Mostrar mensagens com a etiqueta Joana Guiomar. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Joana Guiomar. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

529 - O VAGAR DA MINHA QUERIDA GUIOMAR



A vida é-me mais fácil se não a partilhar com gente tonta. E tu ? Quando estás pronta ?  É que tenho o carro em contramão, pensara-te mais rápida no arranjo e afinal…

- As pálpebras dão um trabalhão, e o verniz p’ra secar exige um tempão, culpa do vendedor de cosméticos, o aldrabão, a jurar-me que esta marca superava todas as outras em tempo de secagem, brilho e reflexão e afinal saiu-me um anormal, mentiroso e aldrabão como qualquer político ou gerente de balcão do BES ou do GES, ou de outro qualquer Montepio o animal. Vai ouvi-las, não me ficarei sem um pio. Era capaz de o enforcar com o fio dental, ou com a tira da tanga, fico fula quando me tentam tanguear, e neste caso tangueou mesmo, deu-me a volta c’o verniz, mas juro que mas vai pagar e tu, se estás assim com tanta pressa, põe-te a andar querido, vai sem mim que eu vou lá ter, mexe-te não vá a bófia aparecer.

Então não é que o cabrão abalou mesmo ? Só me levam a sério quando estou a brincar ? Foda-se juro que vais pagar-mas ! Eu não me chame Guiomar !

Enquanto ela se embonecava tirara eu o carro da garagem, manobra sempre difícil e morosa por me ter calhado um dos quatro lugares de estacionamento mais difícil na cave do prédio. Eu fora o último a comprar a quarta e última fracção, um prédio lindíssimo, uma boa casa e bem situada, perto da cidade o que contudo não evitou que tivesse sido embarrilado pelo agente imobiliário que mediara a venda de todo o prédio.

- E ali em frente, que estaleiro é aquele ? Paisagem mais feia. Disse.

- Não lamente professor Humberto, vai ficar com as vistas mais bonitas de toda a Cartuxa.

Puxando da pasta e de uns esquiços de projecto assinados por arquitecto com nome na praça, passou-mos para a mão e, confesso, coisa mais linda, na minha frente estender-se-ia no futuro uma urbanização ajardinada, um jardim e um lago com patinhos, imagem linda de morrer. Vendo o meu ar embevecido o malandro ainda acrescentou:

- E irá valorizar esta casa professor Humberto, não hesite, é a última fracção da urbanização como certamente saberá.

Eu sabia, mas estava errado, depois da minha venderam ainda metade dessa urbanização, naturalmente não só a eborenses e quanto ao jardim celestial que havia de estender-se na minha frente no lugar do estaleiro nickles batatóides, eu deveria ter-me lembrado que neste país o problema é sempre o futuro, ia dizendo, quanto a esse jardim ainda aguardo, ainda estou à espera, e já lá vão quase vinte anos mas…

Tudo tem um mas, ter recordado esta banhada fez-me lembrar da minha nova vizinha, uma professora de educação física que anda vendendo prédios por conta da Remax e que vi um dia destes no café enquanto beberricava de um trago uma imperial a seguir à outra pois é verão, está um calor de morte, eu já não vou para novo e temo a desidratação como o diabo teme a cruz. Ia eu dizendo lá estava ela ao balcão deixando uns cartões-de-visita e umas pagelas, ou brochuras, uns folhetos e foi quando reparei no relógio, provavelmente de ouro, uma coisa daquelas a que chamamos cebola, grande, redondo, sustido por uma bracelete também ela dourada, forte, tão forte quão o pulso dela, um pulso largo, possante, todo o braço aliás, de ombros largos. Confesso que já a vira na noite da mudança e depois disso umas seis ou sete vezes, mas nunca tão perto, nunca de modo a ser-me oferecida a possibilidade do pormenor, da pouca distância que permite captar a atenção, o pormenor, um penteado simples, um loiro lindo, simplicíssimo, numa cabeça harmoniosa, uma carita bonita embora não concorrendo para que lhe fixemos as feições.

Será uma boa mãe, há que ser justo e não quero que em coisas de género me achem egoísta, conservador, mesquinho, misógino ou homofóbico, uma boa fêmea do tipo que dará forçosamente uma boa mãe, arrisco ou aposto até num parto fácil a julgar pela largura dos quadris, suporte de um regaço largo e provavelmente de um marido feliz, quem não gostaria de descansar a cabeça naquele regaço ? 

Depois apareceram uns homenzinhos distraindo-me do essencial e aspergindo glifosato sobre as ervas dos passeios, as quais daqui a uma semana estarão amarelecidas e daqui a duas mortas e ressequidas, capazes de serem levadas pelo vento ou aspiradas por uma maquineta com que uma vez aqui apareceram. Estava eu nisto, esquecido da demora da Guiomar quando ela, a agente da Century, ou será da Remax, surge à varanda em fato de treino o que de melhor forma permite quantificar, certificar e qualificar-lhe o género, coxas roliças e cheias montadas numas pernas altas. Um golpe de tesoura e era uma vez eu, esquecera-me dizer-vos quanto ela é alta, ancas largas, não tão largas que um homem as não adore ou não seja capaz de as abraçar e lá está, o pormenor impossível de deixar passar despercebido tendo em conta a nossa baixa natalidade e as criancinhas, há em todas as circunstâncias que nunca esquecer as criancinhas Senhor, as quais terão ali uma boa mãe, um peito farto onde poderão de modo feliz abastecer-se até estarem cheios e prontos a arrotar.

Por falar em cheio e sem querer dei uma olhadela no ponteiro do nível da gasolina e percebo que também eu terei que ir de novo abastecer, nem lembro quando foi a última vez que este depósito foi atestado até ficar cheio, e não, não pode um homem distrair-se pois quando voltei a olhar a aparição desaparecera e no lugar dela nem Vergílio Ferreira, somente um grande cartaz da Remax, ou seria da Century, fulana de tal compra e venda de imóveis, rematado a um terço por uma foto da dita cuja futura e feliz mãe, tão inocente quão linda e capaz de enganar o mais parvalhão tal qual eu fora há vinte anos atrás.

- Ah Berto ! Estás aqui, vamos palerma ou ainda chego tarde e não me cutuques a cabeça.



Graça, agente da ERA e uma gracinha, mana da minha nova vizinha, neste vídeo descendo as escadas do prédio dela na zona de Amadora / Sintra...  https://www.youtube.com/watch?v=kbxUgYeaF-E