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segunda-feira, 26 de abril de 2021

691 - OS SINDICATOS, UMA IDEIA DE CIDADE .....

                     


“ OS SINDICATOS “

# UMA IDEIA DE CIDADE #

 

Texto 9 de 12, escrito em 29 de Junho de 2000 e publicado no Diário do Sul em 20 de Setembro de 2000,  antecipado por mor do 1º de Maio.

ATENÇÃO ESTE TEXTO TEM VINTE ANOS !

 

É comum em Portugal o recurso a diminutivos para caracterizarmos tudo o que nos calha à mão. É a bicazita, o cigarrito, o pastelinho, o almocinho, a queridinha etc. etc. Quem se vê à brocha é o estrangeiro que pensar já dominar a nossa língua.

 

Mas o diminutivozinho tem evidentemente uma função denotativa, não a conotativa que lhe anda normalmente associada e, no presente caso, correndo talvez o risco de atropelar a gramática, o sentido que lhe dou é o condicional, pois saibam que pequenez e timidez são condicionalismozinhos que surgem em Portugal, e em Évora, associados ao sindicalismozito.

 

Perguntar-se-ão os leitores que têm os sindicatos a ver com o desenvolvimento da cidade, ao que eu responderei, MUITO.

 

Não são eles os representantes das classes trabalhadoras nas suas múltiplas actividades ou profissões ? Não são eles quem dialoga, discute e estabelece com os representantes das classes empresariais os acordos que maioritariamente têm como preocupação fundamental os salários ?

 

Pois bem, e além desta quase única vertente, os salários, já houve alguma vez notícias de que tivessem analisado os motivos pelos quais o subdesenvolvimento crónico não arreda pé da região ?

 

Se tal aconteceu admito a minha ignorância e culpa mas disso não tive conhecimento, e sou bastante atento ás mais pequenas notícias da comunicação social.  Se aconteceu, isto é se analisaram esses motivos que concluíram ? Que medidas tomaram para os contrariar ?

 

Para mal dos nossos pecados é vergonhoso que o movimento sindical acorde negociar, e aprove tabelas salariais cujos valores a maioria das empresas acaba por superar, pagando salários muito acima dos acordados. Por quê ? Porque se nivela por baixo… Os sindicatos não hesitam em prejudicar a grande maioria dos trabalhadores aceitando tabelas salariais baixas, só porque meia dúzia de pequenas empresas não tem condições para pagar salários mais elevados.

 

Se não têm condições encerrem, não fazem falta, além de constituírem concorrência desleal para as outras empresas aos ser-lhes permitido dessa forma beneficiar de custos mais favoráveis na produção.  Essas empresas não são sinónimo de desenvolvimento, antes pelo contrário, e a realidade é que mais cedo ou mais tarde acabam mesmo por sucumbir, prova que não devem ser artificialmente mantidas.

 

Mas o pior nem é isto, no estrangeiro, em especial na Europa, com quem os nossos sindicatos muito têm a aprender, o sindicalismo é forte e ele mesmo detentor de empresas, de bancos, de seguradoras, de fábricas, ou de posições e participações em empresas cujos dividendos aproveitam, enquanto em simultâneo concorrem para o desenvolvimento e para a manutenção e criação de postos de trabalho.

 

Casos tem havido em que têm sido os sindicatos a tomar posições em empresas condenadas a morrer e que posteriormente fazem delas petiscos muito apetecidos. Calculem-se os benefícios dessa forma de actuação, não preciso certamente enumerá-los aqui.

 

E por cá ? Contestam-se as dificuldades ou o encerramento de qualquer unidade, fabril ou não, através de atitudes inconsequentes, sem procurar saber dos motivos que constrangeram os seus responsáveis a essa posição, tantas vezes (nem sempre) fruto de factores endógenos a essas unidades, a alterações de hábitos de consumo, à concorrência de outras marcas mais dinâmicas, à perda ou extinção de clientes etc. etc.

 

O nosso sindicalismo não é nem dinâmico nem inovador, é estático, e também ele não deu ainda a devida atenção à qualidade dos recursos humanos, à qualidade dos seus quadros, distraído e enfeudado como tem andado a forças políticas tão distraídas quanto ele da velocidade a que o mundo roda.

 

Entretanto cada vez menos trabalhadores hoje neles confiam, menos se associam, sem que sindicatos e centrais sindicais deixem de alegremente repetir slogans, manifestos e modelos há muitos esgotados.

 

Quando veremos em Évora sentados á mesma mesa, sindicatos e empresários, na busca de soluções que lhes são por força das circunstâncias comuns e que lhes deveriam há muito ter dado consciência da ligação umbilical que os une, quando ? Não viram ainda sindicatos e patronato que o seu percurso é indissociável, que é a sua própria sobrevivência que está em jogo ? A nossa própria sobrevivência ? Não reconheceram ainda que já não está nas suas mãos o poder de decidir ? Que é a nível mundial que as decisões são tomadas e que do impacto desse embate resultam maiores ou menores estragos consoante a força e a unidade que apresentarmos ?

 

Quando deixam os sindicatos de ver na classe empresarial o inimigo a abater ? Quando deixam de ver em cada empresário um fascista sem escrúpulos ? E quando deixam os empresários de ver nos sindicatos uma fonte de problemas ? Um bando de ladrões ? Um grupo de arruaceiros ? Quando é que ambos tomam consciência de que são parceiros sociais, actores do drama que liberalização e globalização nos obrigam a encenar ? Claro que nem todos os empresários são uns santinhos ou todos os sindicalistas um modelo de virtude, mas o mesmo se pode dizer de qualquer outra classe profissional ou funcionário. Não confundamos a floresta com a árvore, a excepção com a regra.

 

Quando soube que se sentaram à mesma mesa, sindicatos, associações patronais e empresariais, câmara municipal de Évora, Centro de Formação Profissional, Instituto do Emprego, Ange e outras entidades com responsabilidades no nosso desenvolvimento fiquei feliz. Começa finalmente a compreender-se que só a união de esforços, a convergência de opções estratégicas, poderá contribuir para a obtenção de resultados que a todos interessem. É que há tantos campos em que parcerias entre todas as partes envolvidas podem ser trabalhados, e que são caminho possível para que Évora possa emergir do marasmo em que sucumbiu que não podem ser descurados.

 

A autarquia certamente já concluiu, ao ter clamado em recente encontro por mais e melhor democracia, participação e transparência, que lhe cabe um importantíssimo papel no desbravar dos caminhos do futuro, que não pode fechar-se sobre si própria, sobre a sua muito pessoal visão do mundo. Que com isso só motivará o desinteresses e o alheamento de muitos, resignadamente à espera que caia de velha, como aconteceu com o muro de Berlim, e que no entretanto o tempo se dissipa sem proveito para ninguém.

 

Já agora, a titulo que conclusão, porquê a simbiose nada aconselhável, que se tem verificado ao longo de anos entre as posições da câmara e dos sindicatos eborenses ? Que procuram ? Que ganham com isso ? Que perdem ? Não são os seus papéis distintos ? Nunca ouviram dizer que trabalho é trabalho e conhaque é conhaque ? Nunca lhes passou pela cabeça que nem todos os trabalhadores comungam das mesmas opções políticas ?

 

Para que Évora e o Alentejo possam um dia vestir a camisola amarela, terão primeiro muitos eborenses que despir a camisola do preconceito e envergar a que diz “orgulho de ser Alentejano” Ah !  E arregaçar as mangas…

 


ATENÇÃO ! NOTA ! Esta crónica, antecipada mor do 1º de Maio,  foi escrita em 29 de Junho de 2000 e publicada no Diário do Sul em 20 de Setembro de 2000 - ATENÇÃO ESTE TEXTO TEM VINTE ANOS ! QUALQUER COMPARAÇÃO COM A ACTUALIDADE SERÁ MERA ESPECULAÇÃO !!