uns homenzinhos distraindo-me do essencial e aspergindo glifosato sobre as ervas dos passeios, as quais daqui a uma semana estarão amarelecidas e daqui a duas mortas e ressequidas, capazes de serem levadas pelo vento ou aspiradas por uma maquineta com que uma vez aqui apareceram. Estava eu nisto, esquecido da demora da Guiomar quando ela, a agente da Century, ou será da Remax, surge à varanda em fato de treino o que de melhor forma permite quantificar, certificar e qualificar-lhe o género, coxas roliças e cheias montadas numas pernas altas. Um golpe de tesoura e era uma vez eu, esquecera-me dizer-vos quanto ela é alta, ancas largas, não tão largas que um homem as não adore ou não seja capaz de as abraçar e lá está, o pormenor impossível de deixar passar despercebido tendo em conta a nossa baixa natalidade e as criancinhas, há em todas as circunstâncias que nunca esquecer as criancinhas Senhor, as quais terão ali uma boa mãe, um peito farto onde poderão de modo feliz abastecer-se até estarem cheios e prontos a arrotar.

Por falar em cheio e sem querer dei uma olhadela no ponteiro do nível da gasolina e percebo que também eu terei que ir de novo abastecer, nem lembro quando foi a última vez que este depósito foi atestado até ficar cheio, e não, não pode um homem distrair-se pois quando voltei a olhar a aparição desaparecera e no lugar dela nem Vergílio Ferreira, somente um grande cartaz da Remax, ou seria da Century, fulana de tal compra e venda de imóveis, rematado a um terço por uma foto da dita cuja futura e feliz mãe, tão inocente quão linda e capaz de enganar o mais parvalhão tal qual eu fora há vinte anos atrás.

- Ah Berto ! Estás aqui, vamos palerma ou ainda chego tarde e não me cutuques a cabeça.



Graça, agente da ERA e uma gracinha, mana da minha nova vizinha, neste vídeo descendo as escadas do prédio dela na zona de Amadora / Sintra...  https://www.youtube.com/watch?v=kbxUgYeaF-E


domingo, 26 de agosto de 2018

528 - O DANÇARINO DO CLUBE FLAMINGO ...


Em lugares assim não escolhemos as nossas amizades, antes as aproveitamos e forjamos. A distância da pátria, o isolamento da família e dos amigos fluem ou desaguam nesta prédisposição. O ambiente de guerra, o excesso de fardas, excesso porque uns dias de licença na cidade calhavam a todos, e para os que não estavam habitualmente acantonados nela, cidade, havia sede de tudo e uma tendência para o exagero e para o drama. Por isso as amizades que nunca regateei me foram cómicas umas vezes e trágicas outras.

Naquele ano longínquo de fins de 73 a noite ia a meio, um novel, moderno e luminoso relógio lutava por sobressair contra todas as outras luzes do Clube Flamingo que abarrotava de algazarra, fumo de cigarros e outros fumos. Tudo isso, toda essa alegria, sentindo-se sobretudo no espírito de alguns dos presentes, tudo boa gente, tudo gente querendo divertir-se, e alguns vingar-se de meses na mata.

AV largou a nossa mesa para ir cantar, subiu ao palco, alegrou, arrebatou, emocionou e naturalmente deu nas vistas devido ao garrido e exótico trajar e aspecto peculiar. Eu era um dos seus muitos admiradores e amigos, diria que amigo por afinidade, tinha sido colocado de licença no mesmo quartel do cabo Rudolfo Leandro, o Rudy/Rubi, cabo de transmissões, esse sim há muito em Luanda e amigo amicíssimo amantíssimo de AV e uma ave quase tão rara ou exótica como ele.

Por essa altura os problemas de género não me tocavam como passaram a tocar. Por aquela data e lugar tudo e todos eram bem quistos, o Clube Flamingo era recatado, a clientela minimamente civilizada e seleccionada, os arroubos românticos e o exotismo de AV e Leandro eram displicente ou ostensivamente ignorados, Luanda não era a cidade do Cabo mas também não se parecia sequer com a puritana Lisboa, e as festas do Clube Flamingo desfrutavam de cada vez melhor e maior fama na cidade, atraindo mais e mais clientela.

Na nossa mesa deveríamos ser uns seis ou sete, eu, os dois que já citei e causa do sarrabulho que se seguiu, o tenente Fernando Fernandes, Rosa, uma negra bem integrada e aceite entre a selecta maioria branca da cidade e a Mila, uma experiente enfermeira das forças armadas e acantonada numa das bases aéreas de Luanda e que vinha mantendo com o tenente FF um arranjinho que nem tentavam disfarçar. 



Nem tive tempo pra me aperceber como a coisa começara, de repente o tenente FF joga a cadeira para trás levantando-se em guarda, o grandalhão avançando para ele disposto a desfazê-lo e entretanto todos em pé, todos surpreendidos, todos afastando-se da contenda mas não lhe virando as costas quando, repentinamente a mesa pelo ar, o grandalhão quase atirado ao chão por ela mas resolutamente aparando o golpe, joga a mão à bota sacando da faca e avança para FF precisamente quando alguém grita chamem a PM, e entredentes o grandalhão:

- Vais pagar-mas meu cabrão !

nisto alguém da multidão aglutinada em círculo jogou uma faca arrojando-a pelo chão e que FF aparou com o pé e de um só golpe, baixou-se, sopesou-a, mediu-a, mediu a distância ao grandalhão, olhou-o nos olhos e fez que o reflexo da lâmina o avisasse de que também ele estava igualmente armado.

De imediato o grandalhão travou o ímpeto, abriu as pernas buscando firmeza, enrolou em volta do braço esquerdo um casaco apanhado de uma das cadeiras e pôs-se em guarda. O tenente FF idem, tendo apanhado do chão uma das cadeiras caídas e fazendo dela seu escudo. Entalou o bico da faca num intervalo das lajes do chão, torceu e partiu-lhe o bico que chutou para o lado donde a faca lhe fora arremessada enquanto simultaneamente mostrava ao círculo entretanto formado em seu redor a lâmina diminuída. Toda a gente percebeu e recuou dando espaço aos contendores e resguardando-se d'algum golpe desencaminhado e imprevisto.

O jogo começou, ora investia um ora investia o outro, investes tu invisto eu, a luta assemelhando-se a uma dança, e cedo se notou quem melhor dominava os seus passos, quem melhor e harmoniosamente manobrava o braço, a faca, o movimento, o bailado. FF dançava como um dançarino, nunca estava no mesmo lugar e seria cada vez mais difícil o grandalhão acertar-lhe, atingi-lo. FF dominava o jogo, jogava na defensiva mas era nítido quem dominava, o grandalhão cansava-se e desorientava-se, grunhia.



Quanto mais cansado mais lento e FF aproveitava. Um toque aqui, um toque ali, e o grandalhão ia ficando retalhado como quem se corta ao fazer a barba. Primeiro numa orgulhosa tatuagem dos “páras” no antebraço esquerdo, depois em cheio no coração doutra tatuagem no braço direito e dedicada ao “amor de mãe”. Golpes extensos em cada um dos cortes, pouco ou nada profundos mas sangrando e cegando-o de raiva.

O golpe final foi de mestre e nem sei se teria sido intencional ou ocasionalmente proferido muito antes de cinco militares da PM irromperem pelo salão de bastão na mão. FF aproveitara um centésimo de segundo de distração, o cansaço e a desorientação do grandalhão riscando-lhe o baixo-ventre. Com o esforço e a tensão da luta o corpo rebentou-lhe como se fosse uma hérnia e assustado, o grandalhão susteve as tripas com as mãos, encostou-se ao balcão da esquerda dando-se por vencido. Um tumulto percorreu o salão, nisto entra a PM, dirige-se ao primeiro que viu de faca na mão precisamente no momento em que este, mais branco que a cal da parede e sustendo as tripas numa aflição se deixou escorregar balcão abaixo até ficar sentado, cercam-no e gritam ao barman que chame uma ambulância. Nada de grave, é meterem-lhe as tripas para dentro, darem-lhe uma costura e quando muito restará a cicatriz de uma cesariana.

FF aguardava a sua vez, aguardava ser levado, deixara cair a faca aos pés, estava calmo e os testemunhos de todos o tirariam de apertos. Já no jipe da PM e enquanto se afastava relembrou a metrópole, Lisboa, a recruta, a especialidade, a dureza dos treinos e o galardão. Tinha sido considerado o melhor dançarino da classe de 73.

Sorriu.





NOTA: - Assim sendo, uma faca ideal para raspar deverá ser muito mais pequena que uma catana mas ter a lâmina comprida e direita, apenas ligeiramente curvada na extremidade, o que ajudará na esfola e, volto a frisar, naturalmente bem afiada, afiadíssima. Muita gente não o sabe e pensará haver uma ou duas dúzias de diferentes facas, grande engano, há facas para todos os gostos e todas as funções.

Ali junto ao Cunene uma boa faca era não só um objecto de primeira necessidade como de primeira ordem, não olvidemos que algumas vezes, felizmente poucas, a nossa sobrevivência numa inesperada luta corpo a corpo dependeu sobretudo da faca usada. Por mim preferia-as sempre com um pouco mais de dois palmos de uma ponta à outra, bico bicudo, ligeiramente encurvado no gume e, este ondulado dessa curva até meio da lâmina, continuando o resto a direito e toda ela sempre bem afiadíssima como já vos dissera. Acompanhava-me a coxa direita.

 

Há quem as prefira com um efeito de serrilha no contra gume, ideal para cortar ligamentos, músculos, ramificações nervosas, tendões, óptimas para desmembrar animais, para os desmanchar, porém éramos soldados, não magarefes, matar o inimigo que nos combate sim mas nunca desmembrámos nenhum, não éramos bárbaros, éramos sobreviventes, quem vai à guerra dá e leva lembras-te ?

E se não dás levas, um tiro, uma facada, uma catanada, daí a faca sempre afiada e esquece a serrilha, a serrilha sim é dispensável, mas não descures o ondulado do gume na lâmina, é prático, ajuda-te a cortar sem te obrigar ao moroso e cansativo vai vem do serrar, para a frente, para trás. Numa luta quem se pode dar a esse luxo ?

Quem está para perder tempo com isso ? Espetas no ventre do magano a faca que terás bem firme e segura na mão, forças a lâmina para cima que ela de per si e ajudada por esse leve ondulado correrá célere acompanhando a mão, o gesto e o porco ficará aberto num segundo, arrumado, não mexe mais, em segundos estará acabado, esvaído, chafurdando numa poça do próprio sangue

Se não quiseres ir tão longe ou ser tão incisivo, tão letal, podes simplesmente correr a curva do gume na barriga do porco. Se fores Dextro bastará um golpe horizontal da esquerda para a direita e tens o tipo aflito, agarrado as tripas, de qualquer modo estará no fim, pensando somente em si mesmo e encostado às boxes, implorando, chorando, por vezes chamando pela mãe e implorando perdão.

Atenção, nunca procures dar azo ao movimento contrário, isto é abrir de cima para baixo, a lâmina ficará encalhada, presa, retida no externo e será travada pelas costelas e tu exposto, desarmado. O Movimento deverá ocorrer sempre de baixo para cima, desde os tecidos moles até atingir as ditas costelas, este gesto será mais que suficiente.

Mas, toma nota, uma última lição, se procuras silenciar uma sentinela, ou acabar de vez com uma justa, e tendo tu a possibilidade de aplicar ao inimigo uma manobra de mata leão que te permita aplicar um golpe de misericórdia que cale de vez o indivíduo sem chinfrim, é enfiar-lhe a faca num rim de modo a atravessar-lhe o corpo e tocar o outro rim, ou passar-lhe pela garganta o fio da lâmina num golpe rápido apontando a carótida ou a jugular e nem piam, é remédio santo, coisa que eu não sou, inda que seja bom rapaz e um rico homem, não digo um homem rico mas um rico homem.

Isto é sapiência. Sapiência do meu mister era assim trocada divertidamente pelos segredos das peles. Na verdade de posse desta aprendizagem, em casa, calçado, casacos e sofás de cabedal andam sempre impecáveis, flexíveis e luzidios. 

Quanto a eles não sei até que ponto o saber de mim herdado terá sido traduzido em talento, tanto mais que regressei à metrópole antes da grande prova, da mãe de todas as batalhas africanas, a de Cuíto Cuanavale* a sul de Angola. Cinco meses de morticínio no qual pereceram segundo se calcula perto de quinhentos mil africanos. Essa grande batalha pelo poder teve lugar já depois do meu regresso, porém e como todos sabemos, “o saber não ocupa lugar” pelo que sinceramente espero que a formação por mim proporcionada lhes tenha sido de algum modo útil. Capice ?




domingo, 5 de agosto de 2018

527 - SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO * 7ª e última parte - “UMA GOLPADA FICCIONADA, A ANCORAGEM DO PODER”

    

 “UMA GOLPADA FICCIONADA, A ANCORAGEM DO PODER” 
              

O senhor Presidente Da República e o seu Conselho tinham ontem mesmo prometido, após o anúncio das primeiras directrizes a emanar no sentido de colocar esta democracia nos eixos, dar-nos a conhecer hoje as restantes medidas que a urgência da situação exige a fim de salvar de si mesmo todos os portugueses. É desse rol de intenções, as quais diariamente irão sendo exaradas sob forma legislativa que hoje vos damos conta. Tudo pela Nação, nada contra a Nação !  Viva Portugal !

Em primeiro lugar há que batalhar e forçar pelo cumprimento das medidas de excepção e recuperação da nação, o pragmatismo estará na primeira linha, a clareza, honestidade e competência na segunda e terceira. A culpa deixará doravante de morrer solteira, e ao cidadão terá que ser sempre explicado, dito e justificado todo o indeferimento, toda a negativa, toda a questão ou dúvida que o mesmo apresente. Doravante a administração pública não só terá funcionários, responsáveis e chefias, como passará a ter nomes e caras.

A economia merecerá especial atenção por razões sobejamente conhecidas e como tal serão doravante fortemente taxados consumos e artigos de luxo, tais como veículos, automóveis e motociclos, férias no estrangeiro, smartphones e todos os produtos classificados como de luxo. A banca receberá do BdP novas tabelas a aplicar sobre créditos apontados ao consumo cuja variação será encontrada entre 50 e 100%, medida moderadora e pedagógica que recairá igualmente sobre o lucro da banca e de sociedades financeiras ligadas a esse ramo creditício.

Serão concedidos durante o período de salvação da nossa democracia e da nação poderes de excepção à PSP e GNR, tal como às regiões militares no sentido de fazerem cumprir os decretos presidenciais. A expressão ou ideia a adoptar para manter a ordem será enclausurar primeiro e imediatamente, e fazer as perguntas depois, com vagar e tempo. Uma vez que já estará sufocado o foco de contestação ou alteração da ordem pública a calma será boa conselheira. Será concedida às forças militares e paramilitares, em especial à PSP e GNR, consentimento (verbal), para uso e recurso à violência controlada, e formalizado convite à resolução local e momentânea de pequenos delitos, contribuindo para a teoria e a prática de uma justiça célere e exemplar, que contribua para desentupir os tribunais da nação libertando-os dos milhares de processos relacionados com pequenos delitos e questiúnculas, quantas vezes sem justificação. Este procedimento será designado como “Justiça na Hora”.

Para além da celeridade do sistema “Justiça na Hora” será igualmente retirada aos tribunais, enquanto vigorarem o período e as medidas de excepção de recuperação da nação, a independência que não têm sabido merecer. Alguns serão extintos ou alvo de profundas reformas, como será o caso do Tribunal Constitucional, cuja lei primordial passará a exigir previsibilidade, pragmatismo, resultados. Passará a estar virada para o individuo, não para os partidos, e passará a incluir no rol dos seus consentimentos todos os regimes, incluindo o fascista. Liberdade é liberdade, sendo essa que será consagrada na futura Constituição, pretende-se que doravante toque melhor viola quem melhores unhas tiver. De igual forma dar-se-ão por terminados os excessivos expedientes legais dilatórios usados da justiça, os quais a arrastam no tempo e conduzem geralmente à prática de injustiças, e a uma desigual justiça para os ricos, outra para os pobres.

Pairando sobre tudo e todos, garantindo a acautelando os objectivos de bem-estar e riqueza que a nação se propõe oferecer a todos os portugueses, será o SIS transformado numa polícia de cariz eminentemente politico e coadjuvante da acção executora, uma polícia moderna, bem treinada, moderadora de excessos e morigeradora de tentações, sob o lema “Tudo Pela Nação, Nada Contra A Nação”. Uma polícia promotora da coesão e solidariedade nacionais. Em simultâneo proceder-se-á à recuperação dos fortes de Caxias, do Aljube, da Trafaria e de Peniche para que passem a reunir condições para a prática de formação em regime de internato a irresponsáveis, incompetentes e negligentes.

A vida humana e a dignidade serão instituídas como valor supremo a defender a par do mérito, da ética e da moral. Neste âmbito será negociada com Cabo Verde a recuperação do Campo do Tarrafal, impar nas condições ideais de isolamento e concentração que oferece, permitindo que seja ministrada formação e preparação psicológica aos menos crentes dos elevados valores que a nação se propõe prosseguir na perseguição do bem comum, do bem de todos.


Dar-se-á resposta e solução à classe médica, uma classe na linha da frente das necessidades de uma população saudável, feliz, produtiva e reprodutiva. Estudar-se-á uma tabela de actos médicos cujos valores serão estendidos a todo o país quer se trate de entidades públicas quer privadas, acabando com a ilógica e inexplicável concorrência, e pior, animosidade entre sectores público e privado. Porém quanto a carreiras médicas será forçada a escolha entre sectores e proibida a promiscuidade entre os mesmos. A exclusividade deixará de ser uma opção para ser uma obrigação. Idem para os serviços de ensino e onde quer que a medida se justifique.

A este propósito acresce esclarecer que será controlada e vigiada a actividade das ordens. Olhar-se-á sobretudo para que não condicionem, atrapalhem ou prejudiquem a actividade e liberdade dos seus membros, cuja defesa aliás lhes compete. As ordens não poderão constituir um poder paralelo dentro dos poderes que compete à nação exercer.

Será estabelecido para os médicos um regime idêntico ao de militares e juízes. Serão colocados por concurso onde houver necessidade deles. Os que recusarem lugares atribuídos sem forte e comprovada justificação ficarão impedidos de concorrer a vagas na sua especialidade ou carreira durante um prazo de três anos. Adiantamos que em relação aos cursos médicos, e quaisquer outros cursos, desde que administrados por entidades públicas, passarão os mesmos a ser definidos por um valor, valor esse a ser reposto, a ser devolvido aos cofres da fazenda caso o possuidor do diploma abandone território nacional. Todo o sistema de ensino será alvo de cuidadosa apreciação e tabelados anos e níveis de ensino por cada curso. Emigrantes, repetentes e retidos ficarão em dívida para com a nação até ser reposto o valor que os contribuintes, sem qualquer proveito para eles ou para o visado, “gastaram” com esse estudante.

A nação deverá apostar fortemente na paz, como tal deverá ser dada prioridade à recuperação da fábrica de armamento FBP em Braço de Prata, recuperar as fábricas e produções das antigas Berliet e Chaimite. Obter licenças actuais de modelos de ponta e a serem produzidos com o alvo na exportação. Neste item serão reavivados os estaleiros navais e a indústria inerente a qual poderá produzir de embarcações de pesca a navios de transporte, cruzeiros, navios patrulha e corvetas ou fragatas, os designados cruzadores ligeiros, áreas em que existiu no país uma tradição secular e invejável. Proceder-se-á à recuperação de todo esse saber, de toda essa mão-de-obra especializada e competitiva em todo o mundo e que a perda da independência da nação deitou a perder.

Os jovens terão que constituir a charneira do pensamento desta nação nova que se deseja fazer vingar. Num primeiro momento as Forças Armadas apostarão no voluntariado, prepararão os jovens para as artes da paz e da guerra, nas diversas especializações militares, nas artes e nas forças especiais de modo a que possam fazer dessa aprendizagem modo de vida e futuro e que, lá fora, possam representar condignamente a nação intervindo, através de protocolos, acordos e contratos a estabelecer entre países e que contribuam para que à nossa juventude, economia e soberania possa antecipar-se um futuro risonho. A nossa juventude deve, neste item, estar bem equipada e melhor preparada para garantir a paz em qualquer parte do mundo onde sua presença, saber e coragem possam vir a ser solicitadas. Muito há a fazer pelos jovens no sentido de lhes assegurar um futuro digno para que se recupere a felicidade e o equilíbrio demográfico. Num primeiro momento há que fomentar entre eles a preferência pelo arrendamento habitacional, há que libertar os jovens de encargos prematuros com habitação própria. Há que contribuir para a sua mobilidade e liberdade de movimentos total, há que evitar que fiquem amarrados à casa, evitando a vergonhosa situação de sobrarem ofertas de emprego num lado quando a procura surge noutro. Os jovens não andam com a casa às costas nem podem dar-se ao luxo de a vender por tuta e meia para acudirem a um emprego numa cidade distante. Como iriam comprar outra ? O arrendamento é a solução que deveria ter sido pensada e fomentada desde sempre. Impõe-se o controle do mercado habitacional de arrendamento e do valor das rendas a nível nacional.

À nação compete estabelecer, cumprindo, fazendo cumprir e vigiando, um verdadeiro Contrato Social com o povo português, tornando-o confiante, capaz, competente, responsável, feliz e rico. Foi dentro desse espirito que se proibiu com caracter de urgência e a quem já tenha exercido funções políticas de voltar a exercê-las por um período de dez anos, salvo excepções devidamente justificadas e autorizadas. Politicamente a divisão administrativa do país sofrerá dentro de pouco tempo reformas inimagináveis mas necessárias à garantia do nosso futuro. As ideias de regionalização e de descentralização foram já colocadas de parte por inapropriadas. Num país pequeno como o nosso, dispondo de tecnologias de comunicação como as que actualmente existem é dispor de um país na palma da mão. A todo o momento existe acesso à realidade, às estatísticas, e a todo o momento se pode governar um país como se ele fosse uma pequena região. Negar este facto é cair na demagogia.

Para além das medidas que se impõem de imediato para colmatar o desequilíbrio interior / litoral em vigor desde há quarenta anos, não serão tomadas mais medidas que fragilizem ou despedacem a coesão territorial. Doravante não contaremos com mais de cem concelhos ao invés dos mais de trezentos actuais. O número de freguesias será reduzido em cinquenta por cento. Os futuros Presidentes de Concelho serão nomeados pela Presidência da Nação, os vereadores serão escolhidos através de listas nominais, não haverá lugar para listas partidárias. Por todo o país correrão listas sem partidos, estes foram considerados pelo "Conselho da Presidência" os culpados pelo nepotismo, corrupção e compadrio que levou a nação à bancarrota por quatro vezes e por uma situação insustentável que ora se pretende contrariar. Nenhum eleito poderá exercer mais de três mandatos interpolados. Quem já exerceu funções políticas foi proibido de o voltar a fazer.

Depois de todas estas medidas, e naturalmente de outras que o presente e o futuro aconselhem, é esperar, rezar e esperar, o trinómio Deus, Pátria, Família será de novo o anjo de protecção deste povo. Tudo faremos para o conseguir, legislaremos antecipando o futuro, estabeleceremos objectivos, prazos, metas, responsabilidades, desígnios, rácios, percentagens, legislaremos preparando esse futuro, e faremos obrigatoriamente o balanço no fim de cada ano.

Deus nos ajude. Tudo Pela Nação Nada Contra a Nação !

Viva Portugal !


* “Sonho de uma Noite de Verão” no original: A Midsummer Night's Dream, peça teatral, autoria de William Shakespeare, comédia escrita em meados da década de 1590.

sábado, 4 de agosto de 2018

526 - SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO * 6 .........



  “SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO, UMA GOLPADA FICCIONADA”


Recapitulemos os pontos anteriores. O modo como esta nossa democracia corrupta se foi instalando, o movimento de capitães, a origem do 25 de Abril de 1974, quem sabe se não poderia acontecer tudo de novo, nada é impossível, não dizem constantemente que a história se repete ? Não tem aparecido ninguém com carisma, quem seja capaz de se afirmar, estadistas assim aparece um de cinquenta em cinquenta anos, estará na hora de aparecer esse homem providencial. A aparecer que apareça quem nos arraste. A manobra nem teria que ser muito diferente do que foi em 74, garantir a fidelidade de militares fiéis e patriotas, declarar sem alarme o estado de emergência, pois seria de uma emergência que efectivamente se trataria, apelar à compreensão nacional e internacional pela luta da nação, pela sua sobrevivência e independência, pela recuperação das suas economia e soberania…

Tomar o poder pela força, não há outra solução, os partidos nunca abrirão mão do controle politico da nação, vai ter que ser à moda do vai ou racha, ou todos direitos ou todos marrecos, ou todos felizes da vida ou todos lixados, o país é de todos e não de uns quantos privilegiados. Tomar o poder numa posição equivalente à de um Presidente num regime presidencialista, dissolvendo a AR, e substituindo-a por uma câmara de conselheiros presidenciais.

Declarar sem alarde o estado de emergência, pois é duma verdadeira emergência que efectivamente se trata. Apelar à compreensão para a luta nacional e patriótica pela independência, sobrevivência e recuperação da nação. Conquistar e assegurar a simpatia e adesão de importantes chefias militares e paramilitares para a causa nacional, uma causa de sobrevivência e independência a que a PSP e a GNR não poderão ficar indiferentes.  

Dissolver a actividade partidária e proibi-la mesmo enquanto vigorar o período de excepção sem que, por enquanto, se extinga ou proíba ainda a existência dos partidos, dar tempo ao tempo, dar folga, não apertar demasiado sem necessidade ou justificação mas nunca tirando o olho do burro nem do cigano.

Convidar os mídia a adoptar uma posição e atitude positiva, de bom senso, não hostilizando a politica democrática e patriótica de recuperação da independência da nação que se está tentando instaurar, conquistando-a para a causa, contudo, encerrar de imediato jornal, revista, rádio ou estação televisiva que reiteradamente teime não adoptar as medidas aconselhadas.

Naturalmente impor-se-á o restabelecimento e controle de fronteiras terrestres, marítimas e aéreas, apelar ao sentido patriótico de todos os portugueses, formalizar a igualdade entre eles, formal e informal, fundir num só todos os sistemas e subsistemas de saúde dos pescadores aos bancários, dos privados aos servidores públicos do estado, dos militares aos civis é somente um mero exemplo. A longo prazo tentar a recuperação para a nação do controle da banca e dos seguros, da energia, da distribuição, dos transportes e rodovias, portos, aeroportos, auto-estradas, vias férreas, terminais de contentores etc. Abrir todos esses sectores à concorrência e acabar com monopólios, de modo a enfraquecer a posição dos instalados e tornar mais fácil a sua recuperação pela Nação.

Redigir um Plano Nacional Quinquenal de construção, reparação e recuperação de hospitais, estradas, pontes, fábricas, em especial as cimenteiras, caminhos-de-ferro, portos, aeroportos e todo o tipo de estruturas cuja necessidade se manifeste.

Obrigar ao estabelecimento da modalidade “Balcão Móvel” por parte dos municípios, (cuja associação nacional será extinta por inutilidade) balcão que terá como finalidade levar os serviços autárquicos e pessoal técnico das edilidades a deslocar-se à morada do promotor / empreendedor / investidor / empresário, para os acompanhar nos seus esforços de investimento e lhes apontarem soluções resolvendo-lhes os problemas surgidos. Qualquer empresário terá somente que se dirigir aos serviços da autarquia uma única vez, a primeira. Limitar as despesas dos municípios com pessoal a 20% das receitas efectivamente obtidas pelos serviços. Gradualmente assistir-se-á à privatização, com entrega a cidadãos nacionais, de serviços básicos como recolha de lixo, limpeza, esgotos e águas, paulatinamente outros serviços serão igualmente privatizados, libertando as autarquias de áreas fora da sua vocação e fomentada a concorrência entre esses mesmos serviços, como transportes rodoviários locais, regionais, inter-regionais e nacionais.

Forçar o IEFP a ser parte activa na recuperação da economia e soberania da nação, e desafiá-lo a adoptar uma atitude menos burocrática, mais proactiva, palpável e prática. Fomentar e acarinhar o aparecimento e desenvolvimento de empresários e industriais nacionais, de famílias tradicionalmente investidoras e detentoras de capital nacional, e sensibilizá-los pra a responsabilidade social do seu papel ante os portugueses e a recuperação da economia e soberania nacionais. Apelar ao seu sentido patriótico e de dever para com a nação.

Convidar ao retorno de todos os capitais sedeados em offshores. Findo o prazo pena pesada para os prevaricadores, apreensão das verbas envolvidas que reverterão a favor do estado. Congelamento de vencimentos, pensões e carreiras de modo a serem rápida e judiciosamente revistas. Imposição de um patamar mínimo e de um tecto máximo,  a exemplo da rica Suíça. Reforço das pensões para valores mínimos aceitáveis a fim de manter uma velhice digna. Garantia de que nenhum cidadão nacional será tratado de modo desigual perante o fisco ou de quaisquer outras formas e em relação a qualquer outro cidadão estrangeiro residente em Portugal. Proibição de recebimento de pensões duplas ou triplas. Proibir o duplo emprego desde que a soma dos valores envolvidos iguale ou ultrapasse o valor da mediana X  a determinar.

De igual modo, e enquanto durar o período de excepção de recuperação da economia nacional, será extinta a autonomia universitária. Serão confrontadas todas as entidades dedicadas ao ensino superior e convidadas a tornarem-se fonte de receitas e não um escoadouro dos parcos dinheiros da nação. Serão desafiadas a uma prova de vida, a provar que merecem existir e continuar, não se remetendo à confortável situação de esperar pelos fins de mês e transferências do orçamento, antes contribuindo com o saber dos seus sábios para a contribuição e superação dos seus próprios custos de funcionamento. Serão extintas no ensino superior as licenças de abertura de novos cursos de papel e lápis, e mesmo os já existentes serão gradualmente encerrados de modo a não prejudicar os alunos inscritos nesses cursos. Todo o ensino superior será reduzido e condicionado a uma tipologia de formação conforme aos interesses da nação. Nesse contexto e reiterando o dito no início deste capítulo, serão condicionados os cursos de cariz histórico / psicológico / filosóficos e de letras, repete-se, enquanto durar o período de excepção de recuperação da economia nacional.

No que concerne ao ensino secundário será este alvo de uma profunda avaliação dos professores, cujas férias serão reduzidas, tal como as dos juízes e as de todas as classes aos 22 dias uteis da praxe, prazo que em caso algum será ultrapassado. Nos estabelecimentos de ensino secundário público, a gestão de cada escola será entregue aos professores do quadro permanente e às associações de pais respectivas. Qualquer recusa na assumpção desta tão nobre missão dará, no caso dos professores, imediata colocação fora do sistema de ensino, e à interdição de participação em quaisquer associações de pais no inerente a estes últimos. Proceder-se-á ao reforço da língua portuguesa e inglesa, do ensino básico ao superior, idem para o estudo das matemáticas e ciências. Deverá ser efectuada forte aposta nos cursos técnicos e técnicos científicos.

Estabeleceremos uma série de fortes medidas e incentivos no apoio a empresas detidas por nacionais que se proponham substituir importações, e igualmente às exportadoras já instaladas e a instalar. Restabeleceremos a confiança e segurança de empresários e de empresas, a nível laboral, fiscal e social,. Em nome da estabilidade será dado fim aos contratos a termo, aos precários, e as tabelas de vencimentos terão caracter abrangente e nacional de acordo com mérito, produtividade, absentismo e habilitações para a função. Extinção imediata do SMN, liberalização regulamentada dos despedimentos, deixaremos actuar o mercado, a concorrência e haverá liberdade de escolha e de recusa de salário ou de emprego. Todas as empresas, desde que acumulem mais de cem funcionários, abrirão obrigatoriamente creches gratuitas, estas creches ficarão abertas às empresas envolventes, podendo ser subsidiadas pela Segurança Social. Será restabelecido o horário de quarenta horas para todos, e dar-se-á continuidade à gestão transparente de um banco de horas. Em nenhum caso a remuneração dos rendimentos financeiros ou especulativos poderão ser percentualmente superiores à remuneração dos rendimentos do trabalho. Todos vivemos e sobrevivemos na economia real, e essa realidade, equidade e igualdade terá que ser um fiel para todos.

Deverá proibir-se liminarmente, e enquanto durar o período de excepção de recuperação da economia da nação, toda e qualquer actividade sindical. Imposição aos sindicatos de listas para os corpos sociais determinadas por decretos emanados pela Presidência da Nação. Imposição do modelo de greves sem paragem laboral, à moda japonesa. Cada operário em greve colocará uma braçadeira amarela no braço a fim de ser exactamente apurado o número de grevistas e, se superior a 50% dos efectivos totais envolvidos, gerar obrigatoriamente no prazo de um trimestre reuniões “conclusivas” entre administrações empresariais e o sector grevista.

Estas são as primeiras medidas, as mais urgentes, aquelas que deviam ter sido tomadas de há quarenta anos para cá e que teriam evitado ter-se chegado ao ponto a que se chegou, fazendo nossas as palavras de Salgueiro Maia proferidas há quarenta e quatro anos, hoje diríamos que:

“Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados democráticos e o estado a que isto chegou ! Ora, nesta aventura solene, iremos acabar com o estado a que chegámos. De maneira que quem quiser, estará connosco, estará do nosso lado, e acabaremos com isto. Quem é voluntário alinha. Quem não quiser não é obrigado e ficará vendo o país progredindo.”

A Presidência Da República e o seu Conselho darão amanhã a conhecer as restantes medidas que a urgência da situação exige afim de salvar de si mesmo todos os portugueses !

Tudo pela Nação, nada contra a Nação !

Viva Portugal !
  
             …………………  continua …………………….


7ª e última parte - 527 - “UMA GOLPADA FICCIONADA, A ANCORAGEM DO PODER”



* “Sonho de uma Noite de Verão” no original: A Midsummer Night's Dream,  é uma peça teatral da autoria de William Shakespeare, comédia escrita em meados da década de 1590.