segunda-feira, 10 de maio de 2021

693 “ ÉVORA SEMPRE SEMPRE A REBOQUE “

           


            693 “ ÉVORA SEMPRE SEMPRE A REBOQUE  “

                                # TEXTOS POLÍTICOS 8 #

“Trapalhadas de Évora, ou trapalhadas municipais “ é uma página numa rede social onde com facilidade detectamos as premências e queixas sentidas pela população eborense.

 Visito-a como barómetro e censo estatistico das necessidades e estrangulamentos da nossa cidade, e com tristeza constato haver queixas, necessidades e estrangulamentos que se arrastam por décadas sem que o município lhes dê solução.

 O alto custo da habitação, e do seu arrendamento, é questão mais que debatida, o problema é velho, já tem barbas e remonta ao antes do 25 de Abril.

 Que então tenha sido dada pouca importância ao fenómeno não me causa estranheza, embora ainda assim as autoridades estivessem debaixo de pressão e tivessem arregaçado as mangas e construído o célebre Bº da Caixa, com fundos da segurança social (hoje usados em aplicações na banca e em especulação financeira e há pouco tempo motivo porque perdemos milhões sem qualquer proveito), Bº que entretanto mudou para um nome mais “democrático” tal como sucedeu com os prédios ou complexo habitacional da Fundação Salazar, na Horta Das Figueiras, empreendimento hoje pomposamente chamado Bº Catarina Eufémia, numa tosca e vergonhosa tentativa de encobrir o passado.

 Embora erguidos em 76 os prédios da zona da Cruz da Picada já vinham sendo pensados, projectados e lançados um pouco por todo o país pelo Fundo de Fomento, que também lançaria os velhinhos parques industriais da EPPI, mas quanto a esses já lá iremos. Foi portanto a pressão habitacional a culpada do lançamento, ainda assim, dos maiores empreendimentos habitacionais de Évora ligados ao antes do 25 de Abril ainda que o último tenha visto a luz do dia já sob os holofotes da democracia.

 Uma tentativa bem sucedida e honrosa, a primeira no pós 25 de Abril, ainda que não esteja terminada, foi a inerente à urbanização e construção na Malagueira do Bº Siza Vieira, nome eternamente ligado a um dos nossos mais famosos arquitectos, e com quem tive a honra de partilhar uma primeira e informal reunião numa noite do verão quente de 75 se não me engano, no antigo posto de abastecimento da SHEL à saída para Lisboa e onde hoje temos uma rotunda. Estava eu, o Louro ou os Louros, o Zé Caraça, penso que também o Manuel Russo e o Lázaro, tudo gente que afinal acabou ligada á habitação, promovendo-a ou construindo-a.

 Depois disso nunca mais a oferta de habitação superou a procura, tendo a satisfação deste problema tido pouca duração pois o mesmo continua a arrastar-se nos nossos dias. É um problema grave e que só a superação da oferta pela procura solucionará, é um problema politico, é um problema de regime, e só um regime capitalista e liberal será capaz de lhe dar um final digno e a contento de todos pois como sabemos a concorrência baixa os preços enquanto a escassez dos bens os encarece, sejam bananas sejam habitações.

 Outra dor de cotovelo da cidade é ou são os parques industriais, um deles, na Horta das Figueiras virou zona comercial, o original, com um tipo de construção pré fabricada que o identifica foi o parque da EPPI, um projecto que transitou do antes para o depois do 25 de Abril, resolução do Conselho de Ministros e publicada no Diário da República n.º 114/1976, Série I de 1976-05-15, criando formalmente a Empresa Pública de Parques Indústrias (EPPI) com competência para o lançamento de vários parques industriais numa fase do processo de desenvolvimento da economia portuguesa.

Estávamos em 1976, e esses parques foram então considerados instrumento relevante para a consecução de objectivos globais que o Governo entendia prioritários, designadamente o fomento industrial em pólos de desenvolvimento regional, como apoio a centros urbanos que interessasse robustecer e diversificar, criando novos empregos e fixando as populações que já muito anteriormente tendiam a abandonar o sector primário, havendo que criar estímulo às acções de reconversão e reorganização de empresas e à criação de novas iniciativas industriais, sobretudo quando se tratasse de unidades de pequena e média dimensão. 

Depois a medo e timidamente, das raízes do EPPI foi surgindo o PITE, então com poucas indústrias e muitos armazéns, problema que hoje parece não se colocar, além da sua insuficiência para satisfazer a procura, levando muitas empresas a não se instalarem na nossa cidade, com todas as desvantagens daí advindas…

Sobre o PITE recaem ainda três constrangimentos de monta, o preço dos lotes é especulativo e nada atractivo, a morosidade dos processos de licenciamento é de bradar aos céus, dificultando ou inviabilizando investimentos e financiamentos, e o golpe final, a rigidez do regulamento de edificação e construção em vigor, o que torna pouco flexível a adaptação às necessidades de cada situação concreta e encarece a construção demovendo o investidor.

 Um caso típico de clandestinidade é a “zona industrial do capitão Poças” ao Cabeço da Gorda, Stº Antonico, um submundo existente á nossa porta, do qual ninguém fala mas que frequentemente é visitado pelos técnicos da edilidade, que ameaçam os industriais instalados sem que contudo lhes ofereçam solução capaz e atraente. A título de curiosidade direi que vi em Espanha, Cádis, zona industrial, lotes de terreno com barracões já construídos cujo preço por metro quadrado era muitíssimo inferior aos preços que a CME cobrava e cobra por terrenos sem qualquer tipo de construção… 

 Nunca há espaços, nunca há terrenos, aconteceu com a Embraer e com outros, em que a solução foi encontrada à pressa e solucionada com um empurrãozinho do Governo (no caso do governo de Sócrates, com um avanço de 10 milhões segundo se diz), andamos sempre atrás dos acontecimentos, correndo para não os perder, quando deveríamos estar na frente oferecendo condições para os atrair… 

Ora se isto não é andar a reboque… E não se foi embora há pouco tempo do parque industrial  e para outra cidade, uma empresa agro industrial, instalada há alguns anos entre nós, por não lhe ter sido encontrada nem facilitada uma solução para a própria expansão ?  Abordarei esta questão noutro texto, mas quantas outras empresas terão ido ? Ou nem terão vindo ? Sabe-se de mais casos, quantos ao todo ? A nossa autarquia mata-se numa luta inglória compra o capitalismo imperialista... Por que não fará como fez a China comunista que adoptou as virtualidades do capitalismo e se agigantou ? 

 É este estado de coisas que é necessário alterar, mudar, por isso a minha candidatura adoptou o lema  FAZER O QUE AINDA NÃO FOI FEITO, pois parece tudo ou muito estar ainda por fazer.  

 

Por quê ? Vá-se lá saber ...

 


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terça-feira, 27 de abril de 2021

“EU VOS ACUSO E CONDENO À PENA CAPITAL “


692 “ EU QUE SOU DE ÉVORA VOS ACUSO 

E CONDENO À PENA CAPITAL “

# TEXTOS POLÍTICOS 7 #

 

É tarde e não durmo. Volto-me e revolto-me na cama e não durmo. Acordo de novo. Impossível. Tantas são as preocupações que não prego olho. O dinheiro não chega para tudo. Estica-se mas não chega. A manta é curta. Tapo os ombros destapo os pés e vice – versa. É uma situação horripilante.

 

Nas veias o sangue ferve (-me?)

Um último esforço.

Pedem-me um último esforço.

Hão-de acabar comigo um dia.

Mas rio-me.

Só posso rir-me desta corrida alegre para o precipício.

 

O meu dinheiro ! Mas por que não hei-de ser eu a dizer como gastar ou não o meu dinheiro ?!!

 

E são estacionamentos e buracos, e a manta curta, e os pés ou os ombros, e discutem, não o futuro mas os comboios, e um dia não querem mas no outro já querem comboios, e amanhã ninguém sabe se quererão ou não, e hospitais e capitais da cultura e não sei que mais…

 

E só vejo desperdício e apostas no desperdício… E a manta curta.

 

Ele são hospitais para tudo menos para mim e para este coração que embolia...  E o médico que no SNS não me dá vaga de manhã é o mesmo que depois de almoço na Misericórdia… e á tarde a desoras na sua clinica privada … á noite na urgência… e só para mim, embolado, o dia tem vinte e quatro horas e ninguém que me acuda, e ninguém na urgência, e nenhuma urgência em me pegar ou me pagar, em me ocupar…

 

A mim só me vêem para pagar.

 

Só me vêem para pagar e eu pago, eu pago, eu paguei e irei pagar a vida inteira. E eles nada, nem um obrigado, nem um incómodo, nem uma consulta, nem lugarzinho para estacionar, ou um buraco, um buracão onde me enfie e ponha fim a este tormento.

 

E queixo-me. E ouço que agora é que é. E queixo-me e repetem-me de novo a mesma cantilena de há mais de quarenta anos, vá lá só mais um, vá lá um último esforço.

 

E eu acabado, e eu amargurado, e eu embolado, e eu para aqui apertado e eles sorrindo, sempre sorrindo, e gordos, cada vez mais gordos, e saem uns para entrar outros e sorriem. E eu caído e eles atropelam-se e sorriem, e gordos, entrando e saindo cada vez mais gordos.

 

Eu caído e desfalecido e eles só mais um esforço… e desta é que é, apostámos vivamente na contracção e no endividamento por isso desta é que é. Apostámos como nunca se viu nos últimos quarenta anos na austeridade e na redução, nunca cortámos assim, por isso acredita meu totó, desta é que é…

 

… E desta é que é, um último esforço vá lá rapazinho, temos que ter a força de vontade que sempre tivemos, a ambição que sempre tivemos.

 

E eles sempre mais gordos, mais vorazes, menos capazes, e desta é que é, e já nem os ouço, e já nem a dor, e já nem me mexo, e nada, agora é que é e nada, nunca foi, nunca será, e só quero dizer uma coisa… eu só queria pedir-vos que parassem para pensar um pouco antes de o gastarem e onde, e como, e me perguntassem a mim se sim, se não, e agora já nem vale a pena.

 

Agora já nem os ouço nem os posso ver. E vejo-os sorrir, saltar, mudar, engordar, mas a ninguém já ouço, nem aos gordos, nem sequer aos magros…

 

E eu nada, eu só queria e agora já nem isso, agora já nem vale a pena. Agora já não os ouço, agora já nem os vejo, agora são os mesmos, sempre os mesmos a rebentar com isto, os da esquerda, os da extrema esquerda, os da esquerda central, os do digital, os do Salão Central, e a cidade sem pinga de sangue e eles a esmifrar, a esmifrarem-me a mim e a ti, a todos, é urgente o capital, o tal que abominam mas sem o qual nada é igual… 


É uma pena, é uma pena não os condenarem à pena capital, serem afogados no capital, na capital, em Paços de Ferreira, capital do móvel, vinte metros abaixo de um pesado imóvel …

 

Ó Évora, Évora, se fosses só três sílabas de plástico, que era mais barato...



segunda-feira, 26 de abril de 2021

691 - OS SINDICATOS, UMA IDEIA DE CIDADE .....

                     


“ OS SINDICATOS “

# UMA IDEIA DE CIDADE #

 

Texto 9 de 12, escrito em 29 de Junho de 2000 e publicado no Diário do Sul em 20 de Setembro de 2000,  antecipado por mor do 1º de Maio.

ATENÇÃO ESTE TEXTO TEM VINTE ANOS !

 

É comum em Portugal o recurso a diminutivos para caracterizarmos tudo o que nos calha à mão. É a bicazita, o cigarrito, o pastelinho, o almocinho, a queridinha etc. etc. Quem se vê à brocha é o estrangeiro que pensar já dominar a nossa língua.

 

Mas o diminutivozinho tem evidentemente uma função denotativa, não a conotativa que lhe anda normalmente associada e, no presente caso, correndo talvez o risco de atropelar a gramática, o sentido que lhe dou é o condicional, pois saibam que pequenez e timidez são condicionalismozinhos que surgem em Portugal, e em Évora, associados ao sindicalismozito.

 

Perguntar-se-ão os leitores que têm os sindicatos a ver com o desenvolvimento da cidade, ao que eu responderei, MUITO.

 

Não são eles os representantes das classes trabalhadoras nas suas múltiplas actividades ou profissões ? Não são eles quem dialoga, discute e estabelece com os representantes das classes empresariais os acordos que maioritariamente têm como preocupação fundamental os salários ?

 

Pois bem, e além desta quase única vertente, os salários, já houve alguma vez notícias de que tivessem analisado os motivos pelos quais o subdesenvolvimento crónico não arreda pé da região ?

 

Se tal aconteceu admito a minha ignorância e culpa mas disso não tive conhecimento, e sou bastante atento ás mais pequenas notícias da comunicação social.  Se aconteceu, isto é se analisaram esses motivos que concluíram ? Que medidas tomaram para os contrariar ?

 

Para mal dos nossos pecados é vergonhoso que o movimento sindical acorde negociar, e aprove tabelas salariais cujos valores a maioria das empresas acaba por superar, pagando salários muito acima dos acordados. Por quê ? Porque se nivela por baixo… Os sindicatos não hesitam em prejudicar a grande maioria dos trabalhadores aceitando tabelas salariais baixas, só porque meia dúzia de pequenas empresas não tem condições para pagar salários mais elevados.

 

Se não têm condições encerrem, não fazem falta, além de constituírem concorrência desleal para as outras empresas aos ser-lhes permitido dessa forma beneficiar de custos mais favoráveis na produção.  Essas empresas não são sinónimo de desenvolvimento, antes pelo contrário, e a realidade é que mais cedo ou mais tarde acabam mesmo por sucumbir, prova que não devem ser artificialmente mantidas.

 

Mas o pior nem é isto, no estrangeiro, em especial na Europa, com quem os nossos sindicatos muito têm a aprender, o sindicalismo é forte e ele mesmo detentor de empresas, de bancos, de seguradoras, de fábricas, ou de posições e participações em empresas cujos dividendos aproveitam, enquanto em simultâneo concorrem para o desenvolvimento e para a manutenção e criação de postos de trabalho.

 

Casos tem havido em que têm sido os sindicatos a tomar posições em empresas condenadas a morrer e que posteriormente fazem delas petiscos muito apetecidos. Calculem-se os benefícios dessa forma de actuação, não preciso certamente enumerá-los aqui.

 

E por cá ? Contestam-se as dificuldades ou o encerramento de qualquer unidade, fabril ou não, através de atitudes inconsequentes, sem procurar saber dos motivos que constrangeram os seus responsáveis a essa posição, tantas vezes (nem sempre) fruto de factores endógenos a essas unidades, a alterações de hábitos de consumo, à concorrência de outras marcas mais dinâmicas, à perda ou extinção de clientes etc. etc.

 

O nosso sindicalismo não é nem dinâmico nem inovador, é estático, e também ele não deu ainda a devida atenção à qualidade dos recursos humanos, à qualidade dos seus quadros, distraído e enfeudado como tem andado a forças políticas tão distraídas quanto ele da velocidade a que o mundo roda.

 

Entretanto cada vez menos trabalhadores hoje neles confiam, menos se associam, sem que sindicatos e centrais sindicais deixem de alegremente repetir slogans, manifestos e modelos há muitos esgotados.

 

Quando veremos em Évora sentados á mesma mesa, sindicatos e empresários, na busca de soluções que lhes são por força das circunstâncias comuns e que lhes deveriam há muito ter dado consciência da ligação umbilical que os une, quando ? Não viram ainda sindicatos e patronato que o seu percurso é indissociável, que é a sua própria sobrevivência que está em jogo ? A nossa própria sobrevivência ? Não reconheceram ainda que já não está nas suas mãos o poder de decidir ? Que é a nível mundial que as decisões são tomadas e que do impacto desse embate resultam maiores ou menores estragos consoante a força e a unidade que apresentarmos ?

 

Quando deixam os sindicatos de ver na classe empresarial o inimigo a abater ? Quando deixam de ver em cada empresário um fascista sem escrúpulos ? E quando deixam os empresários de ver nos sindicatos uma fonte de problemas ? Um bando de ladrões ? Um grupo de arruaceiros ? Quando é que ambos tomam consciência de que são parceiros sociais, actores do drama que liberalização e globalização nos obrigam a encenar ? Claro que nem todos os empresários são uns santinhos ou todos os sindicalistas um modelo de virtude, mas o mesmo se pode dizer de qualquer outra classe profissional ou funcionário. Não confundamos a floresta com a árvore, a excepção com a regra.

 

Quando soube que se sentaram à mesma mesa, sindicatos, associações patronais e empresariais, câmara municipal de Évora, Centro de Formação Profissional, Instituto do Emprego, Ange e outras entidades com responsabilidades no nosso desenvolvimento fiquei feliz. Começa finalmente a compreender-se que só a união de esforços, a convergência de opções estratégicas, poderá contribuir para a obtenção de resultados que a todos interessem. É que há tantos campos em que parcerias entre todas as partes envolvidas podem ser trabalhados, e que são caminho possível para que Évora possa emergir do marasmo em que sucumbiu que não podem ser descurados.

 

A autarquia certamente já concluiu, ao ter clamado em recente encontro por mais e melhor democracia, participação e transparência, que lhe cabe um importantíssimo papel no desbravar dos caminhos do futuro, que não pode fechar-se sobre si própria, sobre a sua muito pessoal visão do mundo. Que com isso só motivará o desinteresses e o alheamento de muitos, resignadamente à espera que caia de velha, como aconteceu com o muro de Berlim, e que no entretanto o tempo se dissipa sem proveito para ninguém.

 

Já agora, a titulo que conclusão, porquê a simbiose nada aconselhável, que se tem verificado ao longo de anos entre as posições da câmara e dos sindicatos eborenses ? Que procuram ? Que ganham com isso ? Que perdem ? Não são os seus papéis distintos ? Nunca ouviram dizer que trabalho é trabalho e conhaque é conhaque ? Nunca lhes passou pela cabeça que nem todos os trabalhadores comungam das mesmas opções políticas ?

 

Para que Évora e o Alentejo possam um dia vestir a camisola amarela, terão primeiro muitos eborenses que despir a camisola do preconceito e envergar a que diz “orgulho de ser Alentejano” Ah !  E arregaçar as mangas…

 


ATENÇÃO ! NOTA ! Esta crónica, antecipada mor do 1º de Maio,  foi escrita em 29 de Junho de 2000 e publicada no Diário do Sul em 20 de Setembro de 2000 - ATENÇÃO ESTE TEXTO TEM VINTE ANOS ! QUALQUER COMPARAÇÃO COM A ACTUALIDADE SERÁ MERA ESPECULAÇÃO !!


sábado, 24 de abril de 2021

O ABRIL DE MISÉRIA QUE A ESQUERDA CRIOU

                  



690 “ O ABRIL DE MISÉRIA QUE A ESQUERDA CRIOU “

# TEXTOS POLITICOS  6 #

 

 É hoje mais que sabido não ter sido o 25 de Abril uma revolução, foi antes um arrastão que levou tudo e todos na frente. Em relação a essa época o que mais se apregoa é o facto de termos ganho liberdade, sobretudo liberdade de expressão e não estarmos sujeitos à anterior opressão, são factos objectivos na sua totalidade os quais porém se revestem para cada um de nós de uma subjectividade própria, pessoal, avaliada segundo o nosso prisma, a nossa experiência. Pessoalmente acho que continuamos vivendo numa ditadura encoberta e bem disfarçada sob a capa duma falsa sensação de liberdade. Tão falsa é essa sensação que facilmente a podemos comparar, não existe mais liberdade de expressão agora que havia dantes, hoje podemos gritar à vontade, dizer tudo que nos vier à cabeça, é verdade, mas ninguém nos ouvirá, ou calar-nos-ão não nos dando os meios p’ra nos fazermos ouvir, as leis de imprensa e da rádio não por acaso têm trela curta.

  

Naturalmente a opressão actual é diferente, mais subtil, este tipo de opressão, actuante mas subjectiva, socorrendo-se e escondendo-se nos conhecimentos da psicologia, não tem culpados, só sofredores. Atenção, eu não digo que dantes é que era bom, eu sou dos que também viveu nesse antes, para além disso estudei-o e continuo a estudá-lo, não era contudo tão mau como o pintam, o escondem e se escusam a discuti-lo. Se Salazar é acusado de jogar com a nossa ignorância, a democracia actual continua a alimentá-la e a cultivá-la. O que eu digo é que, quando o ensino podia e devia ser bom, não existem razões de força maior para ser mau, é péssimo, não produz saber, o ensino de massas resultou num fiasco onde os contribuintes despejam demasiado dinheiro para os parcos resultados obtidos, dinheiro que nunca terá retorno.

 

 Questões de desorientação ou desorganização que nunca superámos, depois do ano 2000 e após recebidos biliões estamos cada vez mais longe da Europa, divergimos em vez de convergirmos, um paradoxo, um lugar onde os jovens não ganham o suficiente para arrendarem uma casa, nem ganham para casar nem para ter filhos, condenando-nos a um inverno demográfico fugindo daqui a sete pés, atitude incompreensível para um primeiro-ministro bem-intencionado e incapaz de compreender e aceitar quem não veja este país como um paraíso...

  

Existe desde 1974 uma “união sagrada” em torno da memória do golpe. A esquerda, nostálgica mas ignorante vive esta data como um momento poético do passado, e a direita, caceteira, seja ela astuta ou manhosa nunca percebeu que Abril poderia ter significado mais do que um novo começo da nossa história. A nossa direita, carregada de reumatismo, vivia acomodada e de braço dado com privilégios e valores anquilosados que uma justa, moderna e actual hierarquia recusaria, hierarquia que ainda não tem.  O devir foi obrigado a seguir um caminho que como sabemos passou pela revolta, sucede que embora não duvidemos da generosidade dos revoltosos também não acautelámos o seu cinismo nem a sua incompetência e irresponsabilidade para tomarem conta do país.

  

Não houve revolução, houve um arrastão, um movimento “sociológico” de massas, porém político, sem projecto e sem direcção. A nossa Abrilada do dia 25 não foi mais que um movimento de contestação, inventaram-se umas palavras de ordem, palavras enganadoras, sabemo-lo hoje, e não se pensou em mais nada, de concreto havia que repor as regalias que a tropa ia perdendo com o recurso aos oficiais milicianos, sabemos agora como a guerra era um negócio e os instalados nela estavam a ficar mal... As coisas ultrapassaram o esperado, houve barricadas, manifs, e os militares viram-se com uma revolução nas mãos que nem tinham desejado, imaginem que até os pides tiveram que prender, quem teria imaginado tal desiderato ?

 

 Daí para a frente conhecemos a história, ganharam os oportunistas, os videirinhos, os arrivistas, ganhou a ignorância, a irresponsabilidade, a incompetência, isto só pode acabar mal, mas como o meu temor é que fique tudo na mesma, pois que acabe quanto mais depressa melhor.  Por isso hoje temos o partidarismo, a corrupção, os direitos adquiridos sem contrapartidas, faltando-nos assistir ao fim, à decadência, sem jamais assistirmos a uma mudança de sensibilidade ou a quaisquer mudanças estruturais.

 

Sobra-nos sim até demais essa nova sensibilidade, essa nova transversal e consensual tendência, o sectarismo. Passámos do antifascismo para o bairrismo e para o partidarismo de onde nasceu o sectarismo, numa deriva semântica e ideológica doentia de que todos ou quase todos acabamos por sofrer, que nos fecha em nós e na nossa panelinha, que como uma lapa agarra os instalados aos lugares, que trava o crescimento a modernidade e o desenvolvimento. O problema é que Abril não mudou o Estado, não mudou nada, continuamos com as mesmas estruturas herdadas do Estado Novo, agora mais débeis, mais enfraquecidas, a ausência de reformas mata-nos.  

  

Hoje os estrangeiros e as multinacionais são donas disto tudo, nada temos de nosso além da divida e dum futuro negro, ficámos escravos na nossa própria terra, claro que podemos sempre votar com os pés, abalar, mas terá sido para isso que o 25 de Abril foi festejado ? Salazar teria enfiado sem contemplações toda esta gentinha corrupta em Peniche ou no Tarrafal, e não seriam bem metidos ? Bem engavetados ? Ele não era santo, são os de hoje quem faz dele santo ao serem bem piores, sim os de hoje, os mesmos que nunca foram capazes de o apear, foi uma cadeira velha quem acabou com ele, não foi a contestação burguesa ou operária, uma vergonha que nos acompanhará história fora.


 Não, não me peçam para festejar Abril, há que ter coragem e hombridade para recusar este Abril, convidem-me para um novo Abril, isso sim, vai ter que acontecer, mais tarde ou mais cedo, com menor ou maior violência. Andam a gozar-nos e a cagar-nos em cima, coisa que nem Salazar se atreveu a fazer.  



quarta-feira, 21 de abril de 2021

689 - O JULGAMENTO DAS ESQUERDAS ..............

                

  689 - " O JULGAMENTO DAS ESQUERDAS "

 # TEXTOS POLITICO 5 #

 

Mal vai a coisa quando meia dúzia de gatos-pingados, cabisbaixos, esmorecidos, tão compenetrados como num velório inauguram nas traseiras dum teatro com mais de um seculo um estacionamento de superfície, obra meritória sem dúvida, mas sem mérito algum pois representa para uma cidade ávida de lugares de estacionamento menos que gota de água no oceano, sendo obra que não enche a cova de um dente.

 

Quando a cidade precisa de lugares de estacionamento como de pão para a boca, e quando naquele lugar poderia ter sido construído um moderno Silo, enterrado no chão dois ou três andares, com mais dois ou três acima da superfície e cuja volumetria não colidisse se vista do exterior das muralhas com a linha de construção tácita e regulamentarmente aprovada, já que de resto seria escondido pelo edifício do teatro e por um dos prédios adjacentes salvo erro com 4 pisos.

 

Silos modernos que movimentam os carros como na farmácia um robot automático percorre as prateleiras para ir buscar aspirinas ou Rennie, Buscopan, Xanax, Viagra ou Brufen.

 

Bem negociado, concessionado, não nos custaria um tostão e resolveria o problema do estacionamento não com 78 lugares mas com duas ou três vezes 78 baias, e a longo prazo seria nosso. Aliviaria a pressão sobre a cidade, traria gentes ao burgo, seria mais uma mão salvadora do comércio tradicional e local.

 

É forçoso que sejamos ambiciosos, é urgente que não nos contentamos com pouco, é imperativo usar a cabeça para resolver de vez problemas com décadas, seria elegante que as soluções fossem procuradas e encontradas entre todos e não decisões unilaterais para contentar eleitores militantes.

 

Tentei ver quem, quantos e onde estaria a massa humana que assistiu àquela triste, envergonhada e vergonhosa inauguração, acabei por desistir quando alguém me disse que não teria havido mais de uma dúzia de assistentes e convivas batendo palmas, entre eles um fotógrafo, um motorista da casa, o cônjuge de um ou outro dos personagens visíveis na cerimónia, talvez um filho ou filha, um homem da rádio, outro dos jornais, meia dúzia de irrevogáveis seguidores, dois ou três militantes mais activos e comprometidos. Já vou em 15 pessoas assistindo à cerimónia, fico-me por aqui, não quero pecar por excesso.

 


 Uma obra verdadeiramente exemplar e demonstrativa da capacidade, volume, alcance e visão de quem nos governa, uma obra à qual falta cosmopolitismo, visão do mundo e audácia, uma obra atestando que quem nos governa tem horizontes muito limitados, nunca terá saído do Alentejo, provavelmente ter-se-á ficado entre Évora e Montemor a vida inteira.

 

Uma obra que foi concebida sem rasgo, sem contestação, sem uma interrogação ou observação sequer sobre o futuro. Aquela obra é uma antevisão do nosso futuro que ali está nitidamente plasmada. Certamente um ror de gente e uma catrefa de gabinetes estiveram implicados em tão arrojado projecto, é bom que os eborenses saibam com quem contam e com o que contam. O tão conhecido quão engraçado e divertido Portugal dos pequeninos ainda nos invejará.

 

Portugal, o Alentejo e Évora estão arruinados e amordaçados, 46 anos de governos de esquerda conduziram-nos ao desastre, desde esta cidade ao pico da governação e do país, resultados ? Tudo passado a pataco, vendido ao desbarato a estrangeiros, já nada é nosso a não ser uma colossal dívida.

 

Os culpados deste descalabro, de deputados municipais aos nacionais, de governantes a directores gerais deveriam ser julgados como traidores da pátria e ladrões do futuro de muitas gerações, deveriam ser julgados e condenados civil e criminalmente mas, sendo essa tarefa impossível pois souberam resguardar-se, julguemo-los nas urnas, derrotemo-los com o voto, não permitamos que no futuro, sozinhos ou de mãos dadas, artolas ou caranguejolas venham a ter nas mãos o nosso futuro. Isso mesmo ! Matemo-los com o nosso voto antes que nos roubem o pão da boca, a dignidade, o emprego, e acabem por nos matar à fome com a sua irresponsabilidade, com a sua incompetência !

 

Abaixo artolas e caranguejolas !

 

Um abraço

 

NOTA: Este projecto, esta magnifica obra resultou da candidatura apresentada pelo Município ao Programa Operacional Alentejo 2020, no âmbito do PEDU – Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano, através do qual obteve financiamento a 85%. 

O dinheiro, sempre o dinheiro, a CME só teve que colocar do seu bolso 15% do capital investido. Compreendo agora mais uma razão para não se ter ido mais longe, a dívida colossal e limitadora que a CME carrega, que todos carregamos às costas e pagaremos com um palmo de língua fora. Não só temos que gramar os ossos, as sobras, os restos pois para mais não há, como ainda temos que gabar quem nos estende a gamela. Tivessem acordado a sua construção concessionada e nem um tostão teria sido necessário para erguer um moderno e exemplar estacionamento. 

O liberalismo é sublime, liberta a inspiração, a criatividade e a iniciativa que há em nós, mas é o capitalismo que é extraordinário, incomparável, inigualável e tem resposta para tudo, mecanismos financeiros para tudo desenrascar, até a China comunista o adoptou para sobreviver. Já a doutrina de economia centralizada é castradora do intelecto, opressora da vontade, dominadora do querer, centralizadora e integradora à força nas ideias do partido único, é o azar, é o diabo, é a escuridão e não vingou nem na terra onde nasceu …

Eborenses abram a pestana, andam sendo comidos por parvos há mais de quarenta anos… Ah ! E o telhado até suportaria os tais painéis solares de que o meu amigo Óscar tanto gosta.